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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS

JALULA MARIA LAGE MACIEL

ECOCEREUS E AS MULTIFUNÇÕES ECOLÓGICAS DA CANGA: CONTRIBUIÇÕES PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS

JALULA MARIA LAGE MACIEL

ECOCEREUS E AS MULTIFUNÇÕES ECOLÓGICAS DA CANGA: CONTRIBUIÇÕES PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Ensino de Ciências – Área: Biologia - Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências.

Orientador: Prof. Dr Leandro Márcio Moreira Coorientador: Dr Flávio Fonseca do Carmo

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Catalogação: www.sisbin.ufop.br

M152e Maciel, Jalula Maria Lage.

Ecocereus e as multifunções ecológicas da canga [manuscrito]: contribuições para educação ambiental / Jalula Maria Lage Maciel. - 2016.

135f.: il.: color; Quadros.

Orientador: Prof. Dr. Leandro Márcio Moreira. Coorientador: Prof. Dr. Flávio Fonseca Carmo.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Departamento de Biologia. Mestrado Profissional em Ensino de Ciências.

Área de Concentração: Ensino de Biologia.

1. Educação ambiental. 2. Canga. 3. Cartilhas. I. Moreira, Leandro Márcio. II. Carmo, Flávio Fonseca. III. Universidade Federal de Ouro Preto. IV. Titulo.

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5 AGRADECIMENTOS

Começo agradecendo a Deus por colocar pessoas únicas a meu lado, sem as quais a tarefa seria ainda mais árdua e o caminho solitário.

À minha mãe, Janete, e minha sogra, tia Jesus, meu infinito agradecimento.

À minha supervisora, Daisy, minha segunda mãe que sempre acreditou em minha capacidade, sempre com uma palavra de otimismo em todos os momentos, principalmente naqueles mais difíceis. Isso só me fortaleceu e me fez tentar fazer o melhor. Obrigada pelo amor incondicional!

Ao meu querido esposo, José Aloísio, por sua importância na minha vida. Sempre ao meu lado, me apoiando e me fazendo crer mais do que poderia por mim mesma.

Às minhas filhas, Júlia e Jordana, que me inspiram a querer ser mais que fui até hoje! Aos meus irmãos, Jálisson e Júlio Cesar, anjos de carne e, a cada um ao seu modo, sempre se orgulharam de mim e confiaram em meu trabalho. Amo demais vocês!

Às Marias Isabeis, por todo carinho com o qual me auxiliaram nesse caminho. Obrigada pela força!

Agradeço também à Cleide, literalmente amiga de estrada. Obrigada pela amizade! E como falar de vocês, Bárbara, Gisele e Gislene? A vida promove encontros inexplicáveis. Vocês foram e são referências profissionais e pessoais para meu crescimento. Obrigada por estarem ao meu lado e acreditarem tanto em mim!

Ao Prof. Dr. Fábio Silva, sempre disponível e disposto a ajudar. Fez-me enxergar que poderia chegar aqui. Obrigada pela paciência, pelo cuidado e por sua dedicação.

A todos os professores do mestrado profissional em ensino de ciências. Vocês merecem meu eterno agradecimento!

Ao Prof. Dr. Leandro Moreira. Você foi quem possibilitou essa conquista com ensinamentos, orientações e amizade, me ajudando ativamente neste projeto. Tenho-lhe como um modelo a ser perseguido!

Ao Dr. Flávio do Carmo que participou deste trabalho com disponibilidade, simpatia e gentileza. Obrigada pela ajuda!

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7 RESUMO

O modelo de produção a que assistimos desde meados do séc. XVIII, com a revolução industrial, não leva em consideração a finitude dos recursos naturais. Desta forma, a exploração do meio ambiente, não sustentável e que, portanto, não leva em conta a perda do habitat de diversas espécies e o desequilíbrio biológico, precisa ser debatida com todas s esferas da sociedade. Nesta ótica de discussão científica e de causas e efeitos, a escola entra como um setor fundamental, mas para isso necessita de uma pedagogia diferenciada e uma mudança de paradigma no processo de ensinar. Nesse ponto, a Educação ambiental mostra-se como excelente ferramenta para levar os indivíduos a compreenderem o seu papel enquanto parte de uma macro-natureza. Neste trabalho limitaremos a relação homem-natureza no contexto dos campos rupestres ferruginosos ou simplesmente canga, como são mais conhecidos. Localizados na região do Quadrilátero Ferrífero (QF) em Minas Gerais, estão entre os ecossistemas menos conhecidos e os mais ameaçados do Brasil, devido a sua distribuição restrita e associada aos principais depósitos de minério de ferro do país. Este trabalho apresenta as possibilidades didático-pedagógicas do uso da cartilha nomeada “Canga”, para o desenvolvimento de valores e atitudes em prol da conservação e preservação dos campos rupestres ferruginosos. Com a proposta de fazer da cartilha um instrumento de reflexão, um personagem (signo) protagonista da história norteou toda a apresentação das informações, um cacto endêmico de canga (Arthrocereus glaziovii) nomeado como

