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Figura 4.7 – Conjunto filtrante de óleo Fonte: Aquashield (2003)

B) Intervenção técnica

4.3 POLÍTICAS PÚBLICAS, GOVERNAMENTAIS E DISPOSITIVOS LEGAIS RELATIVOS ÀS ÁGUAS PLUVIAIS

4.3.2 Dispositivos legais e legislações

Brasil

Como exposto previamente, poucos são os dispositivos legais que amparam e sustentam a implantação dos sistemas de aproveitamento de água de chuva. Invariavelmente estas legislações estão associadas à questão do controle da drenagem urbana e de sua mais grave conseqüência imediata, que são as inundações, sendo então utilizados como instrumentos não-estruturais de drenagem urbana. Surgem normalmente em legislações municipais, aprovados pelas Câmaras Municipais e que, por não integrarem um conjunto de normas edilícias (código de obra do município), com a exceção do município de Guarulhos, e nem tão pouco os programas de macro drenagem, possuem pouco embasamento técnico, gerando controvérsias e interpretações que muitas vezes dificultam sua aplicação.

Município de São Paulo (SP) – Tipo 1

Muito mais voltada para o controle de cheias e inundações, a lei nº 13.276, de 4 de Janeiro de 2002 (conhecida como a “lei das piscininhas”), torna obrigatória a execução de reservatório para as águas coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500m2.

Em seu artigo 2º, § 2º, estabelece que “a água contida pelo reservatório deverá preferencialmente infiltrar-se no solo, podendo ser despejada na rede pública de

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drenagem após uma hora de chuva ou ser conduzida para outro reservatório para ser utilizada para finalidades não potáveis.”.

Nota-se que não há a preocupação com uma gestão integrada do deflúvio urbano, e sim, uma tentativa pontual de minimizar as graves conseqüências das enchentes, tanto as de ordem material como social. Outro aspecto importante a ressaltar é que no atual estágio de urbanização que a cidade se encontra, os benefícios que podem proporcionar são reduzidos dado que poucas áreas descobertas ainda restam. Sua eficácia é potencializada quando no surgimento de novos loteamentos, onde todas as edificações teriam o sistema instalado.

Um aspecto controverso da lei é a fórmula de cálculo do deflúvio gerado pela impermeabilização, apontando uma fórmula única a ser adotada. No caso de São Paulo, é:

V = 0,15 x Ai x IP x t

V = volume do reservatório (m3); Ai = área impermeabilizada (m2);

IP = índice pluviométrico igual a 0,06 m/h; t = tempo de duração da chuva igual à uma hora.

Tal formulação pode gerar controvérsia quanto à metodologia de cálculo a ser adotada, dada a possibilidade de se utilizar outra mais apropriada. Este tipo de engessamento faz com que aumente a resistência para que tal medida seja implantada, pois pode gerar questionamento por parte de projetistas e empreendedores em relação ao método adotado. Recomenda ainda que a “água contida pelo reservatório deverá preferencialmente infiltrar-se no solo, podendo ser despejada na rede pública de drenagem após uma hora de chuva ou ser conduzida para outro reservatório para ser utilizada para finalidades não potáveis”. Aqui também procura colocar em lei medidas que na prática podem ser inviáveis tecnicamente, pois a infiltração no solo pode muitas vezes ser impossível, dependendo do solo onde a edificação está implantada. É importante lembrar que a infiltração indiscriminada pode contaminar os lençóis subsuperficiais e profundos, sendo que ao se sugerir tal prática, ela deveria estar associada ao controle da qualidade da água a ser infiltrada.

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Posteriormente, o Decreto nº. 41.814, de 15 de Março de 2002 regulamentou a lei, detalhando as condições de sua aplicação. Este decreto ainda não estipula diretrizes para os casos em que a água pluvial vai ser utilizada.

Estado do Rio de Janeiro – Tipo 3

A lei estadual nº. 4.393, de 16 de Setembro de 2004, dispõe sobre a obrigatoriedade, por parte das empresas projetistas e de construção civil no Estado do Rio de Janeiro, a implantação e construção de coletores, caixas de armazenamento e sistemas distribuidores para água pluvial, nos projetos de empreendimentos residenciais que abriguem mais de 50 (cinqüenta) famílias ou nos de empreendimentos comerciais com mais que 50 m2 de área construída, naquele estado. Permite sua utilização em substituição à água potável, como “lavagem de prédios, lavagem de autos, molhação de jardins, limpeza, banheiros, etc..., não podendo ser utilizadas nas canalizações de água potável”.

