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Umberto Eco e a Semiótica em Casablanca

Umberto Eco (1932-2016) escreveu uma importante análise semiótica13 sobre Casablanca. Ele considera que o filme trabalha com arquétipos 14 que frequentemente reaparecem em narrativas e que desempenham uma vaga sensação de dèjá vu: situações em que se tem a impressão de já ter visto ou vivido.

O filme permanece em nossa memória como um todo, pois apresenta não apenas uma ideia central, mas sim várias e isso o torna um Clássico do Cinema. A semiótica parte da análise: de estrutura

13 O paper “Casablanca: Cult Movies and Intertextual Collage” foi apresentado por Umberto Eco no Simpósio “Semiotics of the Cinema: The State of the Art”, em Toronto, no Canadá, em 18 de junho de 1984.

14 O uso feito por Umberto Eco não tem nenhuma conotação psicológica ou mítica.

comum (common frame) que é a situação estereotipada, sequência de ações codificadas do dia a dia como, por exemplo, jantar no restaurante ou ir à estação de trem; de estrutura intertextual (intertextual frame) que é a situação estereotipada baseada em conhecimento prévio como o duelo entre o xerife e o bandido ou em narrativa onde o Herói ganha ao enfrentar o Vilão, ou ainda como o suspeito que escapa de um posto de controle e é baleado pela polícia. Além disso, há a iconografia estereotipada como o Nazista Mal (Evil Nazi) que pode desenvolver uma estrutura intertextual.

O filme Casablanca15 tem início com uma música africana (gênero de filme de

15 A montagem da abertura do filme foi feita por Don Siegel (1912-1991) baseando-se no estilo do March of

aventura) e depois muda para a Marselhesa (gênero de filme patriótico). Em seguida, sobre a imagem do globo, uma voz sugere uma reportagem (gênero de jornal cinematográfico) descrevendo a Odisséia de Refugiados e a rota Casablanca-Lisboa (gênero de Intriga Internacional).

Casablanca é a cidade que representa o Último Posto Avançado no Fim do Deserto. O Rick’s Café Américain incorpora a visão da Legião Estrangeira perto do Grande Hotel para onde pessoas vêm e vão e nada acontece. Há o Inferno do Jogo em Macau ou Singapura (mulheres chinesas) e o Paraíso dos Contrabandistas neste café, onde tudo pode acontecer: amor, morte, perseguição, espionagem, jogos de azar, sedução, música, patriotismo. Há a Time, jornal cinematográfico que era narrado por

tentativa de fuga e a prisão de Ugarte (filme de ação) depois aparece o agente norueguês Berger (filme de espionagem). Pétain (Vichy) versus a Cruz de Lorena representam a oposição entre colaboracionismo e resistência (filme de propaganda de guerra). Victor Laszlo e Ilsa Lund – o Herói Incontaminável e a Mulher Fatal (ambos de branco) em contraste com os alemães que normalmente estão de preto e o casal é apresentado ao major Strasser que se apresenta de branco para reduzir a oposição visual. Ilsa e Strasser representam a Bela e a Fera. Depois que o café é fechado à noite, pouco antes do flashback, Sam e Rick Blaine estão sozinhos. Eles são o Servo Fiel e seu Amado Mestre (Dom Quixote e Sancho Panza).

No início do filme, Rick Blaine aparece como sinédoque (sua mão) e

metonímia (seu cheque). A sua personalidade complexa aflora como O Aventureiro, o Self-Made Businessman (dinheiro é dinheiro), o Homem Inflexível (Tough Guy) de filme de gangster, Nosso Homem em Casablanca (Intriga Internacional), o Cínico Sedutor (despreza Yvonne) e o Herói Hemingwayano (pois ajudou tanto etíopes como espanhóis contra o fascismo). O fato de não beber representa um problema, mas o flashback ajuda a introduzir o Amante Desiludido que se transforma no Amante Desesperado (Beber para Esquecer) para no fim ser o Bêbado Redimido. O Flashback representa O Poder da Memória para recordar o Encontro Breve (com Ilsa Lund) na Última Vez que Vi Paris.

Rick Blaine representa o Diamante Áspero: permite que o casal búlgaro

obtenha o dinheiro necessário para os vistos de saída após ele ser ríspido com Annina Brandel; permite a execução da Marselhesa após ser ríspido com Victor Laszlo e negar a venda das cartas de trânsito; descobre que o Amor é para Sempre depois de dizer que Ilsa poderia atirar nele. Há a quinta essência do Drama na figura do Clímax depois de todos os anticlímax.