Ecocereus. Trata-se de um Estudo de caso, em associação com análise documental numa abordagem qualitativa, desenvolvida com 37 alunos do 9º ano do ensino fundamental II de uma Escola Municipal do município de João Monlevade - MG. As etapas do estudo incluíram um questionário preliminar investigativo, seguido de distribuição e análise das informações presentes na cartilha, seguido de entrevista semi-estruturada, que permitiu analisar o envolvimento dos alunos com a proposta, bem como a qualidade das respostas dadas pelos mesmos em cada atividade proposta. Com base nos resultados obtidos ficou evidenciado que a cartilha além de ser única na proposta envolvendo a temática, representa uma ferramenta de apoio à prática docente no ensino fundamental, auxiliando no processo de inserção da dimensão ambiental, nas práticas pedagógicas, na construção de conhecimentos e na formação de valores e atitudes conscientes voltados à preservação e conservação desse ecossistema tão importante e ao mesmo tempo desconhecido da população.

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8 ABSTRACT

The production model that we have seen since the XVIII mid-century, with the industrial revolution, it does not take into account the finiteness of natural resources. Thus, the environmental exploitation, unsustainable and therefore does not take into account habitat loss of many species and the biological imbalance needs be discussed with all s spheres of society. In this light of scientific discussion and causes and effects, the school enters as a key sector, but it needs a differentiated learning and a paradigm shift in the process of teaching. At this point, the Environmental education is shown as an excellent tool to bring individuals to understand their role as part of a macro-nature. This work will limit the man-nature relationship in the context of ferruginous rocky fields or simply sarong, as they are best known. Located in the Iron Quadrangle region (IQ) in Minas Gerais, they are among the least known ecosystems and the most threatened in Brazil, due to its restricted distribution and associated with major iron ore deposits in the country. This dissertation presents the didactic and pedagogical possibilities of using the primer named "Canga" for the development of values and attitudes towards the conservation and preservation of ferruginous rocky fields. With the proposal to make the booklet an instrument of reflection, a character (sign) protagonist of the story has guided the entire presentation of the information, an endemic cactus kanga (Arthrocereus glaziovii) named Ecocereus. This is a case study in association

with document analysis in a qualitative approach, developed with 37 students from 9th grade of elementary school of a municipal school in the João Monlevade city - MG. The study's steps included an investigative preliminary questionnaire, followed by distribution and analysis of the information present in the primer, followed by semi-structured interview, which allowed qualitatively analyze the involvement of students with the proposal and the quality of the answers given by them in each proposed activity. Based on the results obtained it evidenced that the primer as well as being unique in the proposal involving the theme, is a teaching practice support tool in elementary school, assisting in the integration of the environmental dimension process in pedagogical practices, in building knowledge and in the formation of values and conscious attitudes aimed at preservation and conservation of this ecosystem so important and at the same time unknown population.

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9 LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Limites do Parque Nacional da Serra do Gandarela ... 21

Figura 2: Localização das áreas de canga do Brasil. ... 23

Figura 3: Localização do quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais ... 23

Figura 4: Em primeiro plano, uma planta rara, da família das verbenáceas (Stachytarpheta ajugifolia), cresce sobre a canga, no Quadrilátero Ferrífero. Ao fundo, início da exploração de minérios de ferro ... 24

Figura 5: Heterogeneidade ambiental e as diversas fisionomias vegetais encontradas em cangas no Quadrilátero Ferrífero ... 25

Figura 6: Solo da canga situado em Nova Lima, localidade Morro do Chapéu.. ... 26

