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Grandes revoluções de materialidade tecnológica e simbólica marcam, então, o início do século 21 – ainda que tenham surgido anteriormente a ele. Com base nos conceitos que marcaram, de certa forma, uma introdução ao conceito de tecnologia digital referenciados no tópico anterior, damos sequência na tentativa de esquematizar como surgiu o tablet de acordo com o avanço dos computadores pessoais/portáteis - Personal Digital Assistance (PDA) e tablets, como são chamados atualmente. Este tópico materializa a evolução do desktop, palmtop até celulares e dispositivos móveis.

Os computadores portáteis surgiram antes mesmo dos desktops serem formados por interfaces amigáveis, o que reforça a ideia de que a busca pela cronologia do avanço das tecnologias é falar de uma série de experimentações pensadas por diversos 'gênios' das ciências exatas que poderiam ou não dar certo. O exemplo mais antigo de um computador portátil é de 1968, quando o cientista da computação Alan Kay pensou em uma espécie de “caderno digital” para crianças com a marca lúdica de aprendizado Dynabook. O aparelho serviria como um computador para crianças com tamanho apropriado para que elas o carregassem: uma folha de papel A4 (MOGGRIDGE, 2006).

43 Acompanhava um teclado e ainda era possível conectar para acessar textos da escola. Assim, o principal atrativo do aparelho eram as funções dos programas educacionais, como a ideia da lousa mágica que vinha acompanhada de uma caneta „interativa‟, sensível à tela. Esse primeiro dispositivo fez referência aos tablets, indicando na década de 1960 importantes características que serviram de marketing para o iPad: linguagem simples e sistema de usabilidade que permitia a exploração dos programas para criar as próprias formas de aprendizado (LAMMLE, 2012; SAMPAIO, 2010).

Quanto ao começo do estilo touch, Lammle (2012) aponta um device (10 by 10-inch RAND Tablet) de 1964 desenhado sem teclado, bem limitado, mas que indicou diagramas e escrita pelo “digital stylus”. Mais tarde, em 1979, a Apple criou o Graphics Tablet para o computador Apple II. O produto, no entanto, além de caro (cerca de U$ 2 mil, hoje), era ineficiente, pois começou a interferir no sinal dos canais de TV.

Ainda que os computadores portáteis fossem a inovação da época, eram pensados com uma lógica de aprendizado ou entretenimento, sem vislumbrar o uso contínuo ou para trabalho. Em 1982, surge o primeiro laptop da Epson HX-20, cujos atrativos eram o tamanho, o peso, a tela LCD e os 16 kbytes de memória interna. Pela primeira vez as baterias poderiam ser recarregáveis contando ainda com uma “micro fita cassete” para armazenamento.

Em 1984, foi lançado o KoalaPad, também para crianças e muito parecido com a lousa mágica. Em seguida, em 1989, temos o primeiro „palm top‟ - portátil e aclamado pelas empresas, já que desempenhava a função de armazenamento de contatos e de escrever documentos com o tamanho de uma fita VHS, garantindo o uso contínuo pela facilidade de carregar o aparelho. O Palm perpetuou-se durante alguns anos como uma agenda digital associada ao trabalho, incorporado aos devices tecnológicos que impactavam mais pela inovação e já anunciavam uso facilitador.

No mesmo ano, o designer Jeff Hawkins desenvolveu o computador-tablet, o GridPad, associado a uma tela sensível com caneta ao invés do teclado, os slatescomputers (SAMPAIO, 2010), algo que parecia inédito no iPad de 2010. Isso mostra que os tablets fazem parte do imaginário de uma parcela pequena de consumidores há cerca de 50 anos no mínimo. O GridPad durou um ano, pois a empresa do aparelho teve problemas financeiros em 1990 (LAMMLE, 2012).

O autor também aponta 1996 como um ano marco para os slatescomputers, com o PalmPilot, primeiro Pen Computer a ter sucesso no mercado, pois trazia um hardware melhor que os outros e um sistema de caracteres com movimentos. A partir de então, esses aparelhos

44 eram associados ao conceito de Personal Digital Assistance (PDA), com boas vendas até o surgimento dos smartphones, aparelhos que associaram a tecnologia de tela sensível e armazenamento ao sistema telefônico de conexão à internet.

O nome Bill Gates, por exemplo, aparece no contexto desses PDAs, já que continuou com os investimentos da Microsoft no “desenvolvimento de software destinado aos tablets” (SAMPAIO, 2010) e em 2001 lançou o Windows XP Tablet com a capacidade de um computador, porém sem teclado.

Oportuno dizer também que durante o fim da década de 1990 e início dos anos 2000, os notebooks começaram ganhar força juntamente aos híbridos (SAMPAIO, 2010), que mesclavam tela sensível com teclado para uso opcional, consolidando um cenário tecnológico voltado para o mundo coorporativo. Sem mencionar os jogos touch,que surgiram também nesse período recente, e os primeiros smartphones comercializados de 2006 em diante aliando ainda mais computação e informação – processadores inimagináveis para o tamanho do dispositivo foram agregados a câmeras, sistema audiovisual e códigos sensíveis ao toque que acompanham o movimento dos sistemas analógicos, mas reformatam comportamentos humanos (JENKINS, 2009).

