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Capítulo 2 – Farmácia Comunitária

2.7 Dispensa de Medicamentos

2.7.1 Dispensa de Medicamentos segundo Prescrição Médica

Consoante as suas caraterísticas e efeitos produzidos, a cedência de determinados medicamentos apenas está permitida na presença de uma Prescrição Médica devidamente autenticada, sendo estes Medicamentos Sujeitos a Receita Médica (MSRM).

Estão sujeitos a receita médica os medicamentos que preencham uma das seguintes condições: Possam constituir um risco para a saúde do doente, direta ou indiretamente, mesmo quando usados para o fim a que se destinam, caso sejam utilizados sem vigilância médica; Possam constituir um risco, direto ou indireto, para a saúde, quando sejam utilizados com frequência em quantidades consideráveis para fins diferentes daquele a que se destinam; Contenham substâncias, ou preparações à base dessas substâncias, cuja atividade ou reações adversas seja indispensável aprofundar; Destinem-se a ser administrados por via parentérica. [4]

O ato farmacêutico de dispensa de MSRM tem como primeiro passo a receção da prescrição e confirmação da sua validade/autenticidade. [1] A prescrição médica deve ser feita por via eletrónica, podendo, excecionalmente, realizar-se por via manual nas seguintes situações: a) Falência do sistema informático; b) Inadaptação fundamentada do prescritor, previamente confirmada e validada anualmente pela respetiva Ordem profissional; c) Prescrição ao domicílio; d) Outras situações até um máximo de 40 receitas médicas.[8] Esta situação é atestada pela inscrição manual ou sobre a forma de carimbo da expressão “Exceção” e da alínea correspondente, sendo estas referentes à Portaria 137-A/2012, de 11 de Maio. Os modelos de receita médica resultantes da prescrição por via eletrónica e manual são aprovados por despacho do membro do Governo responsável pela área da saúde. [8].

Para que o modelo de receita médica seja validado, ele tem que conter igualmente a seguinte informação: número da receita, local de prescrição, identificação do Médico Prescritor, com respetiva assinatura, identificação do utente, entidade financeira responsável, menção, caso aplicável, ao regime de comparticipação especial de medicamentos e data de prescrição, sendo que uma receita única tem uma validade de 30 dias enquanto uma receita renovável (3 vias) tem uma validade de 6 meses. A prescrição de medicamentos por via manual implica a aposição de vinhetas na receita médica referentes à identificação do prescritor, conforme modelo constante do anexo II da Portaria 137-A/2012, de 11 de Maio.

Seguidamente, a atenção do farmacêutico passa a ter o seu foco na avaliação farmacoterapêutica da prescrição. Neste momento está estipulado que a prescrição médica em Portugal é realizada por DCI, num máximo de quatro embalagens por receita médica, com um máximo de duas embalagens do mesmo medicamento, salvo se este for comercializado em embalagem unitária, única situação em que podem ser dispensadas até quatro embalagens do

mesmo produto. Caso a dosagem e o número de unidades não sejam especificadas pela prescrição médica, procede-se à cedência da menor dosagem e menor número de unidades disponível.

A avaliação farmacoterapêutica da prescrição médica deve ser feita pelo farmacêutico com um grande sentido crítico, questionando a si mesmo a sua pertinência clínica, adequação à patologia apresentada pelo doente, interação com terapêuticas concomitantes, relação com a qualidade de vida do doente, com as suas necessidades e com as suas condições económicas. Caso a prescrição levante alguma dúvida ao farmacêutico, este não deve hesitar em procurar esclarecer a mesma em diálogo com o utente ou, caso necessário, entrando em contacto com o médico prescritor, importando defender sempre em todas as situações a segurança e a saúde do utente. Durante o meu estágio pude observar diversas situações em que alguns lapsos no momento da prescrição foram detetados no momento do atendimento e esclarecidos atempadamente, como é o caso da receita patente no Anexo 1, em que foram prescritas duas embalagens distintas de Losartan, ambas na forma de comprimidos revestidos por película, mas apresentando dosagens distintas. Esta medicação de proteção gástrica estava prescrita na dosagem de 50 mg, mas também na forma de 100mg, indicando o prescritor no campo destinado à posologia que o doente devia tomar metade desta dosagem, o que representa, efetivamente, uma dosagem de 50 mg. Identificado o lapso, foi contatado o prescritor que indicou que efetivamente a dosagem pretendida para o tratamento era de 50 mg, tendo sido dispensada ao utente, explicada e esclarecida a situação, apenas a embalagem correspondente a esta dosagem.

A implantação da prescrição por DCI veio trazer ao doente um papel mais ativo na escolha da medicação que lhe é cedida. Por base, o farmacêutico deve dispensar sempre o medicamento mais barato, a menos que o utente manifeste intenção de exercer o seu direito de opção, escolhendo dentro do mesmo grupo homogéneo o medicamento que lhe ofereça maior confiança, sendo certo que dentro desse mesmo grupo homogéneo todas as opções disponíveis possuem o mesmo princípio ativo, a mesma dosagem e o mesmo tamanho de embalagem. Em situações excecionais previstas na lei, o médico deve justificar a prescrição de um medicamento ético, nomeadamente “Prescrição de medicamentos com margem ou índice terapêutico estreito, conforme informação prestada pelo INFARMED”, “Fundada suspeita, previamente reportada ao INFARMED, de intolerância ou reação adversa a um medicamento com a mesma substância ativa, mas identificado por outra denominação comercial” e “Prescrição de medicamento destinado a assegurar a continuidade de um tratamento com duração estimada superior a 28 dias” [8]. Para que estas justificações técnicas sejam validadas, a receita médica deve conter apenas e só prescrito o medicamento a que a justificação se refere, estando esta inscrita em local próprio na receita.

