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Sobre a escola e sua organização

Cena 6.1 Diversidades dentro da sala de aula

Descrição da cena 6.1 – Esta cena também traz uma das ações realizadas durante o

período de docência orientada da pesquisadora, assim como as cenas 1.2 e 3.1, em que os acadêmicos deveriam representar, através de materiais disponibilizados, como havia sido o Estágio para eles. Traremos um recorte dos aspectos que evidenciam a ação de os futuros professores conhecerem os alunos.

Alaídes: Aí depois passa quando a gente chega na sala de aula e vê a diferença de cada

aluno, diversidade, cada aluno tem um jeito, cada aluno pensa de um jeito.

Breezy: Nas observações, a gente já percebeu muito isso, né, quem agitava, quem não

agitava, quem era mais tranquilo, os que tinham mais problemas do que os outros assim, problemas pessoais principalmente e na realidade da EJA é justamente isso, né, muita variedade de informações, muita variedade de pessoas, assim no aspecto social e também muita diversidade de pensamento em modos de viver.

Alaídes: É alguns já tem filhos, outros não, outros são novos.

Breezy: Outros já trabalham, outros não, tem muita diferença nesse aspecto, pessoas mais

velhas, que não é comum na maioria das outras né, na EJA isso é o principal, o principal aspecto da EJA era esse, né, jovens e adultos, mas antigamente era mais adultos do que jovens. Hoje em dia, está virando essa página, está virando mais jovens do que adultos, integrado a pessoa que está muito tempo fora da escola. Daqui a gente passa para a ideia do professor, jogando xadrez e pensando no nosso caso como planejar aula, quais são as características dos nossos alunos, o que a gente pode fazer que realmente vai trazer significado para o aluno, então esse momento de conflito com nós mesmos.

Alaídes: Conhecendo a realidade do aluno, que a gente vai trabalhar em cima disso.

Breezy: Essa dificuldade de você conseguir realmente atingir, chegar naquele ponto crucial

do aluno conseguir realmente compreender a disciplina, de o aluno realmente trazer significado para aquilo ali. Então essa parte que a gente acha bem difícil nesse aspecto, por isso que ele está pensando bastante ali, qual método você vai usar para justamente cativar os alunos.

Fonte: Dados da pesquisa.

Nesta cena, através dos relatos de dois estagiários, notamos a significância para eles do Estágio, no que tange a conhecer seus alunos. Na primeira fala, Alaídes salientou a diversidade que há em uma sala de aula, ao que Breezy complementou, relembrando que em suas observações percebeu quais alunos da turma eram agitados, tranquilos e quais tinham mais problemas pessoais. Associou isso à realidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA), uma vez que:

Compreender o aluno da EJA requer conhecer a sua história, cultura e costumes, entendendo-o como um sujeito com diferentes experiências de vida e que em algum momento afastou-se da escola devido a fatores sociais econômicos políticos e ou culturais (PARANÁ, 2005, p 33)

As Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos do Estado do Paraná vêm salientar que ser professor, em especial de EJA, é muito mais que ensinar conteúdos, é compreender a realidade de cada aluno, é promover a

transformação dos sujeitos, constatações já ressaltadas pelos nossos sujeitos de pesquisa.

Chamou a atenção de Breezy o fato de o público da EJA, hoje em dia, ser formado por mais jovens e menos adultos. Essa juvenilização dos alunos da EJA tem motivado algumas pesquisas, tais como a de Corte (2016, p. 85), que conta que esse processo passou a intensificar-se, principalmente, a partir do ano de 1980, quando houve a “implementação da LDB 9.394/96, no artigo de nº. 38 (parágrafo 1º), que altera a idade mínima para a realização dos exames, no Ensino Fundamental, de 18 anos para 15 anos e, no Ensino Médio, de 21 para 18 anos”. (CORTE, 20116, P. 85). A observação de Breezy talvez pudesse ser explicada pela mudança da legislação que oportunizou que jovens a partir de 15 anos de idade pudessem ingressar nessa modalidade, entretanto, é interessante observar que o censo escolar brasileiro de 2014 revelou que 30% das matriculas na EJA eram de jovens com idades entre 15 e 19 anos, ou seja, seria então precipitada a sua conclusão.

Os estagiários compararam a figura do professor com um jogador de xadrez, uma vez que este traça estratégias para conseguir um xeque mate, objetivando em sua atividade de ensino que os alunos se apropriem dos conhecimentos. Isso nos remete às palavras de Lopes (2011, p. 61), quando eles elucidam que

[...] o professor é responsável por organizar seu ensino de modo a oportunizar a aprendizagem de seu aluno, e que isso exige um processo de aprendizagem em relação a planejar, registrar, avaliar, construir coletivamente.

Breezy ressaltou que não basta ao professor tão somente organizar seu ensino para que a atividade de aprendizagem do aluno se concretize, é preciso, como complementou Alaídes também conhecer a realidade do aluno.

Os relatos dos acadêmicos mostram indícios de eles conseguem enxergar que os alunos devem se apropriar do conhecimento, mas para isso é preciso que o professor além de desenvolver sua atividade de ensino, esteja atento ao seu aluno, às suas particularidades e aos seus problemas pessoais.

5.3.2 Episódio 7 – Medo inicial/ Insegurança

As primeiras experiências com a prática docente podem ser acompanhadas por algumas inseguranças e até mesmo medos. Então, nesse episódio mostraremos

alguns aspectos que acompanharam os futuros professores, principalmente, quando chegou o tão esperado momento de assumir uma turma como professor estagiário, como destacamos na cena 7.1.