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3. O TIGRE DE B ENGALA

3.3. Descrição da Espécie:

3.3.1. Distribuição geográfica e Habitat:

Todos os tigres selvagens vivem na Ásia (Baker, 2006), porém o habitat do tigre é diversificado e extensivo (Houji, 1987).

Na vida selvagem, os tigres vivem em diversos habitats incluindo florestas tropicais húmidas e ecossistemas costeiros de transição entre os ambientes terrestre e marinho (Santra, 2008; PSET, 2016).

Os tigres estabelecem os seus territórios por marcas de cheiro, que incluem spray de urina em arbustos e árvores, fezes e urina em locais específicos e arranhões feitos com pernas traseiras. Ambos os sexos marcam território e a frequência de marcação é maior em áreas onde possa existir outros tigres (PSET, 2016).

3.3.2. Alimentação:

Os tigres são excelentes caçadores, matam por emboscada e preferem caçar à noite (Mazák, 1981).

São estritamente carnívoros e tem uma dieta muito variada, alimentam-se de javalis, cervídeos, búfalos, antílopes, pequenos roedores, sapos, lagartos, peixes e gado doméstico (DGVS, 2000; Baker, 2006; PSET, 2016).

Um comportamento alimentar característico de animais que vivem na natureza que pode ser importante para realizar uma dieta equilibrada para tigres em cativeiro é o consumo inicial de vísceras ou órgãos internos numa caraça. Este consumo fornece gordura e vitaminas, bem como fibras presentes no conteúdo visceral. O músculo, os ossos e a cartilagem são posteriormente consumidos, fornecendo proteínas e minerais (PSET, 2016).

3.3.3. Reprodução:

Os tigres são animais essencialmente solitários e apenas procuram o sexo oposto para o acasalamento (PSET, 2016).

A cópula é rápida e ocorre com frequência durante o dia (Baker, 2006). As fêmeas entram em estro a cada 3 a 9 semanas e estão recetivas durante 3 a 6 dias (Mazák, 1981).

O período de gestação dura entre 15 a 16 semanas e a ninhada tem 3 a 4 crias. Ao nascer, as crias são cegas e pesam entre 1 a 1,5kg. Abrem os olhos 6 a 14 dias após o nascimento e são amamentados durante aproximadamente um mês e meio (DGVS, 2000). Começam a ingerir pequenas quantidades de alimentos sólidos com cerca de 2 meses (Mazák, 1981) e com cerca de 6 meses de idade a progenitora começa a ensiná-los a caçar. Os jovens permanecem com a mãe até apresentarem entre 18 meses e 3 anos de idade (Mazák, 1981; Sunquist e Sunquist, 2002).

Os jovens tigres atingem a maturidade sexual por volta dos 3 a 4 anos de idade, no caso das fêmeas, e 4 a 5 anos nos machos (Sunquist e Sunquist, 2002).

3.3.4. Comportamentos:

No Quadro 6, encontra-se um etograma para o tigre, que foi adaptado a partir de um etograma padrão para felinos de Stanton, Sullivan e Fazio (2015). Um etograma é um catálogo de comportamentos característicos tipicamente empregues por uma espécie (Sakamoto, 2009). Este etograma conta com 9 categorias comportamentais (Manutenção, Inactividade, Interacção Afiliativa, Interacção Agonística, Marcação, Locomoção, Exploratório, Reprodutivo e Estereotipia) nas quais foram agrupadas alguns comportamentos característicos da espécie.

Quadro 6 - Etograma para a espécie Panthera tigris (adaptado de Stanton, Sullivan e Fazio, 2015). Categoria

Comportamental

Comportamento Definição

Manutenção

Beber Ingestão de água através do uso da língua.

Comer Ingestão de erva ou alimento por meio de mastigação. Defecar O tigre excreta fezes.

Urinar O tigre liberta urina.

Coçar O tigre coça o corpo ou a cabeça usando as patas ou garras.

