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Figura 4.7 – Conjunto filtrante de óleo Fonte: Aquashield (2003)

4.2 A QUALIDADE DA ÁGUA PLUVIAL PARA O USO NAS EDIFICAÇÕES

4.2.3 Padrões de conformidade da água potável e de uso recreacional

4.2.3.1 Organização Mundial de Saúde

Nos anos de 1984 e 1985, a Organização Mundial de Saúde (OMS) edita a primeira edição de sua norma para a qualidade da água potável (OMS, 1996), em três volumes. A primeira publicação se deu em 1993, e no ano de 1996 foi publicada a segunda edição revisada.

O objetivo principal da norma é promover a saúde pública. Deve ser utilizada como base e referência para a elaboração da norma específica de cada nação, não sendo, portanto, de caráter expressamente obrigatório. Se apropriadamente considerada, ela auxiliará no sentido de garantir a segurança da água consumida, eliminando ou reduzindo a concentração mínima, agentes contaminantes sabidamente prejudiciais à saúde.

A adequação de sua aplicação é de fundamental importância, pois se adotados valores muito restritos, poderá limitar as possíveis fontes de abastecimento, provocando eventualmente escassez de água mesmo havendo disponibilidade da mesma.

A OMS observa que a avaliação do que é seguro, ou o que seria um aceitável nível de risco em determinadas circunstâncias, é um assunto na qual a sociedade

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como um todo deve aceitar como desafio. A opção de se adotar determinados parâmetros mais restritos tem um preço. Para nações com recursos hídricos limitados é ainda mais importante estabelecer prioridades, e isto deve ser feito considerando os impactos à saúde da população em cada caso. Portanto, as referências preconizadas possuem certa flexibilidade e são passíveis de ulteriores avaliações individuais e circunstanciais.

Salienta que dado que a água é um elemento essencial para a sobrevivência humana, o abastecimento proveniente de uma fonte apropriada deve ser disponibilizado aos consumidores. Portanto, todo esforço deve ser feito para se alcançar padrões praticáveis e satisfatórios de qualidade.

A publicação é constituída de três volumes: Volume 1: Recomendações

Este volume traz os valores referência para os variados elementos constituintes da água potável. Explana como os valores para os contaminantes devem ser usados, define os critérios para selecionar os vários contaminantes de ordem química, física, microbiológicos e radioativos, descreve qual metodologia foi utilizada para se estabelecer as referências, e ainda um sumário das razões que determinados valores foram definidos, tanto para serem seguidos assim como quando não há nenhum tipo de recomendação.

Volume 2: Critérios de saúde e outras informações de suporte

Contém os critérios e as bases científicas referenciais adotadas para cada substância ou contaminante.

Volume 3: Vigilância e controle de sistemas de abastecimentos comunitários

Versa sobre o monitoramento da qualidade da água potável para pequenas comunidades, em especial nas áreas rurais, principalmente em relação à proteção das fontes hídricas de abastecimento.

Diversos países participaram na elaboração do trabalho, entre eles o Canadá, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Itália, Japão, Holanda, Noruega, Suécia, Grã- Bretanha, Irlanda do Norte e Estados Unidos da América. A publicação é atualizada e revista periodicamente, tanto em relação às substâncias relacionadas assim como os parâmetros estabelecidos, conforme surgem fatos relevantes.

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Salienta que grande parte dos agentes contaminantes pode não ocorrer em muitas nações. Quando da definição dos valores-referência, recomenda que devam ser consideradas as particularidades de cada região, como seu meio ambiente (recursos naturais, formação geológica), suas atividades antropogênicas e os aspectos culturais de sua sociedade.

De uma forma geral, considera que os maiores riscos estão associados com a ingestão de água contaminada com excrementos humanos e animais. As doenças de veiculação hídrica são as que apresentam maiores riscos às comunidades, por causa da possibilidade da disseminação em larga escala. Já os riscos de contaminação química da água potável diferem das causadas por contaminação microbiológica, pois poucas substâncias químicas podem agravar de forma aguda eventual problema de saúde, causando maiores danos quando ocorre de forma prolongada, contínua e cumulativa e, portanto, situando em um grau de risco menor do que as contaminações de caráter microbiológico.

Também considera que as alterações das características físicas da água são menos preocupantes, pois alteram os aspectos aparentes e facilmente detectáveis, como gosto, sabor, odor e transparência, proporcionando a rejeição do usuário ao seu consumo, apesar de que a eventual boa aparência da água poder não significar qualidade. Sendo o aspecto microbiológico o mais relevante, a OMS propõe uma análise da qualidade da água baseada em seus aspectos bacteriológicos, virológicos e parasitológicos.

Qualidade bacteriológica

A água para consumo e uso nas edificações não deve conter agentes patogênicos de disseminação hídrica. O mais específico indicador bacteriológico que revela contaminação fecal é a bactéria Escherichia coli (classificada como coliforme fecal ou coliforme termo-tolerante), que pela sua ação patogênica não deve estar presente em nenhuma água considerada potável.

Qualidade virológica

Assim como a água potável deve estar isenta de bactérias, ela deve estar também isenta de enterovírus para garantir um risco desprezível de transmissão de infecções virais. Qualquer sistema de abastecimento sujeito à contaminação fecal apresenta risco de transmitir doenças virais. Há dois caminhos para isto: prover água

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potável de uma fonte livre de coliformes fecais ou tratar a água contaminada por coliformes fecais para reduzir os níveis de enterovírus. A água tratada pode consideravelmente reduzir os níveis de vírus presentes, mas armazenada em grandes volumes eles podem não ser eliminados.

