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Capítulo 2 – Farmácia Comunitária

2.6 Interação Farmacêutico-Utente-Medicamento

A prática orientada para o utente deve nortear a intervenção farmacêutica, tal como é suportado pelo Artigo 1º do seu código deontológico: “O exercício da atividade farmacêutica tem como objetivo essencial a pessoa do doente.” [6]

Importa, mesmo em cenário de crise económica, que o repensar de atitudes e práticas não perca nunca esta noção e que o doente seja sempre defendido antes de todo e qualquer interesse pessoal, económico, político ou de qualquer outra natureza. Assim, o farmacêutico deve canalizar os seus conhecimentos e as suas capacidades para a promoção do uso racional dos medicamentos, discernindo, percecionando e distinguindo as situações passíveis do seu aconselhamento daquelas que necessitam de um reencaminhamento para acompanhamento médico, procurando ter um sentido crítico e clínico na dispensa de receitas médicas de forma a evitar que eventuais erros cheguem até ao doente e tendo consciência que deve em toda e qualquer circunstância manter-se fiel aos princípios éticos que lhe são intrínsecos e defendidos através do seu código deontológico.

2.6.1 A Importância da Comunicação

A arte de comunicar vai muito além da troca de palavras. Ser-se empático, possuir escuta ativa e passar a mensagem de uma forma eficaz nem sempre é fácil mas será um desafio que o farmacêutico deve procurar vencer sempre de forma a conseguir que o seu trabalho seja mais frutuoso.

Esta comunicação, que é pilar essencial no relacionamento entre colegas e entre a equipa de trabalho para que se crie um ambiente saudável e as atenções se possam concentrar única e exclusivamente na pessoa do doente, é igualmente importante no contacto com outros profissionais de saúde, no esclarecimento e resolução de situações eventualmente problemáticas que podem surgir em cada dia e que necessitam de diálogo interprofissional.

No entanto, é na comunicação com o utente que o farmacêutico atinge o auge da sua ação. Para tal, até uma informação científica de inegável valor e veracidade pode ser uma má escolha do farmacêutico: importa que este saiba adequar o seu discurso à pessoa que o ouve para que a mensagem seja apreendida e o mesmo se possa identificar com quem a está a transmitir e criar uma relação de confiança que a edifique.

Durante o meu estágio pude observar, não poucas vezes, que o farmacêutico é visto por muitos dos que o procuram como uma figura de confiança, que apresentando disponibilidade para os ouvir e garantindo confidencialidade, poderá ter acesso a informação preciosa que pode ser aproveitada pelo seu conhecimento e experiência para auxiliar no sucesso terapêutico, nomeadamente na correção de hábitos quotidianos, na deteção de eventuais incumprimentos terapêuticos ou até de erros e interações medicamentosas que possam estar a acontecer inadvertidamente. Para os mais idosos e para os que vivem em maior solidão, um sorriso e um atendimento de proximidade fazem a diferença.

Anexa de forma dinâmica a esta fase de escuta e perceção, está a necessidade de o farmacêutico se assegurar que quando o utente deixa a farmácia leva toda e qualquer dúvida esclarecida, levando igualmente toda a informação inerente aos medicamentos ou outros produtos de saúde que adquiriu, seja a nível de posologia, conservação, eventuais efeitos adversos e outros pontos relacionados com terapia medicamentosa ou seja com recomendação de medidas não farmacológicas e modificações de estilo de vida que permitam uma melhoria da saúde do utente.

Para atingir esta meta, não há um caminho standardizado, nem há leis absolutas. Há que olhar a pessoa que está do outro lado como igual, com confiança, compreensão, disponibilidade e humildade e ir aprendendo em cada dia para buscar a sua adesão à terapêutica.

Apesar da importância da comunicação verbal, a comunicação escrita pode ser uma ferramenta preciosa para complemento ou fortificação da informação transmitida, não se fazendo somente por palavras mas podendo igualmente recorrer a pictogramas para os utentes que não sabem ler. Esta pode variar entre pequenas anotações simples, inscrições posológicas inscritas na caixa de medicamento (Exemplo: 8/8h até acabar; ou 1 ao almoço; etc.) até folhetos mais detalhados e completos (Exemplo: estão disponíveis e de forma rapidamente acessível através do sistema informático folhetos que podem ser entregues ao utente sobre situações medicamentosas específicas como a cedência da pílula do dia seguinte ou até sobre patologias mais desconhecidas). Uma grande vantagem deste tipo de comunicação é a sua disponibilidade constante para o utente, que poderá voltar recorrer a ela sempre que necessite, sempre que alguma informação seja esquecida ou possa levantar dúvidas.

2.6.2 Farmacovigilância

Por todas as razões supracitadas e por ser o farmacêutico o profissional que coloca o medicamento nas mãos do doente, é a este que frequentemente ele recorre quando deteta reações adversas medicamentosas e quando percebe que a sua terapêutica não está a ter os efeitos desejados. Nesses casos, bem como em todos aqueles em que estes eventos sejam

detetados de forma dissimulada pelo farmacêutico, importa estabelecer uma relação de causalidade e de previsibilidade dos efeitos, para que o problema seja solucionado.

Seguir os trâmites da farmacovigilância, reportando todos os eventos que o justifiquem através do preenchimento da ficha de notificação de RAM (anexo 6) que é enviado ao INFARMED é essencial, uma vez que sendo este feedback tido em conta é possível emitir medidas preventivas e/ou corretivas como a alteração das indicações do medicamento, das suas precauções ou até em casos mais extremos a sua retirada do mercado.

2.6.3 VALORMED

Sabendo que o ciclo do medicamento também tem um ponto final, a promoção da adequada gestão dos resíduos medicamentosos faz igualmente parte desta Interação Farmacêutico- Utente-Medicamento.

Conscientes da especificidade do medicamento mesmo enquanto resíduos, a Indústria Farmacêutica, responsável pela gestão dos resíduos de embalagens que coloca no mercado, associou-se aos restantes intervenientes da "cadeia de valor do medicamento" - Distribuidores e Farmácias - e criaram a VALORMED, Sociedade responsável pela gestão dos resíduos de embalagens e medicamentos fora de uso. [7]

Ao farmacêutico cabe promover junto dos utentes a recolha e acondicionamento dos medicamentos fora de uso, através de contentores fornecidos para o efeito que se encontram sempre em local de destaque na farmácia, sendo este depois selado e enviado através dos distribuidores que os encaminham para posterior processamento.