Limpeza Tigre limpa-se a lamber ou morder a pele do seu corpo. Arranhar O tigre arranha um objeto com a intenção de afiar as

Categoria

Comportamental Comportamento Definição

Inactividade

Dormir

Tigre deitado no chão com a cabeça para baixo e os olhos fechados, realizando o mínimo movimento da cabeça ou restante corpo, não é facilmente perturbado. Espreguiçar O tigre estende os membros anteriores, posteriores,

arqueia as costas ou boceja.

Alerta

O tigre fica tenso, abre os olhos e movimenta a cabeça de forma rápida em direção ao estímulo, as orelhas estão voltadas para a frente.

Deitado

O corpo do tigre está pousado no chão ou numa estrutura, numa posição horizontal, incluindo de lado, costas e barriga.

Sentado

Tigre está na posição vertical, com as patas traseiras flexionadas, enquanto as patas dianteiras estão estendidas e em linha reta.

Em pé O tigre está imóvel e apoiado sobre as quatro patas.

Interacção Afiliativa

Brincar

Tigre interage com outro, de uma maneira não séria. (exemplo: corre em direção a outro tigre simulando um ataque a uma presa, sem intenção de o magoar). Limpeza Social O tigre lambe o pêlo da cabeça ou de outra parte do

corpo de outro animal.

Tocar Nariz Dois tigres cheiram e tocam-se com o nariz. Vocalizar Produzir sons originários da boca e garganta.

Interacção Agonística

Atacar

Tigre lança-se a um objeto ou animal com patas dianteiras estendidas com intenção de entrar em combate físico.

Mostrar dentes Tigre abre a boca ligeiramente enquanto puxa os lábios para trás para expor dentes.

Lutar Combate físico com outro tigre.

Evitar Tigre movimenta-se ou muda de direcção para se afastar de outro animal ou objecto.

Fugir Afasta-se de animal ou objecto.

Marcação

Esfregar Tigre esfrega o seu corpo ou cabeça contra um objecto ou superfície.

Spray

Parado, com a cauda levantada, expele um jacto de urina contra uma superfície ou objecto. A cauda pode tremer durante o processo.

Categoria

Comportamental Comportamento Definição

Locomoção

Andar Movimenta-se para a frente em marcha lenta. Correr Movimenta-se para a frente em marcha rápida. Saltar O tigre projecta-se para o lado ou para cima. Trepar Tigre sobe/desce uma estrutura.

Nadar Movimenta-se na água, usando os membros posteriores e anteriores.

Trotar

Movimenta-se para a frente em marcha rápida realizada com passos alternados. Movimento é mais rápido do que andar, mas mais lento do que correr.

Exploratório

Cheirar Farejar objecto/estrutura/animal por inalação de ar através do nariz.

Observar Tigre observa um estímulo específico.

Manipular objecto

Qualquer actividade como tocar, segurar, prender, carregar, morder um objecto.

Reprodutivo

Cópula Macho monta a fêmea, onde se dá a penetração.

Flehmen Expressão facial onde a boca está aberta, lábio superior

é elevado e língua pode projetar-se para fora da boca.

Estereotipia Pacing

Locomoção repetida num padrão específico (andar de frente para trás na mesma rota). Pode incluir andar, trotear e correr. O movimento parece não ter finalidade, tem de ser executado pelo menos duas vezes para ser qualificado como estereotipia.

4. E

NRIQUECIMENTO

A

MBIENTAL 4.1. DEFINIÇÃO

De acordo com Shepherdson:

“O enriquecimento ambiental é um conceito que descreve como os ambientes de animais em cativeiro podem ser alterados em benefício dos habitantes. As oportunidades comportamentais que podem surgir ou aumentar como resultado do enriquecimento ambiental podem ser devidamente descritas como enriquecimento comportamental” (Shepherdson, 1994, citado por Young, 2003).

O enriquecimento ambiental envolve práticas que aumentam a complexidade física, social e temporal dos ambientes cativos (Moberg e Mench, 2000).

Pode ser definido como a criação de estímulos artificiais, através de técnicas inovadoras e criativas, com o objectivo de proporcionar aos animais, ambientes mais estimulantes.

Os planos de enriquecimento ambiental devem ser adaptados de acordo com a espécie em estudo, sendo que a análise dos comportamentos típicos da mesma é fundamental para a compreensão do sucesso do projecto de enriquecimento.

