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Do centro de desenvolvimento da criança da Universidade Federal de Minas

Saber um pouco mais sobre a UMEI Alaíde Lisboa, sobretudo a política de recebimento das crianças e proposta de atendimento levou-me a buscar momentos de sua história, que foi marcada por lutas sociais e políticas.

Fruto da iniciativa de pais estudantes universitários e, contando com o apoio dos diretores das unidades e da Reitoria, em 1977 surgiram as creches da UFMG. Neste ano, instala-se na Escola de Arquitetura a primeira creche.

Em 1978, funcionavam em instalações adaptadas na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) e Escola de Arquitetura. Mantinham-se nas mesmas um quadro de bolsistas, as demais despesas eram rateadas entre os pais.

Do trabalho exitoso dessas duas unidades, surgiram em tempos diferentes outras três creches. Em agosto de 1981 começou a ser instalada em prédio construído para este fim, conforme fotografias a seguir, a Creche Pampulha, situada no Campus da UFMG, inaugurada em 1982. Posteriormente, a partir de 1990, a Associação dos Usuários das Creches da UFMG (ASSUC-UFMG) torna-se a entidade gestora, sem fins lucrativos, das creches da UFMG.

No decorrer desse período, outras as quatro creches da UFMG se desfizeram e em 1995 contava apenas com a Creche Pampulha que passou a ter o nome de CDC-UFMG.

Com o intuito de conquistar a regularização das creches, várias ações aconteceram, desde o envolvimento com órgãos da Reitoria, o estabelecimento de um convênio com a Fundação Mendes Pimentel (FUMP) e a implicação do Conselho Universitário da UFMG. Este último formou uma comissão para estudar e consolidar o Projeto de Creche na UFMG e, em dezembro de 1999, chegou à conclusão de que as cinco creches deveriam ser fechadas. Para que fossem reabertas, a UFMG determinou algumas condições:

[...] os pais deveriam assumir a responsabilidade sobre a gerência e manutenção das creches. Assim, foi criada a Associação dos Usuários das Creches da Universidade Federal de Minas Gerais – Assuc/UFMG. (SOARES et al., 2002, p. 99)

Devido à fragilidade na sustentabilidade administrativa e financeira o CDC/UFMG, numa outra decisão do Conselho Universitário, teve seu processo de municipalização iniciado em 15 de janeiro de 2007. Nesta data,

[...] foi discutido e firmado um Protocolo de Intenções entre Universidade e Prefeitura Municipal de Belo Horizonte – PBH, visando, o desenvolvimento de ações conjuntas em relação ao atendimento educacional a 290 crianças de 0 a 5 anos e 6 meses, em período integral, na Unidade Municipal de Educação Infantil - UMEI. (UMEI, 2008)

Posteriormente, após discussões na Secretaria Municipal de Educação e no gabinete do Prefeito, Sr. Fernando Pimentel, foi escolhido o nome da UMEI como Alaíde Lisboa.

Em 5 de fevereiro de 2007 deu-se a inauguração desta UMEI, vinculada à escola Municipal José Madureira Horta – pertencente à regional Pampulha, com atendimento para as crianças que já frequentavam o CDC/UFMG. As demais crianças, contempladas nos sorteios da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH) e UFMG, começariam em 5 de março de 2007, perfazendo, naquela época, um total de 290 vagas. Esse número foi aumentando com o passar do tempo. Atualmente a UMEI recebe 420 crianças, distribuídas em turmas de horário integral e parcial de zero a cinco anos e seis meses.

Dessa forma, as crianças que participam dessa UMEI são oriundas da Comunidade Universitária e dos critérios estabelecidos pela PBH e explicitados em um documento escrito coletivamente pelos participantes desse movimento em que estabelecem diretrizes para o funcionamento da UMEI Alaíde Lisboa:

A PBH estabelece uma ordem de prioridade para as suas vagas:

1º - vaga compulsória para crianças com deficiência e sob Medida de Proteção;

2º - 70% para crianças em condição de vulnerabilidade social; 3º - 10% para crianças que moram no entorno – raio de 1 km; 4º - 20% para sorteio público (UMEI, 2008).

