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C. Unidade sísmica S2U3

4. MODELO EVOLUTIVO

4.2. Evolução recente (Quaternário recente – Holocénico)

4.2.2. Distribuição da cobertura sedimentar da plataforma

De acordo com a interpretação sismo-estratigráfica exposta no ponto 3.1.3. foi elaborado um mapa de espessuras da sequência sísmica S2 referente à cobertura sedimentar pós-glaciária do troço da plataforma continental da área de interesse.

Esta sequência sísmica está presente em todo o sector da plataforma continental, exceto nos locais onde se encontram alguns afloramentos rochosos dispersos pela plataforma. No entanto, devido à localização das linhas sísmicas e os seus comprimentos, e para efeitos de interpolação dos dados na criação do mapa de espessuras representativo deste sector, foi delimitada uma área como função de fronteira conjugada com a cartografia dos afloramentos rochosos.

A cartografia dos afloramentos rochosos (Figura 4.9) foi confirmada e melhorada, na metade ocidental da área, utilizando o modelo batimétrico do fundo marinho obtido com os dados do levantamento hidrográfico (sondagem com sistema multifeixe), realizado entre Janeiro e Fevereiro de 2018 abordo do NRP “Almirante Gago Coutinho” (zona de tonalidade cinza na Figura 4.9).

Da análise do padrão cartográfico dos afloramentos rochosos existentes na zona estudada, é de destacar a mancha de rocha aflorante a cerca dos 70 m de profundidade ao largo de Sesimbra.

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Figura 4.9 – Mapa com projeção da superfície referente ao levantamento batimétrico (multifeixe) na escala de cinzas, cartografia da rocha aflorante (polígonos laranjas) e a área utilizada como fronteira para a elaboração do mapa de espessura (polígono de linha encarnada).

A espessura da cobertura sedimentar pós-glaciária (sequência S2) foi determinada a partir da distância vertical, em milissegundos (ms), entre o refletor Fundo e UMG (?), ou seja, a espessura entre o topo e base da sequência sísmica S2.

Os valores medidos ao longo dos perfis foram exportados e posteriormente introduzidos no software de informação geográfica ArcGis (ESRI), no formato shapefile de pontos. Cada ponto, representa uma amostra devidamente georreferenciada com um par de coordenadas, com um valor de distância vertical entre os refletores selecionados associado.

Assim, o mapa de espessura da cobertura sedimentar foi elaborado através de uma análise geoestatística, que tem por objeto o uso de pontos de amostragem (input do modelo), ou observação discreto e limitado, colhidos em diferentes locais numa área de estudo e, interpolar superfícies contínuas (output do modelo). Com isto, e dos vários métodos de análise geoestatística possíveis de utilizar, foi escolhido o método determinístico IDW (Inverse

Distance Weighted). O princípio deste método refere-se à influência que cada uma das

amostras no valor estimado de um ponto é determinada pelo inverso da sua distância ao ponto, elevada a uma potência. A escolha da potência é arbitrária, quanto maior é a potência, maior é a influência da amostra mais próxima e, quando a potência é nula, o ponderador é igual para qualquer amostra (Soares, 2002).

Para gerar o resultado apresentado na Figura 4.10 encontra-se em distância temporal (ms – tempo duplo), pois esta medição vai refletir a real distância entre os refletores considerados. A conversão para unidades métricas é muitas das vezes conseguidas com base em valores de propagação do som nos sedimentos que constam em tabelas, como os obtidos por Hamilton & Bachman (1982) através de amostras colhidas em diferentes ambientes marinhos, podendo assim serem extrapolados para realizar estas conversões.

A realização desta conversão torna-se bastante importante e será um dos pontos a ter em conta nos trabalhos futuros. Para tal, será necessário a realização de amostragem vertical intacta em diferentes depósitos que permita a medição da propagação do som ao longo de toda a coluna sedimentar, de forma a obter um valor médio, por unidade sísmica, que seja mais preciso e real.

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Figura 4.10 – Mapa da espessura da cobertura sedimentar (sequência sísmica S2 total) em milissegundos tempo duplo (ms td), (A) ampliação do mapa da espessura da cobertura sedimentar recente obtido, nível de informação referente à rocha aflorante (polígonos laranja) e projeção das linhas sísmicas utilizadas para este trabalho (ver também em Anexo 1) (MDT SRTM – Shuttle Radar Topography Mission: https://www2.jpl.nasa.gov/srtm/).

Com a análise do mapa de espessuras é possível constatar a variabilidade espacial bastante significativa da sequência S2 (sequência sedimentar recente) que apresenta espessura média de 14 ms (cerca de 12 m com Vp = 1800m/s), podendo atingir valores superiores a 40 ms (superior a 30 m) nas zonas onde se observa um declive entre os 3º e 5º (ver ponto 1.5.1.), como por exemplo no sector NW do mapa de espessuras (Figura 4.10A). Deve ser ressalvado, que, devido este súbito aumento de declive, a identificação do, refletor UMG (?) foi inferida pela presença de várias reflexões parasitas e múltiplos, não sendo objetivamente identificado.

Também junto às arribas que se localizam no extremo oriental do vale de Sesimbra, se encontram espessuras relativamente altas. Aqui, numa extensão de cerca 3 – 4 km, adjacente a uma cicatriz visível no traçado da crista da arriba e alinhado segundo a direção WSW-ENE, foi identificada a uma grande estrutura de acumulação sedimentar, interpretada como um depósito de vertente de grandes dimensões que poderá corresponder aos vertigios de uma estrutura de colapso da crista da arriba (Figura 3.6).

Com o software ArcGis foi possível explorar um pouco mais o resultado obtido para o mapa de espessuras, e como tal, através de uma ferramenta de distribuição direcional (Stard

Deviational Elipse) obteve-se uma elipse da distribuição dos valores da espessura da

cobertura sedimentar da plataforma. Sendo o resultado uma elipse, então esta distribui-se segundo dois eixos principais, um eixo longo que está orientado de acordo com a tendência

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dos valores da espessura, perpendicularmente a este existe um eixo curto.

Como se pode observar na Figura 4.11 foram calculadas duas elipses tendo em conta o 1º e 2º desvio padrão dos valores da espessura, a direção do eixo longo em ambas as elipses é igual tendo um valor de azimute de 74º.

Com esta informação estatística, é possível relacionar o resultado obtido a partir da observação dos perfis, como é o exemplo da linha sísmica 050311LINE35 (Figura 3.1), onde se conclui que a plataforma tem uma ligeira inclinação para WSW e a espessura da sequência S2 aumenta na mesma direção, então o valor azimutal da tendência de aumento da espessura da cobertura sedimentar da plataforma será de 254º (74º+180º).

Figura 4.11 – Projeção da elipse de tendência de aumento da espessura da cobertura sedimentar (sequência S2 total), com a indicação da direção 254º desse aumento (seta preta).