Casablanca-Lisboa significa a Passagem para a Terra Prometida. Casablanca representa a Porta Mágica. Entretanto, para fazer a passagem deve-se submeter a um Teste. Há a Longa Espera do Purgatório. A Chave Mágica é a carta de trânsito. O Capitão Renault encarna o Guardião da Porta que deve ser conquistado pelo Presente Mágico (dinheiro ou sexo). A Chave Mágica não é comprada pelo

dinheiro, pois é dada como Presente (recompensa pela Pureza). O Dono (da Chave) é Rick que dá dinheiro (de graça) para o casal búlgaro e ele também dá as cartas de trânsito (de graça) para Victor Laszlo. A Roleta de Vida ou Morte (Roleta Russa que devora fortunas e pode destruir a felicidade do casal búlgaro – Epifânia da Inocência).

Ao se sacrificar, Rick Blaine consegue a Redenção. Os impuros não vão para a Terra Prometida (a América), mas para a Resistência (Rick e Renault) visando a Guerra Sagrada (Holy War) que é um glorioso Purgatório. Victor Laszlo vai para o Paraíso por ter sofrido com a clandestinidade. O avião é o Cavalo Mágico (na cena final há inclusive um emblema do cavalo Pegasus no avião).

A ideia de sacrifício perpassa todo o filme: o sacrifício de Ilsa Lund em Paris quando ela abandona o homem que ama para voltar para o Herói Ferido; a jovem búlgara decidida a se sacrificar para ajudar o marido; o sacrifício de Victor Laszlo que está resignado a ver Ilsa Lund e Rick Blaine juntos a fim de garantir a segurança dela.

O Amor Infeliz é arranjado em triângulo16. Normalmente há o Marido Traído e o Amante Vitorioso. Neste caso, ambos os homens são traídos e sofrem uma perda. Todavia, há um elemento subliminar (Amor Platônico) nesta derrota que escapa do nível da consciência, pois Rick admira Victor, este é ambiguamente atraído pela personalidade de Rick: ambos chegam ao

16 Ilsa Lund aparece no meio de Victor Laszlo e Rick Blaine em várias cenas reforçando a ideia de triângulo amoroso na trama do filme.

extremo de um duelo de sacrifício próprio em prol do outro. Como no livro As Confissões de Rousseau (1712-1778), a mulher é o intermediário entre os Homens, um jogo de virilidade, dança de sedução em torno da Bela. A resolução se dá com o Sacrifício Supremo (que permite que Victor e Ilsa partam juntos) e, assim, ocorre a Redenção de Rick Blaine.

A propaganda antinazista

Há claros elementos de propaganda antinazista no filme. A própria abertura do filme narrada por Lou Marcelle (1909-1994), que fez narração em duas dezenas de filmes na década de 1940, baseia-se na ideia de criar no espectador a verossimilhança com a realidade, como se fosse o cine jornal comum na época. Ao transportar a realidade para o campo da ficção busca-se trabalhar os elementos necessários na formação de um quadro amplo que permita uma análise da realidade com base em personagens fictícios. Ao criar a identificação do espectador com a realidade, o filme permite a construção do consentimento ativo (plano das ideias) e de um posicionamento pró-ativo (plano da ação), atingindo-se assim o objeto da propaganda antinazista.

Logo no início do filme, um inocente tenta fugir, mas morre fuzilado junto a uma parede, onde há a imagem do Marechal Philippe Pétain (1856-1951), com a frase: Je tiens mes promeses meme celles des austres17. A câmera sobe e mostra uma bandeira tricolor e o lema da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade, Fraternidade). Portanto, há uma nítida crítica ao governo colaboracionista de Vichy e ao período da França Ocupada (1940-1944). O folheto retirado da mão do homem fuzilado apresenta a Cruz de Lorena, símbolo do movimento Free France (França Livre). Este mesmo símbolo aparece após a prisão de Ugarte no Rick’s Café Américain, quando Berger mostra o anel para Victor Laszlo: há novamente a identificação favorável à resistência que se opõe ao regime nazista.

17 I Keep my Promises, Just as I Keep The Promises of

Quando o oficial francês e o oficial alemão brigam por Yvonne, Rick Blaine ainda tenta contemporizar, mas logo depois, após recusar vender as duas cartas de trânsito, a negação faz com que Victor Laszlo peça que a orquestra toque A Marselhesa se opondo ao hino patriótico alemão Die Wacht am Rhein, tocado ao piano, e, assim, não há mais como impedir um posicionamento pró-ativo com o duelo dos hinos.

