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CAPÍTULO 1 -A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO CAPITALISMO DEPENDENTE

2.2 A TRAJETÓRIA DOS CURSOS DE ENSINO MÉDIO INTEGRADO DO CEFET/RJ

O Ensino Médio Integrado ao Técnico (EMI)62, no Cefet/RJ, teve início em 2013,

primeiramente, no campus-sede Maracanã e no campus Nova Iguaçu. Isso acontece quase dez anos após a promulgação do decreto n. 5154/04, no bojo da expansão RFEPCT. Mas é somente em 2015 que se consolida em, praticamente, todo o Cefet/RJ. O campus Angra dos Reis foi o único a não oferecer essa modalidade de ensino até 2018. E o campus Maracanã é o que concentra o maior número de vagas, superando os demais campi juntos.

Tabela 3- Constituição do EMI no Cefet/RJ -Distribuição de vagas

2013 2014 2015 Maracanã 532 510 512 Nova Iguaçu 144 144 144 Maria da graça 0 120 90 Itaguaí 0 0 80 Valença 0 0 80 Nova Friburgo 0 0 40 Petrópolis 0 0 36

Angra dos Reis 0 0 0

TOTAL 676 774 982

Fonte: Editais de concurso dos anos 2013, 2014, 2015 - Cefet/RJ, 2018.

62 Nos termos do Decreto n. 5154/04, o nome oficial é Educação Profissional Técnica de Nível Médio

Integrado. Embora haja defesas diferenciadas acerca da utilização de diferentes denominações, aqui

As informações que traremos, a seguir, são baseadas no estudo desenvolvido por Brunow em sua tese de doutorado sobre a constituição do EMI no campus Maracanã, publicada em 2017. Apesar deste estudo ter sido feito somente com o campus-sede, teremos como foco os elementos que nos auxiliam a compreender o EMI no Cefet/RJ, de modo geral. Para isso, os consideraremos como elementos estruturantes.

Na análise da autora, o surgimento EMI está relacionado à tentativa de resolver um problema institucional ligado à evasão e a excessiva carga horária que os estudantes da concomitância interna eram submetidos63. Distante de uma construção de ensino com base

politécnica, chega à conclusão de que a existência de um hibridismo político e pedagógico neutraliza as possibilidades dessa construção.

A discussão acerca da transformação em Ensino Médio Integrado, no campus Maracanã, iniciou-se num movimento embrionário, realizado através de Grupos de Trabalho (GTs), com os docentes do ensino médio (propedêutico), o Departamento de Ensino Médio e Técnico (DEMET) e pela Divisão de Apoio Pedagógico (DIAPE), em 2011. A partir desse primeiro movimento, observou-se a necessidade de participação dos docentes do ensino técnico. No entanto, Brunow (2017) observa que:

Esses professores não tinham nenhuma afinidade pessoal e/ou profissional. Segundo relatos dos próprios gestores, eles sequer se conheciam e, muito pouco ou nada sabiam sobre a proposta de EMI, tampouco sobre politecnia, o que demonstra a ausência de planejamento institucional prévio, principalmente no que tange ao perfil pedagógico dos principais formuladores institucionais dessa proposta de ensino (BRUNOW, 2017, p.266).

Os GTs, criados a partir de 2011, foram responsáveis por iniciar questionamentos importantes sobre o Ensino Médio e Técnico concomitante. Nessas reuniões, o debate se encaminhou para temas como: a concepção de politecnia, trabalho como princípio educativo e integração, aprofundando a reflexão sobre a perpetuação da dualidade entre ensino profissionalizante e propedêutico. No ano de 2012, as professoras Zuleide Simas da Silveira e Josinira Amorim foram convidadas a contribuir no debate acerca dos princípios da politecnia e sua relação com a proposta de Ensino Médio Integrado ao Técnico. A professora Josinira trouxe a experiência da implantação do curso integrado no Instituto Federal Fluminense, campus Cabo Frio. Brunow (2017) afirma que o objetivo, ao realizar esses encontros, era debater o EMI e, principalmente, formar Grupos de Trabalho que pudessem encaminhar e aprofundar o debate pedagógico-educacional. Tal autora relata que, na época, foram formados mais cinco Grupos

63 Até 2012, existia a modalidade de concomitância interna, quando os estudantes realizavam o ensino médio e o ensino técnico na mesma instituição.

de Trabalho, divididos por cursos técnicos com afinidades teóricas e práticas, com a representação dos professores do Ensino Médio, a princípio, de todas as áreas. Esses cinco GTs tinham o intuito de elaborar uma nova matriz curricular.

