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Capítulo I. Cenários de Crise

1. Crise Abordagem Conceptual

1.2. Incidentes Tático-Policiais

A Lei de Segurança Interna (LSI), Lei n.º 53/2008, de 29 de agosto, destina-se, tal como se encontra explanado no seu n.º 3 do artigo 1.º, a proteger a vida e a integridade das pessoas, a paz pública e a ordem democrática, designadamente contra o terrorismo, a

criminalidade violenta ou altamente organizada, a sabotagem e a espionagem, a prevenir e a reagir a acidentes graves ou catástrofes, a defender o ambiente e a preservar a saúde pública. A LSI legisla acerca da Segurança Interna, na generalidade, acabando por enunciar, no n.º 3 do seu 18.º artigo, os Incidentes Tático-Policiais de caráter grave, definindo estes últimos como aqueles que, além dos que venham a ser considerados como tal pelos Ministros da Administração Interna e da Justiça, “requeiram a intervenção conjunta e combinada de mais de uma força e serviço de segurança, e que envolvam ataques a órgãos de soberania, estabelecimentos hospitalares, prisionais ou de ensino, infraestruturas destinadas ao abastecimento e satisfação de necessidades vitais da população, meios e vias de comunicação ou meios de transporte coletivo de passageiros e infraestruturas classificadas como infraestruturas nacionais críticas, aqueles que envolvam armas de fogo em circunstâncias em que sejam postas em causas vidas ou a integridade física das pessoas, aqueles em que são usadas substâncias explosivas, incendiárias, nucleares, radiológicas, biológicas ou químicas, ou ainda que envolvam sequestros ou tomada de reféns”.

Este tipo de incidentes abarcam o último e quinto nível de intervenção policial, sendo que, de acordo com a sua doutrina, a PSP atua através da conjugação dos Comandos Metropolitanos, Regionais e Distritais de Polícia (consoante os casos) e a Unidade Especial de Polícia (UEP) nestas situações, uma vez que estas requerem a utilização de meios que ultrapassam aqueles utilizados normalmente. É o Plano de Coordenação, Controlo e Comando Operacional das Forças e Serviços de Segurança (PCCOFSS) que vem regular, de forma mais específica, a gestão de Incidentes Tático Policiais graves, aqueles que requeiram a intervenção conjunta e combinada de mais que uma Força e Serviço de Segurança (FSS). O mesmo documento define, além do que está previsto na LSI, um Incidente Tático-Policial (ITP) como uma “ocorrência inopinada e de caráter reativo, configurando uma situação de flagrante delito ou que exija a imediata intervenção policial, cuja natureza, características e resolução envolvam, por motivos diversos, o emprego de recursos que ultrapassem os normal e quotidianamente utilizados, que envolvam suspeitos com armas de fogo ou outras capazes de produzir ofensas corporais graves ou morte, principalmente quando já foram utilizadas, envolvam substâncias explosivas, incendiárias, nucleares, radiológicas, biológicas ou químicas”.

Sempre que se verifiquem os pressupostos legais que enquadram certa ocorrência como um ITP, deve o comandante do comando territorialmente competente assumir a sua gestão, tendo, no entanto, o Diretor Nacional da PSP ou o Comandante-Geral da GNR a

obrigação de comunicar, de imediato, tal facto ao Secretário-Geral do Sistema de Segurança Interna (SGSSI). Caso se verifique a existência de um ITP de caráter grave, então será o SGSSI, no âmbito das suas competências de controlo, o responsável pela articulação das FSS necessários à gestão da ocorrência em causa, tal como está previsto no n.º2, alínea b), do artigo 18.º da LSI.

Há que ter em conta que, um ITP, em última análise, poderá vir a ser comandado pelo SGSSI, contudo, caso esse Incidente não seja de gravidade acrescida, o comando é exercido, por regra, pelo comandante territorialmente competente.

