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2.3 CONFIGURAÇÕES FAMILIARES

2.3.1 Relevantes unidades familiares

2.3.1.2 Família informal

As uniões extramatrimoniais em todos os tempos se fizeram presentes, contudo, ao contrário do casamento, não obtinham proteção estatal, aliás, eram repudiadas pela sociedade. O legislador além de não as regularizar, com veemência negava-lhes direitos e efeitos jurídicos, quando formada a relação simplesmente de vínculos afetivos, ou seja, fora do padrão institucionalizado, que era o casamento. Não obstante a lei não as regularizar e protegê-las, tal ojeriza não coibiu as pessoas de saírem de um casamento, o qual já estava desfeito, para constituírem uma nova família. Porém, quando do rompimento dessas uniões, demandas surgiram às portas do Judiciário, e, no intuito de evitar injustiças, os juízes foram forçados a criar mecanismos e alternativas, os quais fomentaram a expressão companheira como forma de contornar as proibições para o reconhecimento dos direitos banidos pela lei à concubina, no entanto, essas relações ainda eram alvos de rejeição, principalmente quando não resultante de patrimônio a ser partilhado entre o homem e a mulher, sendo esta identificada na jurisprudência, simplesmente como uma relação decorrente de trabalho, fazendo com que o Poder Judiciário concedesse a mulher, de forma camuflada, alguns direitos, justificando-se como uma forma de indenização por

serviços domésticos prestados. 87

Ou seja, no passado o legislador aceitava apenas a família constituída através do matrimônio e vedava quaisquer direitos às relações informais. No entanto, com o passar dos anos e com a evolução da sociedade, o legislador acabou por expurgar a carga de preconceito sobre estas relações conjugais, conferindo-as na Constituição Federal de 1988, precisamente em seu artigo 226, as quais foram reconhecidas como entidade familiar, digna de proteção estatal. Assim, a união estável pode ser entendida

87 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 3. ed. em e-book baseada na 12. ed. Impressa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. Disponível em:

<https://proview.thomsonreuters.com/title.html?redirect=true&titleKey=rt%2Fmonografias%2F7647464 8%2Fv12.2&titleStage=F&titleAcct=ia744d7790000015da87794282d915157#sl=e&eid=73cc7a8bcf04 50a4fa656e88a83be175&eat=a-132650116&pg=6&psl=&nvgS=false>. Acesso em: 28 fev. 2018, p. 19-20.

como aquela que não se prende às formalidades oriundas e determinadas pelo Estado. 88

Logo, a união estável foi considerada como um grande marco na evolução do Direito de Família, estando prevista no art. 226, § 3º, da CF/88, transcrito in verbis: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. ” 89

Destarte, a união estável é reconhecida no art. 1.723 do Código Civil de 2002, da seguinte forma: “é reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”. 90

Nas palavras de Maria Berenice Dias a união estável “ nasce da consolidação do vínculo de convivência, do comprometimento mútuo, do entrelaçamento de vidas

e do embaralhar de patrimônios. ” 91 (grifo do autor)

Rodrigo da Cunha Pereira a compreende da seguinte maneira:

Em síntese, união estável é a relação afetivo-amorosa, não incestuosa, entre duas pessoas, com estabilidade e durabilidade, vivendo sob o mesmo teto ou não, constituindo família sem o vínculo do casamento civil. E concubinato é a relação conjugal que se estabelece simultaneamente a outra relação conjugal e que melhor se denominaria união estável simultânea ou família simultânea. 92

88 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e união estável. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788547206215/cfi/4!/4/4@0.00:0.00>. Acesso em: 28 fev. 2018, p. 17.

89 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 26 fev. 2018, às 23h40min.

90 BRASIL. Código Civil. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 26 fev. 2018, às 23h53 min.

91 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 3. ed. em e-book baseada na 12. ed. Impressa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. Disponível em:

<https://proview.thomsonreuters.com/title.html?redirect=true&titleKey=rt%2Fmonografias%2F7647464 8%2Fv12.2&titleStage=F&titleAcct=ia744d7790000015da87794282d915157#sl=e&eid=73cc7a8bcf04 50a4fa656e88a83be175&eat=a-132650116&pg=6&psl=&nvgS=false>. Acesso em: 28 fev. 2018, p. 19.

