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século XIX. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005, p 34.

DISTRIBUIÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO

Fonte: Inventários. Estância (1860-1888) – AGJ/SE apud SILVA, 2002, op. cit. p.33.

370 SANTOS, 2001, op. cit., p. 32 e 56, respectivamente.

TAMANHO DO PLANTEL

1860 / 1869 1870 / 1879 1880 / 1888

Proprietá

rios. Escravos Proprietários. Escravos Proprietários. Escravos

SEM ESCRAVOS 43 0 34 0 42 0 1 a 5 56 138 41 106 32 73 6 a 10 22 171 12 86 4 29 11 a 50 11 207 10 199 3 67 Mais de 51 0 0 1 55 0 0 Total 132 516 98 446 81 169

Ante o divulgado, além da visível queda do contingente escravo no período de 1860 a 1888, podemos observar o número significativo de menores empregados como força de trabalho, principalmente de crianças entre 1 e 10 anos de idade, cuja soma, com exceção do decênio compreendido entre 1870-1879, apontava mais da metade do que o contingente de 11 a 51 anos de idade. Desse modo, embora pudéssemos verificar por meio dos processos de tutela de órfãos que os menores só começavam a desenvolver atividades laboriais, na maioria das vezes, aos 6/7 anos de idade, nos inventários pesquisados da cidade de Estância, eles já aparecem como mão-de- obra desde o primeiro ano de vida.

Na prática, a preferência por menores a partir dos 11/12 anos de idade, não subjugava aqueles que possuíam menos idade, como pudemos verificar no processo de autuação do assoldadamento de Manoel que aos 6 anos de idade foi tomado a soldo por Francisco Antônio de Carvalho, morador do Engenho Cassunguê (Ilustração VIII). O menino, conforme consta na fonte, era filho da falecida Francisca “de Tal” com pai incógnito, e teve seu assoldadamento arbitrado, no ano de 1867, pelo Juiz de Órfãos de Estância, ao valor de 1$000 ao mês, durante 3 anos.371

371 AGJ/SE. Fundo: EST/ C. 2o OF. Série Cível. Subsérie: Ação de Tutela. N◦ da Caixa: 433. Período: 1866-1869 (2ª pacotilha). Notação: AC.:01; MÓD.: II. Tipologia: Autoação de um auto de assoldadamento de dois órfãos. Data do documento: 23/08/1867.

Ilustração 9 - Engenho Cassunguê. Fonte: LOUREIRO, Kátia Afonso Silva. Arquitetura Sergipana do Açúcar. Aracaju/ SE. Prefeitura Municipal de Aracaju/

FUNCAJU. 1999, p.80.

No mesmo documento, além do menor Manoel, aparece o nome do menino Pedro José dos Santos, que tinha de 10 para 11 anos, no momento em que Francisco Antônio de Carvalho também o assoldadou pela mesma quantidade de tempo em que tomou a soldo Manoel, ou seja, 3 anos, todavia, ao valor de 2$500 , isto é, 1$500 a mais do que o valor da soldada do órfão mais novo. Neste, Pedro aparece como filho de pai desconhecido com Francisca Maria que, no decorrer do processo, também aparece com os nomes de “Francisca Chavier de Jesus” e “Francisca Xavier”. Não temos certeza, mas possa ser que a “Francisca” que aparece no documento de Manoel como sendo sua genitora, seja a mesma “Francisca” do documento do menor Pedro, mas isso não pôde ser confirmado, pois no documento de Manoel, o sobrenome de Francisca não aparece em nenhum momento, a não ser com a denominação “de Tal”. O fato da mãe de Manoel aparecer na fonte como falecida, não nos ajuda a tomar uma definição, pois, da mesma maneira que existe uma inexatidão quanto a qual, de fato, poderia ser o nome da mãe de Pedro, sobre a mesma não existe uma informação precisa se ela estaria ou não viva.

Sobre o órfão Pedro, todavia, ainda consta uma informação importante: no decorrer da ação, consta um relato do assoldadador que comunica que o menor passou seis meses aleijado em conseqüência de uma dor que sofreu numa perna, e ele como “responsável”, continuou a pagar as soldadas “por caridade”. Além disso, no início do processo de Pedro consta a transcrição de um mandado de apreensão destinado ao menor, sob responsabilidade do Juiz de Órfãos:

“[...] Mando a’ qualquer Official de Justiça deste Juiso, a quem este for apresentado, indo por mim assignado, que á ao Cassunguê, deste Termo, onde reside Francisca de Tal, e sendo ali a intime para que incontinente lhe entregue o seu filho menor, de nome Pedro, para ser assoldadado [...]”.372