A LSI veio transformar o modelo existente da resposta nacional às situações de ameaça e crise. A figura do SGSSI surge por forma a estabelecer mecanismos de articulação entre as diversas FSS, com os organismos congéneres internacionais bem como com todos os sistemas periféricos, públicos e privados, relevantes na área da segurança (Vicente, 2011).

Relativamente à figura do Secretário-Geral do Sistema de Segurança Interna (SGSSI) importa ter em consideração os seguintes aspetos.

O SGSSI tem competências de coordenação, direção, controlo e comando operacional, conforme o artigo 15.º da LSI. De um modo geral, as competências de coordenação correspondem aos poderes necessários à concertação de medidas, planos ou operações entre as diversas forças e serviços de segurança, à articulação entre estas e outros serviços ou entidades públicas ou privadas e à cooperação com os organismos congéneres internacionais ou estrangeiros, de acordo com o PCCCOFSS (art.º 16.º LSI). As competências de direção dizem respeito aos poderes de organização e gestão administrativa, logística e operacional dos serviços, sistemas, meios tecnológicos e outros recursos comuns das FSS (art.º 17 LSI). As competências de controlo do SGSSI correspondem, de acordo com o artigo 18.º da LSI, ao poder de articulação das FSS no desempenho de missões ou tarefas específicas, limitadas pela sua natureza, tempo ou espaço, que impliquem uma atuação conjunta. É no conjunto das suas competências de controlo, que o SGSSI articula a atuação das FSS envolvidos na gestão de ITP´s graves. Nesses incidentes graves, o SGSSI, marca presença na sala de situação. São ainda conferidos pela LSI, no seu artigo 19.º, ao SGSSI competências de comando operacional. Estas competências consistem nos poderes de planeamento e atribuições de missões ou tarefas que requeiram a intervenção conjunta de diferentes FSS, em situações extraordinárias, como ataques terroristas ou acidentes graves e catástrofes, que sejam determinadas pelo Primeiro-Ministro.

Está ainda previsto no artigo 21.º da LSI o Gabinete Coordenador de Segurança. O mesmo é o órgão especializado de assessoria e consulta para a coordenação técnica e operacional da atividade das FSS e funciona na direta dependência do Primeiro-Ministro ou, por sua delegação, do Ministro da Administração Interna. Compete ao Gabinete Coordenador de Segurança assistir, de modo regular e permanente, o SGSSI no exercício das suas competências de coordenação, direção, controlo e comando operacional, bem como estudar e propor políticas públicas de segurança interna, esquemas de cooperação de FSS, aperfeiçoamentos do dispositivo das FSS, bem como as condições de trabalho do pessoal, das instalações, dos meios e normas de atuação e procedimentos a adotar em situações de grave ameaça à segurança interna. Além destas competências explanadas no artigo 22.º da LSI, o mesmo artigo refere ainda que ao Gabinete Coordenador de Segurança compete também dar parecer sobre os projetos de diplomas relativos à programação de instalações e equipamentos das forças de segurança e proceder à recolha, análise e divulgação dos elementos respeitantes aos crimes participados e de quaisquer outros elementos necessários à elaboração do relatório de segurança interna.

Na dependência do SGSSI encontra-se também a Unidade de Coordenação Antiterrorismo (UCAT), prevista no artigo 23.º da LSI. A UCAT é o órgão de coordenação e partilha de informações, no âmbito do combate ao terrorismo. Compete-lhe a coordenação dos planos de execução das ações previstas na Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo e, no plano da cooperação internacional, a articulação e coordenação entre os pontos de contato para as diversas áreas de intervenção em matéria de terrorismo. A criação deste órgão foi a última alteração à LSI.