Ibrahim Fleury de Camargo Madeira Filho adota o seguinte conceito de união estável:

União respeitável entre um homem e uma mulher, reconhecida pela Constituição Federal como entidade familiar, sob a forma de convivência duradoura, publica e continua, com a aparência de casamento, que revela intenção de vida em comum e objetivando constituir família. Com o advento da Constituição Federal de 1988, a união estável deixou de ser apenas sociedade de fato e ganhou o status de entidade familiar; não se confunde com união livre (desprovida da intenção de constituir família), tampouco com concubinato (CC, art. 1.727). 93

Maria Berenice Dias refere como o direito rotula a união estável:

[...] a união estável inicia de um vínculo afetivo. O envolvimento mútuo acaba transbordando o limite do privado, e as duas pessoas começam a ser identificadas no meio social como um par. Com isso o relacionamento se torna uma unidade. A visibilidade do vínculo o faz ente autônomo merecedor da tutela jurídica como uma entidade familiar. O casal transforma-se em universalidade única que produz efeitos pessoais com reflexos de ordem patrimonial. Daí serem a vida em comum e a mútua assistência apontadas como seus elementos caracterizadores. Nada mais do que a prova da presença do enlaçamento de vida, do comprometimento recíproco. A exigência de notoriedade, continuidade e durabilidade da relação só serve como meio de comprovar a existência do relacionamento. Atentando a essa nova realidade o direito rotula a união de estável. 94 (grifo do autor)

Somente à título de conhecimento, em relação aos bens adquiridos na constância da união estável, por presunção legal, passam a pertencer a ambos os companheiros/conviventes, passando-se a gerar, consequentemente, consequências jurídicas e, assim, gerando um novo estado civil. Além do mais, na união estável, os companheiros têm a faculdade de ajustar um contrato de convivência (art. 1.725 do Código Civil/2002), estipulando o que quiserem, porém, se nada ajustarem, a escolha é feita pela lei, incidindo, automaticamente, o regime da comunhão parcial de bens

(artigos 1.658 a 1.666 do Código Civil/2002). 95

93 MADEIRA FILHO, Ibrahim Fleury de Camargo. Conversão da união estável em casamento. São Paulo: Saraiva, 2014. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502214767/cfi/1!/4/4@0.00:23.0>. Acesso em: 26 fev. 2018, p. 35.

94 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 3. ed. em e-book baseada na 12. ed. Impressa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. Disponível em:

<https://proview.thomsonreuters.com/title.html?redirect=true&titleKey=rt%2Fmonografias%2F7647464 8%2Fv12.2&titleStage=F&titleAcct=ia744d7790000015da87794282d915157#sl=e&eid=73cc7a8bcf04 50a4fa656e88a83be175&eat=a-132650116&pg=6&psl=&nvgS=false>. Acesso em: 28 fev. 2018, p. 20.

Destaca-se que o Estatuto das Famílias (PL nº 2285/2007) prevê a criação do estado civil de conviventes aos casais que estabelecerem a união convencional/estável. 96

Ressalta-se ainda, que o princípio da monogamia não é aplicável à união estável e sim ao casamento, sendo que, no âmbito penal, o duplo matrimônio é crime, capitulado como bigamia (art. 235 do Código Penal), não podendo, no entanto, ser estendido de forma analógica à outra situação fática, por força do princípio da tipicidade legal, portanto, por ser a união estável distinta do casamento e este possuir regras peculiares e restritivas, tais não podem ser estendidos àquela. 97

Outrossim, embora não seja o subcapítulo pertinente para discorrer acerca das uniões homoafetivas, cumpre mencionar que, apesar de não haver texto legislativo expresso reconhecendo as relações estáveis e duradouras entre pessoas do mesmo sexo, o STF, em 05 de maio de 2011, interpretou o artigo 226 da Constituição Federal de 1988, dando a palavra final, através dos julgamentos proferidos nas referidas ADI nº 4.277 e ADPF nº 132, de que as uniões homoafetivas constituem uma entidade familiar, logo, possuem os mesmos direitos das uniões estáveis heterossexuais. Ainda, como mencionado no subcapítulo anterior, o CNJ através da Resolução 175/2003 possibilitou o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. 98

Assim, plausivelmente, a união estável foi reconhecida, seja ela decorrente de pares com dualidades de sexo distintos, seja ela decorrente de casais do mesmo sexo, não passível de formalidades, limitando-se, unicamente, a vontade de permanecerem juntos e de constituir família.

96 ROSA, Conrado Paulino da. IFamily: um novo conceito de família?. São Paulo: Saraiva, 2013. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502208681/cfi/4!/4/2@100:0.00>. Acesso em: 01 mar. 2018, p. 60-61.

97 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 3. ed. em e-book baseada na 12. ed. Impressa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. Disponível em:

<https://proview.thomsonreuters.com/title.html?redirect=true&titleKey=rt%2Fmonografias%2F7647464 8%2Fv12.2&titleStage=F&titleAcct=ia744d7790000015da87794282d915157#sl=e&eid=73cc7a8bcf04 50a4fa656e88a83be175&eat=a-132650116&pg=6&psl=&nvgS=false>. Acesso em: 28 fev. 2018, p. 22.

98 MADEIRA FILHO, Ibrahim Fleury de Camargo. Conversão da união estável em casamento. São Paulo: Saraiva, 2014. Disponível em:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502214767/cfi/1!/4/4@0.00:23.0>. Acesso em: 26 fev. 2018, p. 222.