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Fonte: MEC.

De acordo com a ilustração, o principal critério que divide os ingressantes em dois grupos é a origem escolar, seguido da renda familiar. Logo, podemos afirmar que o principal critério para organizar a política de reserva de vagas é social e não racial. Na divisão dos critérios é possível observar que ocorre, em alguns grupos, a simultaneidade entre cotas raciais e sociais, como é o caso de jovens negros e pobres. Os critérios adotados para as cotas “sociais” são baseados na renda per capita familiar e para as “raciais” a partir da autodeclaração dos candidatos.

Algumas universidades brasileiras já vinham implementando a modalidade de ação afirmativa que considera a origem escolar, ou seja, para estudantes oriundos de escola pública. No entanto, devemos observar que essa reserva para o Ensino Médio, oferecido nas instituições federais, só passou a ser obrigatória a partir 2013. A modalidade de cotas na Educação básica faz sentido, especialmente, para as instituições federais, que ainda utilizam o critério meritocrático para acesso. Contam com concursos públicos para a sua inserção e possuem uma demanda bem maior do que a oferta de vagas. No Cefet/RJ, a política de cotas só começou a ser implementada a partir da Lei n. 12.711/2012, o que fez uma grande diferença, uma vez que o acesso ao Cefet/RJ tinha uma histórica predominância de cerca de 80% de estudantes

provenientes da rede privada89. Mesmo com a ampliação da rede federal, ainda temos uma

relação candidato/vagas elevada nas instituições do Rio de Janeiro, como podemos observar na Tabela 6. O Cefet/RJ é a que apresenta maior concorrência. Ao olharmos, especificamente, para o Ensino Médio Integrado, essa relação aumenta ainda mais.

Tabela 6- Relação candidato/vaga para o Ensino Técnico de Nível médio na Rede Federal do Rio de Janeiro/ano 2017

Fonte: Plataforma Nilo Peçanha.

Tabela 7 - Relação candidato/vaga para o Ensino Técnico de Nível Médio Integrado na Rede Federal do Rio de Janeiro/ano 2017

Fonte: Plataforma Nilo Peçanha.

Podemos observar também diferenças na relação candidato/vaga no que se refere aos

campi do próprio Cefet/RJ.

Tabela 8 - Relação candidato/vaga para o Ensino Técnico de Nível Médio Integrado no Cefet/RJ - ano 2017

Campus Inscritos Vagas Relação candidato/vaga

Maracanã 6.874 512 13,4 Nova Iguaçu 1.412 144 9,8 Itaguaí 461 80 5,7 Nova Friburgo 211 40 5,2 Maria da graça 450 90 5 Petrópolis 165 36 4,5 Valença 147 60 2,4

Fonte: Dados do concurso realizado em 2017.

A partir de 2013, temos garantido o acesso de 50% de estudantes oriundos da rede pública de ensino. O que provoca, evidentemente, uma alteração no perfil socioeconômico daqueles que ingressaram. No entanto, é importante registrar que, no campus Maria da Graça, o perfil estudantil sempre foi diferenciado em relação aos demais campi. Já contávamos com a maioria de estudantes oriundos da rede pública de ensino, que o acessavam através do convênio com a Secretaria do Estado. Então, a Lei n. 12.711/2012 permitiu a continuidade dessa democratização no acesso, ampliando para a possibilidade do/da estudante também obter a formação do ensino médio nessa instituição federal.

2.5 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DO ESTUDANTE QUE ACESSA O ENSINO MÉDIO INTEGRADO NO CAMPUS MARIA DA GRAÇA

É o conhecimento criterioso dos processos sociais e sua vivência pelos indivíduos sociais que poderá alimentar ações inovadoras capazes de propiciar o reconhecimento e o atendimento às efetivas necessidades sociais dos segmentos subalternizados, alvo das ações institucionais (IAMAMOTO, 2006, p. 24).

Consideramos que a escola, no contexto capitalista, abriga as contradições inerentes à própria dinâmica do seu modelo de desenvolvimento. Estudos mostram que a educação, embora seja um direito social, configura-se como uma das áreas que reflete a desigualdade com maior nitidez no cenário brasileiro. Diante disso, esse ponto irá se debruçar sobre o perfil dos estudantes que ingressam na primeira turma de Ensino Médio Integrado do campus Maria da Graça.

