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nossos recursos naturais. A seguir exemplo da resposta de A21:

Não. Infelizmente o homem preocupa-se mais com os bens materiais, originados do meio ambiente, do que os bens naturais.

Página 34 – 100% dos alunos fizeram as atividades propostas nessa página. A seguir exemplo da resposta de A32:

A enorme transformação de uma montanha com árvores e vida em uma cratera poluente que causam enormes impactos ambientais.

Página 40 – 100% dos alunos trouxeram uma foto 3x4 para que fosse confeccionada a sua carteirinha de agente ecológico.

Esta é a primeira vez que uma cartilha educativa é elaborada como ferramenta de aporte ao estudo da educação ambiental levando em conta o tema canga e campos ferruginosos. Entretanto, de forma a análise global das respostas dos alunos demonstram total interesse de aprendizado e comprometimento por parte dos alunos, o que justifica elevados graus de acertos em todas as propostas.

A cartilha permitiu que os alunos pensassem criticamente, sem estimular a memorização e sim a consciência crítica. Realizamos “[...] um processo pelo qual o educador convida os educandos a reconhecer e desvelar a realidade criticamente” (FREIRE, 1985, p. 125).

59 Partimos de uma prática libertadora onde o aluno não é visto como alguém que nada sabe e sim como um ser capaz de refletir criticamente e agir sobre o mundo do qual faz parte. ”É práxis, que implica na ação e na reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo” (FREIRE, 2005, p. 67). Nesse contexto, a curiosidade e a autonomia foram ganhando espaço em cada palavra falada ou escrita na cartilha.

Percebemos a surpresa de alguns alunos ao se deparar com paisagens destruídas pela mineração e com relatos como: “eu contribui de forma não intencional com essa devastação”;

queria ter o poder de criar uma lei que impedisse a extração excessiva”; “sou parte do meio

ambiente, tenho obrigação de zelar por ele”. Frases essas que corroboram com a prática dialética, libertadora e emancipatória proposta por Paulo Freire.

Segundo Freire

[...] é preciso que a educação esteja – em seu conteúdo, em seus programas e em seus métodos – adaptada ao fim que se persegue: permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer com os outros homens relações de reciprocidade, fazer a cultura e a história”(FREIRE, 1980, p. 39).

O diálogo em muito contribuiu para o resultado. De acordo com o autor, na prática dialógica o sujeito desenvolve suas potencialidades de comunicar, interagir, administrar e construir o seu conhecimento, melhorando sua capacidade de decisão, humanizando-se, o que também foi observado nas respostas dadas aos questionamentos e atividades presentes na cartilha.

A cartilha foi uma ferramenta que despertou o interesse dos alunos, tornando-os propagadores do conhecimento científico de qualidade, além de promover a formação e libertação de um novo pensamento sobre uso racional dos recursos naturais.

Análise qualitativa da entrevista semi-estruturada

Na resposta sobre o questionamento “O que você achou da cartilha?” a maioria de ambos os sexos respondeu que a achou divertida, interativa e interessante, pois se trata de um conteúdo importante (Quadro 11).

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Respostas Alunos Total (%)

Divertida, interativa e interessante 20 54,0%

Muito legal 11 29,7%

Dinâmica e informativa 06 16,3%

Observamos com alegria as respostas dadas, pois a intenção foi promover a aprendizagem com diversão. Segundo Maluf (2006), o lúdico pode ser utilizado como promotor de aprendizagem das práticas escolares, possibilitando a aproximação dos alunos ao conhecimento científico.

No quadro 12, visualiza-se que a grande maioria apontou que a canga é muito importante no ciclo da água, pois seu solo possui vários poros que absorvem água da chuva que cria e mantém aqüíferos.

Quadro 12: Qual a importância da canga no ciclo da água?

Respostas Alunos Total (%)

Seu solo possui vários poros que absorvem água da chuva que cria e mantém aquíferos

30 81,0%

Possuem várias nascentes que

abastecem grandes rios 05 13,6%

Suas nascentes e seu solo poroso

que absorve água de chuva 02 5,4%

Esses resultados indicam que os alunos compreenderam a importância dessas áreas como recarga hídrica. 81,0% dos alunos lembraram-se dos poros presentes no solo da canga que auxiliam na infiltração da água de chuva criando e mantendo aquíferos.

Ao solicitar que apontem duas características da canga, a grande maioria apontou que têm solo rico em minério de ferro e abriga muitas espécies endêmicas (Quadro 13).

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Respostas Alunos Total (%)

Têm solo rico em minério de ferro e abriga muitas espécies endêmicas

19 51,3%

Solo com alto teor de metais e

grandes reservatórios de água 12 32,3%

Abrigam espécies ameaças de

extinção e várias nascentes 04 11,0%

Solo abundante em minério de

ferro e paleotocas 02 5,4%

Foram ditas praticamente todas as características que estudamos, sendo que 51,3% dos alunos relataram o alto teor de ferro do solo e o abrigo a centenas de espécies endêmicas.

