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DIVERSIDADE DE ESTRUTURAS E DESAFIOS À

GESTÃO

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Marcelo Kischinhevsky2

Izani Mustafá3

Scarlat Suelen Guimarães do Vale4

A radiodifusão universitária vive forte expansão no Brasil no século XXI, na esteira do crescimento das outorgas de canais educativos e da percepção de sua relevância social e cultural, oferecendo um importante meio de comunicação com os diversos públicos de interesse das instituições de ensino superior. Paradoxalmente, no entanto, enfrenta desafios extraordinários para atingir a sustentabilidade, resultantes de incertezas regulatórias, da falta de recursos para investimentos e custeio e da baixa institucionalidade de muitas emissoras – não raro, afetadas pela alternância de grupos de poder nas universidades.

1 Versão revista e ampliada de trabalho apresentado no Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora, durante o XVIII Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado em setembro de 2018, na Univille, em Joinville (SC). Agradecemos à ex-bolsista de Iniciação Científica (IC) Lorena Hang, pelo apoio na fase inicial da elaboração do questionário aplicado e na consolidação das respostas válidas, e à Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e ao Departamento de Inovação da UERJ, pelo apoio à presente pesquisa.

2 Professor do Núcleo de Rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCS/UERJ). É coordenador do Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da Intercom (2019-), presidente do Conselho Geral da Rede de Rádios Universitárias do Brasil (RUBRA) e autor de livros como Rádio e mídias sociais (2016) e Rádio sem onda (2007). Email: marcelok@forum.ufrj.br.

3 Professora do Departamento de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA – campus Imperatriz), doutora em Comunicação Social (PUCRS), mestre em História do Tempo Presente (Udesc), jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e integrante do Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da Intercom. Email: izani.mustafa@gmail.com.

4 Graduanda em Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCS/UERJ) e bolsista de Iniciação Científica do AudioLab. Email: scarlatsuelen@ gmail.com.

Cartografia em andamento (cujos resultados preliminares foram sistema- tizados em KISCHINHEVSKY, MUSTAFÁ, MATOS e HANG, 2018, MUSTAFÁ, KISCHINHEVSKY e MATOS, 2017) detectou a existência de 104 emissoras em ati- vidade no país, entre AM/FM e web rádios, vinculadas a 91 instituições de ensino superior. Do total, 68 são estações FMs, seis emissoras na faixa AM e 30 estações com distribuição de conteúdo exclusivamente via internet.

A maior parcela, 40 emissoras – 25 FMs, 11 web rádios e quatro AMs –, é administrada por instituições de ensino superior (IES) públicas federais. Em segundo lugar, vêm as emissoras geridas por IES privadas (25, das quais 19 FMs, cinco web rádios e uma AM). Em terceiro, empatadas (13 cada), vêm as IES públicas estaduais (12 FMs e uma web) e as universidades confessionais (seis FMs, seis emissoras via internet e uma AM). Completam a lista as IES comunitárias (oito FMs e uma web rádio) e as IES públicas municipais (seis emissoras – quatro FMs e duas web rádios).

Mais da metade das emissoras identificadas (55 das 104) foi inaugurada nos anos 2000 (33, das quais 22 FMs e 11 web rádios) e 2010 (22, das quais 14 web rádios e oito FMs). Dados do Ministério das Comunicações indicavam, no entanto, que o número de emissoras vinculadas a instituições de ensino superior poderá crescer ainda mais nos próximos anos, na esteira de processos seletivos realizados durante o governo Dilma Rousseff, quando mudanças regulatórias favoreceram a alocação de canais a atores do setor público (PIERANTI, 2016, 2017).

Entre 2011 e 2015, foram 24 outorgas para a criação de novas emissoras administradas por 18 universidades ou fundações a estas vinculadas. Além disso, no mesmo período, 27 institutos federais de educação, ciência e tecnologia (IFETs), que oferecem do ensino médio profissionalizante à graduação e à pós-graduação, também venceram concorrências para instalação de estações de rádio educativas em todas as regiões do país.

Pela primeira vez na história, o Ministério das Comunicações cruzou, para o Plano Nacional de Outorgas (PNO) de Radiodifusão Educativa 2016-2017, a

de radiofrequência e a presença de instituições de ensino superior nas cidades potencialmente contempladas. “O Plano Plurianual (PPA) do governo federal estipulara, como meta, o atendimento de 90% dos municípios que dispunham de instituições públicas de ensino superior pelo serviço de radiodifusão educativa” (PIERANTI, 2017, p. 66).

Na primeira fase do PNO, em sete editais, seriam contemplados 235 municípios para os quais existiam canais vagos no chamado Plano Básico. A segunda fase atenderia 509 municípios ainda sem canais básicos disponíveis, o que exigiria estudos da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para alocação de frequências. Em 477 deles, havia demanda reprimida, ou seja, instituições já haviam manifestado interesse anterior em operar canais educativos.

Estes números podem ser ainda maiores, já que muitas universidades recorreram a parcerias com entidades públicas como a Empresa Brasil de Comunicação (EBC, holding pública de radiodifusão) para agilizar o processo de outorga e, portanto, seus nomes não aparecem como vencedoras nas concorrências. É o caso, por exemplo, da emissora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em fase de implantação, cuja consignação ficou em nome da EBC, para ser operada em parceria com a instituição de ensino superior.

Entre essas emissoras, há situações em que o processo de outorga ainda não foi concluído, porque restam outras fases e documentos a serem encaminhados. Ainda assim, e mesmo considerando que muitos processos foram paralisados após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o cenário que se apresenta é de expansão da radiodifusão educativa de caráter universitário nos próximos anos.

Nesse contexto, cresce a importância de entendermos como estas emissoras estão estruturadas e como se inserem no mercado de radiodifusão sonora no Brasil, sejam elas públicas, privadas, comunitárias ou confessionais. Este movimento dos pesquisadores se articula com tendência internacional, especialmente no âmbito ibero-americano, que busca mapear as diferentes realidades da radiodifusão universitária nos países e o papel que esta desempenha em termos de promoção

da cultura, democratização da comunicação e divulgação científica e tecnológica (cf., entre outros, MARTÍN-PENA, PAREJO CUÉLLAR e VIVAS MORENO, 2016, MARTÍN-PENA, MARTA-LAZO e ORTIZ SOBRINO, 2016, CASAJÚS e GIORGI, 2017).

Com este objetivo, paralelamente ao levantamento de informações no âmbito da mencionada cartografia, os autores aplicaram um questionário on-line junto aos gestores das emissoras identificadas, bem como núcleos de produção laboratorial de rádio instalados em universidades e que distribuem conteúdo via internet, em streaming ou sob demanda. Ao fim de junho de 2018, as respostas válidas chegavam a 44, das quais 27 referiam-se a FMs educativas, 12 web rádios e/ou núcleos de produção laboratorial e distribuição de conteúdo via internet, três rádios AMs e duas rádios comunitárias vinculadas a instituições de ensino superior.

O questionário se divide entre informações gerais, dados sobre a programação das emissoras, atuação acadêmica e gestão. Neste artigo, devido a limitações de espaço, vamos nos ater aos resultados referentes à administração.

Entendemos que as questões relacionadas à gestão de emissoras, raras vezes objeto de reflexão acadêmica (cf. a respeito BUFARAH JR., 2016 e 2014), representam um eixo relevante de discussões que possibilitarão caminhar em direção à sustentabilidade e a uma institucionalização dos projetos, muitas vezes vítimas de disputas políticas no âmbito das universidades ou mesmo incompreendidos em toda sua potencialidade de comunicação com públicos internos e externos.