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Do postulado dos processos metafóricos e metonímicos como fenômeno interativo

GENUÍNO É BARNEY

2. Do postulado dos processos metafóricos e metonímicos como fenômeno interativo

No terceiro capítulo deste estudo, abordei os processos metafóricos e metonímicos como interativos, questão vigente no contexto dos estudos cognitivos. Primeiramente, busquei subsídio nas pesquisas de Goossens (2003), Barcelona (2003) e Radden (2003). Foi por meio dessas pesquisas que iniciei meu entendimento sobre a possibilidade de processos, até então vistos como independentes, interagirem. Após uma leitura detalhada das propostas por eles desenvolvidas, passei ao levantamento de alguns pontos: 1) os autores utilizam para suas análises expressões descontextualizadas, não contemplando situações discursivas, 2) esses autores focam apenas expressões construídas pelo modo verbal, 3) nos tipos de interações autorizadas pelas metafonímias e nas motivações, desenvolvidas por Barcelona (2003), há apenas a possibilidade da presença do processo metonímico ou no domínio-fonte, ou no domínio-alvo da metáfora motivada e 4) na proposta do continuum, a ideia transmitida é de que a motivação metonímica da metáfora ocorre de forma gradual, indo do literal ao metafórico, e não de forma simultânea.

Como forma de ampliar meu universo metodológico e teórico, trouxe para minhas discussões os trabalhos de Fauconnier e Turner (1999, 2002) e Paiva (2010, 2011, 2012). Esses trabalhos me possibilitaram pensar na possibilidade de outros modos semióticos, além do verbal, atuarem na interação desses processos, como também a possibilidade de o processo metonímico estar presente tanto no domínio-fonte como no domínio-alvo da metáfora motivada, sendo esta produzida pela compactação de um grupo de metonímias.

Em minhas análises, passei a investigar a interação metafórica/metonímica tendo como ponto de partida os pontos levantados, como forma de ampliar o universo de pesquisa sobre a interação entre esses processos. No decorrer do meu capítulo analítico, observei a forma pela qual esses processos interagiam em um corpus multimodal, demonstrando a maneira que cada um desses modos participa nessa interação e como os processos metonímicos atuam na motivação das metáforas analisadas. Na terceira análise, da charge “Lulastones”, demonstrei que as três metáforas destacadas para exame são frutos de um grupo de metonímias resultantes das relações entre os elementos de cada um de seus espaços de input. Ou seja, foi através da compactação das relações metonímicas que as metáforas foram produzidas.

Retomando a metáfora LULA É FRED, podemos evidenciar essa questão. Tal metáfora resulta das relações metonímicas PARTE pelo TODO e VESTUÁRIO por PESSOA, em seu domínio-fonte que, articulando às relações metonímicas PARTE pelo TODO, PARTIDO por CANDIDATO e CARGO por PESSOA, em seu domínio-alvo, produzem a metáfora LULA É FRED. Diante disso, evidenciei que as interações apresentadas no transcorrer do capítulo analítico diferem-se das interações propostas por Goossens (2003) e Barcelona (2003), pois as metáforas apresentadas em meu trabalho resultam da compactação de um grupo de metonímias presentes nos dois domínios dessa metáfora; não apenas em um deles, como argumentado pelos autores.

Foi por meio do trabalho de Fauconnier e Turner (1999, 2002) que vislumbrei essa possibilidade de interação, já que ela se faz presente na análise por eles proposta da imagem do ceifeiro implacável. Além disso, através dos postulados desses autores, pude compreender como elementos que não eram contrapartes no mapeamento entre os espaços de inputs tornam- se próximos nos espaços mescla. Seguindo esses autores, considerei a compactação metonímica a responsável por esse fenômeno, ou seja, por meio dessa compactação, a distância entre os elementos diminui. Na metáfora DILMA É PINÓQUIO, o elemento marionete viva não possui, no mapeamento entre os espaços de input, uma contraparte. Porém esse elemento está presente no espaço mescla, tornando-se contraparte de Dilma. Isso é possível a partir da relação metonímica PARTE pelo TODO, que ocorre no espaço Pinóquio, com marionete viva por Pinóquio, tornando esses dois elementos mais próximos no espaço mescla e permitindo que Dilma seja vista como uma marionete viva.

Com o processo metafórico sendo produzido por associações metonímicas em ambos os domínios dessa metáfora, acredito ser possível pensar nessa interação ocorrendo de forma simultânea e não gradual, como evidencia a proposta do continuum de Radden (2003). Assim, creio que a interação metonímica/metafórica ocorre de forma integrada, porque ao

produzir o sentido de cada uma das charges que constitui meu objeto de pesquisa, fui conduzida a integrar dois domínios conceituais distintos, ativando, destacando e mapeando, primeiramente, alguns elementos em cada um desses domínios que, em um segundo momento, foram mapeados a um novo domínio, resultando nas metáforas apresentadas. Logo, por meio desse tipo de mesclagem, que tem como resultado modelos metafóricos, cria-se uma imagem mental unificada, ou seja, uma imagem evocada pela mesclagem que torna possível integrar. Exemplo disso é a primeira análise, a campanha presidencial de 2010, com o filme infantil Pinóquio, fazendo com que Dilma seja vista como uma marionete de madeira, tendo como pai/criador Lula e como opositor Serra, representado como Grilo Falante. Ao entrelaçar esses espaços distintos, através de associações metonímicas, a metáfora é criada e, consequentemente, o sentido dessa charge.

Esse tipo de interação foi recorrente nas análises desenvolvidas, já que as nove metáforas destacadas para exame foram frutos da compactação de um grupo de metonímias. Com base nisso, acredito ser o processo metonímico imprescindível na criação do processo metafórico, já que a criação deste depende das relações metonímicas presentes entre os domínios fonte e alvo daquele. Posto isso, seguindo os trabalhos iniciados por Paiva (2010, 2011, 2012), penso que em toda metáfora há o encaixamento de um processo metonímico. Na verdade, neste caso específico, não apenas de um processo, mas de um grupo de associações metonímicas, responsáveis pelos elementos mapeados ao modelo metafórico.

3. O papel dos diferentes modos nos processos metafóricos/metonímicos e na