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2. MEDICAMENTOS E OUTROS PRODUTOS DE SAÚDE

2.6. DISPENSA DE MEDICAMENTOS E OUTROS PRODUTOS DE SAÚDE

A dispensa de medicamentos diz respeito à cedência destes aos utentes, mediante receita médica ou em regime de aconselhamento terapêutico. [1]

No ato da dispensa, o profissional de farmácia deverá ter uma comunicação adequada com o utente, sendo fundamental uma postura corporal cuidada, olhar para o utente de frente, demonstrar ao utente interesse pelos seus problemas, entre outros aspetos.

A dispensa de medicamentos pode ser de dois tipos: Medicamentos Sujeitos a Receita Médica (MSRM) e Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica.

2.6.1. Dispensa de medicamentos sujeitos a receita médica

De acordo com o Decreto-lei nº 176/2006 de 30 de agosto “Receita médica é o

documento através do qual são prescritos, por um médico ou, nos casos previstos em legislação especial, por um médico dentista ou por um odontologista, um ou mais medicamentos determinados.

Estão sujeitos a receita médica os medicamentos que preencham uma das seguintes condições: possam constituir um risco para a saúde do doente, direta ou indiretamente, mesmo quando usados para o fim a que se destinam, caso sejam utilizados sem vigilância médica; possam constituir um risco, direto ou indireto, para a saúde, quando sejam utilizados com frequência em quantidades consideráveis para fins diferentes daquele a que se destinam; contenham substâncias, ou preparações à base dessas substâncias, cuja atividade ou reações

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adversas seja indispensável aprofundar; destinem-se a ser administrados por via parentérica.[5]

Existem duas formas de prescrição de medicamentos: [6]

 Receita Eletrónica Desmaterializada ou Receita sem Papel – A prescrição é em formato digital, e o software valida e regista a receita no sistema. Os medicamentos têm prazo de validade para serem adquiridos, podendo ter um ou seis meses de validade.

Receita eletrónica materializada – A prescrição é em papel. Podem ser de três tipos: o Receita Médica Renovável: Este tipo de receita é direcionada para determinadas

patologias e tratamentos prolongados, tendo três vias com uma validade de seis meses.

o Receita Médica Não Renovável: Têm um prazo de trinta dias e destinam-se a tratamentos curtos.

o Receita Médica Especial: São prescritos medicamentos que se encontram numa das seguintes situações descritas:

1. Contenham um medicamento classificado como estupefaciente ou psicotrópico;

2. Constituam riscos importantes de abuso medicamentoso, criem toxicodependência ou serem utilizados para fins ilegais;

3. Contenham uma substância que, por precaução, dever ser incluída nas situações previstas na alínea anterior.

As receitas podem ser prescritas via manual em casos de falência do sistema informático, inadaptação fundamentada do prescritor, prescrição ao domicílio ou ainda em outras situações até um máximo de 40 receitas médicas por mês, sendo que para que a receita seja válida, é necessário que o prescritor assinale uma das opções acima. [6]

Em cada receita médica podem ser prescritos:

 Nas receitas eletrónicas materializadas ou por via manual, até quatro medicamentos ou produtos de saúde distintos, sendo que o número total de embalagens prescritas não pode ultrapassar o limite de duas por medicamento ou produto, nem o total de quatro embalagens.

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 Nas receitas desmaterializadas, produtos de saúde e medicamentos em linhas de prescrição distintas, sendo que em cada linha de prescrição só pode constar um medicamento ou produto de saúde, num máximo de duas embalagens de cada.

 A prescrição de medicamentos estupefacientes ou psicotrópicos, compreendida nas tabelas I a II anexas ao Decreto-Lei 15/93, de 22 de janeiro, ou qualquer das substâncias referias no n.º1 do artigo 86.º do Decreto Regulamentar 61/94, de 12 de outubro, não pode constar de receita materializada ou por via manual, onde sejam prescritos outros medicamentos ou produtos de saúde.

 Os medicamentos que se destinem a tratamentos prolongados, dispostos na tabela n.º 2 aprovada em anexo à Portaria 1471/2004, de 21 de dezembro, podem:

o Ser prescritos em receita eletrónica renovável, no caso de receita materializada.

o No caso de se tratar de uma receita desmaterializada, coexistir com outros medicamentos, com um limite máximo de seis embalagens por receita. [6]

Por opção médica, pode ainda estar descrito na receita o laboratório em particular que deverá ser dispensado. Para isso, surge na receita, por baixo da identificação do medicamento “Exceção c) do n.º 3 do art. 6.º - Continuidade de tratamento superior a 28 dias”. Contudo, o profissional de saúde pode dispensar o medicamento de um laboratório diferente, no caso do utente querer, tendo que ser mais barato que o descrito na receita. Para além desta exceção existe ainda a “Exceção b) do n.º 3 do art. 6.º - Reação adversa prévia” e a “Exceção a) do art. 6.º - Margem Terapêutica Estreita”.

Para que a receita médica seja válida tem de apresentar elementos como o número da receita com treze dígitos, a identificação do prescritor, o local da prescrição, os dados do utente, a identificação do medicamento (por Denominação Comum Internacional (DCI), com presença da dosagem, forma farmacêutica, dimensão da embalagem e código de barras), posologia e duração do tratamento, comparticipação especial (com a portaria, se aplicável), o número de embalagens, a data de emissão da prescrição e a assinatura do prescritor.