Quando Rick Blaine recusa-se a vender as cartas de trânsito, ele é lembrado por Victor Laszlo que esteve do lado certo da luta ao apoiar a Etiópia contra a ocupação italiana e as Brigadas Internacionais contra o fascismo na Espanha. Já havia o consentimento ativo em prol da resistência e, no final, ao permitir que Victor Laszlo e Ilsa Lund embarquem no avião18, há a reveladora frase de

18 O prefixo F-AMPJ do avião que decola na cena final parece codificar a mensagem: Freedom to Allied

Victor Laszlo para Rick Blaine em favor dos Aliados: And welcome back to the fight. This time I know our side will win. Ao final do filme, o Capitão Renault atira a garrafa de água de Vichy e depois chuta o cesto de lixo, claramente engajando-se na luta ao lado de Rick Blaine (aliança franco-americano). Coincidentemente houve o apoio dos Estados Unidos e o reconhecimento da liderança das Forças da França Livre que ocorreu na Conferência de Casablanca, em janeiro de 1943, quando o filme Casablanca entrou em cartaz nos Estados Unidos.

Provavelmente o elemento de propaganda antinazista mais oculto no filme seja o de ter o desejo de ver o Coronel Strasser morto19 desde o começo do filme e

19

Quando o corpo dele é retirado aparece a placa do carro A452ML. Em química um gás ideal cujo volume inicial é de 452ml, sob pressão constante e sendo aquecido de 22ºC a 187ºC, aumenta para 705ml,

ver este acontecimento com grande prazer ao final do filme. Logo no início da película, há a imagem do avião com o prefixo D-AGDF aproximando-se para aterrissar no aeroporto. A frase Death to Acting Great Dictador Führer seria uma mensagem subliminar? O prefixo do avião D-AGDF parece um epitáfio para um caixão pousando na pista do aeroporto. Após o avião taxiar e parar, com a imagem congelada do filme pode-se ver claramente uma pequena bandeira com a suástica nazista ao lado da porta do avião e outra bandeira bem maior no leme do avião. Além disso, quando o Coronel Strasser desce do avião, há a saudação nazista ao seu ajudante de ordens, o Capitão Heinze, bem abaixo das letras GDF que estão na asa do avião. Vale lembrar que dois anos antes do filme

ocorrendo uma mudança. Deixo em aberto ao leitor a interpretação disso em meio à névoa da cena final.

Casablanca, havia sido produzido o magnífico filme O Grande Ditador (The Great Dictator, 1940) de Charles Chaplin (1889-1977). Portanto, as letras GD já estavam no imaginário coletivo e, portanto, coladas à figura de Hitler. O filme Casablanca acrescentou o F (de Führer) nesta cena e, assim, de maneira inconsciente já se quer a morte do nazista que está atuando no lugar de Hitler, naquele lugar distante na ficção da cidade de Casablanca do filme, mas próxima para analisar-se a realidade.

As filmagens de Casablanca iniciaram-se em 25 de maio de 1942. Coincidentemente o Comandante Nazista Reinhard Heydrich (1904–1942) sofreu um atentado realizado pela resistência checa, em Praga, em 27 de maio de 1942, sendo que, uma semana depois, veio a falecer em 4

de junho de 1942. Em 1943, a história foi contada no filme Os Carrascos Também Morrem (Hangmen Also Die!), dirigido por Fritz Lang. A propaganda antinazista esteve muito presente em dezenas de filmes nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e tornou-se um material muito interessante para análise e compreensão da época, no tocante à construção do consentimento ativo em favor da resistência ao regime nazista como também ao posicionamento pró-ativo de engajamento ao lado das tropas dos Aliados.

Pode-se colocar o filme Casablanca como uma espécie de precursor da micro-história, corrente da História que surgiu na Itália em meados da década de 1970: reduzir a escala de observação, concentrando-se em pessoas comuns,

buscando ouvir suas vozes, a fim de apreciar ações humanas e seus significados e extrair de fatos do cotidiano uma dimensão relevante para análise, ao apelar para o recurso da narrativa histórica, com elementos de ficção (no caso do filme). Por isso, Casablanca mantém a sua atualidade.

