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DIVERGÊNCIAS NO FINANCIAMENTO E NA CONSTRUÇÃO DAS PPP

5.3 DIVERGÊNCIAS DE INTERESSES ENTRE OS STAKEHOLDERS DAS

5.3.2 DIVERGÊNCIAS NO FINANCIAMENTO E NA CONSTRUÇÃO DAS PPP

Em decorrência das condições favoráveis para os financiamentos de longo prazo não serem praticadas pelos bancos privados no Brasil, o setor público avoca o papel de viabilizador dos investimentos. No entanto, o caso da Fonte Nova possui uma exceção entre os stakeholders com o papel de financiador. O banco Santander, através de debêntures no valor de 70 milhões de reais, também financia a PPP do Estádio, com a operação lastreada pelo pagamento da contraprestação do Estado ao consórcio que construiu, e hoje gerencia a Arena.

Uma grande dificuldade da Secretaria do Trabalho, Renda e Esporte junto ao BNDES foi exatamente o fato do banco não aceitar as garantias baseadas nas transferências obrigatórias do Fundo de Participação dos Estados (FPE), asseguradas por lei ao Estado da Bahia. Já em outros Estados, como o Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro, o mesmo banco consentiu a constituição das garantias do financiamento por meio de royalties.

Mesmo com a licitação concluída e o contrato assinado, as intercorrências sobre esse assunto geraram custos explicados, em parte, pelo pioneirismo da SETRE, do governo do Estado da Bahia e do consórcio, que assinaram os contratos de financiamento junto ao BNDES e BNB apenas em janeiro de 2010.

Esse financiamento foi realizado aderindo à premissa teórica de que a Parceria Público-Privada é feita quando não há disponibilidade de recursos públicos para que uma obra seja implementada, afirma o secretário do Trabalho, Renda e Esporte. Todavia, a incoerência situa-se no financiamento subsidiado do BNDES, ou seja, o custo financeiro pago pelo Estado para viabilizar os projetos em setores específicos que poderiam ser executados pelo próprio aparelho governamental.

Nesse contexto, o BNDES, o principal financiador do projeto da Fonte Nova, é considerado uma instituição extremamente conservadora em razão da demora de um ano para definição das regras do empréstimo para a Fonte Nova Participações. O Secretário realça, em sua fala, que o financiamento não é dinheiro dado e que a instituição financeira tem um papel claro diante da matriz de compromissos entre Estado, município e união e, principalmente, com o

[SC155] Comentário: Divergê ncia na modalidade de financiamento. [SC156] Comentário: Não está claro. [DB157R156] Comentário: C

consórcio. Logo, “não há que se definir amigos inseparáveis ou inimigos mortais nessas relações discordantes”, o que aponta o endosso da teoria de importância relativa dos stakeholders perante a dinâmica das interações que podem se apresentar convergentes em momentos posteriores. (Secretário da SETRE)

No entendimento do secretário à frente da SETRE, não há uma relação entre atores bons ou ruins, e sim, a existência de muitos interesses em comum com a Fonte Nova Participações (FNP) e, eventualmente, alguns pontos que são divergentes.

“O interesse comum é pôr em pé a Fonte Nova, ao mesmo tempo em que, sendo um ente privado, perseguirá os ganhos que são estabelecidos em contrato. A ação do Estado estará sempre atenta para preservar o interesse público.” (Secretário da SETRE)

O stakeholder que representa o BNB declara que os principais conflitos nas fases de financiamento e construção existiram em torno no nível de detalhamento que o projeto precisava para obter os recursos da instituição. No decurso das negociações, observa-se que o consórcio quer o melhor possível e o banco quer trazer as alternativas para dentro das suas possibilidades. Sobre esse momento o interlocutor faz a colocação: “não diria conflitos, mas sim a negociação, onde se têm interesses diferentes sendo conduzidos”.

Na mesma direção, o trecho abaixo da fala do Gerente Corporate do BNB ilustra outra divergência típica entre o banco e a concessionária:

“A discussão sobre o projeto e seus contratos acessórios financiados pelo BNB encontrou divergências, como no exemplo da amortização do investimento. O consórcio, obviamente, queria diminuir a velocidade dessa amortização, caso ingressasse recursos ou receitas adicionais. E em oposição, o banco desejava acelerar a amortização. Outro conflito que abrange a limitação da responsabilidade do compromisso dos acionistas com projeto também foi motivo de tensão, sendo mais notável a reivindicação sobre detalhamentos maiores dos projetos. Porém, tudo isso faz parte do jogo negocial.”