Na documentação em cujo mandado encontrava-se anexado, a data do envio do mesmo estava ilegível, não nos ajudando a desvendar se os menores arrolados no documento eram irmãos ou não, afinal, mesmo que o processo, na ação de apreensão só mencionasse o nome de Pedro, possa ser que o interesse pelo mais novo só tenha surgido após o falecimento da mãe deles, afinal, enquanto a mesma estava viva, as Ordenações Filipinas davam a ela o direito ter o

372 AGJ/SE. Fundo: EST/ C. 2o OF. Série Cível. Subsérie: Ação de Tutela. N◦ da Caixa: 433. Período: 1866-1869 (2ª pacotilha). Notação: AC.:01; MÓD.: II. Tipologia: Autoação de um auto de assoldadamento de dois órfãos. Data do documento: 23/08/1867.

filho menor de 7 anos por perto, instante em que a legislação em vigor considerava os menores aptos ao trabalho, podendo o mesmo ser assoldadado. Ainda nesse caso, os escritos filipinos davam preferência a figura materna como possível assoldadadora, não o sendo apenas se ela rejeitasse a hipótese. Aí era dada a preferência aos parentes mais próximos, para depois virem aqueles que não possuíam relação parental com o menor.373 De tal modo, o fato da mãe de

Manoel ter morrido, explicaria, pois, o porque dele ter sido assoldadado aos 6 anos e não aos 7, como previsto nas Ordenações, embora, nem sempre, as leis fossem seguidas como previsto na teoria. Quanto ao mandado de apreensão que o Juiz expediu à mãe do menor Pedro, este não era um procedimento incomum num contexto em que a mulher não tinha preferência à guarda do menor na ausência da figura paterna. Era, inclusive, muito freqüente, bastando ao Juiz tomar conhecimento da existência de um menor necessitando ser posto a soldo. Porém, não seria estranho se descobríssemos que o pedido para o mandado teria partido de Francisco Antônio de Carvalho, interessado no menor em idade “atraente” para o exercício de atividades laboriais, 11 anos.

Outro documento no qual verificamos a necessidade do envio de um mandato à mãe de um menor, diz respeito ao processo do menor Manoel, tomado a soldo aos 12 anos “mais ou menos” de idade, por Estevam Rodrigues dos Tupinambás. O menino era filho de Rosa “de Tal” com filiação paterna ignota no documento. Neste, o que nos chama especial atenção, são alguns trechos dos seus escritos que nos dar a entender que o menor fora retirado forçosamente da companhia da sua mãe. Segundo lemos no fragmento, o Juiz de Órfãos da localidade manda um oficial que compareça:

[...] á a bem do Novo Ocidente, onde mora Rosa de Tal, e sendo ahi a intime para que incontinente lhe entregue o seo filho menor de nome, digo lhe entregue o menor de nome Manoel, desvalido que s’acha em sua caza, para ser assoldadado no dia 23 do corrente, às 11 horas, e caso não o faça, o mesmo official o traga a minha presenta. O que cumpra. [...].374

Nos fragmentos seguintes, percebemos que, acuada, a mãe de Manoel não encontrou alternativa, senão entregar seu filho para ser assoldadado, posto que lemos que o Juiz determinou como responsável pela soldada do menor o Sr. Estevam Rodrigues dos Tupinambás, a quem “[...] lhe foi dado o dito órfão por tempo de dous annos acontar desta data, sendo este 373 Ord. Liv.1 Tit. 88: § 13 e nota 1; 3º parágrafo.

374 AGJ/SE. Fundo: EST/ C. 2º OF. Série Cível. Subsérie: Ação de Tutela. Caixa 633. Tipologia: Auto de assoldadamento. Data: 29/08/1867.

assoldadado pela quantia de dous mil reis mençaes, que entrará com esta quantia semestralmente do que foi obrigado assim a cumprir, bem como de dar ao referido órfão [...]”375. Assim fica

visível que, conforme visualizamos anteriormente, da mesma maneira que algumas genitoras, por força das circunstâncias, eram levadas a colocarem seus filhos a soldo, outras mães eram forçadas a fazê-lo.

Diante dos valores estabelecidos para as soldadas e dos constantes aumentos nos preços dos escravos após 1850, assoldadar um órfão tornou-se muito mais vantajoso do que adquirir mão-de-obra servil, principalmente, para a camada da população concentrada entre a classe mais abastada da sociedade e aquela desvalida da sorte. O quadro que se segue ajuda-nos a explicitar melhor a situação, uma vez em que o mesmo objetiva chama a nossa atenção para o gasto com a mão-de-obra compreendida entre 0 e 7 anos de idade que, destoando das demais apresentadas nas outras células do mesmo quadro, mostraram-se maiores com o passar dos anos do período compreendido entre os anos de 1860 a 1888.

TABELA 7