Quando comparado a outros campi do próprio Cefet/RJ, observamos que o campus Maria da Graça preserva características que particularizam o perfil dos estudantes que se candidatam às vagas. Atualmente, a relação candidato/vaga é relatada pelos estudantes como um fator atrativo para o campus, o que pode ser comprovado observando-se a Tabela 8. Além disso, historicamente, o campus já tinha seus cursos frequentados por estudantes oriundos de instituições públicas de ensino, tendo em vista o convênio com o Colégio Estadual Prof. Horácio Macedo. Com a mudança para o Ensino Médio Integrado e acesso garantido pela lei de cotas, esse perfil diferenciado permanece como característica do campus. Mas também, altera o perfil dos demais campi.

O campus Maria da Graça, por ser próximo ao campus Maracanã, acaba sendo uma opção para aqueles que acreditam não conseguir uma aprovação nos cursos do campus-sede devido à concorrência elevada. Na nossa interpretação, esse é um movimento estratégico daqueles estudantes que fizeram um ensino fundamental em escolas precárias e não puderem acessar os cursos preparatórios de “referência”. Estes observam a distribuição desigual das oportunidades mesmo dentro da mesma instituição escolar e das diferentes ofertas formativas e buscam meios para garantir o acesso.

Trouxemos aqui a distribuição das vagas previstas no edital de concurso para a primeira turma de Ensino Médio Integrado no campus Maria da Graça, em 2014. Naquele ano, foram iniciados três cursos (Automação Industrial, Manutenção Automotiva e Segurança do Trabalho) que ofereceram um total de 120 vagas distribuídas, conforme o quadro 3.

Quadro 3- Distribuição de vagas do Ensino Médio Integrado - campus Maria da Graça - 2014

Grupos Vagas Perfil socioeconômico

GRUPO A 60 Candidatos(as) oriundos de escolas da rede privada de ensino.

GRUPO B 12 Candidatos(as) que cursaram todo o Ensino Fundamental (do 1º ao 9º ano) em escolas da rede de Ensino Público, pertencentes a famílias com renda per capta superior a 1,5 (um salário mínimo e meio).

GRUPO C 18 Candidatos(as) que cursaram todo o Ensino Fundamental (do 1º ao 9º ano) em escolas da rede de Ensino Público, pertencentes a famílias com renda per capta superior a 1,5 (um salário mínimo e meio), que se auto declararem pretos, pardos e indígenas. GRUPO D 12 Candidatos(as) que cursaram todo o Ensino Fundamental (do 1º ao 9º ano) em escolas da rede de Ensino Público e pertencentes a famílias com renda per capta igual ou inferior a 1,5 (um salário mínimo e meio).

GRUPO E 18 Candidatos(as) que cursaram todo o Ensino Fundamental (do 1º ao 9º ano) em escolas da rede de Ensino Público, pertencentes a famílias com renda per capta igual ou inferior a 1,5 (um salário mínimo e meio), que se auto declarem pretos, pardos ou indígenas.

Fonte: Edital de ingresso nos cursos Integrados do Cefet/RJ - ano 2014.

Esse quadro contribui para que observemos a quantidade de vagas reservadas de acordo com o perfil (essa distribuição obedece ao fluxograma orientador do MEC). Foram garantidas 50% das vagas para estudantes oriundos do ensino público, 30% para negros e 25% para renda inferior a um salário mínimo e meio per capita. Devemos registrar que o mesmo estudante pode reunir condicionantes diferentes. Como é o caso do grupo E, que reúne os três condicionantes: jovem negro/pardo, de escola pública e com renda inferior a 1,5 salário mínimo.

Com intuito de tornar nossas análises mais evidentes, utilizaremos o fluxograma orientador do MEC para expormos a relação entre a distribuição e a ocupação das vagas. Destacamos, no lado esquerdo, os estudantes que acessaram pela reserva de vagas e do lado direito, os estudantes que acessaram pela ampla concorrência. Além disso, ressaltamos também o perfil desses estudantes que ingressaram pela ampla concorrência pois, ainda que não tenham acessado pelas cotas já que vieram de escolas privadas, apresentam características socioeconômicas semelhantes aos grupos que tiveram acesso com reserva de vagas. Vejamos abaixo:

Fluxograma 2- Distribuição dos estudantes que acessaram a primeira turma de Ensino