DISSEMINAÇÃO DE PRÁTICAS DE GOVERNANÇA ELETRÔNICA

Conforme sugerem Rodriguez et al. (2007), a organização que possui reconhecimento no campo organizacional e adota uma prática que atinja com sucesso os seus objetivos, tende a tornar-se um modelo a ser seguido pelas demais instituições, intervindo no ambiente organizacional através de um processo de inovação. Através da análise dos dados, percebeu-se que a instituição exerce forte influência no cenário em que atua sendo reconhecida inclusive internacionalmente pelo serviço eletrônico prestado à comunidade acadêmica.

Com relação ao sucesso do e-serviço público prestado, é unânime o reconhecimento de que a prestação do serviço atingiu os objetivos a que se propôs, sendo reconhecido como um modelo de acesso e distribuição de informação científica a ser seguido por governos de outros países na promoção do conhecimento para sua comunidade científica. Assim, devido à influência e reconhecimento internacional da organização e aos resultados alcançados pelo Portal na democratização do conhecimento científico no Brasil, o e-serviço pode ser considerado um padrão inovador legítimo no ambiente organizacional acarretando em uma crença comum sobre os seus benefícios para a sociedade. Essa afirmação apoia ainda mais a proposição 3a, no sentido de o e-serviço prestado pela organização ser um modelo bem-sucedido de prática de governança eletrônica no ambiente organizacional, impactando em pressões miméticas de implementação dessa prática pelas demais organizações públicas inseridas no ambiente organizacional. A CAPES, assim, legitimou um padrão de acesso ao conteúdo científico, democratizando o conhecimento através do portal e servindo como modelo para as demais organizações.

A análise da disseminação do e-serviço prestado se deu também com relação aos fatores institucionais que influenciam na utilização do serviço por IES. Identificou-se que existe influência do ambiente organizacional na utilização do serviço pelas organizações, ocorrendo uma homogeneização das estruturas de pesquisa das IES devido às pressões sociais para obtenção de legitimidade com o uso do serviço.

Considerando o pilar regulatório da Teoria Institucional, identificou-se uma influência política no uso do portal por instituições federais, inclusive pela falta de

recursos que antes eram disponibilizados para assinatura de bases de dados e periódicos, que desde a criação do portal não são mais disponibilizados. Ou seja, devido à dependência de recursos as instituições acabam tendo que usar o portal para ter acesso ao conteúdo científico qualificado necessário.

Com relação ao pilar normativo, tem-se que o portal é reconhecido no ambiente das IES como um padrão estratégico de e-serviço para a melhoria na qualidade da pesquisa. Foi identificado que o portal é reconhecido como uma boa prática para a pesquisa nas IES, onde a instituição, para obter o reconhecimento que o portal proporciona, opta por utilizar o serviço prestado, desde que esteja conforme com as normas estabelecidas para uso do mesmo. Assim, a instituição que utiliza o portal de periódicos de alguma forma é melhor reconhecida no campo das IES, obtendo legitimidade e aceitação perante as demais.

O pilar cultural-cognitivo pode ser analisado no reconhecimento que o portal tem para a área de educação e os visíveis benefícios que ele traz às IES usuárias desse serviço. As IES privadas viam no serviço um modelo bem-sucedido que estava sendo utilizado pelas instituições federais que iniciaram com o uso do portal. Assim, as instituições privadas que não atendem aos critérios para uso do serviço vislumbram nas demais um modelo a ser seguido pelo grande reconhecimento e vantagem competitiva que essas IES adquiriram com o uso do portal. Nesse sentido, parece existir uma crença comum sobre os benefícios e a utilidade do e-serviço público prestado pela CAPES e o desejo de uso desse serviço em todo o campo organizacional das IES, tendendo a uma homogeneização desse campo.

Com isso, corrobora-se a proposição 4, pois a utilização do e-serviço público ocorre por pressões coercitivas, normativas e miméticas para obtenção de legitimidade pelas instituições usuárias no ambiente organizacional.

Com relação à relevância da organização na disseminação do serviço prestado, fica claro que a mesma é considerada hoje a entidade governamental mais influente na área de Educação junto com o ministério da qual faz parte, o MEC. Além disso, o serviço em si possui um reconhecimento mundial, sendo o maior serviço de pesquisa em capilaridade no mundo. Essa afirmação vai de encontro com as considerações de King et al. (1994) e Rodriguez et al. (2007) de que o governo é uma força institucional muito forte e impactante no comportamento de outras organizações, assim como a CAPES tratando-se de uma instituição financeira.

Tendo em vista esses fatores, a CAPES é uma instituição capaz de legitimar um padrão no uso do portal pelas IES, fato que ocorreu e resultou na adoção em massa do serviço por todas as IES que atendem as exigências da instituição. Além disso, é visível que a CAPES possui certo poder com relação às IES, no sentido de prover um serviço que supre necessidades que cada instituição não conseguiria atender sozinha. Esse fator é percebido principalmente com relação às instituições federais que passaram a não receber mais verba do governo para assinatura de periódicos e bases de dados pelo fato de estar sendo disponibilizado o portal. Assim, a tendência é que cada vez mais IES busquem atender os critérios desejados pela CAPES, para uso do portal. A proposição 4a é corroborada, tendo em vista que a implementação da prática de governança eletrônica se deu por uma organização reconhecida no ambiente organizacional, impactando em pressões coercitivas, normativas e miméticas de disseminação dessas práticas.