Esta é mais uma lei que pode dar poucos resultados, por falta de mais detalhes e orientações, mas ainda assim, cumpre seu papel de agente de mudança da sociedade.

Município do Rio de Janeiro (RJ) - Tipo 1 e 3

O decreto nº. 23.940, de 30 de Janeiro de 2004, contempla as duas preocupações principais dos legisladores: a retenção temporária da água pluvial e o seu aproveitamento em substituição a água potável. A sua redação é inspirada na lei nº. 13.276 e no decreto nº. 41.814 da cidade de São Paulo, sendo bastante similar em relação a estas. Contudo, é uma das poucas que demonstra claramente a preocupação com a possível exposição ao risco por parte do usuário, quando de sua utilização. Isto fica patente no artigo 4º, que determina:

“Sempre que houver reuso das águas pluviais para finalidades não potáveis, inclusive quando destinado a lavagem de veículos ou de áreas externas, deverão ser atendidas as normas sanitárias vigentes e as condições técnicas específicas estabelecidas pelo órgão municipal responsável pela Vigilância Sanitária visando:

I - evitar o consumo indevido, definindo sinalização de alerta padronizada a ser colocada em local visível junto ao ponto de água não

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potável e determinando os tipos de utilização admitidos para a água não potável;

II – garantir padrões de qualidade da água apropriados ao tipo de utilização previsto, definindo os dispositivos, processo e tratamentos necessários para a manutenção desta qualidade;

III – impedir a contaminação do sistema predial destinado a água potável proveniente da rede pública, sendo terminantemente vedada qualquer comunicação entre sistema e o sistema predial destinado a água não potável.”

Esta preocupação volta a se manifestar no artigo 7º:

“Nos casos enquadrados neste decreto, por ocasião do pedido de habite-se ou da aceitação de obras, deverá ser apresentada declaração assinada pelo profissional responsável pela execução da obra e pelo proprietário, de que a edificação atende a este decreto, com descrição sucinta do sistema instalado e, ainda, de que os reservatórios e as instalações prediais destinadas ao reúso da água para finalidades não potáveis, quando previsto, estão atendendo às normas sanitárias

vigentes e as condições técnicas especificas estabelecidas pelo órgão municipal responsável pela Vigilância Sanitária, bem como a

regulamentação técnica específica do órgão municipal responsável pelo sistema de drenagem.

Portanto, avança um pouco mais em relação à questão da preocupação com a saúde dos usuários deste tipo de sistema.

Município de Ribeirão Preto (SP) - Tipo 1, 2 e 3

A lei nº. 9.520, de 18 de Abril de 2002, tornou obrigatório para os lotes edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500 m2, a execução de reservatórios para acumulação das águas pluviais como condição para a obtenção do alvará de licença para construção.

Esta legislação, inspirada naquela em vigor na cidade de São Paulo, e que apesar da simplicidade de seu texto, por não conter maiores informações sobre seus

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objetivos, valores mínimos de reservação, possibilidade de uso da água captada e outras condições para sua aplicação, amparou as exigências feitas pela Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente nos processos de parcelamento do solo submetidos à apreciação do poder público, preocupada com as questões ambientais associadas diante da ocorrência de inundações e enchentes. A secretaria recomenda ainda a ampliação dos benefícios desta medida, pela possibilidade de uso da água para irrigação de áreas verdes, lavagem de pisos e veículos ou qualquer outro tipo de uso que contemple o conceito de aproveitamento da água pluvial, como também como forma de induzir a infiltração parcial d’água no solo.

Diante do aprofundamento das questões envolvendo o Sistema Aquífero Guarani, principalmente a constatação do crescente rebaixamento do nível do sistema e o agravamento das inundações na cidade, esta legislação foi substituída pela lei nº. 10.368, de 18 de Abril de 2005, muito mais abrangente e completa. Voltada para as questões de drenagem urbana, recarga de aquífero e aproveitamento da água pluvial, esta lei estabelece que, nos locais de recarga do aquífero, devem-se implantar sistemas artificiais de infiltração da água pluvial para forçar a recarga. Em outros locais, o sistema a ser adotado é o de reservação provisória ou para utilização da água.

Reduz de 500 m2 para 200 m2 a área das edificações que devem ter tal tipo de sistema, e considerando para dimensionamento das estruturas de reservação o volume de 60 litros para cada metro quadrado de cobertura. Este número é polêmico e foi determinado sem dados técnicos, razão pela qual é bastante questionado. Contudo, é exemplar na medida em que abre a possibilidade do poder executivo local criar programas de incentivo para a readequação das edificações já existentes.

