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2.3 DOENÇAS OCUPACIONAIS

2.3.1 LER/DORT

Segundo Sakata (2010), as lesões inflamatórias já eram conhecidas desde a Antiguidade. Os processos inflamatórios foram descritos desde a época de Cícero, no Império Romano a cerca de 50 anos A.C. Na Idade Média, havia a “Doença dos Escribas”, que nada mais era do que uma tenossinovite, praticamente desaparecendo com a invenção da imprensa. Bernardo Ramazzini (o pai da Medicina do Trabalho), já fazia em 1700, relação entre instrumentos de trabalho mal construídos e a movimentação anormal a certas doenças e sintomas.

Ainda segundo Sakata (2010) informa que a lesão por esforço repetitivo foi descrita pela primeira vez por Ramazzini, em 1717, como lesão decorrente de uso repetido da mão, em pacientes que trabalhavam sentados e com excessivo esforço mental. Em 1825, Velpeau relatou o termo tenossinovite e, em 1887, Poore's descreveu a lesão em pianistas. Com o passar do tempo essas doenças foram classificadas como DORT.

O termo LER (Lesões por Esforços Repetitivos), foi classificado no Código Internacional de Doenças (CID, versão 1975, n 727-0/2) e introduzido pela primeira vez no Brasil em 1986, durante o I Encontro Estadual de Saúde de profissionais de processamento de dados, no Rio Grande do Sul, pelo médico Mendes Ribeiro. São patologias que podem afetar os tendões, músculos, nervos, fáscias, ligamentos, isolada ou associadamente, com ou sem degeneração dos tecidos, atingindo a maioria das vezes a região dos membros superiores, por uso repetitivo ou postura inadequada. E foram reconhecidas como “doenças do trabalho” em 1987, através da

portaria n° 4.062, de 6 de Agosto de 1987, pelo Ministério da Previdência Social (MONTEIRO & BERGAMINI, 1998).

A LER é considerada doenças epidêmicas no Brasil, um país que tem registrado 30 mil casos por ano, tornando-as mais que um problema de saúde e mais um problema para as empresas que perdem funcionários, por afastamento; e ainda para os órgãos públicos que arcam com o pagamento de benefícios a estes trabalhadores (OLIVEIRA, 2006).

As causas das LER são multifatoriais. E a combinação de fatores que, individualmente são toleráveis, e que juntos causam lesões. A lesão tissular é causada por força aplicada externamente que em evento único não provoca lesão, mas com aplicação repetida sim. Como conseqüência dos movimentos altamente repetitivos ou uma má postura por longos períodos, os músculos, tendões, e terminações nervosas, sofrem ou uma constante compressão ou permanecem por muito tempo contraídos. Em ambas as ocasiões podem ocorrer inflamações em uma ou todas essas estruturas ao mesmo tempo. Com o movimento compressivo, as estruturas respondem com deformação. Essa deformação é decorrente da tensão elástica dos feixes de fibras. Já a contração forte e prolongada ou movimentos em alta freqüência conduzem a fadiga muscular, que resulta na incapacidade do processo contrátil e metabólico da fibra muscular (MONTEIRO, BERGAMINI, 1998).

Segundo Sakata (2010) existem inúmeros fatores que podem acelerar o aparecimento das LER. São eles:

a) Fatores ocupacionais: fatores relacionados ao trabalho, que interferem quando são feitos de forma excessiva, intensa, com alterações bruscas na rotina de trabalho, posição ou equipamento inadequado para a função;

b) Fatores ergonômicos e biomecânicos: toda a incidência de lesões pode ser reduzida se o mobiliário for adequado para a função que a está destinado;

c) Fatores ambientais: calor, local desconfortável, pressão competitiva, instabilidade no emprego, frio, iluminação, barulho, falta de descanso, mau relacionamento com os demais, estresse. Esses fatores aumentam a contração dos músculos durante a jornada e favorecem o surgimento de lesões.

Ainda existem os fatores não ocupacionais que interferem tanto quanto os ocupacionais para o surgimento das LER. São vários: idade, sexo, peso, estatura, capacidade física, trauma agudo, constituição física, alteração anatômica, doença e

alteração hormonal. Certas doenças alteram a tolerância ao estresse. Doenças sistêmicas, como artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistêmico, gota, hipotiroidismo e diabetes facilitam o aparecimento da lesão (MONTEIRO e BERGAMINI, 1998).

Com base nestas informações Polito e Bergamaschi (2006), indicam que os profissionais da área da saúde que atuam diretamente com esses trabalhadores, devem ficar atentos a alguns sintomas da presença de LER/DORT:

 - Dor: a maioria dos pacientes tem história de dor leve e que, com o tempo, torna-se intensa e extensa. Habitualmente a dor é prolongada, durando meses ou anos. Pode ser em aperto, queimação, choque ou pontada;

 -Formigamento, dormência;

 -Tremor: ocorre principalmente nos dedos;  -Fadiga, cansaço do local afetado;

 -Diminuição da força;  -Cãimbra;

 -Diminuição da mobilidade ou rigidez articular;  -Tensão, contratura muscular;

 -Atrofia muscular;

 -Alteração da coordenação motora da área afetada;  -Deformidade da mão;

 -Alteração da temperatura, da sudorese e da cor e edema;  -Alterações psicológicas como depressão e ansiedade.

Segundo Monteiro e Bertagni (1998) o diagnóstico só pode ser feito de forma clínica, com uma boa anamnese ocupacional. Mesmo os exames de ultra- sonografia e eletro-miografia podem atestar falsos positivos ou falsos negativos. Com o aparecimento dos sintomas citados anteriormente, a Norma Técnica do INSS considera quatro graus para a LER/DORT:

a) GRAU I

Sensação de peso ou desconforto no membro afetado. Dor espontânea localizada nos membros superiores ou cintura escapular, com pontadas ocasionais que não interferem na produtividade. Melhora com o repouso. Sinais clínicos

ausentes, com a dor podendo manifestar-se durante exames clínicos mediante compressão do local envolvido. Tem bom prognóstico de recuperação.

b) GRAU II

A dor é mais persistente e mais intensa, aparece durante a jornada de trabalho de forma intermitente, ainda é tolerável e permite o desempenho da atividade profissional, mas já com reconhecida perda de produtividade. A dor é localizada e pode ser acompanhada de formigamento e perda leve de sensibilidade. A recuperação é mais demorada e mesmo em repouso a dor pode aparecer, ocasionalmente fora do trabalho, durante outras atividades. Ainda são ausentes os sinais de modo geral e o prognóstico ainda é favorável.

c) GRAU III

A dor torna-se persistente, o repouso atenua, mas não faz desaparecer por completo. Há freqüentes crises de dor, principalmente durante a noite. É freqüente a perda de força muscular e a produtividade é seriamente afetada. Os sinais clínicos são aparentes, o edema é freqüente e recorrente, a hipertonia muscular e a perda de movimentos são quase sempre presentes. Nos quadros de comprometimento neurológico compressivo, a eletromiografia pode estar alterada. Neste estágio o retorno à atividade produtiva é problemático. Prognóstico reservado.

d) GRAU IV

A dor é forte, contínua e por vezes insuportável, levando o paciente a um intenso sofrimento. Os movimentos acentuam a dor, que em geral se estende por todo o membro afetado. A perda de força e do controle dos movimentos é constante. Podem aparecer deformidades, atrofia, principalmente dos dedos. A capacidade de trabalho é anulada e a invalidez se estabelece pela impossibilidade de produzir. Neste estagio são comuns se estabelecer alterações psicológicas com quadros de depressão, ansiedade e angustia.

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