Qualidade parasitológica

Recomenda a inexistência de protozoários patogênicos (Giardia,

Cryptosporidium) e de helmintos, pois um único microorganismo pode causar

infecções em seres humanos. Em geral, o atendimento aos critérios bacteriológicos e a aplicação de tratamentos antivirais pode, excetuando-se casos de extrema contaminação por parasitas, garantir um nível muito baixo de contaminação parasitológica.

Além do estabelecimento de parâmetros microbiológicos, elenca uma ampla gama de substâncias químicas (tanto orgânicas como inorgânicas), que podem potencialmente serem prejudiciais à saúde, ou que indubitavelmente apresentam graves riscos. No final deste capítulo, todos os elementos e agentes patogênicos serão discriminados em quadro comparativo.

O volume três descreve os métodos empregados na vigilância da qualidade da água potável, focado nas especiais condições das fontes de abastecimento das pequenas comunidades (principalmente nos países em desenvolvimento), esboçando as estratégias necessárias para garantir que as ações propostas sejam de fato efetivas.

Está estruturado da seguinte forma:

• planejamento e estratégia de implantação da vigilância sanitária;

• inspeção;

• plano de amostragem e de análise da água; • análise dos dados e interpretação de resultados; • intervenção técnica;

• educação sanitária e;

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O trabalho é direcionado, portanto, para orientação das pequenas comunidades urbanas e rurais que por não possuírem uma fonte de abastecimento segura, exploram fontes alternativas como poços, nascentes, neblina e captação de água pluvial.

Com relação à qualidade da água, classifica e analisa nas mesmas bases supracitadas (voltadas para fontes de abastecimento de grande porte). Apesar de recomendar as mesmas referências para as fontes alternativas, flexibiliza-as, sugerindo controles mais apurados em determinados quesitos como a verificação contínua de coliformes fecais (principalmente o Escherichia coli), que é um significativo indicador. Defende que um tratamento mínimo da água, através de técnicas simples como filtragem e cloração (entre outras), podem reduzir significativamente os riscos da disseminação de doenças. Um aspecto associado à proposta de tratamento mínimo é que a proteção de mananciais e dos locais de captação de água minimiza os riscos de contaminação, reduzindo assim os custos decorrentes de um tratamento mais sofisticado que possa garantir a potabilidade. A seguir, a Tabela 4.11 com os valores máximos aceitáveis para o padrão microbiológico proposto para fontes alternativas:

Tabela 4.11 – Valores referência para qualidade microbiológica

Organismos Valor de referência

Água destinada à dessendentação

E. coli ou coliforme termotolerante

Indetectável em qualquer amostra de 100ml

Água tratada na saída do tratamento

E. coli ou coliforme termotolerante Coliforme total

Indetectável em qualquer amostra de 100ml Indetectável em qualquer amostra de 100ml

Água tratada no sistema de distribuição

E. coli ou coliforme termotolerante

Coliforme total

Indetectável em qualquer amostra de 100 ml Indetectável em qualquer amostra de 100 ml. Nos casos de grandes volumes, aonde amostras são retiradas em quantidades suficientes, não pode ser detectado em 95% das amostras por um período de um ano Fonte: Traduzido de OMS (1996)

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Quanto à contaminação química, observa que seu controle é caro e muitas vezes impraticável para determinadas comunidades. Cabe então uma observação apurada dos riscos do local, como a utilização intensiva de pesticidas nas atividades agrícolas, a exploração de minérios como o ouro (devido à utilização de mercúrio no garimpo), chuvas ácidas e demais atividades que podem apontar para um risco devido à exposição prolongada aos agentes contaminantes.

Em relação ao tratamento da água, propõe a desinfecção com cloro da fonte e ainda recomendando um teor de cloro residual nos sistemas de distribuição. A cloração é um método relativamente simples de adotar como também de fácil aplicação. Nos sistemas de distribuição, sugere uma quantidade de cloro residual de pelo menos 0,5 mg/l, por um período mínimo de ação de trinta minutos, para um pH menor de 8,0. Sugere ainda um total de 0,2-0,5 mg/l de cloro residual livre ao longo do sistema, para reduzir os riscos de recontaminação microbiológica. Esta prática torna- se mais efetiva quando a turbidez é menor que 5 UT, pois a turbidez excessiva pode proteger microorganismos da ação de desinfecção, estimular o crescimento das bactérias eventualmente existentes e elevar o consumo do desinfetante empregado. Mesmo sendo extremamente recomendado, alerta que no processo de desinfecção por cloro pode surgir subprodutos potencialmente perigosos, mas que os riscos associados a estes são bem menores do que o inadequado tratamento.

Critério do monitoramento mínimo

O critério do monitoramento mínimo fundamenta-se em que é muito mais efetivo verificar um número menor de parâmetros chave o mais freqüentemente possível (baseado na percepção das características e condições locais ou regionais), simultaneamente ao monitoramento sanitário, do que conduzir extensas e esparsas análises de uma grande gama de parâmetros que podem ser muitas vezes irrelevantes.

Os mais significativos são: • coliformes fecais e;

• cloro residual (se empregado como processo de desinfecção).

Podendo ser adicionados ainda:

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• turbidez (se qualquer tipo de processo de tratamento é utilizado).

Mesmo assim, ressalva que é importante que uma ampla investigação deva ser feita, onde todos os fatores de qualidade da água devam ser levados em conta, quando novas fontes de abastecimento alternativas são exploradas.

Investigação das condições gerais de abastecimento por fontes alternativas

A investigação e análise de um sistema de abastecimento comunitário é uma avaliação de todos os fatores e recursos (tanto físicos como humanos) que podem afetar o serviço de abastecimento, os aspectos sanitários e as condições gerais de saúde de uma comunidade. As fontes de abastecimento alternativas devem ser objeto de avaliação e análise sob dois aspectos: