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Capítulo II. A Polícia em Cenários de Crise

1. Do Planeamento Abordagem Conceptual

1.2. Do Comando e Controlo

Como já vimos anteriormente, a PSP é uma Força de Segurança sujeita a uma hierarquia de comando. O comando e controlo são dois conceitos que se complementam e estão muito inerentes ao meio militar, e consequentemente ao meio das Forças de Segurança ou outras forças que, pelas funções que desempenham possuam determinadas semelhanças entre si, inclusive a necessidade da existência de uma cadeia de comando.

Existe mais que uma aceção concetual para os termos de comando e controlo, porém, da abordagem conceptual que nos interessa, “comando” pode ser definido como “a autoridade que um comandante das forças armadas (ou forças de segurança) legalmente exerce sobre os subordinados em virtude da sua posição ou designação” (Department of Defense Dictionary of Military and Associated Terms, 2010, pp.40). O comando e controlo pode ser definido como “o exercício da autoridade e direção por um comandante designado sobre as forças designadas no cumprimento de determinada missão” (Department of Defense Dictionary of Military and Associated Terms, 2010, pp.40). Já o sistema de comando e controlo são “ as instalações, equipamentos, comunicações, procedimentos e pessoal, essenciais para um comandante planear, dirigir e controlar as operações das forças designadas de acordo com as missões atribuídas” (Department of Defense Dictionary of Military and Associated Terms, 2010, pp.40).

O planeamento é um elemento fulcral no que respeita ao Comando e Controlo. Para que as operações policiais, principalmente em operações como a gestão de ITP´s, entre outras, que possuem um elevado nível de exigência na sua prossecução e resolução, cumpram o seu objetivo, é imprescindível que as mesmas sejam devidamente enquadradas e comandadas. Em matéria de gestão de incidentes torna-se então importante tecer algumas considerações quanto aos níveis de comando e controlo. Existe na PSP doutrina relativamente a este assunto. Uma NEP define os diversos níveis de comando e as responsabilidades e competências que lhes são inerentes. Esse documento aplica-se a todas as ações policiais, quer sejam ocorrências de rotina, de incidentes de segurança ou operações planeadas. Essa NEP define “comando” como “o exercício da autoridade, por parte de um comandante, para ordenar, dirigir, coordenar e controlar as ações dos polícias pertencentes às unidades e subunidades sob a sua responsabilidade hierárquica”. Por “controlo” é definido

o “processo que permite a um comandante, ou superior hierárquico, assistido pela sua estrutura de Comando e Controlo, supervisionar, monitorizar e avaliar as atividades desenvolvidas por polícias pertencentes às unidades e subunidades sob sua responsabilidade hierárquica, ou outras forças atribuída, garantindo o correto cumprimento das ordens, instruções e diretivas”.

Na mesma NEP, sobre Comando e Controlo, menciona que na PSP são definidos três níveis de comando, que iremos de seguida abordar, e são eles o nível Estratégico, Operacional e Tático. Por analogia, podemos determinar que, existindo esses três níveis de comando, então, na PSP teremos também três níveis de planos na nossa instituição, cada um deles produzido ao nível de comando a que corresponde, existindo portanto planos Estratégicos, Operacionais e táticos.

A nível militar, encontramos também planeamentos de nível tático e planeamentos de nível operacional. “Apesar de não existirem limites claros entre os níveis da guerra, estes estão classificados em estratégico, operacional e tático.” Os dois últimos “complementam- se mas têm diferentes finalidades” (Manual do Processo de Decisão Militar, 2006, pp.13). O nível operacional “focaliza-se no desenvolvimento de planos para campanhas e operações de grande envergadura, utilizando como ferramenta a arte operacional.” (Manual do Processo de Decisão Militar, 2006, pp.13). Os planos correspondentes a este nível “estabelecem a ligação entre os objetivos estratégicos e a aplicação de forças militares.” O planeamento tático “gravita em torno de batalhas e empenhamentos, conduzidos para alcançar os objetivos atribuídos às unidades táticas. (…) Os horizontes de planeamento são relativamente reduzidos”. (Manual do Processo de Decisão Militar, 2006, pp.14).

1.2.1. Do Comando Estratégico.

Numa das possíveis definições existentes de estratégia, podemos verificar que a mesma é “a ciência-arte que trata da preparação e utilização da coação para, apesar da hostilidade dos opositores, atingir os objetivos fixados pela entidade política” (Barrento,2010, pp. 110).

O nível Estratégico coincide com a Direção Nacional da PSP. Citando a NEP elencada no ponto anterior, daquilo que lhe compete, é relevante elencar algumas das suas competências, nomeadamente, a competência de manter a ligação com a tutela política, manter a ligação com o nível operacional de comando, bem como assegurar o seu alinhamento com a estratégia definida, acionar recursos externos que se verifiquem

necessários para o desenrolar da operação, definir de forma clara os objetivos orientadores de cada operação, autorizar a intervenção planeada em ITP´s e definir os pressupostos genéricos que justificam a intervenção de emergência nesses incidentes, assegurar o alinhamento das ações policiais com as linhas estratégicas orientadoras definidas, tomar conhecimento das decisões táticas, assegurar o registo do processo conducente a uma decisão e dos pressupostos das decisões estratégicas e das ordens emitidas, aprovar a política e orientações da comunicação institucional para o evento que está em causa, e assegurar a realização de um debriefing com os comandantes dos restantes níveis de comando.

Por analogia, como referimos anteriormente, temos portanto planos Estratégicos, que são planeados a nível da Direção Nacional da PSP e da tutela. São planos projetados de modo a atingir algum objetivo, ou a possuir um alcance a nível nacional, de toda a instituição.

1.2.2. Comando Operacional.

Uma definição exequível daquilo que será a arte operacional é “ a abordagem cognitiva de comandantes e equipas, apoiada pela sua habilidade, experiência, criatividade e julgamento, para desenvolver estratégias e operações para organizar e empregar forças militares integrando fins, maneiras e meios” (DOD Dictionary of Military and Associated Terms, 2018, pp.172).

Ao comandante Operacional, ainda citando a mesma NEP, compete-lhe manter a ligação com o nível estratégico e com o nível tático de comando, definir de forma clara os objetivos operacionais orientadores de cada operação, que concretizem os objetivos estratégicos definidos, emitir as ordens ao comandante tático, assegurar o acompanhamento permanente das forças sob seu controlo operacional, transmitir a ordem que autoriza a intervenção planeada em ITP´s, assegurar que as táticas utilizadas pelo comandante tático estão de acordo e alinhados com os objetivos estratégicos e operacionais, assegurar que as táticas e equipamentos utilizados pelo comandante tático são proporcionais aos graus de ameaça verificados na ocorrência policial, assegurar o registo do racional e dos pressupostos das decisões operacionais e das ordens emitidas e ainda propor ao nível estratégico o formato e o momento dos contactos a estabelecer com os órgãos de comunicação social, relacionados com o evento em questão. O comando de nível Operacional pode ainda, excecionalmente e com autorização do comando Estratégico, na resposta a incidentes inopinados, assumir o comando Tático, fundindo-se os dois níveis de comando.

Por analogia, encontramos na PSP também planos Operacionais, que são desenhados a nível dos Comandos Metropolitanos, Comandos Distritais e Comandos Regionais. Esses planos irão incidir ao nível dos Comandos policiais, sendo mais restritivos que o anterior.

1.2.3. Do Comando Tático.

A tática, entre muitas definições, pode ser considerada como “ o emprego e arranjo ordenado de forças em relação a outras” (DOD Dictionary of Military and Associated Terms, 2018, pp.227).

O comandante Tático tem como competências, de acordo ainda com a mesma NEP, manter a ligação com o nível operacional de comando, executar a ordem da intervenção planeada num ITP decidindo qual o momento para o fazer, e emitir a ordem de intervenção de emergência em ITP´s quando indubitavelmente estiverem iminentes ou em curso agressões que façam perigar a vida de terceiros, ou se os suspeitos tentarem fugir do local, informar o nível operacional de comando de todas as ações policiais e intervenções a executar, emitir as ordens de execução aos recursos policiais que se encontrem no local da operação, assegurar o registo do processo conducente a uma decisão e dos pressupostos das decisões táticas e das ordens emitidas, garantir a unidade de comando e que todos os comandantes das subunidades e valências presentes no local estão sob a sua autoridade, assegurar que é montado e ativado no local um posto de comando tático nas situações que assim o exijam e quando isso ocorrer, permanecer no posto de comando tático no local e assegurar que os restantes comandantes e responsáveis pelas valências presentes no local também o fazem, implementar os protocolos operacionais definidos, e ainda certificar-se que as táticas e equipamentos utilizados pelos policias das subunidades operacionais são proporcionais aos graus de ameaça verificados na ocorrência.

Tal como os níveis de comando anteriores, por analogia podemos afirmar que na PSP existem também planos Táticos, que são gerados ao nível das Divisões policiais e das esquadras. Esses planos serão aplicados a um nível ainda mais restrito que os anteriores, nomeadamente ao nível das Divisões e Esquadras policiais. Não raras vezes são planos que ajudam a cumprir objetivos definidos nos planos dos níveis estratégicos e operacionais.

2. A Capacidade de Atuação da PSP em Cenários de Contingência: