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Capítulo 4 – RESULTADOS: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO

4.1 Etapa inicial da análise: apresentação e discussão dos resultados

4.1.1 A distribuição dos dados nas amostras da EJA e do ensino regular

Trabalhando com o fenômeno linguístico da concordância verbal, apontamos no programa os seguintes grupos de fatores (ou variáveis): estrutura da sentença (oração adjetiva, ordem VS e ordem SV), modalidade de ensino (EJA e ensino regular), sexo e faixa etária do participante. Um subgrupo de variantes dentro do contexto da ordem SV também

143 foi inserido: sujeito SN pesado, voz passiva analítica, verbo inacusativo, sujeito coletivo, sujeito nominal e sujeito pronominal70. O quadro que apresenta esses grupos de fatores, já apresentado no Capítulo 3, está reproduzido abaixo.

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Quadro 5: Fatores linguísticos e sociais analisados na etapa inicial da pesquisa FATORES LINGUÍSTICOS

1. Estrutura da sentença a. oração relativa b. ordem VS

c. ordem SV - SN pesado

- voz passiva analítica - verbo inacusativo - sujeito coletivo - sujeito nominal - sujeito pronominal FATORES SOCIAIS 2. Sexo a. masculino b. feminino

3. Idade a. até 19 anos

b. entre 20 e 29 anos c. entre 30 e 39 anos d. entre 40 e 49 anos e. 50 anos ou mais

Nossa hipótese inicial era a de que a modalidade de ensino constituía um fator significativo para a marcação da concordância verbal. No estudo que realizamos anteriormente (Sandoval & Zandomênico, 2016), conforme mencionado no Capítulo 3, o programa já havia apontado a modalidade de ensino como fator não significativo para a marcação de concordância verbal, mas ele continuou sendo inserido no programa estatístico para que pudéssemos descrever adequadamente os dados analisados, segundo nossos objetivos de pesquisa. O fator localidade de origem, que também foi apontado como não significativo para a concordância verbal, foi excluído da análise.

A frequência absoluta (o número de ocorrências) e a frequência relativa (os percentuais) dos dados de concordância verbal encontram-se nas tabelas a seguir. A tabela 14 mostra o número total de dados recolhidos, distribuídos pelas duas amostras.

70 Nesta etapa, os fatores linguísticos foram definidos com base no estudo de Berlinck et al., 2009, conforme

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Tabela 14: Frequência bruta e frequência relativa dos dados de concordância verbal nas amostras de EJA e

de ensino regular (análise inicial)

MODALIDADES DE ENSINO MARCAS DE CONCORDÂNCIA / TOTAL

EJA 418/533 (78,4%)

ensino regular 691/803 (86,1%)

TOTAL 1109/1336 (83,0%)

Como se vê, o percentual de uso de marcas de concordância é alto em ambas as amostras: na amostra da EJA, 78,4% dos dados apresentaram marcas explícitas de concordância; na amostra do ensino regular, esse percentual foi de 86,1%. Levando-se em consideração que as diferenças entre as características do público-alvo de cada uma dessas modalidades de ensino são consideráveis (idade dos alunos, início de escolarização, motivação para os estudos, entre outros), a diferença apontada, de menos de 10%, é pequena.

Em termos frequência bruta, observamos que, enquanto foram coletados, ao todo, 533 dados nos textos da EJA, nos textos do ensino regular os dados somaram 803. A diferença entre o número de dados em uma e outra amostra, que já foi apresentada na parte final do Capítulo 3, será retomada na discussão dos resultados, ao final da seção 4.2. Apresentaremos algumas reflexões sobre esse fato por julgarmos que ele tem relação com as hipóteses aqui levantadas sobre as diferenças existentes no processo de escolarização das duas modalidades de ensino.

Apresentaremos, a seguir, os resultados dos fatores estrutura da sentença, ordem SV e faixa etária para ambas as amostras (EJA e ensino regular), de forma a fazer uma comparação entre os resultados obtidos em cada uma delas. Faremos as observações que considerarmos relevantes logo abaixo de cada tabela.

Vejamos, na tabela 15, a distribuição dos dados segundo as variantes do fator estrutura da sentença, em ordem decrescente de presença de marcas.71

Tabela 15: Frequência absoluta e frequência relativa de uso de marcas de concordância verbal segundo a

estrutura da sentença e a modalidade de ensino (análise inicial)

ESTRUTURA DA SENTENÇA EJA

M/T ensino regular M/T Oração adjetiva72 106/125 (84,8%) 182/203 (89,7%) Ordem SV 285/353 (80,7%) 471/538 (87,5%) Ordem VS 27/55 (49,1%) 38/62 (61,3%) TOTAL 418/533 (78,4%) 691/803 (86,1%)

71 A partir da tabela 15, representaremos “Marcas de concordância/Total” como “M/T”.

72 Lembramos que, nas orações adjetivas analisadas, conforme explicitado no Capítulo 3, o pronome “que”

sempre assumia a função de sujeito na oração que introduzia. A nomenclatura “oração adjetiva” foi adotada nesta etapa da análise apenas para manter a empregada em Berlinck et al. (2009), tendo sido posteriormente substituída por “sujeito retomado por que”.

145 É relevante notar que, nas duas modalidades de ensino, os percentuais obtidos para os três padrões sentenciais seguem a mesma hierarquia. O uso de marcas de concordância é privilegiado nas orações adjetivas (84,8% EJA e 89,7% ER), sendo seguido de perto pelo uso de marcas nas sentenças de ordem SV (80,7% EJA e 87,5% ER). A uma distância mais significativa estão as marcas de concordância nas sentenças de ordem VS (49,1% EJA e 61,3% ER).

A frequência relativa de marcas de concordância nos contextos de ordem VS chama a atenção pela diferença com relação aos demais padrões sentenciais e, em menor grau, pela diferença apresentada entre as modalidades de ensino. Esse fato nos levou a, na etapa seguinte da análise, fazer uma nova investigação, de cunho qualitativo, com relação às estruturas de ordem VS, como veremos mais adiante.

A tabela 16, abaixo, mostra a distribuição dos dados segundo as variantes da estrutura da ordem SV nos textos da EJA e a tabela 17, nos textos do ensino regular, em ordem decrescente de presença de marcas.

Tabela 16: Frequência absoluta e frequência relativa de uso de marcas de concordância verbal segundo as

variantes da estrutura da ordem SV nos textos da EJA (análise inicial)

ORDEM SV EJA

M/T 1. Voz passiva analítica 25/26 (96,2%)

2. Verbo inacusativo 10/11 (90,9%) 3. Sujeito pronominal 92/109 (84,4%) 4. SN pesado 51/63 (81,0%) 5. Sujeito nominal 104/139 (74,8%) 6. Sujeito coletivo 3/5 (60,0%) TOTAL 285/353 (80,7%)

Tabela 17: Frequência absoluta e frequência relativa de uso de marcas de concordância verbal segundo as

variantes da estrutura da ordem SV nos textos do ensino regular (análise inicial)

ORDEM SV Ensino regular

M/T

1. Verbo inacusativo 12/13 (92,3%)

2. Voz passiva analítica 34/37 (91,9%)

3. Sujeito nominal 157/177 (88,7%)

4. Sujeito pronominal 103/117 (88,0%)

5. SN pesado 159/183 (86,9%)

6. Sujeito coletivo 6/11 (54,5%)

TOTAL 471/538 (87,5%)

Em ambas as amostras, as variantes verbo inacusativo e voz passiva analítica ficaram no topo da tabela, exibindo mais de 90% de marcas de concordância verbal. O fato

146 de a frequência relativa de concordância em estruturas com verbo inacusativo ser tão alta em ambas as amostras nos chamou a atenção. Segundo Berlinck et al. (2009), os falantes tendem a usar verbos inacusativos na estrutura de ordem VS. No entanto, da forma como as variantes foram selecionadas para esta análise inicial, não era possível averiguar essa tendência, pois não era possível cruzar as informações sobre os verbos inacusativos com as informações sobre a estrutura de ordem VS. Esse fato deixou nítida a necessidade de investigação mais acurada sobre os verbos inacusativos e também sobre a estrutura de sujeitos pospostos. Confirmou, ainda, a necessidade de se fazer uma nova seleção de variáveis independentes, na etapa seguinte da pesquisa.

