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O Status atual do Jornalismo digital: Jornalismo em mobilidade

51 Os recentes estudos no campo de jornalismo digital focam nas chamadas mídias móveis como um nicho de produção de notícias em ambiências digitais com formatos diferenciados, um nicho de jornalismo (o jornalismo para tablets/smartphones)inadequadamente chamado de jornalismo móvel como apontamos no capítulo 1 desta dissertação.

No entanto, as recentes experiências de jornais nacionais e internacionais mostram que não existe jornalismo para tablets ou jornalismo para smartphones. O que se pode dizer é que há experiências embarcando no conceito de mobilidade para impulsionar novos produtos jornalísticos.

Graças à mobilidade das pessoas que utilizam seus aparelhos a todo instante, seja para se conectar com o mundo, seja para preencher um tempo aparentemente "improdutivo" nas filas ou no trânsito, por exemplo, elas podem, através de um único aparelho, acessar internet, filmar, fotografar, ouvir música, escrever entre tantas outras possibilidades que aparecem na forma de aplicativos.

No campo jornalístico, os avanços das últimas décadas reconfiguraram ambientes e rotinas de trabalho, espaços especificamente designados para a consolidação profissional e do fazer jornalístico. Das fitas cassetes e do rádio, à televisão e às telas com mobilidade; do impresso à rede digital. Resta entender o paradigma criado pela convergência de interfaces dessas diversas plataformas: hoje podemosnos conectar à internet tanto pelo monitor da televisão quanto do computador conectado a própria televisão. As mídias caminham para um tempo em que a diferenciação é feita pelo usuário, ainda que protótipos sejam desenvolvidos para „melhorar‟ e diferenciar os tradicionais veículos.

Novas linguagens, formatos, navegações e interatividades também surgem com as outras formas de consumo de informação, ocasionadas, principalmente, pelo boom da rede e, consequentemente, da cultura digital. Essa afirmação já vem sendo estudada por diversos teóricos da filosofia, sociologia, comunicação e engenharia. Cada vertente com seus pressupostos tem em comum a atual realidade de um mundo globalizado – a informação online gerando experiências de sociabilidade, consumo e, de certa forma, intervenção.

A mobilidade, considerada por Bauman (2001) como uma característica pós-moderna crucial para estudar sociedades contemporâneas, torna-se o cerne da preocupação de diferentes campos das ciências sociais, já que reconfigura comportamento, consumo, e organização de um ecossistema.

Por meio dos dispositivos móveis, o processo de produção, difusão e consumo da notícia fortalece a acessibilidade do usuário e, mais ainda, a produção em tempo real de

52 texto,imagem e distribuição de notícias simultaneamente pelos diversos ambientes acessíveis via rede (RENÓ, 2011).

Nesse sentido, a proposta da pesquisa também é destacar o cenário do jornalismo contemporâneo (BERTOCHI, SAAD, 2013) em uma de suas tipificações – o jornalismo em mobilidade imbuído de desafios e mudanças. Esse jornalismo parte do pressuposto da mobilidade da conexão sem fio (Wi-Fi, 3G etc) e, por isso, reconfigura a ambiência digital em que está inserido e o ciberespaço, de onde emana a cibercultura (LÉVY, 1997).

Por meio da mobilidade e do desenvolvimento tecnológico, o campo do jornalismo digital foi afetado quase que instantaneamente com a geração de novas possibilidades técnicas associadas à comunicação móvel. Diante desta necessidade crescente de se conectar e informar, algumas experiências noticiosas podem ser caracterizadas como o já mencionado "jornalismo em mobilidade", classificação dada pela pesquisa por considerar ser a que mais remete ao momento de experimentação das marcas jornalísticas na transição ou na convergência para outras plataformas.

A mobilidade também proporcionou a tactilidade, o conteúdo jornalístico como uma „touch notícia‟. Sobre isso, Jenkins aponta, mais centrado na formação cultural, que os consumidores de mídia demandam novas formatações dos veículos de comunicação, novos conteúdos e novas formas de integração entre eles. O desafio é adequar a produção e o produto às potencialidades de cada plataforma (CANAVILHAS, 2009)

Assim, o jornalismo em mobilidade seria a fase mais avançada do jornalismo digital contemporâneo por abarcar elementos que acompanharam o desenvolvimento da tecnologia, sendo incorporado à plataforma/dispositivo e à forma de produzir, reportar e distribuir.

Neste estudo, os elementos integrantes para a designação do jornalismo em mobilidade são baseados nos estudos de autores como Canavillas e Santana (2011) e Silva (2008) sobre tecnologias móveis no jornalismo; Anderson, Bell e Shirky (2013) sobre a fase atual do campo, demarcada como pós-industrial. Por isso, propõe-se aqui sete elementos que servirão como critérios para caracterizar o jornalismo em mobilidade, foco de observação desta pesquisa.

São eles: imediatismo, tactilidade, hibridismo, multimidialidade, integração com redes sociais, geolocalização, instantaneidade intensiva, acessibilidade e recursos úteis concentrados.

53 Todos estão relacionados com as affordances,10 sistema operacional e conforto que existem nos objetos tecnológicos disponíveis no mercado.

A partir dessas características, será possível elencar epistemologicamente tendências de gestão do jornalismo em mobilidade e da produção de conteúdo baseando-se na experiência do NYTimes, que foi uma das primeiras marcas a incluir a mobilidade em seu modelo de negócio. Nesse contexto, é inevitável não pensar como Felinto (2011) e considerar que as novidades tecnológicas subscrevem-se ao tempo. Não dá para ter certeza do que é mais novo e o que foi reinventado, mas os elementos elencados para jornalismo em mobilidade podem ser considerados pistas para a configuração das características técnicas, interativas e mercadológicas para o jornalismo digital pela via da mobilidade.