Constituem motivos de devolução de receita no caso de haver rasuras, se não se encontrar dentro do prazo de validade e se não estiver devidamente assinada pelo médico.

Após a leitura dos códigos de barras, é aplicada a comparticipação mencionada na receita no campo relativo ao Serviço Nacional de Saúde (SNS); este campo pode estar vazio,

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com um “O” em casos de comparticipação normal ou com um “R” em casos de comparticipação especial.

Nos casos de regimes de comparticipação que não estejam integrados no SNS, é necessário um procedimento diferente. É necessária a identificação do tipo de entidade no sistema informático, e ainda é necessária uma cópia da receita médica com o cartão de beneficiário do utente. As receitas originais armazenam-se no receituário e as cópias vão para a entidade comparticipadora.

No passo final ocorre uma verificação dos PVP’s, coloca-se a receita com o verso para cima na impressora com vista a imprimir os códigos de barras referentes aos medicamentos, a identificação da farmácia, as designações da venda e um local de assinatura do utente. O utente é ainda solicitado para fazer uma rubrica no verso da receita, o profissional de farmácia assina, carimba e coloca a data e é impressa a fatura-recibo.

No caso do utente não apresentar a receita médica e se tratar de uma imperiosa necessidade é possível efetuar uma venda suspensa, em que o utente tem um mês para apresentar a receita médica na farmácia e, assim, regularizar a sua situação.

2.6.2. Dispensa de medicamentos sujeitos a receita médica especial

Os medicamentos sujeitos a receita médica especial são os medicamentos psicotrópicos e estupefacientes. São medicamentos que exigem um tipo de receita médica diferente, uma vez que apresentam vários riscos, e podem ainda causar dependência física e psíquica.

Estes medicamentos estão associados a atos ilícitos, tais como o tráfico e consumo de drogas, e por esta razão, existe regulamentação que estipula o uso desta classe de medicamentos para fins terapêuticos. Estes medicamentos têm ação terapêutica em doenças psiquiátricas, oncológicas, e ainda possuem propriedades analgésicas e antitússicas. [7]

Estas receitas apenas podem conter um medicamento até quatro embalagens do mesmo medicamento. Assim, no momento da sua dispensa, é necessário preencher campos como os dados do prescritor (nome, morada, número na Ordem dos Médicos, data e assinatura), informação sobre o utente (nome, morada, idade, número e data do cartão de cidadão) e ainda informação acerca do adquirente (nome, idade, número e data do cartão de cidadão).

É necessário ainda tirar uma cópia da receita, onde o original é enviado à entidade comparticipadora e a cópia permanece guardada na farmácia como comprovativo da saída destas substâncias, juntamente com o talão de psicotrópicos impresso através do sistema informático durante um período mínimo de três anos.

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Mensalmente é enviado para o INFARMED o registo de entradas e saídas destas substâncias devidamente carimbados e assinados, e anualmente deverá ser enviada uma relação da quantidade de estupefacientes e psicotrópicos existentes na farmácia e da quantidade que foi dispensada. Deverá ser tirada uma cópia destes documentos e arquivar-se por um período mínimo de três anos.

2.6.3. Dispensa de medicamentos não sujeitos a receita médica

De acordo com o disposto no Estatuto do Medicamento “os MNSRM não são

comparticipáveis, salvo nos casos previstos na legislação que define o regime de comparticipação do Estado no preço dos medicamentos”. A diferença mais evidenciada entre

um MSRM e um MNSRM é o perfil de segurança, uma vez que os MSNRM quando comparados aos primeiros apresentam maior perfil de segurança, cabe ao profissional de farmácia garantir o uso correto dos mesmos. [5]

A procura de MNSRM tem aumentado significativamente, uma vez que a oferta no mercado é grande, os medicamentos não são muito dispendiosos, há uma recomendação por parte dos vizinhos, familiares ou amigos, as campanhas publicitárias são cada vez mais frequentes e ainda porque não acham necessário o acompanhamento médico em situações ligeiras.

Normalmente, os MNSRM destinam-se ao alívio de sintomas de dor ligeira, estados febris moderados, tosse, sintomas gripais, fadiga, perturbações intestinais, queimaduras ligeiras, entre outros.

Em casos de aconselhamento por parte do profissional de farmácia, este responsabiliza-se pela seleção do MNSRM, referindo sempre que, se o problema persistir, deverá consultar um médico.

Estes possuem várias vantagens, tais como a redução dos custos de tratamento, alívio ou eliminação de um mal-estar leve e redução da perda de tempo em hospitais. Porém, também apresenta algumas desvantagens, tais como o disfarce de sintomas relacionados com uma patologia mais grave.

É, então, importante que os profissionais sejam dotados de competências, com o objetivo de proceder a uma correta interpretação dos sintomas e correta escolha do MNSRM a ceder ao utente. [1]

Aquando da dispensa de um MNSRM, cabe ao profissional de farmácia alertar o utente sobre a ação do medicamento, a sua posologia, os efeitos adversos mais frequentes e ainda sobre a duração do tratamento. É ainda importante informar o utente acerca dos

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cuidados específicos em relação à toma do medicamento, ao armazenamento, às possíveis interações com alimentos e ainda às medidas não farmacológicas.

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