E ao serem questionados sobre qual a necessidade de se preservar a canga, a maioria indicou a importância de se preservar nossos recursos naturais (Quadro 14).

Quadro 14: Qual a necessidade de se preservar a canga?

Respostas Alunos Total (%)

Preservar nossos recursos naturais 23 62,1% Para frear o consumismo e ter água

no futuro 08 21,9%

Para estudarmos melhor esse ecossistema e descobrir mais sobre ele

03 8,0%

Preservar o habitat de seres vivos

que dependem desse local 03 8,0%

Nesse sentido as respostas foram adequadas e satisfatórias, mesmo após terem se passado três semanas do estudo, demonstrando a presença do conhecimento construído em lugar do conhecimento transmitido.

No questionamento aos alunos “Você gostaria de ter uma disciplina que discuta a relações que ocorrem na natureza?”, aponta-se que 100% (37) dos respondentes apontaram que “Sim”. Abaixo a fala dos amostrados por agrupamento das respostas.

R1. 17 alunos justificaram o interesse na disciplina principalmente em três abordagens, pessoal, coletivo e da natureza:“mudar nossas atitudes, evitar males tomar

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que dependemos da natureza, então temos que cuidar dela, para conhecer, preservar,

proteger, cuidar a natureza”.

R2. 10 alunos justificaram o interesse na disciplina principalmente em duas abordagens, pessoal e da natureza: “ser útil futuramente, mudar de atitude, tornarmos críticos

e defender o que é nosso, melhorar nossa reeducação” e “para conhecer, proteger, saber o

que a natureza necessita por que estamos esquecendo de cuidar desse bem precioso”.

R3. 10 alunos justificaram o interesse na disciplina, pois “assim conheceríamos a natureza”.

Tendo em vista essas respostas percebemos que alcançamos reflexões críticas- educativas, podendo servir como importante instrumento de emancipação. Assim como Freire, acreditamos na possibilidade de mudança do ser humano enquanto sujeitos inacabados e na conscientização destes sobre sua situação de exploração e dominação diante dos segmentos mais altos da sociedade.

O trabalho cumpriu seu principal objetivo: promover a discussão de um assunto com pouca divulgação além do meio acadêmico. Seu viés pedagógico em muito contribuiu para tal assimilação e recepção por parte dos alunos.

Análise e seleção dos desenhos

As atividades baseadas em desenvolvimento de desenhos se mostraram um sucesso, tendo em vista a qualidade dos mesmos e a dificuldade encontrada pela equipe pedagógica em escolher os quatro melhores e desses retirar aquele que seria exposto na feira de ciências promovida anualmente pela escola. (Figura 15).

Tal atividade permitiu que os alunos expressassem seu conhecimento e sentimentos frente ao tema trabalhado de uma forma lúdica e criativa. O aluno deixa claro nesse desenho a principal ameaça às regiões de canga – a mineração, e solicita proteção dessas áreas quando as representam protegidas por suas mãos.

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Figura 15: Primeiro lugar. Fonte: Acervo da autora. Trabalho de campo. Desenho do aluno A32

No próximo desenho (Figura 16), a aluna explicita a importância da canga em quatro contextos. No primeiro, de viés biológico, aborda as ameaças aos seres vivos presentes nessas regiões, o contexto histórico apresentado com a presença das paleotocas e de utensílios feito por povos antigos, o contexto social com a água que é um recurso tão importante a nossa sobrevivência e que é abundante na canga e o contexto econômico onde se extrai abusivamente o minério de ferro destruindo habitats e promovendo a extinção de espécies.

64 Figura 16: Segundo lugar. Fonte: Acervo da autora. Trabalho de campo. Desenho do aluno A24.

O terceiro desenho (Figura 17) exibe as paleotocas, as montanhas de minério de ferro, a mineração e suas barragens de rejeitos e os solos com grande quantidade de poros que promovem com grande eficiência a formação e manutenção de aquíferos.

65 O último selecionado (Figura 18) faz um confronto entre uma mesma paisagem que representa a canga de forma conservada e quando usamos seus recursos de forma exploratória e não sustentável.

Figura 18: Quarto lugar. Fonte: Acervo da autora. Trabalho de campo. Desenho do aluno A12.

Como de costume há vários anos no Centro Educacional de João Monlevade, escola onde a pesquisa foi aplicada e onde a pesquisadora trabalha, realizou-se a VI Expociências (Figura 19) – uma feira de ciências que se constitui como recurso dialógico no processo de ensino e aprendizagem, pois motiva alunos a pensar criticamente e buscar soluções e alternativas para os desafios propostos, além de divulgar temas importantes a comunidade escolar.

O tema escolhido nesse ano foi sustentabilidade e, como era de conhecimento da equipe pedagógica a aplicação da pesquisa, a professora pesquisadora propôs a apresentação do ecossistema canga para a comunidade escolar, pois a mesma abrangeu apenas uma turma de 9º ano da escola. Ao fazer parte dos subtemas, a canga seria repassada a um número maior de pessoas. Para tal, selecionou-se um desenho para compor um painel no dia da feira (Figura 20) que seria explicado as participantes da mesma.