4.2. OBJECTIVOS

Os parques zoológicos estão a apostar na concepção de ambientes enriquecidos de forma a garantir que a diversidade comportamental das espécies seja mantida em cativeiro (Moberg e Mench, 2000).

O enriquecimento ambiental procura melhorar a qualidade de maneio de animais que vivem em cativeiro, identificando e fornecendo os estímulos ambientais necessários para o bem-estar psicológico e fisiológico dos mesmos (Reading et al., 2013).

Existem muitas evidências científicas que demonstram que o enriquecimento é extremamente benéfico para os animais em muitos aspectos e que, associado a boas instalações e maneio, promove o bem-estar dos mesmos (Hosey et al.,2013).

Através de um plano bem concebido de enriquecimento ambiental, boas práticas de maneio e cuidados médicos veterinários adequados, a ansiedade e o tédio podem ser atenuados e os comportamentos naturais da espécie podem ser promovidos (Department of Health and Human Services, 2005).

No Quadro 7 estão descritos os objectivos principais da prática de enriquecimento ambiental.

Quadro 7 - Objectivos da prática de Enriquecimento Ambiental (Adaptado de Young, 2003).

4.3. TIPOS DE ENRIQUECIMENTO

Existem cinco principais tipos de enriquecimento ambiental:

▪ Social – pode envolver contacto directo ou indirecto (visual, olfativo, auditivo) com outros indivíduos da mesma espécie ou humanos (PSA, 2010).

As

composições e tamanhos de grupos devem ser os mais adequados à espécie possível, além disso é essencial que as instalações e maneio sejam adaptados de modo a permitir a segurança e bem-estar de todos os indivíduos do grupo.

▪ Cognitivo ou Ocupacional – envolve o enriquecimento psicológico (por exemplo: quebra-cabeças) e estímulos que incentivam o exercício físico.

A utilização de tarefas cognitivas apropriadas a cada espécie é uma opção que promove a estimulação mental do indivíduo. As tarefas de escolha projectadas para avaliar algum aspecto do desempenho cognitivo, como memória ou percepção, proporcionam flexibilidade para serem adaptadas a muitas espécies diferentes (Barber e Kuhar, 2005).

▪ Alimentar – apresentação de alimentos novos ou variados; mudança do método de obtenção do alimento.

Uma excelente técnica de enriquecimento é dificultar a obtenção de alimento de forma criativa, de modo a realizarem exercício. Os itens podem estar escondidos em brinquedos, pendurados nas instalações ou ocultos na cama (Rupley, 2015).

▪ Sensorial – visa estimular os diferentes sentidos como: visão, olfacto, audição, paladar e tacto.

Objectivos do Enriquecimento Ambiental

Aumentar a diversidade comportamental Diminuir os comportamentos indesejáveis

Incentivar comportamentos naturais da espécie

Aumentar a utilização do habitat

Diminuir os períodos de inactividade

Aumentar a capacidade de lidar com os desafios

O comportamento exploratório é muito importante para os animais. A integração de enriquecimentos como espelhos, sons (presas/predadores), odores (canela, noz-moscada, urina, excrementos) e alimentos novos (mel, gelados) podem promover esse comportamento e outros, como é demonstrado em inúmeros estudos.

▪ Físico – alteração da complexidade do habitat (por exemplo: instalação de estruturas permanentes) ou adição de objectos na instalação (PSA, 2010).

As estruturas presentes num recinto são importantes para melhorar a qualidade do espaço e consequentemente, a qualidade de vida dos ocupantes do mesmo. O fornecimento de mobiliário para uma instalação deve ser tão específica quão específica é a espécie (Young, 2003).

Os fatores ambientais desempenham um papel fundamental na determinação das respostas comportamentais e fisiológicas dos animais ao cativeiro. Compreender essas respostas para estabelecer técnicas novas e melhoradas de design de instalações e maneio de animais em cativeiro é parte integrante do enriquecimento ambiental (Mellen e Shepherdson, 1997).

Qualquer alteração feita no ambiente de um animal que visa enriquecer deve ser monitorizada de forma adequada (Hosey et al.,2013).

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