Necessidade do silêncio

Descrição da cena 10.2 – Esta cena também é formada por excertos dos relatórios de

Estágio dos futuros professores, e evidencia a preocupação deles com o domínio de classe. Estagiário Data Página do relatório Excerto do relatório

Maria 13/04/2017 p. 24

Foi entregue uma folha com o restante do conteúdo de raiz quadrada e junto tinha as atividades. Foi explicado tudo no quadro e todas as dúvidas que surgiam foram respondidas. Logo depois eles começaram a fazer as atividades. Muitos alunos me chamaram nas classes, estava bastante conversa na sala e eu não consegui controlar. Foi entregue também, um trabalho avaliativo, com potência de base 10 e raiz quadrada, e foi avisado que era para entregar até dia 18/04/17 na terça-feira.

Maria

04/05/2017 p. 34

Foi terminado de corrigir os exercícios do teste. Em seguida iniciei com o conteúdo de conjuntos, passei no quadro e os alunos pediram impresso o conteúdo, foi tratado com eles que se fosse pedido mais de três vezes silêncios (e os sinônimos) eles teriam que copiar no quadro, caso contrário seria entregue o conteúdo impresso. Porém, na mesma aula, teve muitos pedidos de silêncio, eles não conseguem manter o silêncio por muito tempo.

01/06/2017 p. 36

Iniciei a aula falando dos relatórios semanais, com a dupla, Igor e Lucca não fizeram então passei para a próxima dupla, Pedro e Daniel, com data diferente.

Em seguida, terminando de corrigir a prova, como a maioria das notas tinha sido boa poucos alunos realmente prestaram atenção, eles estavam dispersos e conversando bastante. Terminei de corrigir e entreguei uma folha com os números reais. Pedi para um aluno ler e eu ia explicando. Logo depois, passei as atividades no quadro, eles copiaram e eu disse para irem fazendo. Alguns fizeram, outros só conversaram, os alunos estavam bastante agitados.

Julia 07/04/2017 (manhã)

p. 55

Inicialmente perguntei aos alunos se eles tinham feito os exercícios do livro que havia deixado como tema de casa. Apenas uma menina fez, então pedi que eles fizessem os exercícios e me entregassem na próxima aula (quarta-feira).

Em seguida, passei no quadro os exemplos g, h, i, j. No primeiro exemplo eles tiveram dificuldade, mas depois que fiz os outros exemplos eles conseguiram entender. Eu acho que já expliquei melhor e com mais calma em relação às aulas passadas. Entretanto, acho que minha explicação deve ser com mais calma ainda.

Depois passei no quadro o exercício 2. Os alunos copiaram os exercícios e a maioria deles conseguiu terminar de fazer. Fui auxiliando os alunos na resolução, ia passando de classe em classe. Acho que as minhas aulas estão tendo muitas conversas paralelas, preciso controlar isso.

Na aula no turno da tarde, corrigi os exercícios que os alunos fizeram no turno da manhã. Os alunos não estavam prestando muita atenção na resolução das questões no quadro, acredito que isso ocorra porque eles

Julia 07/04/2017 (tarde)

p. 55

já sabem que as suas questões estão certas. Preciso melhorar isso também. Além de que as conversas paralelas ainda estavam ocorrendo em determinados momentos. Depois de corrigir os exercícios passei no quadro os exemplos k, l, m, n. No primeiro exemplo eles tiveram um pouco de dificuldades, mas nos próximos entenderam como fazer. Eles prestaram atenção nestes exemplos. Em seguida, passei o exercício no quadro para fazerem, mas não deu tempo de começarem.

Fonte: Dados da pesquisa.

No que se refere ao relato das aulas da estagiária Maria, enfatizamos que ela disponibilizou uma folha aos alunos com o conteúdo e foi tirando as dúvidas que iam surgindo, principalmente quando começaram a fazer os exercícios. Apontamos a necessidade dessa estagiária em ter domínio de classe, pois, quando ela foi chamada para ir até a classe dos alunos, destacou que não conseguia manter o silêncio.

Em outra aula, ela frisou que, ao fazer com que os alunos copiassem do quadro, eles pediram o conteúdo impresso, então ela adotou como recurso o seguinte “se fosse pedido mais de três vezes silêncios (e os sinônimos) eles teriam que copiar no quadro, caso contrário seria entregue o conteúdo impresso”. Diante do desafio de conseguir manter o silêncio, a estagiária teve a ideia de oferecer um benefício aos alunos, desde que eles também dessem um retorno para ela, que, no caso seria o silêncio. Todavia, na mesma aula ela percebeu que essa estratégia não funcionou, quando registrou “eles não conseguem manter o silêncio por muito tempo”.

Em outra aula, como também os alunos estavam dispersos e conversando bastante, ela entregou uma folha e pediu para um dos alunos ler e ela ia explicando, depois passou algumas tarefas no quadro, para os alunos copiarem e depois fazerem. Novamente salientou que havia muita conversa e somente alguns fizeram o proposto. Esses três excertos dos relatos das intervenções da acadêmica Maria indicam sua necessidade de manter os alunos atentos e, principalmente, em silêncio.

Assim como a acadêmica Maria, Julia observou, nos seus dois relatos, a necessidade de obter silêncio da turma, escrevendo no primeiro “acho que as

minhas aulas estão tendo muitas conversas paralelas, preciso controlar isso” e, no segundo, “os alunos não estavam prestando muita atenção na resolução das questões no quadro, acredito que isso ocorra porque eles já sabem que as suas questões estão certas. Preciso melhorar isso também. Além de que as conversas paralelas ainda estavam ocorrendo em determinados momentos”.

Tanto as anotações de Maria como as de Julia expõem a necessidade de elas encontrarem modos de controlar a classe e obter silêncio para poder desenvolver a aula. Maria, por exemplo, até tentou fazer uma troca – texto impresso por silêncio. Diante do exposto, vemos que, quando os futuros professores se colocam no movimento de ministrar aulas como professores regentes, se deparam com as condições reais de seu trabalho, o comportamento dos alunos por exemplo, e isso influencia consideravelmente o processo de exercer sua atividade de ensino; e os alunos, sua atividade de aprendizagem. Isso nos faz refletir sobre o significado do trabalho do professor, indo nos ancorar em Basso (1998, p. 84):

No caso dos professores, o significado do seu trabalho é formado pela finalidade da ação de ensinar, isto é, pelo seu objetivo e conteúdo concreto efetivado através das operações realizadas conscientemente, considerando as condições reais, objetivas na condução do processo de apropriação do conhecimento do aluno.

Portanto, essa cena chama à atenção por revelar a dificuldade de os futuros professores obterem a atenção dos alunos, revelando, inclusive, o uso de recursos usualmente adotados como “punição”. A falta de silêncio, as conversas fora de hora, o comportamento dos alunos, são fatores que atrapalham o desempenho dos futuros professores. Diante disso, fica evidente a necessidade de ter domínio sobre a turma para que se cumpra o real significado do seu trabalho, ensinar para os alunos aprenderem.

5.3.6 Episódio 11 – Preocupação com a aprendizagem dos alunos

O penúltimo episódio versa sobre os modos de organização do ensino que os futuros professores foram se apropriando ao longo do período de regência, para que seus alunos conseguissem aprender os conteúdos matemáticos. Dessa forma, selecionamos uma cena com excertos de três relatórios de Estágio.