66 Figura 19: Expociências 2015. Fonte: Acervo da autora.

67 A turma submetida à aplicação da cartilha “Canga” repassou as informações obtidas sobre esse ecossistema a toda comunidade escolar e a alunos visitantes de outras escolas (Figura 21). Contamos com a presença da comunidade escolar, alunos de outras escolas, da secretária de educação do nosso município, vereadores dentre outros.

A feira teve como subtemas brinquedos reciclados, sacolas ecológicas, reuso de água, ecomúsica, aquecedor solar de pet, gerador eólico reciclado, coleta seletiva, sabão ecológico, móveis reciclados, telhado verde, reaproveitamento de alimentos e roupas customizadas, além da canga.

Esse evento de grande importância para a comunidade escolar, mostra como é primordial tratarmos com os alunos em formação de seus princípios éticos e morais, a conservação do meio ambiente frente ao desenvolvimento econômico com a possibilidade de aliar as duas frentes de ação, equilibrando-as e obtendo harmonia de forma ampliada.

Figura 21: Repasse de informações feitas por A16 e A32 sobre o ecossistema de canga

para um dos jurados da feira. Fonte: Acervo da autora.

68 Na etapa complementar aos desenhos, foram realizadas redações de punho próprio nas quais os alunos, sem a posse da cartilha no momento da escrita, dissertaram suas impressões e aprendizados acerca da canga.

Aluno – A33

Figura 22: Trecho de redação do aluno A33. Fonte: Acervo da autora.

Na figura 22 confirmamos a primeira hipótese desta pesquisa que se trata do desconhecimento por parte da maioria dos alunos da existência dos campos rupestres ferruginosos. Nenhuns dos trinta e sete alunos participantes sabiam da presença desse ecossistema. Ao abordar a palavra canga, tivemos apenas como significados para mesma o tecido de pano que se enrola em volta do corpo e do jugo que une bois de uma junta.

Aluno – A 24

Figura 23: Trecho de redação do aluno A24. Fonte: Acervo da autora.

69 Figura 24: Trecho de redação do aluno A05. Fonte: Acervo da autora.

Aluno – A21

Figura 25: Trecho de redação do aluno A21. Fonte: Acervo da autora.

Foram selecionados recortes de algumas das redações feitas, que demonstram percepções diversas sobre o tema. Perpassando desde a descoberta do que se refere a palavra “canga” aplicada enquanto ecossistema, às ameaças, bem como importância dessas regiões para a manutenção do meio ambiente.

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CONCLUSÕES

A cartilha “Canga” apresentou-se como uma excelente ferramenta para a abordagem do conteúdo sobre campos rupestres ferruginosos e problemas ambientais decorrentes de impactos antrópicos, pois permitiu uma discussão sobre o papel do homem como agente modificador do ambiente promovendo uma reflexão sobre a importância das práticas de conservação ambiental.

Ao utilizá-la, o professor contribui para a formação dos seus alunos como cidadãos pensantes e atuantes na preservação do ambiente à sua volta, atendendo às recomendações da nova proposta de ensino manifestadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).

A utilização da cartilha para o ensino de EA transformou “o aprender” numa atividade atrativa, além de contribuir para o desenvolvimento do espírito crítico dos alunos, abrindo espaço para uma discussão sobre a necessidade de uma maior conscientização e compromisso da população com o meio ambiente, no agir local e pensar global.

Também se foram constatadas as hipóteses formuladas nesta pesquisa. Em resposta ao problema proposto: “como uma cartilha sobre um ecossistema ferruginoso supostamente desconhecido pela maioria dos estudantes possibilita uma aprendizagem contextualizada, para os alunos do ensino fundamental II”, diríamos que, parafraseando Paulo Freire, convidando os educandos a reconhecer e desvelar a realidade criticamente, assim a autonomia ganhou espaço em cada palavra falada ou escrita nos vários instrumentos de coleta de dados aqui utilizados.

Nesse contexto, os alunos tornaram-se propagadores em potencial da informação científica e contextualizada sobre o tema canga, um ecossistema local, de importância estratégica, até então negligenciado nas discussões pedagógicas.

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PERSPECTIVAS

Promover uma ação conjunta entre UFOP, Prístino e prefeituras para expansão da divulgação do trabalho.

Publicar artigos em revistas de grande circulação nacional.

A cartilha, por ser o único material pedagógico de ensino de educação ambiental associado ao ecossistema de canga, pode agora ser empregada como ferramenta de apoio a professores das redes públicas e privadas. Neste contexto, a equipe espera que o número de escolas e professores atendidos com esta capacitação se amplie no futuro.

O mestrado e o desenvolvimento da cartilha contribuíram em muito para minha prática docente, despertando em mim a importância da educação como formação construtiva na qual meus alunos são parte ativa no processo.

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