A cedência de medicamentos deve ser acompanhada por toda a informação pertinente que lhe diz respeito, sendo esta comunicação oral e escrita vital, como enunciei no ponto 2.6.1

deste relatório. O farmacêutico deve ainda assegurar-se da validade do medicamento, do estado da embalagem e das condições de estabilidade, garantindo a qualidade dos medicamentos cedidos.

A dispensa de medicamentos mediante prescrição médica é efetuada com recurso ao Sifarma 2000, que regista todos os dados do atendimento. Os medicamentos a serem dispensados são inseridos no sistema, bem como os dados da receita médica que lhes diz respeito (Número da receita, local de prescrição e médico prescritor), sendo também indicado pelo utilizador o organismo a que será feita a faturação da mesma, o que permite automaticamente o cálculo da comparticipação aplicável. O sistema procederá então à impressão no verso da receita da informação fiscal respetiva, dos códigos de barras dos medicamentos cedidos, dos seus preços e comparticipações aplicadas. Esta face deve ser datada e assinada quer pelo utente quer pelo farmacêutico. Caso o doente exerça direito de opção, este facto deve ser igualmente registado e autenticado por uma segunda assinatura do utente.

O farmacêutico deve ir fazendo uma revisão de cada passo que efetue ao longo do processo e fazer uma revisão final no momento de finalizar o atendimento, de forma a detetar possíveis lapsos ou erros que possam ocorrer inadvertidamente durante o mesmo. A título de exemplo, estes erros podem ir desde a troca de medicamentos à faturação indevida dos mesmos, podendo ser motivados por falhas humanas, falhas inerentes aos processos do sistema ou ainda falhas informáticas. Importa, qualquer que seja o caso, que estes possam ser corrigidos atempadamente, sem qualquer tipo de prejuízo para o utente ou para a farmácia.

2.7.1.1 Dispensa de MEP

Os MEP têm o nível de controlo mais apertado e rigoroso dentro de uma farmácia, a fim de evitar o seu tráfico e consumo com intenções não medicinais, o que necessariamente implica que a sua dispensa esteja sujeita a algumas particularidades dispensadas para os restantes medicamentos. O regime de MEP está descrito no DL n.º 15/93, de 22 de Janeiro e é regulamentado pelo DR n.º 61/94, de 12 de Outubro.

Atualmente, a prescrição de MEP é feita nos mesmos modelos de receita médica que os restantes medicamentos, não podendo, no entanto, uma receita em que seja prescrito um MEP conter qualquer outro medicamento prescrito.

A identificação do adquirente é indispensável, mediante apresentação de cartão de identificação. O próprio Sistema Informático procede ao registo de todos os dados relacionados com esta cedência, nomeadamente: dados do doente (nome, número de identificação, idade, morada, contacto); dados do médico prescritor (nome, local de prescrição); dados do adquirente (nome, número de identificação, idade, morada, contacto).

Finalizado o processo de cedência, a prescrição médica deve ser fotocopiada, sendo posteriormente o original enviado ao Centro de Conferencia de Fatura do respetivo sistema de comparticipação e ficando a fotocópia arquivada na FLS durante 3 anos.

Todas as entradas e saídas de MEP são registados informaticamente, e este registo é, após verificação e ratificação pelo responsável, enviado mensalmente ao INFARMED, sendo também feito um balanço anual. Ao INFARMED são também enviadas fotocópias das receitas manuais.

Este processo extremamente cuidado permite o rastreamento, em caso de necessidade, de todas as embalagens que tenham passado pela farmácia.

2.7.1.2 Dispensa de Produtos ao abrigo de um Protocolo

A elevada prevalência de uma patologia, com impactos muito negativos a nível de mortalidade, morbilidade mas também a nível económico, podem levar a que se estabeleçam protocolos específicos de dispensa de medicamentos. No caso do Sistema de Saúde Português, foi implementando com grande sucesso um protocolo que visou o combate à Diabetes Mellitus.

Neste momento, apenas as tiras e lancetas utilizadas pelos doentes que sofrem desta patologia para realizarem medições de Glicémia são cedidos ao abrigo deste protocolo, sendo as receitas destes produtos faturados num regime de comparticipação próprio, sendo requisito obrigatório que para tal as mesmas não contenham na prescrição nenhum outro produto.

2.7.1.3 Comparticipação

A comparticipação de MSRM permite que o custo dos medicamentos possa ser suportado parcial ou totalmente por diversas entidades, mediante acordos pré-estabelecidos. O utente suporta a diferença entre o PVP e o valor comparticipado, sendo este último pago posteriormente à farmácia, estando os fundamentos deste processo descritos em pormenor no ponto 2.11.2 deste relatório.

A maior percentagem de receitas é imputada ao SNS, quer em regime geral, quer em regime especial de comparticipação. Não obstante, são igualmente frequentes outros sistemas como a ADSE, SAMS, EDP, Seguradoras, entre outros.

Estão igualmente criados sistemas de complementaridade em que à comparticipação suportada por um sistema é acrescida uma segunda percentagem de comparticipação suportada por um outro sistema. Havendo, assim, necessidade de submeter a prescrição a

duas entidades distintas, é necessário realizar uma fotocópia da mesma, seguindo cada uma os trâmites habituais.

Para determinadas patologias crónicas foram estabelecidas portarias e diplomas que modificam o regime de comparticipação dos medicamentos, submetendo os custos a entidades próprias. Estas prescrições estão devidamente enquadradas, devendo os respetivos diplomas e portarias serem indicados na receita, em local próprio, sendo que cada um tem as suas particularidades a nível dos medicamentos que pode ou não comparticipar.