Posteriormente, esta lei foi substituída pela nº 10.631, de 12 de dezembro de 2005, que dá nova redação aos artigos da lei nº 10.368, incluindo-se a obrigatoriedade para edificações a partir de 3 (três) pavimentos, independentemente da área coberta ser igual ou inferior a 200 m² (duzentos metros quadrados).

Município de Guarulhos (SP) – Tipos 1 e 3

Através da consolidação das legislações edilícias daquele município, a lei nº. 5.617, de 9 de Novembro de 2000, estabelece o novo código de obras do município de Guarulhos. Este código é o único que incorpora em seu texto a obrigatoriedade de retenção da água pluvial no lote da edificação.

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Em seu capítulo XII, o artigo 201 impõe:

“Será obrigatória a construção de reservatório de detenção nos lotes urbanos, edificados existentes ou no licenciamento da obra, conforme parâmetro a seguir relacionado:

I - área de lote de 125,00 m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) - volume de retenção de 500 (quinhentos) litros;

II - área de lote de 250,00 m² (duzentos e cinqüenta metros quadrados) - volume de retenção de 1.000 (um mil) litros;

III - área de lote de 300,00 m² (trezentos metros quadrados) - volume de retenção de 1.500 (um mil e quinhentos) litros;

IV - área de lote de 400,00 m² (quatrocentos metros quadrados) - volume de retenção de 2.000 (dois mil) litros;

V - área de lote de 500,00 m² (quinhentos metros quadrados) - volume de retenção de 2.500 (dois mil e quinhentos) litros;

VI - área de lote de 600,00 m² (seiscentos metros quadrados) - volume de retenção de 3.500 (três mil e quinhentos) litros.

§ 1º Os lotes com dimensão acima de 600,00 m² (seiscentos metros quadrados) terão os reservatórios de detenção ou retenção com dimensionamento de volume de 6 (seis) litros por metro quadrado de área de lote.

§ 2º A exigência prevista no caput deste artigo, poderá ser dispensada desde que justificada tecnicamente.”

Em seu artigo 200º, contempla o uso da água pluvial: ”A água de chuva contida no reservatório de detenção ou retenção, poderá ser reutilizada para regar jardins, lavagens de passeio ou utilizada como água industrial”, autorizando e incentivando seu uso. Destaca-se nesta legislação que, independentemente da área impermeabilizada pela edificação, os volumes a serem retidos são função direta do lote urbano, reconhecendo o impacto que o parcelamento do solo acarreta.

Tucci (2002) estimou para diversos tamanhos de lotes urbanos de diferentes cidades brasileiras, qual deveria ser o volume necessário para amortecer o escoamento decorrente da urbanização total do lote (ver Tabela 4.20), considerando:

• declividade do lote igual a 0,1%;

• coeficiente de escoamento de 0,1 para matas, parques e campos de esporte;

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• coeficiente de escoamento de 0,5 para edificações com poucas superfícies livres;

• tempo de retorno de 2 anos;

• intensidade, duração e freqüência de acordo com os valores da região.

Tabela 4.20 – Volume de detenção para diversas cidades do Brasil (m3)

Área do lote (m2) Cidades 300 400 500 600 Florianópolis 1,14 1,74 2,26 3,08 Aracaju 1,42 2,12 2,73 3,64 Belém 1,79 2,67 3,44 4,58 Belo Horizonte 1,66 2,47 3,18 14,22 Caxias do Sul 1,36 2,03 2,62 3,48 Cuiabá 1,86 2,77 3,57 4,74 Curitiba 1,63 2,42 3,12 4,14 Fortaleza 2,18 3,25 4,19 5,56 Goiânia 1,86 2,77 3,57 4,74 Rio de Janeiro 1,2 1,84 2,39 3,26 João Pessoa 1,19 1,81 2,34 3,16 Maceió 1,04 1,58 2,05 2,78 Manaus 2,01 2,98 3,84 5,09 Natal 1,3 1,94 2,5 3,33 Niterói 1,67 2,49 3,21 4,27 Porto Alegre 1,3 1,94 2,5 3,33 Porto Velho 2,07 3,09 3,98 5,28 Rio Branco 1,74 2,6 3,36 4,47 Salvador 1,15 1,75 2,27 3,09 São Luís 1,43 2,18 2,82 3,83

Revisão da literatura – Políticas públicas, governamentais e dispositivos legais_____________ Área do lote (m2) Cidades 300 400 500 600 São Carlos 1,66 2,49 3,21 4,29 Uruguaiana 1,32 2,01 2,6 3,54 Média 1,54 2,32 2,99 4,00 Desvio Padrão 0,33 0,48 0,61 0,79 Vazão (l/m2) 5,15 5,79 5,98 6,66 Fonte: Tucci (2002)

Para o lote-padrão mínimo das cidades brasileiras, que é de 300 m2, observa- se que são necessários, em média, 1,54 m3 de volume de detenção para o período de retorno considerado variando, em 67% dos casos, entre 1,31 e 1,87 m3. A vazão específica para esse tamanho de lote é de 5,15 l/m2, podendo chegar a 6,66 l/m2 para lotes de 600 m2.

