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6 Dados replicados pelo autor José da Silva Gomes Júnior e divulgados no Blog do PPGCOM UFA, disponível em: https://ppgccom.wordpress.com/2011/09/14/o-novo-ecossistema-midiatico/. Acesso em 05/02/15

31 O jornal The Daily, vinculado à Newscorp, de propriedade de Ruppert Murdoch,foi o primeiro veículo pensado exclusivamente para tablets e pode-se dizer que foi um produto pensado dentro do novo ecossistema midiático. Surgiu em fevereiro de 2011 e chegou ao fim em dezembro de 2012, algo que fez os editores de marcas jornalísticas repensarem o fato de ter versões diferentes para várias plataformas. O modelo de negócios do jornal baseava-se na venda das edições digitais por 0,99 dólares ou uma assinatura anual de 39,99 dólares. A experiência do Daily foi temporalmente curta, levou muitas críticas por replicar notícias de agências quando se tratava de um jornal pago e que deveria ter um conteúdo diferenciado para a audiência. O anúncio do fim das edições foi justificado por não ter alcançado audiência suficiente, mas evidenciou uma necessidade para o negócio jornalístico: o espaço ocupado pelo mercado dos dispositivos móveis e a mobilidade do leitor-usuário, que pode acessar conteúdos quando e como quiser.

Esse exemplo pode indicar alguns caminhos trilhados por empresas jornalísticas diante dos dispositivos móveis, como a criação ou adaptação de versões móveis e a necessidade de reformulação dos modelos de gestão. Algumas empresas podem até não optar por estar presente nesses dispositivos, mas o momento vivido pelo jornalismo digital pressupõe a mudança de comportamento.Os leitores em mobilidade são pano de fundo para tentar entender como as empresas percebem e montam seus modelos de gerenciamento - incluindo as mídias digitais - a partir do caso paradigmático do NYTimes e para entender como se dá o processo de produção e distribuição de conteúdos que, por estarem em ambiência digital,oferecem possibilidades de interação através do „touch notícia‟ e de inovação por meio de conteúdo integrado.

Sob o ponto de vista mais centrado na formação cultural, Jenkins (2009) aponta que os consumidores de mídia sentem falta de novas formatações nos veículos de comunicação, com novos conteúdos e formas de integração entre eles. Não se trata apenas de plataformas diferentes como aparatos tecnológicos que não oferecem interação e funcionalidade. O pesquisador mostra a cultura da convergência com outra perspectiva de ciberespaço que, já com avanços do “www”, pode gerar diversas formas de acesso, participação e inteligência coletiva dentro da internet por meio de múltiplos meios de transmissão. O mesmo autor avança na perspectiva das mídias espalhadas – „spreadable media‟ – como um contexto panorâmico da situação atual da imprensa em um cenário cibercultural, que faz o mercado jornalístico e editorial procurar soluções alternativas para o modelo tradicional de produção, veiculação e circulação de notícias.

Assim como os dispositivos móveis são entendidos como uma das recentes inovações do mundo digital, os conteúdos nelas dispostos podem ser compreendidos como modificação do

32 comportamento de consumo de informação a partir do momento em que esses dispositivos vão além de simples telefones ou computadores conectados à internet, mas permitem o toque (touch- screen), ampliando, diminuindo ou posicionando da melhor forma para o usufruto da informação.

Com a intensificação do uso desses dispositivos midiáticos está ocorrendo um constante aumento do volume, do fluxo, da rapidez e da mobilidade da informação. O usuário tem, cada vez mais, domínio sobre aquilo que está clicando e interagindo. Dessa forma, o papel do mediador ou líder de opinião se reconfigura ou até coexiste por conta das diferenças de interação impulsionadas na rede. No caso dos jornalistas, essa mudança é sintomática, pois afeta desde os ensinamentos da sala de aula até a rotina profissional dedicada ao produzir notícia.

A partir destas considerações iniciais sobre a massificação dos dispositivos móveis, da mudança no consumo de informação e da adaptação de versões (diferentes ou não) do jornalismo produzido para os móveis e que é divulgado neles, nosso recorte teórico e a pesquisa empírica pretendem desenvolver uma reflexão pouco feita sobre o tema na área de comunicação até o momento: como as redações criam processos de gestão e modelos de produção e distribuição integradas de conteúdos nas diferentes versões digitais, manuseando homepage, versão móvel e produtos específicos criados para os mesmos dispositivos. Assim, o segundo ponto de reflexão é entender como as redações enxergam o conceito de mobilidade e o uso crescente dos dispositivos móveis para incrementar a oferta de produtos jornalísticos.

Vale ressaltar, novamente, que a pesquisa diferencia jornalismo em mobilidade e jornalismo móvel, e não está focada em perceber os dispositivos móveis como ferramentas utilizadas para a produção de notícias, mas sim a produção de notícias que vai "alimentar" o dispositivo móvel, especialmente do ponto de vista do gerenciamento de mídia (PICARD, 2013), pouco abordado pelas pesquisas brasileiras atualmente.

No momento, pesquisas brasileiras sobre mobilidade no jornalismo como as de Fernando Firmino da Silva (2013), João Canavilhas (2013), Eduardo Campos Pellanda (2012), Figueiredo (2013) e Carlos Alberto Zanotti (2013) exploram a questão tecnológica do dispositivo, mas não discutem nem exploram os dispositivos móveis como expressão comunicacional e caminho para o fortalecimento de marcas. E é sob esta perspectiva que o presente trabalho encara a inserção desses dispositivos na redação e na divulgação de conteúdo - como reformuladores do consumo e da produção de notícia e, especialmente, da gestão do modelo (de negócio, tecnológico, de conteúdo, de produção e distribuição) adotado pela empresa jornalística.

33 Também é de interesse do estudo identificar a gestão do jornalismo enquanto "marca", observando quais estratégias são utilizadas no fortalecimento da produção integrada de conteúdo que interferem na consolidação dos produtos da empresa, fortalecendo-a como "selo de qualidade e/ou credibilidade" e não apenas como empresa gestora de negócios. Nesse sentido, falar em gerenciamento de estratégias de mídias digitais deixa de ser um aporte exclusivo de mercado e passa ser uma preocupação epistemológica para auxiliar na criação de valor das organizações jornalísticas diante do cenário de concorrência e desenvolvimento de tecnologias cada vez mais surpreendentes.

Por isso, identificar um caso como o do NYTimesé relevante para refletirmos o estado da arte dos processos de gestão de mídia móvel como parte integrante dos modelos de negócio mais atuais no campo do consumo da informação. Vale destacar que o jornal foi escolhido por possuir um ciclo de inovação dinâmico, o que será tratado mais profundamente adiante.