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CAPÍTULO 3 – DA TIPICIDADE MATERIAL DO DELITO DE

3.1 Dos elementos descritivos objetivos

3.1.5 Do resultado

Importante destacar que o artigo 13 do Código Penal brasileiro dispõe que: "O resultado, de que depende a existência do crime, só é imputável a quem lhe deu causa".

Todos os delitos (comissivos ou omissivos, dolosos ou culposos) devem, pois, possuir um resultado jurídico (concepção material do crime), nos termos da exigência feita pelo artigo 13 do CP. O delito somente se consuma quando acontece esse resultado (não quando ocorre a conduta ou tão-somente o resultado naturalista)58.

Isso não significa que toda a construção formalista deva ser desconsiderada (classificação entre crimes de resultado, formais e de mera conduta59), uma vez que ela

continua sendo importante para o primeiro nível de valoração da tipicidade (adequação da conduta praticada à descrição formal do tipo penal).

O resultado jurídico, de outro lado, somente por ser imputado ao agente na medida em que guarde exata correspondência com o risco proibido que ele criou. Assim,

57 EISELE, 2001, op. cit., p. 119. 58 GOMES, 2002, op. cit., p. 41.

59 Importante é a diferenciação entre os delitos de mera conduta e os delitos formais. Nas palavras de Manoel Pedro Pimentel, “[...] nos crimes de mera conduta há uma ofensa (dano ou perigo) presumida; nos crimes formais, há um resultado de dano ou de perigo ínsito na conduta e que se realiza ao término do desdobramento desta. Os crimes formais se compõem de conduta e resultado considerado relevante para o direito, resultado esse que pode não se apresentar destacado da ação, mas que é um resultado material. Os crimes de mera conduta se realizam tão-somente com a conduta, não sendo relevante para o direito o resultado natural que dela decorra [...] O crime formal, portanto, ao contrário do crime de mera conduta, é crime de ação e de resultado. Não se perfaz pela simples conduta do agente, sem possibilidade de se protrair o momento jurídico da consumação, que nos crimes de mera conduta, independe de qualquer resultado, enfeixando-se apenas na conduta. Não é acertado, portanto, dizer que os crimes de mera conduta são crimes formais. Nestes – e daí a expressão ‘formais’ – o resultado, de que depende a existência do crime, se realiza ao mesmo tempo em que a conduta, de sorte que a idéia de resultado é inseparável do seu conceito, idéia essa que é inteiramente estranha aos crimes de mera conduta. A diferença específica desta última categoria, portanto, está na inexistência de resultado material juridicamente relevante. A conduta do agente é considerada suficiente para configurar a ofensa ao direito tutelado, ou para constituir a violação da norma. A conduta, e tão-somente a conduta, perfaz o elemento material do crime [...] nos crimes formais, portanto, há a presença de ‘dolo de evento ofensivo’, dolo de resultado, enquanto que nos crimes de mera conduta não pode existir dolo de evento, senão apenas ‘dolo de ação ou omissão’ [...] para nós, portanto, os crime de mera conduta constituem uma categoria autônoma, diversa dos crimes formais, mantendo com estes apenas um ponto de semelhança: aparentemente, ambos se completam com a conduta. Mas, enquanto que os crimes formais são crimes de resultado, os crimes de mera conduta não o são; nestes, não há resultado algum a cogitar, pois a razão de punir está na mera conduta, em si mesma danosa ou perigosa” (PIMENTEL, M. P. Crimes de mera conduta. 2.ed. rev. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1968, p.84-86 e 96).

exclusivamente o risco proibido é relevante penalmente. Resultados jurídicos derivados de riscos permitidos, autorizados, não são juridicamente desvaliosos. Em conseqüência, não pertencem ao âmbito do proibido pelo tipo penal; também não são relevantes os resultados socialmente adequados ou insignificantes.

Importante, ainda, consignar a existência de discussão sobre a possibilidade da tentativa no delito previsto no artigo 168-A, § 1º, inciso I, do CP. Tal divergência doutrinária decorre exatamente dos diferentes posicionamentos que existem sobre em ser o delito puramente omissivo ou de conduta mista.

Assim, para aqueles que entendem ser o delito omissivo simples, o resultado ocorre com o mero não recolhimento dos valores recolhidos no prazo legal, sendo, portanto, impossível a tentativa60.

De outro lado, estão aqueles que defendem exigir o delito uma conduta mista, representada por uma comissão anterior e uma omissão posterior. Por conseqüência, para essa corrente doutrinária o resultado somente se dá quando o agente, após efetivamente ter descontado dos salários o valor devido a título de contribuição previdenciária, deixa de repassá-los à Previdência Social no prazo e forma previstos (isto é, consumar-se o delito no dia seguinte ao término do prazo fixado legalmente para o recolhimento, quando restar comprovada a efetiva arrecadação anterior das quantias devidas). Assim, para esse posicionamento a tentativa, em tese, é possível, sendo, contudo, de difícil configuração.

Outra decorrência lógica dessa discussão atinge a classificação do delito considerando-se o resultado naturalístico. Desse modo, no esteio daqueles que entendem ser o delito puramente omissivo, o tipo penal seria classificado, quanto ao resultado, em formal, ou seja, o resultado estaria previsto no tipo, mas não seria necessária sua comprovação no mundo fático para a adequação típica. Existem aqueles que entendem ser o tipo um delito de mera conduta, não sendo previsto na descrição típica nenhum resultado naturalístico61.

De outro lado, para a corrente doutrinária que defende ser o delito de conduta mista, o tipo penal em debate seria classificado como material, de modo a ser exigida, no

60 PRADO, 2001, op. cit., p. 84. Nesse ponto Andreas Eisele assinala que “[...] o momento consumativo [...] é fixo e predeterminado temporalmente pela legislação tributária, sendo o elemento subjetivo da conduta (dolo) apenas seus móvel propulsor, que não interfere na fixação da consumação no tempo [...]” (EISELE, 2001, op. cit., p. 164).

61 Luiz Regis Prado entende que as quatro modalidades previstas no artigo 168-A (caput e incisos I a II do §1o) são crimes de mera atividade. (PRADO, 2001, op. cit., p. 88).

plano fático, a comprovação da ocorrência do resultado, sendo este elemento integrante do tipo penal62.

A materialidade delitiva consistiria, assim, na conduta do agente que, tendo procedido ao desconto dos valores devidos pelos seus empregados a título de contribuição previdenciária, não realiza o recolhimento aos cofres da Previdência Social, passando a utilizar tal numerário como se fosse próprio.