O contexto de sujeito pronominal, que aparece em terceiro lugar na EJA e em quarto lugar no ensino regular, respectivamente, também exibiu uma alta taxa de marcas de concordância: mais de 80%, em ambas as modalidades de ensino. Um problema na seleção dessa variante é que ela abarcava tanto os casos de sujeito preenchido (pronome pleno) quanto os casos de sujeito oculto (pronome nulo), e isso, portanto, não nos permitia analisar esses dois contextos separadamente. Essa análise de forma separada nos pareceu relevante, e essa constatação também nos impulsionou a rever a seleção das variantes na etapa seguinte da análise dos dados.

O sujeito SN pesado, que aparece em quarto lugar na EJA e em quinto lugar no ensino regular, respectivamente, também exibiu mais de 80% de marcas de concordância em ambas as modalidades de ensino. Essa variante, que foi, inclusive, objeto de estudo de Scherre, Naro & Cardoso (2007), permaneceu na análise na etapa seguinte por nos parecer relevante para a concordância verbal.

A variante com comportamento mais variável nas duas amostras foi a de sujeito nominal. Na EJA, para nossa surpresa, ela aparece em quinto lugar, com 74,8% de marcas de concordância. No ensino regular, o sujeito nominal ocupa a terceira posição, com 88% de marcas de concordância. A diferença nos resultados se mostra tanto com relação à posição da variante na hierarquia quanto com relação à taxa de concordância apresentada em cada amostra, que é de cerca de 13%.

Por fim, o sujeito coletivo, em ambas as amostras, foi o contexto que exibiu menos marcas de concordância, com 60% ou menos de frequência relativa. No entanto, o fato de haver somente 16 dados com sujeito coletivo (5 da EJA e 11 do ensino regular), em uma amostra de 1.336 dados73, levou-nos a considerar que essa variante possivelmente

147 representa um contexto de baixa ocorrência na língua, de maneira geral, e não apenas em nossas amostras.

A tabela 18 mostra a distribuição dos dados de concordância verbal segundo a idade do participante na amostra da EJA e a na amostra do ensino regular.

Tabela 18: Frequência absoluta e frequência relativa de uso de marcas de concordância verbal segundo a

idade do falante e a modalidade de ensino (análise inicial)

FAIXA ETÁRIA EJA

M/T Ensino regular M/T Até 19 anos 164/199 (82,4%) 665/771 (86,3%) De 20 a 29 anos 148/181 (81,8%) 23/28 (82,1%) De 30 a 39 anos 84/122 (68,9%) 3/4 (75,0%) De 40 a 49 anos 11/16 (68,8%) - De 50 a 59 anos 11/15 (73,3%) - TOTAL 418/533 (78,4%) 691/803 (86,1%)

Na tabela 18, diferentemente das anteriores, as variantes são apresentadas em ordem crescente de idade do falante, e não em ordem decrescente de marcas de concordância. Observa-se que as maiores taxas de ocorrência de marcas de concordância estão concentradas na parte superior da tabela, isto é, nas faixas etárias abaixo de 30 anos de idade. Curiosamente, a taxa de marcas de concordância decresce nas faixas etárias compreendidas entre 30 e 49 anos e depois volta a subir na faixa etária de 50 a 59 anos. Essa divisão por idade foi alterada posteriormente e reduzida a apenas duas variantes (até 29 anos e 30 anos ou mais).

Com relação ao sexo do falante, a tabela 19 abaixo mostra a distribuição dos dados de concordância verbal segundo o sexo do participante nas amostras da EJA e do ensino regular juntas.

Tabela 19: Frequência absoluta e frequência relativa de uso de marcas de concordância verbal segundo o

sexo do falante (análise inicial)

EJA e ensino regular M/T

Masculino 430/515 (83,5%)

Feminino 679/821 (82,7%)

TOTAL 1109/1336 (83,0%)

Considerando-se o sexo do falante, observa-se que os indivíduos do sexo masculino apresentaram uma taxa de marcas de concordância ligeiramente maior que os de sexo feminino: 83,5% e 82,7%, respectivamente.

148 É importante destacar que a quantidade de dados não corresponde ao número de falantes. O número total de participantes é igual ao número total de redações analisadas: 24074. A tabela 19 indica que, nas 240 redações analisadas, 515 dados faziam parte de redações feitas por participantes do sexo masculino, enquanto 821 faziam parte de redações feitas por participantes do sexo feminino. Vale destacar que o número de dados encontrados em cada redação variava bastante.

Apresentaremos, na próxima seção, as variáveis que foram selecionadas pelo programa GoldvarbX, fazendo simultaneamente as discussões que consideramos pertinentes.