Depois de todo o apanhado histórico e de todas as tentativas e experimentações das empresas e laboratórios digitais, a Apple (na figura de Steve Jobs) lança o iPod como um agregador de músicas, legitimando-se como o principal Mobile Internet Device do século XXI. Do agregador de músicas e de aplicativos temáticos, a empresa desenvolveu o iPhone, com sistema de telefonia, antecessor do tablet Apple, lançado apenas em janeiro de 2010.

Esses são exemplos do perpassar tecnológico e do que podemos chamar de “evolução de ideias e de inovações” em poucos anos. A tecnologia avançou na parte operacional e usual até chegar ao dispositivo móvel que pode ultrapassar a venda de computadores até 2014. Para falar nesse aparato, que carrega a imponência de ser um meio de comunicação, é preciso considerar a ambiência digital do dispositivo que, mesmo podendo ser usado off-line, parece ter mais sentido quando está conectado à internet.

A nomenclatura "móvel" é usada pelo fato dos objetos concentrarem variadas práticas e affordances8 incluindo mídia móvel, comunicação móvel e tecnologia móvel. Por isso,

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affordance no campo da Comunicação, palavra que ainda não encontrou tradução exata em português,

mas que pode ser entendida como a qualidade de um objeto perder sua função original para outras possibilidades de usos. Desta forma, a affordanceda central de telefones celulares não se resume à mobilidade, “mas sim ao fato de que o usuário torna-se um terminal móvel para interação comunicativa

45 paralelamente à evolução técnica dos dispositivos móveis, pesquisadores também desenvolveram estudos que colocassem essas tecnologias como elementos de influência profunda na sociedade, política, economia, cultura, relacionamentos e identidade, com implicações nos negócios do mundo contemporâneo, governo, sociedade civil etc. Perceber as tecnologias móveis como um campo a partir da década de 1970, tem um impacto ainda maior após a disseminação desses portáteis no cotidiano das relações humanas na primeira década dos anos 2000 (GOGGIN et al, 2015).

Nas ciências sociais, e consequentemente no jornalismo, não poderia ser diferente. Primeiro, percebe-se um impacto histórico da tecnologia na produção e distribuição de informações; em seguida, os desafios e as dúvidas que esse campo gera começam a fomentar a rotina diária das redações e das empresas jornalísticas. Então, para associar a mobilidade ao campo da comunicação, também é preciso entender que as tecnologias móveis demoraram a serem inseridas no contexto da pesquisa em ciências sociais anos depois da ascensão do telefone. É em 2002, com o livro PerpetualContact: Mobile Communication, Private Talk and Public Performance, de James E. Katz e Mark Aakhus, que começam a surgir estudos que colocam a mobilidade não apenas como um objeto que estabeleceu uma mudança no comportamento social, mas como protagonista da cena que acontecia no mundo. Ubiquidade e pervasividade começaram a aparecer como aspectos disruptores nos aparatos tecnológicos móveis e, por isso, não era mais possível entendê-los apenas como um campo de estudos dos engenheiros, matemáticos e desenvolvedores (GOGGIN et al, 2015)..

Mas é uma década depois que temas que envolvem mídia móvel e estudos em mobilidade emergem - especialmente por meio da interdisciplinariedade dos estudos. Sociologia e Antropologia saem na frente em estudos que tratam da mobilidade como um conceito social disruptivo para, dessa forma, entender a tecnologia móvel como uma área de pesquisa que trata da dimensão das transformações sociais aliadas aos processos de urbanização, migração e como paradigma das sociedades contemporâneas e suas comunicações destacadamente.

Por isso, passamos da evolução tecnológica para a evolução da pesquisa para identificar um campo de estudos de tecnologias móveis para o desenvolvimento de diferentes áreas como é o caso do jornalismo, no qual se percebe a geração de novas plataformas, aplicações para mediada através dos vários contextos de vida diária” (HELLES, 2012, p.18).

46 notícias, vídeo, publicidade, áudio, revistas, fotografia. Então, o objeto de estudo da comunicação móvel passa da evolução tecnológica para como as pessoas utilizam essa tecnologia e como ela modifica o cotidiano (GOGGIN et al, 2015).

Com base nessa evolução, vamos entender o jornalismo atual como um campo em que a mobilidade e os dispositivos móveis são centrais para o entendimento da produção e do consumo de informação por parte das sociedades. Assim, utilizar a bibliografia já existente para fomentar a discussão das terminologias usadas para a caracterização do jornalismo digital como um ecossistema da contemporaneidade é um primeiro passo para, em seguida, caracterizar a fusão da condição humana atual (mobilidade)com o que vem sendo produzido pelas marcas jornalísticas na busca por plataformas móveis otimizadas e "amigáveis" que vamos definir teoricamente como jornalismo em mobilidade (JM) a partir de uma revisão dos termos utilizados por pesquisadores da área.