A Defesa Francesa no tabuleiro de xadrez

O xadrez está relacionado com um dos filmes mais emblemáticos da história do cinema: Casablanca20. Humphrey Bogart, Paul Henreid e Claude Rains jogavam xadrez durante os intervalos das filmagens. Logo no início do filme, o dono do Rick’s Café Américain aparece sentado junto ao tabuleiro de xadrez, montando uma posição de abertura e depois analisando, antes de decidir a jogada a ser realizada na posição.

20

Uma imagem inspirada nesta cena foi utilizada como base para o cartaz publicitário do filme destinado à França, ainda que substituindo Ugarte pelo Signor Ferrari (Sydney Greenstreet), o volumoso chefe do mercado negro, cujo cigarro rodeia de fumaça o rosto circunspecto de Ilsa Lund (Ingrid Bergman).

A inclusão do tabuleiro de xadrez se deu por sugestão de Humphrey Bogart para a cena em que Ugarte (Peter Lorre) fala com o dono do Rick’s Café Américain. O xadrez cumpre função semiótica neste filme, uma verdadeira Obra-Prima onde todo detalhe é potencialmente significativo. A situação no filme pode ser comparada com a situação das peças no tabuleiro de xadrez.

Rick Blaine está sozinho em frente ao tabuleiro e analisando uma posição delicada do ponto de vista das pretas, quando a convenção das publicações enxadrísticas é sempre analisar colocando-se o lado das brancas. Dentro do tabuleiro, e segundo se pode reconstituir a partir dos fotogramas do filme (apesar da taça cobrir o canto do tabuleiro), a posição é a seguinte quando ele termina de montá-la com o cavalo branco em

b5 e, depois, ao analisá-la decide efetuar o roque pequeno como lance das pretas:

Esta posição surge de uma abertura denominada Defesa Francesa. As pretas são responsáveis por sua aparição no tabuleiro, pois as brancas não podem forçá-la. O fato de que seja uma posição derivada da Defesa Francesa (e não de qualquer outra abertura) a

que aparece nesta cena de Casablanca, tem uma razão semiótica, Rick Blaine é um personagem ambíguo ou aparentemente neutro - "não arrisco meu pescoço por ninguém" (I stick my neck out for nobody) – mas é no tabuleiro de xadrez que começa a se delinear sua complexa personalidade. O fato de que Rick Blaine apareça analisando a posição (não jogando), e que esteja sentado do lado defensor (as pretas), são elementos chaves, elementos que permitem decifrar as intenções autênticas e inconfessas de Rick Blaine.

A posição no tabuleiro de xadrez depois do roque pequeno (0-0) das pretas, considerando-se as horizontais (a-h) e as verticais (1-8), é conhecida como o Ataque Alekhine-Chatard na Defesa Francesa após os lances: 1.e4 e6 2.d4 d5 3.Cc3 Cf6 4.Bg5

Be7 5.e5 Cfd7 6.h4 c5 7.Bxe7 Dxe7 8.Cb5 0-0

O ator (e enxadrista amador) Humphrey Bogart não realizou as jogadas, ele simplesmente foi montando a posição das peças de memória, porém ele retirou do tabuleiro os dois bispos de rei. Portanto, por um lapso, há uma peça mal colocada na cena de Casablanca, pois o bispo das brancas não deveria estar na casa c1 (primeiro diagrama), mas sim na casa f1 (segundo diagrama). Por isso, vamos considerar a posição correta para analisar a abertura.

Não é uma mera coincidência que Humphrey Bogart tenha escolhido a Defesa Francesa e analisado a posição para as pretas, pois a inclusão do xadrez e a escolha desta abertura têm razões semióticas.

Na realidade, o tabuleiro de xadrez representa o campo de batalha da guerra: o

Ataque Alekhine-Chatard (com o peão branco em h4) representa a blitzkrieg nazista; a estrutura de peões pretos (c5, d5, e6, f7, g7 e h7) representa a linha Maginot21; enquanto o cavalo branco em b5 representa o ataque pela retaguarda, invadindo o território das pretas cuja posição está restringida. Ao realizar o roque pequeno, as pretas fazem o sacrifício da torre em a8, após o lance de cavalo branco em c7. Em contrapartida, as pretas conseguem mobilidade para contra-atacar com a tomada do peão central em d4 e com o futuro avanço de peão em f6. Simbolicamente este contra-ataque aparece no filme com o duelo dos hinos.