Desta forma, os valores especificados para Guarulhos apresentam similaridade com os valores médios apontados por Tucci (2002) para as cidades brasileiras, conforme Tabela 4.21.

Tabela 4.21 - Comparativo de volumes de retenção para lotes urbanos

Tamanho do lote urbano (m2) Valores médios de cidades brasileiras (m3) Guarulhos (m3) 300 1,54 1,5 400 2,32 2,0 500 2,99 2,5 600 4,00 3,5

Fonte: Tucci (2002) e lei nº. 5.617/00 (Guarulhos)

Município de Curitiba (PR) – Tipo 3

A lei nº. 10.785, de 18 de Setembro de 2003, criou no Município de Curitiba o Programa de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações (PURAE) e tem como objetivo instituir medidas que induzam à conservação, uso racional e utilização

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de fontes alternativas para captação de água nas novas edificações, bem como a conscientização dos usuários sobre a importância da conservação da água. Esta também é uma legislação de caráter local, que através da instituição de um programa voltado para a gestão de oferta e demanda de água nas edificações, estabelece a obrigatoriedade da adoção dos SAAP. Em seu artigo 2º, inciso III, define a utilização de fontes alternativas como o “conjunto de ações que possibilitam o uso de outras fontes para captação de água que não o Sistema Público de Abastecimento.”, ficando explícito no artigo 6º, inciso I, que, entre outras ações, inclui-se a captação, armazenamento e a utilização de água proveniente das chuvas.

O artigo 7º estipula usos possíveis para a água captada na cobertura das edificações e posteriormente encaminhada a uma cisterna ou tanque, podendo ser utilizada em atividades que não requeiram o uso de água tratada, proveniente do sistema público de abastecimento, tais como rega de jardins e hortas, lavagem de roupa, veículos, vidros, calçadas e pisos. Tem ainda como objetivo estabelecer que os sistemas hidráulico-sanitários das novas edificações (artigo 4º) serão projetados visando o conforto e segurança dos usuários, bem como a sustentabilidade dos recursos hídricos. Caso a concepção geral do projeto das instalações não contemple os dispositivos contidos na legislação, poderá a autoridade pública negar a concessão do alvará de construção para novas edificações (artigo 10º). Portanto, esta lei obriga de forma definitiva e inquestionável a implantação de SAAP no município.

Município de Foz de Iguaçu (PR) - Tipo 3

A lei nº 2.896, de 29 de Março de 2004, cria o Programa de Conservação e Uso Racional da água nas Edificações na cidade de Foz de Iguaçu. Trata-se de reprodução da legislação da cidade de Curitiba (acima explanada), sem mais acréscimos e com os mesmos objetivos.

Município de Pato Branco (PR) - Tipo 3

A lei nº 2.349, de 18 de Junho de 2004, é também uma reprodução da legislação de Curitiba, diferenciando-se ao acrescer no artigo 3° os requisitos mínimos (área construída) das edificações que deverão atender obrigatoriamente as disposições da lei. Tais edificações são:

I – edificação residencial com área acima de 200,00 m2; II – edificação comercial com área acima de 100,00 m2;

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III – edificação industrial com qualquer área; IV – edificação pública com qualquer área; V – edificação educacional com qualquer área.

Município de São Carlos (SP) - Tipo 1

A lei nº. 13.246, de 27 de novembro de 2003, dispõe sobre a construção de reservatório de detenção ou retenção de águas em conjuntos habitacionais, áreas comerciais e industriais, loteamentos ou parcelamentos em áreas urbanas, abertos ou não, visando a prevenção das inundações. Esta lei, cujos artigos são quase que transcrições diretas da legislação disponível na cidade de Guarulhos (lei nº. 5.617/2000), estabelece a obrigação da construção de reservatórios de retenção dentro dos lotes urbanos nos mesmos parâmetros da citada anteriormente, diferenciando-se pela exclusão dos lotes urbanos com área de 125 m2, não contemplados nesta lei. Assim como a de Guarulhos, impõe valores mínimos para os reservatórios, em função da área do lote, nos mesmos valores e condições.