A UFMG obedece outra lógica para as suas vagas:

 sorteio de todas as vagas disponíveis em cada faixa etária;

 podem concorrer as crianças filhas, ou sob a guarda legal, de docentes,

servidores técnicos administrativos em educação e de estudantes de graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado, ou residência médica.

É importante ressaltar que nessa parceria cada uma das partes tem o direito de ocupar 50% das vagas ofertadas. Dessa forma, estas informações conferem um caráter de uma clientela socialmente heterogênea, recebendo, portanto, crianças oriundas de diferentes

camadas sociais, filhos de estudantes, funcionários e professores, crianças moradoras do entorno e crianças em situação de vulnerabilidade social, física e mental que necessitam de medidas protetivas.

Matéria no Boletim da UFMG veiculado pela Pró-Reitoria de Extensão (REIS, 2007) explicita a importância dessa parceria e mostra que o Projeto Político Pedagógico da UMEI Alaíde Lisboa, se preocupa com a formação não só das crianças, mas também de seus educadores e envolvimento das famílias:

A Pró-Reitoria de Extensão (Proex) e o Núcleo de Estudos Infância e Educação Infantil (Nepei), da FaE, são parceiros da Prefeitura na gestão da Umei Alaíde Lisboa. O trabalho começou no início de 2007 e hoje professores de diversas unidades da UFMG desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão na creche.

Além disso, foi criado o Núcleo de Articulação Umei Alaíde Lisboa/UFMG. Composto por representantes da Proex, do Nepei, da Secretaria Municipal de Educação e dos pais das crianças, o núcleo se reúne mensalmente, com o objetivo de discutir, propor e articular os compromissos estabelecidos, e aprimorar as atividades desenvolvidas.

A equipe também é responsável pela discussão e elaboração do projeto político-pedagógico da Umei, por meio do qual é feita sua gestão e organização administrativo-pedagógica. Segundo Edir Silva, a parceria estabelecida com a UFMG enriqueceu bastante esse processo. “O diálogo com a Universidade nos possibilita oferecer formação contínua à nossa equipe e melhorar cada vez mais o atendimento às crianças.”

Para a funcionária da Proex Fátima Salles, integrante do Núcleo Articulador, esse trabalho garante ainda o desenvolvimento dos que frequentam a creche. “Cuidamos e educamos as crianças, contribuindo para sua formação cultural como sujeitos autônomos, cooperativos, críticos, participativos, curiosos e questionadores”, reflete.

Para ela, a linha de trabalho adotada tem investido na educação permeada pela afetividade, respeito e desafios. “As crianças aprendem a cuidar de si mesmas, do outro e da natureza”, diz. E completa: “Elas descobrem e reinventam o mundo, interagindo e se comunicando por meio de múltiplas linguagens.” (REIS, 2007).

Esse breve histórico revela que a existência da UMEI Alaíde Lisboa representa uma relevante conquista de um grupo de pessoas que não se intimidou diante às dificuldades enfrentadas para construir uma escola voltada para a infância e que fosse ligada à UFMG, porém assumida em sua gestão e manutenção pelo poder público, no caso a PBH. E ainda, a prática educativa e pedagógica registrada e almejada em seu projeto político pedagógico, artigos de trabalhos gerados ali e relatos de práticas educativas fortaleceram definitivamente a escolha por esse local. Pertencer a esta rede interinstitucional nos fez também crer que aquele espaço atribui importância às linguagens da infância, fazendo-nos pressupor que o desenho infantil faça parte do cotidiano das crianças que a frequentam.

Assim, enquanto remontava o contexto sócio-histórico do lócus da pesquisa, aguardava a autorização do COEP para a realização da pesquisa. Vale comentar que no que diz respeito à autorização da participação das crianças na pesquisa, como já situamos, a UMEI Alaíde Lisboa é um espaço escolar aberto à produção de conhecimentos e pesquisas voltadas à educação infantil, infância, formação de professores entre outros temas. Essa condição é divulgada aos pais ou responsáveis que no ato da matricula assinam um documento autorizando a participação de seus filhos e uso de imagens em investigações acadêmicas que possam ocorrer ali. Nas turmas observadas não existia nenhuma contra indicação.