Sobre a PPP do Emissário, o diretor da EMBASA confirma que a obra foi muito bem feita e está funcionando, mas repete que não faria outra PPP, em razão da existência de recursos disponíveis da ordem de 40 bilhões de reais, sendo 20,8 bilhões de reais para municípios e regiões metropolitanas com uma

[SC158] Comentário: Divergê

ncia na modalide de de financeiament

[DB159R158] Comentário: E

stá organizado agora nessa categoria.

[SC160] Comentário: É uma

das raras vezes em que uma amarração com a teoria é feita. Lembro de ter falado isso na banca, mas pouco se viu em termos de evolução nesse quesito.

[DB161] Comentário: FINANC

população acima de 250 mil habitantes. Evidencia-se que, fora de um cenário de restrição fiscal, as PPP podem não ser preferidas.

Segundo o agente financeiro entrevistado na Caixa, o maior ponto de divergência é a parte dos custos correspondentes ao valor que o banco considera aceitável para o empreendimento. Sobre esse assunto, se discutiu longamente, estimando que o orçamento do objeto de licitação era insuficiente para a mensuração do serviço. O esclarecimento se deu somente após várias reuniões que confirmaram a necessidade do detalhamento dos projetos à Caixa Econômica Federal. A conclusão da análise ocorreu depois de 10 meses, em função da necessidade de ajustes para a redução dos valores propostos inicialmente.

Nesse processo, a construtora apresentou as suas considerações e a Embasa auxiliou, porém, as contestações do orçamento partiram da CEF, já que o contrato estava assinado e o financiamento provinha do banco. Enfim, com o consenso, se acertou o financiamento do valor que a Caixa considerou coerente com os projetos propostos para a execução.

“Houveram divergências também no acompanhamento da obra, quanto aos critérios de medição que a concessionária propôs e que a Caixa Econômica considerava ser de outra forma. Em alguns casos, a Caixa aceitou as justificativas, e em outros não; seguindo os normativos que o banco define para determinado tipo de intervenção.”

O projeto do Emissário Submarino possui grandes elevatórios, itens de instalação elétrica e equipamentos avaliados em milhões, que o consórcio tinha que abrir, identificar e apresentar à Caixa o projeto detalhado desses componentes para a verificação e cotação no mercado.

A CEF enfrentou muitas dificuldades, por ser uma obra incomum no Brasil. Foram importados tubos especiais, cujo diâmetro, na época, só era produzido na Noruega e montados e soldados em tramos de até 900 metros na Baía de Aratu. Após todos os tubos fixados um no outro, eram levados por 15 balsas pela Baía de Todos os Santos, inclusive parando a movimentação de navios no Porto de Salvador até a região do bairro Boca do Rio para serem afundados.

Assim, com as particularidades quanto ao transporte, seguros, montagem especial, uso de equipes de mergulho e no acompanhamento de

[SC162] Comentário: Divergê

ncia em relação aos montantes a serem pagos e as modalidades de financiamento.

[DB163R162] Comentário: C

lassifiquei como divergência no financiamento.

embarcações, se configurou a complexidade da mensuração da construção da obra da PPP do Emissário Submarino contendo um alto nível de engenharia e riscos de difíceis análises.

Então, o consórcio foi obrigado a apresentar projetos detalhados e teve que contratar uma empresa para detalhar o projeto, refazer orçamento e, principalmente, revelar os custos, composições dos serviços, até os não usuais, sobre os quais não existiam em tabelas de outros órgãos de saneamento. De posse das informações, a Caixa se aprofundou nas avaliações, fazendo críticas que foram corrigidas ou justificadas, examinando as cotações de equipamentos similares para se compatibilizar custos, até ajustar o orçamento original em função desses estudos.

Para a Caixa Econômica, o financiamento de recursos vultosos em obras de infraestrutura para empresas no setor privado é um excelente negócio, já existe uma experiência de alguns anos em operações semelhantes e não há praticamente inadimplência no setor, o que torna um negócio seguro para o banco. No entanto, o agente financeiro da Caixa Econômica avalia que alguns fatores precisam ser melhorados, citando o exemplo do tempo de 8 meses para se analisar um projeto e as regras muito rígidas de acompanhamento do programa para a liberação de dinheiro na fase da construção.