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O papel dos diferentes modos nos processos metafóricos/metonímicos e na interação

GENUÍNO É BARNEY

3. O papel dos diferentes modos nos processos metafóricos/metonímicos e na interação

Ao tentar compreender a interação metonímica/metafórica em um texto multimodal, busquei evidenciar qual seria o papel desses modos nesse tipo de interação, como também ampliar as pesquisas desse campo, já que a maioria dos trabalhos dedicados a essa interação foca expressões produzidas apenas pelo registro verbal.

No exame das metáforas apresentadas, pude perceber que os diferentes modos semióticos, utilizados pelo chargista na construção das charges eleitas, foram responsáveis pela ativação dos elementos que compunham os espaços de input. Isto é, na análise da segunda charge, O ogro e o burro, na metáfora MARADONA É O GATO DE BOTAS, o espaço gato de botas tem elementos oriundos dos modos pictórico (a imagem do gato com traços do

personagem, como o chapéu, espada e a capa), verbal, sonoro e a imagem em movimento. É através do modo pictórico que a relação metonímica VESTUÁRIO por PERSONAGEM, capa por gato de botas, é criada, fazendo com que o número de relações metonímicas nesse espaço aumente. Por outro lado, o espaço Maradona possui elementos dos modos pictórico, sonoro e falado. O que essa análise demonstra é que, com a utilização de uma quantidade maior de modos semióticos, haverá um número maior de elementos atuantes na criação dos espaços empregados na construção dessas charges.

Na terceira análise, presenciei a integração dos espaços Dilma e Wilma, resultando na metáfora DILMA É WILMA. Para ativar o espaço Wilma, recorri aos modos pictórico (a imagem da personagem com seus trajes típicos e acessórios), sonoro, falado, trilha sonora e a imagem em movimento; enquanto que no espaço Dilma ativei os modos pictórico e falado. Cada um desses modos acrescenta novos elementos a esses espaços e, com isso, há um número maior de associações metonímicas atuantes na construção dessas metáforas.

Isso me leva a considerar que a ocorrência da interação metonímica/metafórica em um texto multimodal torna-se mais complexa, pois haverá um número maior de processos metonímicos motivando o processo metafórico. Como as análises expuseram, esses diversos modos semióticos tornaram possível que essa interação ocorresse não apenas no modo verbal, ou pictórico; mas entre esses e os demais modos apresentados em minhas análises, já que cada um desses modos atuou na criação dos espaços de input, adicionando novos elementos, tornando maior o número de relações metonímicas presentes nesses espaços e, consequentemente, maior o número de compactações metonímicas responsáveis pela criação da metáfora.

Finalizo meu estudo afirmando que minha intenção, desde o primeiro momento em que me interessei por essa linha de investigação, foi buscar compreender de que forma metáfora e metonímia poderiam interagir em um texto multimodal. Tentei, em minhas análises, buscar respostas para algumas inquietações que foram surgindo no decorrer de minhas leituras iniciais dos postulados propostos pelos autores percursores desse processo interativo. Questões como: de que maneira esses processos interagiam em um texto multimodal? Será que essa interação ocorre de forma simultânea? De que forma os diferentes modos semióticos atuam nessa interação? Concentrei todos os meus esforços na construção de respostas que pudessem satisfazer meus questionamentos e espero ter alcançado o objetivo almejado.

Meus exames das metáforas apresentadas diferiram das análises desenvolvidas por Goossens (2003) e Barcelona (2003), pois para esses autores a motivação metonímica da metáfora fazia-se presente em apenas um de seus domínios. Minhas análises demonstraram ser

possível, da mesma forma que os trabalhos de Fauconnier e Turner (1999, 2002), a motivação metonímica da metáfora ocorrer em ambos os domínios da metáfora motivada. Por outro lado, tentei demonstrar que essa interação ocorre de forma simultânea e não gradual, como acontece na pesquisa de Radden (2003). Porém, ao chegar a essas conclusões, não estou desconsiderando os tipos de interações propostas por esses autores, mas almejando propor outras maneiras desses processos interagirem, com a finalidade de avançar um pouco mais nesse estudo.

Tendo em vista a variedade de interações metonímica/metafórica encontrada na literatura dedicada a esse processo, minha tese propôs apenas um olhar um pouco diferenciado, ao tentar compreendê-la em um contexto até então pouco estudado: o discurso multimodal. Portanto, ainda há um leque de possibilidades de exploração, englobando não apenas aspectos semânticos, mas também pragmático. Expus, sucintamente, em meu capítulo teórico, a proposta da Análise Crítica da Metáfora, que pretende abordar a questão ideológica presente na figuratividade. Nas análises, dei uma pincelada em como as escolhas dos elementos atuantes na construção das charges e, consequentemente, na ativação dos espaços de input e do processo metafórico não são aleatórias, mas totalmente envolvidas pela ideologia que perpassa o sujeito responsável pela criação das charges. Não é à toa que Lula é representado como Gepeto ou Fred, Dilma como Wilma ou Pinóquio; como não é por acaso que as histórias infantis Pinóquio, Shrek e Flintstones foram escolhidas para atuarem na representação das cenas apresentadas.

Também não são aleatórias as escolhas dos elementos ativados, destacados e mapeados em cada espaço de input, que produzem as relações metonímicas e que são mapeados ao espaço mescla. Diante disso, acredito que, assim como ocorre no trabalho desenvolvido por Charteris-Black (2004, 2005) sobre a metáfora, a interação metonímica/metafórica deve ser vista também pelo viés crítico, aplicando a essa interação os princípios encontrados na Análise Crítica da Metáfora. Uma questão que merece ser abordada em trabalhos futuros.

Reconheço que o caminho traçado por minha pesquisa ainda é pequeno, muitos passos precisam ser dados para alcançar o fim desta jornada. Mas acredito que, por menores que sejam, as contribuições desta pesquisa ajudarão nessa longa caminhada que caracteriza os estudos voltados à interação metonímica/metafórica.