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DIVERGÊNCIA NA INTERPRETAÇÃO E NO ENTENDIMENTO QUANTO À

5 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL

5.4 DIVERGÊNCIA NA INTERPRETAÇÃO E NO ENTENDIMENTO QUANTO À

Diferentemente dos crimes relacionados à lei de Drogas, o Superior Tribunal de Justiça, bem como o Supremo Tribunal Federal vem entendendo pela aplicação do princípio da insignificância em diversos tipos penais, sendo esses de furto, ou apreensão de pequena quantidade de munições;

PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. PORTE ILEGAL DE MUNIÇÃO. ABSOLVIÇÃO. CRIME DE PERIGO ABSTRATO. APREENSÃO DE 1 MUNIÇÃO DE ARMA DE CALIBRE 38, DESACOMPANHADA DE ARTEFATO CAPAZ DE DEFLAGRÁ-LA. MÍNIMA OFENSIVIDADE DA CONDUTA. ATIPICIDADE MATERIAL. ANÁLISE DO CASO CONCRETO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.

PRECEDENTES DA QUINTA E SEXTA TURMAS DESTA CORTE. WRIT NÃO CONHECIDO E ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.

[...]

A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça apontava que os crimes previstos nos arts. 12, 14 e 16 da Lei n. 10.826/2003 são de perigo abstrato,

sendo desnecessário perquirir sobre a lesividade concreta da conduta, porquanto o objeto jurídico tutelado não é a incolumidade física e sim a segurança pública e a paz social, colocadas em risco com o porte de munição,

ainda que desacompanhada de arma de fogo. Por esses motivos, via de regra, é inaplicável o princípio da insignificância aos crimes de posse e de porte de arma de fogo ou munição (HC 391.736/MS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 3/8/2017, DJe 14/8/2017; HC 393.617/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 13/6/2017, DJe 20/6/2017). 4. Nada obstante, esta Corte acompanhou a nova diretriz jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal que passou a admitir a incidência do princípio da insignificância na hipótese da posse de pequena quantidade de munição, desacompanhada de armamento hábil a deflagrá-la. 5. É evidente que a aplicação ou não do princípio da bagatela está

diretamente relacionada às circunstâncias do flagrante, sendo imperioso o vislumbre imediato da ausência de lesividade da conduta, o que não ocorre,

por exemplo, quando a apreensão está atrelado à prática de outros delitos, ou mesmo quando há o acompanhamento das munições por arma de fogo, apta a preencher a tipicidade material do delito.

6. No caso em apreço, tem-se que o réu foi condenado pela prática do delito do crime tipificado no art. 14 da Lei n. 10.826/2003, por ter sido preso em flagrante portando 1 cartucho calibre 38, desacompanhado de arma de fogo, além de 3,6

gramas de maconha. Com efeito, ao contrário do que leva a crer o acórdão ora impugnado, o fato do réu ter sido surpreendido com pequena quantidade de entorpecente não obsta o reconhecimento a bagatela, tanto é que o réu sequer foi denunciado pela prática do crime de tráfico.

7. Tendo sido apreendido com o réu apenas 1 cartucho, calibre 38, de uso permitido, à luz da atual jurisprudência de ambas as Turmas da Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, deve ser reconhecida a total ausência de

ofensividade de sua conduta à incolumidade pública, o que autoriza a incidência do princípio da insignificância, ainda que tenha sido apreendida pequena quantidade de droga no mesmo contexto da prisão em flagrante.

Mais: ainda que responda a outra ação penal, trata-se de réu primário.

8. Writ não conhecido. Ordem concedida, de ofício, a fim de absolver o paciente, com fundamento no art. 386, III, do CPP.85 (Grifo nosso)

Extrai-se do Acórdão acima apresentado, que foi aplicado o princípio da insignificância, sob o principal fundamento de que as condutas não são capazes de apresentar ofensa à “incolumidade pública”, o que autoriza a aplicação do princípio, e que ainda, a apreensão de 3,6 mg de Maconha não obsta isso, ainda porque o réu não respondeu pelo crime. Ou seja, verifica-se que o argumento de que a baixa ofensividade à saúde pública, ainda que exista, não obsta a aplicação do princípio. Ainda, in casu, o então réu foi apreendido com um cartucho calibre 38, e desta forma, deve ser afastada a tipicidade do crime, aplicando assim o princípio.

Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003). Porte ilegal de 06 munições de uso permitido (art. 14) desacompanhadas de arma de fogo compatível com a sua utilização. Princípio da ofensividade e Direito Penal. “Nullum crimen sine injuria”. O debate em torno dos crimes de perigo abstrato. Doutrina. Comportamento do

agente que não caracterizou, no caso, situação de perigo concreto.

Fundamento suficiente para o provimento deste recurso. Existência, no entanto, de entendimento diverso desta Corte em tema de crimes de perigo abstrato.

Princípios da fragmentariedade e da intervenção mínima do Direito Penal. Incidência, na espécie, do postulado da insignificância, que se qualifica como causa supralegal de exclusão da tipicidade penal em sua dimensão material. Precedentes do Supremo Tribunal Federal, inclusive em matéria

concernente ao Estatuto do Desarmamento. Recurso ordinário provido.86

Conforme o Acórdão acima colacionado, o STF também tem a jurisprudência nesse sentido, de que a apreensão, conforme o caso acima, de 06 munições. O então Ministro Decano do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, entendeu por afastar a tipicidade do crime, entendendo que os princípios da fragmentariedade e da intervenção mínima do direito penal devem ser observados, e caso verifique-se no caso que não há

85 BRASIL17. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n.º 619.747. 5ª Turma. Relator Ministro Ribeiro

Dantas. Julgado em 17/11/2020.

86 BRASIL14. Supremo Tribunal Federal. Recurso Ordinário em Habeas Corpus n.º 176960. Relator

na conduta qualquer potencial ofensa os bens jurídicos tutelados, os mesmos devem ser aplicados.

Isso gera uma instabilidade jurídica e uma divergência quanto ao entendimento do que pode ou não violar o bem jurídico tutelado, ainda que o crime seja de perigo abstrato. O mesmo Tribunal que pode aplicar o princípio da insignificância nos casos em que o acusado é preso com munições ou em casos de furto, sob o argumento de que a conduta não viola o bem jurídico, e que devem ser observados os princípios da fragmentariedade e principalmente o da intervenção mínima, rejeita de prima facie a aplicação do princípio em face dos crimes previstos na lei de drogas, porque, segundo o entendimento, presume-se a ofensividade à saúde pública quando se trata de entorpecentes.

Por óbvio, o entendimento não deve ser de que os entorpecentes não possam ferir os bens tutelados e protegidos pelo estado, mas sim, que deve ser ponderado é a forma de apreciação e essa presunção de ofensa.

Resta claro que a Lei de Drogas não está sendo efetiva no combate às drogas,

ainda que em certos aspectos seja eficiente, no que tange ao tráfico, temos apenas um aumento exponencial do encarceramento em massa, e nada muda no sentido da efetividade e redução do tráfico, que cresce de forma exponencial nas cidades do Brasil.

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