Entre as diferenciações que precisam ser feitas para conceituar o jornalismo em mobilidade, algumas são apontadas por Suzana Barbosa (2013), como o cuidado com a transposição de conteúdos de acordo com a plataforma, embricamento de conteúdo entre multiplataformas, cruzamento entre meios e variados dispositivos digitais, integração de processos de produção e produtos finalizados. Tais características ajudam a entender o processo de produção de conteúdo para plataformas móveis, fato que, segundo Barbosa, é uma forma de produzir de maneira convergente o que a autora classifica como continuum multimídia e que nos ajuda a defender a especificação e segmentação do jornalismo diante dos dispositivos móveis. Por isso, acreditamos que jornalismo em mobilidade é a terminologia mais adequada para caracterizar essa produção ou otimização multimídia de informações divididas em diferentes plataformas.

Este processo de produção e 'reformatação' do conteúdo jornalístico diante das diferentes 'telas' é especialmente implicado pela mobilidade, estágio do jornalismo ainda em desenvolvimento e maturação e no qual as empresas são desafiadas a inovar.

O jornalismo em mobilidade, então, não pode ser confundido com a classificação de uma vertente americana de jornalismo móvel, que será entendido aqui como o jornalismo de sites e blogs, onde a área de atuação do repórter ou freelancer é captar e produzir conteúdo noticioso por meio de ferramentas tecnológicas digitais móveis conectadas à internet, como notebook, câmeras portáteis, e os mais recentes smartphones e tablets, que serão difundidas

10Ibid nota 4

54 pelas conexões sem fio(Journalists Tools Box)11. Assim, o conteúdo é gerado e formatado nesses aparelhos e não produzidos para serem veiculados neles - caso do jornalismo em mobilidade.

Essa caracterização é importante para que não haja nomeações inadequadas ou interpretações erradas da realidade de produção das marcas jornalísticas na atualidade, já que desafios como gestão do conteúdo nas diferentes plataformas, gestão financeira e gestão tecnológica parecem imperar.

Assim, estratégias, ferramentas e produção se modificam e, a partir desse contexto e processo,aborda-se o campo de estudos que também faz parte da conceituação do jornalismo em mobilidade. Essa tipificação é entendida a partir da produções, distribuição e consumo de conteúdos jornalísticos provenientes das condições de mobilidade. São, portanto, conteúdos diferentes dos realizados com aparatos móveis, sendo dever do estudo refletir horizontes, implicações, desafios e oportunidades desta nova vertente profissional e de pesquisa (AGUADO, 2013).

As transformações no modelo de produção remodelam-se com os apps, programações de websemântica, informações armazenadas e sincronizadas na “nuvem”, que emergem e pedem uma atualização dos equipamentos de gestão e programação de conteúdo, por exemplo (AGUADO, 2013). Hardware e softaware mudam de codificação, fazendo com que as lógicas de modelo de gestão e produção também sejam alteradas (BRADSHAW, 2009). É a era PÓS- PC e a era do jornalismo em mobilidade, usufruindo das affordances dos devices móveis.

Se uma expressão resume e condensa a contribuição do desenvolvimento das tecnologias móveis à mudança da indústria de software/hardware para o conteúdo e as implicações deste na concepção tradicional de consumo cultural, isto é, a nosso ver, o de "era pós PC " . O termo foi cunhado por Steve Jobs em 2010 após o lançamento do iPad, que procurou simbolizar uma mudança de época de computadores à dispositivos menores, rápidos emultiuso, cujo a funcionalidade em torno da disponibilidade úbiqua de conteúdo e comunicações (AGUADO, 2013, p.14)12.

11 Mais informações podem ser encontradas no site http://www.journaliststoolbox.org/archive/mobile- journalism/.

12 Tradução livre da autora . Texto original : " Si una expresión resume y condensa

lacontribucióndeldesarrollo de lastecnologíasmóviles al viraje de laindustriadel software /hardware haciaelcontenido y lasimplicaciones de ésteenlaconcepción tradicional del consumo cultural , ésta es, a nuestrojuicio, la de „era post PC‟ . El términofueacuñado por Steve Jobs en 2010 a raízdellanzamientodeliPad y buscaba simbolizar de una forma sonora y llamativael cambio de

55 Por isso, nos embasarmos nos elementos característicos do jornalismo unidos à mobilidade e compreender que não existe até o momento um jornalismo produzido exclusivamente para esses dispositivos, onde a produção noticiosa seja nativa e diferenciada, é premissa para basearmos teoricamente nosso objeto de estudo, o jornalismo em mobilidade, como será explicado adiante.

Importante citar que as empresas jornalísticas são espaços de modificação e adaptação. Resiliência é um dos conceitos chaves para o atual momento de gestão digital e móvel, que pode levar a um caminho natural de integração e reorganização do espaço físico midiático. Isso altera a rotina dos profissionais, por exemplo, que também precisam produzir sabendo que o material será publicado em diversas telas (SALAVERRÍA, 2008), o que é identificado nesta pesquisa na observação empírica no NYTimes.

Apoiando-se nessas conceituações é preciso destacar que o jornalismo em mobilidade e o jornalismo móvel não são segmentos inéditos, mas sim reconfigurados por dispositivos tecnológicos e distribuídos em diferentes ambiências digitais, com novos formatos e utilizando características e elementos centrais da primeira fase do jornalismo digital, o online. Ele evolui, então, com a congruência de ferramentas em um único dispositivo.

épocaenlainformática de consumo hacia dispositi vos máspequeños, veloces y polivalentes cuyo uso gira en torno a ladisponibilidadubicua de contenido y comunicaciones".

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