Na Resolução do Conselho de Ministros n.º 36/2015, que aprova a Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo, está também prevista a existência da UCAT. A Estratégia Nacional de Combate ao Terrorismo funda-se no compromisso de combate ao terrorismo em todas as suas manifestações, compromisso esse que assenta em cinco objetivos estratégicos face aos atos terroristas, detetar, prevenir, proteger, perseguir e responder, tal como está previsto no n.º 3 do mesmo documento. De modo a satisfazer o cumprimento desses objetivos estratégicos, surge a UCAT, responsável por coordenar os planos e ações da Estratégia Nacional, bem como, no âmbito de cooperação internacional, existindo de modo a articular e a coordenar a rede de pontos de contacto nas diversas áreas de intervenção em matéria de terrorismo. Este órgão é coordenado pelo SGSSI e vê estabelecido o regime

aplicável à sua organização e funcionamento no Decreto-Regulamentar n.º 2/ 2016, de 23 de agosto.

A UCAT desempenha funções muito importantes nomeadamente no que respeita à troca de informações que são essenciais numa situação de crise.

Este órgão conta, como entidades que integram a sua estrutura, com o SGSSI, o Secretário-Geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, com o Comandante- Geral da Guarda Nacional Republicana, os Diretores Nacionais da PSP, Polícia Judiciária e do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, e com os diretores do Serviço de Informações Estratégicas e Defesa e do Serviço de Informações de Segurança, bem como representantes da Autoridade Marítima Nacional (artigo 23.º, n.º1, Lei de Segurança Interna).

As FSS deverão cooperar entre si, nomeadamente no que respeita à comunicação de informações, tal como consta no artigo 6.º da LSI. O SGSSI, em conjunto com o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, asseguram entre si a articulação operacional quando existe a necessidade de colaboração das F.A. em matéria de Segurança Interna, conforme o artigo 35.º da LSI.

Cabe ao SGSSI coordenar as FSS, no desempenho de missões ou tarefas específicas, limitadas pela sua natureza, tempo ou espaço, que impliquem uma atuação conjunta, tal como podemos verificar no artigo 18.º, n.º1 LSI. Essa articulação deverá ser orientada através do PCCOFSS. O PCCOFSS é aprovado pelo Conselho de Ministros, que deverá também garantir o seu regular funcionamento, tal como prevê o artigo 8.º da LSI. O Plano encontra-se organizado em seis capítulos e cinco anexos. O primeiro capítulo versa sobre os princípios fundamentais que enquadram o conjunto de atividades, bem como os que orientam o funcionamento do sistema de segurança interna, o segundo capítulo caracteriza o sistema de segurança interna, identificando os seus órgãos e competências, o capítulo seguinte aborda as atividades que, no seu conjunto, compõem a atividade de segurança interna, o capítulo subsequente trata as diversas estruturas de coordenação e cooperação abrangidas pelo sistema de segurança interna, o quinto capítulo descreve o quadro geral do sistema de alerta, e o sexto e último capítulo fixa as normas gerais, específicas e especiais, de procedimento em situações concretas. Relativamente aos anexos integrantes do PCCCOFSS, o anexo A é aquele que nos interessa para o presente trabalho. É nesse anexo onde está prevista, de modo mais detalhado, a gestão de ITP´s. Do anexo em questão existem alguns pontos importantes a considerar para a presente exposição. O mesmo começa por definir de forma genérica o que é um ITP, tendo sido já mencionada acima a mesma definição. É feita

seguidamente a descrição de várias fases que compõem a resolução deste tipo de incidentes. Sem aprofundar são essas fases, a notícia da ocorrência, a contenção inicial, a ativação de recursos, a consolidação da contenção e a resolução propriamente dita do incidente em questão. No anexo A existe ainda uma área reservada ao comando e gestão de ITP´s. O comando e gestão destes incidentes tem como objetivos conter, estabilizar e resolver o incidente, garantir a articulação entre as diversas entidades e organismos intervenientes, estabelecer e definir planos de resposta a contingências, garantir a implementação e cumprimentos das diretivas pré-definidas, manter o contacto permanente com o escalão decisório superior, assegurar o rápido regresso à normalidade, gerir as relações com a comunicação social e assegurar o apoio logístico de toda a operação.

Na resolução de ITP´s as FS e em concreto a PSP têm sempre que se coordenar com outras entidades de competências próprias, pelo que deverão sempre estar bem definidos, os princípios de comando e controlo.