Um fato a ser destacado é que em junho de 2012 foi deflagrada uma greve dos professores e técnico-administrativos na Rede Federal de Ensino64. Um movimento com uma

significativa abrangência nacional, que se prolongou por quatro meses. Vários professores, que inicialmente participavam desses GTs, decidiram aderir à greve. Esse acontecimento favoreceu o contato com servidores de outros campi e ampliação dessa discussão acerca do EMI. Apesar disso, os GTs continuaram seus trabalhos, que ocorreram em quase sua totalidade durante a greve.

Foram compostas, também, duas comissões com o objetivo de analisar a possibilidade de implantação do EMI e estabelecer referências pedagógicas para essa modalidade de ensino. Tais comissões produziram as Diretrizes para os cursos de Educação Profissional Técnica de

Nível Médio Integrado - Unidade Maracanã (finalizado em maio de 2012) e os Referenciais Pedagógicos para a Implementação do Ensino Médio Integrado CEFET-RJ/Unidade do Maracanã (finalizado em maio de 2013). De acordo com Brunow (2017), esses foram os

principais documentos construídos durante esse processo, tendo o segundo sido concluído somente após o início das aulas. Concordamos com a autora que esse fato indica o caráter mais funcional em detrimento do caráter pedagógico que essa proposta teve na instituição.

No documento as Diretrizes para os cursos de Educação Profissional Técnica de Nível

Médio Integrado - Unidade Maracanã, a justificativa para mudar da modalidade concomitância

interna para o EMI é que antes os estudantes eram submetidos a uma alta carga horária de estudo, o que provocava um alto índice de evasão nos cursos técnicos. Essa justificativa também aparece no documento Referenciais pedagógicos para a Implementação do Ensino Médio

Integrado/Unidade Maracanã. Neste, a falta de articulação pedagógica entre professores da

área profissional e do médio também aparece como um motivador.

Uma parte importante da contribuição teórica e conceitual presente nos referenciais

pedagógicos é que a categoria trabalho aparece em seu sentido ontológico, como princípio

educativo. O conceito é mencionado no documento como uma condição intrínseca à existência humana, já que todos nós somos seres de trabalho. Nesse sentido, os dois documentos expressam uma nova proposta pedagógica distante do modelo previsto no Decreto n. 2.208/97,

64 Embora, em sua tese, Brunow (2017) indique que foi uma greve de professores. É importante destacar que foi uma greve dos servidores (professores e técnico-administrativos), tendo em vista que esse movimento aproximou as categorias e fortaleceu pautas em comum no Cefet/RJ, naquele momento.

mas que para se efetivar é necessário mudar a concepção historicamente consolidada no Cefet/RJ. De acordo com Brunow (2017, p.286), “Ensino Médio Integrado é uma proposta pedagógica, escolar e de ensino que, para avançar, precisa modificar a concepção de ensino tradicional”.

Nos estudos desenvolvidos pela autora, ela observa que a instituição pouco caminhou nessa direção. Os documentos ainda não estabeleceram conexão com a realidade e ainda existe um forte apelo para a formação profissional, entre o próprio corpo docente, a fim de atender aos interesses do mercado. No entanto, apesar da dificuldade apresentada, esses referenciais tiveram uma importância que ultrapassou os limites do campus Maracanã e serviram de subsídio para a implantação de EMI em outros campi como, por exemplo, o campus Maria da Graça.

Em nossa interpretação, os elementos estruturantes para a constituição do EMI no Cefet/RJ podem ser postos em três eixos principais: a evasão e a elevada carga horária que estudantes estavam submetidos como motivadores; o caráter desarticulado do planejamento da proposta, ao não conseguir estabelecer um diálogo efetivo entre a formação propedêutica e a formação profissional; e a influência externa na dinâmica interna (a greve de 2012 e a expansão da RFEPCT como manifestações históricas dos elementos dinâmicos).

Essa interpretação põe em relevo as situações que podem ser predominantes nos demais

campi, para além do campus-sede. O principal elemento, na nossa avalição, foi a influência

externa na dinâmica interna, uma vez que, com exceção do campus Nova Iguaçu e do próprio

campus-sede-Maracanã, todos os demais campi foram criados no bojo da expansão da

RFEPTC. A greve de 2012, também, foi uma facilitadora para estreitar as relações entre os servidores dos campi. E é desse ângulo que iniciamos nosso estudo sobre as particularidades da construção do EMI no campus Maria da Graça.