21 Linha fortificada de defesa na fronteira da França idealizada por André Maginot (1877-1932).

Façam suas apostas: ... Preto 22

Na Numerologia, o número 22 representa o Mestre Espiritual atuando no mundo material. As características positivas indicam o altruísmo, a filantropia, a praticidade, o equilíbrio e o idealismo com senso prático. Por estar voltado para o coletivo, quem tem o número 22 possui uma excelente capacidade para entender os outros e, ao usar sua força interior, é capaz de realizar projetos que transformam sonhos em realidade.

Do ponto de vista religioso: há 22 letras no alfabeto Hebreu; há 22 capítulos no livro Apocalipse na Bíblia; há o Salmo 22 que é aquele que Cristo cita o primeiro versículo durante a crucificação: “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?”; na

Cabala há 22 caminhos entre as 10 emanações chamadas sephiroth.

No Tarot há 22 Arcanos Maiores que podem ser numerados de 0-21 (A carta O Louco é zero) ou de 1-22 (A carta O Louco é 22). Portanto é uma questão de interpretação se é a carta O Louco (quando é 22) ou se é a carta O Mundo (carta 21 se O Louco é zero) que representa a 22ª carta dos Arcanos Maiores.

Os 22 Arcanos Maiores representam os estágios da evolução humana através do simbolismo de suas cartas. O baralho de Tarot com 78 cartas possui também 56 Arcanos Menores que possibilitam o acréscimo de detalhes para a análise mais pormenorizada e compreensão dos Arcanos Maiores.

As cartas do Tarot representam a evolução do ser humano no plano terreno e no plano espiritual. Os Arcanos Maiores revelam a dualidade (união do corpo e da alma), assim como a possibilidade de transparência do oculto, apresentando conhecimento e sabedoria. A linguagem das cartas fala de um universo de significados com o qual estabelecer uma comunicação. Os Arcanos Maiores revelam as diversas maneiras do ser (no plano interior e no plano exterior) e serve de instrumento tanto de autoconhecimento como de possibilidade para estudos filosóficos, psicológicos e históricos em busca da essência humana e universal.

Para analisar o significado do número 22 na roleta deve-se antes recorrer à cena do filme Casablanca: Annina Brandel pergunta a Rick Blaine se o Capitão Renault

manterá a palavra de que vai “ajudá-la” a conseguir o visto de saída mesmo ela não tendo dinheiro. Rick Blaine confirma que sim, mas em tom ríspido aconselha que o casal volte para a Bulgária. O casal tem problemas, assim como todos em Casablanca. Ilsa Lund entra acompanhada de Victor Laszlo, no Rick’s Café Américain, no instante em que termina a referida conversa. Rick Blaine vê o casal entrar, indica-lhes a mesa 30, dirige-se a Sam para que toque As Time Goes By, depois verifica o faturamento da noite e em seguida dirige-se à mesa de roleta onde pergunta para Jan Brandel se ele já apostou no número 22, sob o olhar de Emil, o croupier. Então, o número 22 sai duas vezes em seguida e o casal búlgaro consegue o dinheiro para obter os vistos de saída.

Começando pela carta O Mundo (carta 21, mas a 22ª carta se a carta O Louco é zero), temos uma carta de movimento (das mudanças naturais) que normalmente não é boa para o amor. Salvo se for uma relação que está começando então é positiva para o amor (casal búlgaro). O Mundo é um Arcano Maior que indica que relacionamentos vividos intensamente que empacam, não seguindo em frente, acabam terminando e ficando um sentimento de frustração e tristeza indicando que a missão foi cumprida (Rick Blaine & Ilsa Lund). Ao mesmo tempo, a carta O Mundo possui um fator humano importante que é a fé que impulsiona a crença na Energia Universal para enfrentar grandes obstáculos, sem medo de novos desafios.

Vamos analisar agora a carta O Louco começando como zero e terminando

como 22. Esta carta indica a necessidade de ficar sozinho (vemos Rick Blaine no início do filme sozinho com seu tabuleiro de xadrez), retirando-se do meio dos outros em busca de respostas no seu íntimo. Muitas vezes o destino se apresenta sem pedir permissão e produz uma mudança em sua perspectiva (Rick Blaine revê Ilsa Lund ao som de As Time Goes By). Depois ele precisa dominar seus medos ao relembrar o sentimento do amor (cena do flashback que termina com Rick Blaine entrando no trem sem a sua amada; ele teme nunca mais vê-la, não sabe o motivo e nem tem uma explicação). Ao parar e ver o mundo com os olhos do espírito aprende-se a importância da doação, sente-se o medo de perder, mas ao romper, pode-se harmonizar e equilibrar para começar de novo num processo de

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