Abre a possibilidade e recomenda a utilização da água de chuva captada para regar jardins, lavagens de passeio, água industrial, ou ainda, utilizada nas descargas sanitárias.

Município de Curaçá (BA) - Tipo 3

A lei nº. 280, de 23 de Outubro de 1997, cria o Programa Municipal de Aproveitamento dos Recursos Hídricos na Área Rural no Município de Curaçá (Bahia), com o objetivo de prover as comunidades rurais de infra-estrutura de captação, armazenamento e conservação de água adequada à realidade daquele Município, assegurando à população rural disponibilidade de água em quantidade suficiente e padrões de qualidade adequados ao consumo humano, além de suprir as comunidades rurais de água necessária ao desenvolvimento da atividade pecuária. Cabe ao Poder Público Municipal a “construção de cisternas caseiras, equipadas com

sistemas de captação de água dos telhados”, “fiscalização da conservação e

manutenção das obras de captação, armazenamento e conservação de água”, além

de proporcionar outras formas de abastecimento à população. Esta é a única legislação encontrada que estabelece a captação de água pluvial como instrumento direto de abastecimento de água, inclusive para consumo.

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Município de Santo André (SP) – Tipo taxa ambiental

Neste caso, a lei nº. 7.606, de 23 de Dezembro de 1997, institui a cobrança dos serviços públicos de drenagem urbana (taxa de drenagem de águas pluviais), e é devida em razão da utilização efetiva ou da possibilidade de utilização pelo usuário, dos serviços públicos de drenagem de águas pluviais, decorrentes da operação e manutenção dos sistemas de micro e macro drenagem existentes no município.

É calculada pela contribuição volumétrica de águas captadas pelas edificações e encaminhadas ao sistema de drenagem público, tomando por base o índice pluviométrico médio mensal do município que, associado à área coberta de cada imóvel, definirá o volume efetivamente lançado ao sistema.

Cabe ao Serviço Municipal de Água e Saneamento daquele município a competência para o lançamento e arrecadação desta taxa, que é cobrada em conjunto com os serviços de abastecimento de água, esgoto e remoção de lixo, conhecida naquela localidade como taxa ambiental. Apesar de ter o objetivo da arrecadação de tributos, não reconhece ou menciona a possibilidade de beneficiar edificações que possuam SAAP, que quando em operação reduzirão o escoamento para as áreas servidas pelos sistemas públicos de drenagem.

Esta omissão da legislação pode e certamente desestimula a implantação de SAAP, pois apesar da efetiva contribuição que proporciona, não ocorrerá redução do tributo proporcional à sua eficiência como medida não estrutural de drenagem urbana, por causa da interpretação que os órgãos administrativos do poder executivo possam dar quanto a sua colaboração, ainda mais que um dos componentes preponderantes de cálculo é a área de cobertura, e esta não sendo reduzida, poderá esbarrar em algum impedimento ou interpretação desfavorável da lei por parte dos representantes públicos.

Políticas e legislações internacionais

No cenário internacional, as políticas de fomento e as legislações concernentes aos SAAP são encontradas amplamente, sendo que em muitas situações o poder público ampara com subsídios financeiros e tecnológicos as ações concretas de implantação dos sistemas. Dada as diferentes características (geográficas, culturais, sociais e econômicas), cada país incentiva ou até mesmo obriga através de seus instrumentos legais (leis, medidas administrativas, portarias, etc.) a adoção dessa

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técnica. Mesmo dentro de um mesmo país, as motivações são diferenciadas, de acordo com as necessidades e o interesse público.

Sob este aspecto, pode-se citar como exemplo os Estados Unidos. Mesmo tendo como característica política a independência dos estados que formam a federação, as legislações e as políticas de incentivo são diferenciadas de acordo com cada necessidade.

A Canadian Water and Wastewater Association (CWWA, 2003) revendo as práticas e normas sobre captação de água pluvial e reúso de águas servidas em diversos países constatou que em locais onde os recursos hídricos são escassos, os SAAP são mais largamente utilizados. De forma geral, nos Estados Unidos e Canadá não são recomendados como fonte de água potável, mas em contrapartida, para as atividades onde o contato humano é reduzido ou limitado, principalmente naqueles locais de oferta restrita, são praticados e incentivados. A questão acaba sendo regulada por uma série de normas de adequação a padrões (qualidade da água, instalações hidráulicas prediais e outras) que são utilizadas como referência.