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Disposições gerais das medidas protetivas de urgência

3.6 DA ASSISTÊNCIA, PROCEDIMENTOS E MEDIDAS PROTETIVAS

3.6.3 Das medidas protetivas de urgência aplicáveis às vítimas em situação

3.6.3.1 Disposições gerais das medidas protetivas de urgência

Devido a urgência da aplicação das medidas protetivas, trouxe o legislador algumas disposições gerais determinando, suscintamente, as formas, conteúdo, prazo, órgãos encarregados, medidas de maior eficácia e notificações pessoais à pessoa da ofendida. Nessa senda, é o que preconiza o art. 18 da Lei nº 11.340/2006, que assim refere:

Art. 18: Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no

prazo de 48 (quarenta e oito) horas: I - conhecer do expediente e do pedido

e decidir sobre as medidas protetivas de urgência; II - determinar o

268 BRASIL. Lei n. 11.340, de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 28 mar. 2018, às 14h37min.

encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso;III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências

cabíveis. 269

O dispositivo ora citado, dispõe as formas, conteúdo, prazo e órgãos encarregados, sendo que, o expediente formulado pela Autoridade Policial deve conter o mínimo de formalidades possíveis, constando, unicamente, a autoridade remetente e àquela em que será endereçada, o real propósito e a representação da ofendida. O expediente poderá ter forma de ofício, que é o documento mais comum entre as autoridades. Por vez, poderá a vítima requerer conjuntamente medidas de natureza cível, podendo, dependendo da urgência que o caso requer, ser encaminhadas pela autoridade policial somente as de natureza criminal, por preservar, primordialmente, a segurança da ofendida. No que tange ao prazo em que deverão ser analisadas, concedida ou não as medidas, é de 48 horas, sendo que o referido prazo começará a fluir da conclusão do expediente em juízo, ou seja, a Autoridade Policial terá o prazo de 48 horas para remetê-lo ao juiz, sendo que este, disporá do mesmo prazo para concedê-las, se entender cabíveis. 270

O órgão encarregado de dar a plena assistência à ofendida, como trata o mencionado artigo, é a Defensoria Pública, cuja instituição está vinculada diretamente as garantias individuais inseridas na Carta Magna, devendo o juiz, encaminhá-la quando não dispuser de advogado constituído nos autos, não obtiver recursos para contratar um ou estiver privada da posse de seus bens. No que concerne a comunicação ao Ministério Público, não sendo o caso de o Magistrado conceder as medidas liminares abrirá vista para o órgão ministerial para as medidas que entender cabíveis. 271

269 BRASIL. Lei n. 11.340, de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 28 mar. 2018, às 14h37min.

270 SOUZA, Sérgio Ricardo de. Comentários à lei de combate à violência contra a mulher: Lei Maria da Penha 11.340/20060: comentários artigo por artigo, anotações, jurisprudência e tratados internacionais. Curitiba: Juruá, 2007. p. 100-101.

O art. 19 da Lei nº 11.340/2006 272 trata da legitimidade tanto da vítima, quanto do Ministério Público para requerer as medidas protetivas, bem como a possibilidade de ser concedida de ofício pelo Juiz, isto é, sem a necessidade da oitiva das partes, podendo ser aplicadas de forma cumulativa ou isolada, bem como serem substituídas e renovadas, a qualquer tempo, por medidas mais eficazes.

Salienta-se que, a legitimidade do Parquet em requerer as medidas protetivas de urgência é de suma relevância, pois, pode prevalecer até mesmo quando há recusa por parte da ofendida, sendo este o posicionamento Alice Bianchini, a seguir:

Assim, o Ministério Público não tem que se quedar passivo, aguardando a iniciativa da vítima, devendo, inclusive, em casos extremos, requerer medidas contra a sua vontade. Aliás, esta é a preocupação principal do

dispositivo, a possibilidade não rara de uma mulher agredida, dada a sua vulnerabilidade, encontrar‐se impedida de se opor aos (às) agressores (as). A forte tradição dos valores domésticos, a própria vergonha, as consequências que recaem sobre os demais membros da família muitas vezes faz com que haja uma espera, uma aposta em esperança, em inúmeros casos fatais. É permitido e recomendado ao Ministério Público agir nessas situações, objetivando a proteção das vítimas, pleiteando por medidas protetivas por elas relegadas ou até́ recusadas, quando houver

indícios de que sua inação leva a riscos evidentes ou sua vontade não é livre ou espontânea. 273 (grifou-se)

O art. 20 274 da lei em apreço conjuntamente com a leitura do art. 313, inciso III, do Código de Processo Penal 275, extrai-se que, a prisão preventiva é cabível nos casos envolvendo a violência doméstica e familiar, como garantia da execução das

272 Art. 19 da Lei nº 11.340/2006: As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. § 1o: As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado. § 2o: As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados. § 3o: Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.

273 BIANCHINI, Alice. Lei Maria da Penha: Lei n. 11.340/2006: aspectos assistenciais, protetivos e criminais da violência de gênero. Coleção saberes monográficos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978854772/cfi/4!/4@.00:23>. Acesso em: 27 mar. 2018, p. 173.

274 Art. 20 da Lei nº 11.340/2006: Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade policial. Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

275 Art. 313, III, do Código de Processo Penal: Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.

medidas protetivas de urgência, podendo esta, ser decretada a qualquer tempo, seja na fase investigativa ou instrucional, mediante requerimento do Ministério Público, de ofício pelo magistrado ou por meio de representação pela Autoridade Policial.

Além do mais, recentemente e pela primeira vez, em 03 de abril de 2018, através da Lei nº 13.641/18, houve a inserção da tipificação de crime de descumprimento das medidas protetivas de urgência na Lei Maria da Penha, tendo sido capitulado no art. 24-A, com pena de 03 (três) meses a 02 (dois) anos, veja-se:

Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. § 1o A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as medidas. § 2o Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança. § 3o O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis.” 276

No que refere a notificação de todos os atos à pessoa da ofendida, encontra- se respaldo, precisamente no art. 21 da Lei Maria da Penha 277, que vai ao encontro do princípio constitucional da informação, onde, há a possibilidade da ofendida acompanhar todos os atos processuais, habilitando-se, inclusive, como assistente do órgão ministerial, porém, é de cunho destacar, que a notificação desta não dispensa a do advogado ou do Defensor Público. No mais, preocupou-se o legislador em proporcionar a vítima tranquilidade e segurança, pois, esta deverá ser notificada do ingresso e saída do agressor do sistema prisional, bem como vedou a entrega pela vítima de qualquer intimação ou notificação ao ofensor, pois, seria desarrazoado tal procedimento, porquanto, estaria novamente a vítima sujeita a reiteradas agressões, e, porventura, haveria a desistência por parte desta, do prosseguimento e processamento em desfavor do agressor. 278

276 BRASIL. Lei n. 11.340, de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 29 mai. 2018, às 15h37min.

277 Art. 21 da Lei nº 11.340/2006: A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor público. Parágrafo único: a ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agressor.

278 SOUZA, Sérgio Ricardo de. Comentários à lei de combate à violência contra a mulher: Lei Maria da Penha 11.340/20060: comentários artigo por artigo, anotações, jurisprudência e tratados internacionais. Curitiba: Juruá, 2007. p. 113-114.

Repassadas as disposições gerais contidas na Lei Maria da Penha concernentes a tramitação das medidas protetivas de urgência, apresentar-se-á, nos tópicos subsequentes, as espécies de medidas abrangidas na lei supracitada.