Figura 7: Paleotoca presente no norte de Minas Gerais... 27

Figura 8: Categorias da lista vermelha da IUCN. ... 28

Figura 9: Mina a céu aberto. Foto COPAM/ MMX ... 29

Figura 10: Barragem de rejeitos ... 30

Figura 11: Pilha de estéril. Foto: Flávio do Carmo ... 31

Figura 12: Percurso metodológico. Fonte: Acervo da autora ... 40

Figura 13: Convite feito para a Expociências 2015 e entregue as escolas públicas de João Monlevade com ensino fundamental II ... 42

Figura 14: Signo do cacto Arthrocereus glaziovii. Fonte: Leandro Márcio Moreira ... 45

Figura 15: Primeiro lugar ... 63

Figura 16: Segundo lugar ... 64

Figura 17: Terceiro lugar ... 64

Figura 18: Quarto lugar.. ... 65

Figura 19: Expociências 2015. ... 66

Figura 20: Aluno A32 e seu desenho ampliado para feira de ciência.. ... 66

Figura 21: Repasse de informações feitas por A16 e A32 sobre o ecossistema de canga ... 67

Figura 22: Trecho de redação do aluno A33. Fonte: Acervo da autora. ... 68

Figura 23: Trecho de redação do aluno A24. Fonte: Acervo da autora. ... 68

Figura 24: Trecho de redação do aluno A05. Fonte: Acervo da autora. ... 69

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10 LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Quando você pensa em ambiente, o que lhe vem à mente?...47

Quadro 2: Imagine um jardim com terra, pedras, grama, flores, frutas, minhocas, abelhas e pássaros, e que este jardim é aguado todos os dias por você. Quem são os seres vivos (bióticos) deste jardim? E os abióticos?... 47

Quadro 3: Os fatores bióticos e abióticos desse jardim constituem um ecossistema com diversas espécies. Você também faz parte dele e têm uma função bastante importante nesse ecossistema. Qual a sua função nesse ecossistema?...48

Quadro 4: Caso você decida em acabar com as abelhas desse jardim e retirar todas as pedras do solo, o que ocorrerá? Os outros seres que compõe esse ecossistema serão afetados?...49

Quadro 5: Agora imagine que você descobriu uma porção de pedras preciosas debaixo da terra desse jardim, no entanto, sua alimentação e qualidade de vida dependem dele. Para retirar as pedras, e ganhar dinheiro com elas, você irá destruir todo o jardim ao mesmo tempo em que irá piorar sua qualidade de vida. O que você faria? ...50

Quadro 6: Qual a importância da água para você?...50

Quadro 7: Essa cadeira que você está sentado (a) onde foi feita?... 51

Quadro 8: Caso ela quebre uma parte de seu assento você compraria outra ou tentaria consertar? Por quê?...51

Quadro 9: A mineração, que ajuda o homem na construção de uma porção de objetos para o seu bem estar, pode ser ruim de alguma forma? Qual o possível malefício da mineração?...52

Quadro 10: Como você vê a relação do homem e a natureza?...53

Quadro 11: O que você achou da cartilha?...59

Quadro 12: Qual a importância da canga no ciclo da água?...60

Quadro 13: Cite duas características da canga...60

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11 SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ... 5

RESUMO ... 7

ABSTRACT ... 8

LISTA DE FIGURAS ... 9

LISTA DE QUADROS ... 10

INTRODUÇÃO ... 13

EDUCAÇÃO AMBIENTAL ... 18

CANGA ... 22

A CARTILHA ... 32

OBJETIVOS ... 34

Objetivo geral ... 34

Objetivos específicos ... 34

HIPÓTESES... 34

PROBLEMA DE PESQUISA ... 34

METODOLOGIA DE PESQUISA ... 35

Desenvolvimento da cartilha ... 35

Local de desenvolvimento da proposta ... 36

Estrutura e roteiro do questionário investigativo ... 36

Aplicação da cartilha e coleta de dados ... 38

Estrutura e roteiro da entrevista semi-estruturada ... 39

Cronologia das atividades ... 39

Avaliação qualitativa dos resultados ... 43

RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 44

As potencialidades da cartilha como ferramenta pedagógica... 44

Análise qualitativa do questionário preliminar ... 46

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12

Análise das respostas dadas pelos alunos às atividades propostas na cartilha ... 56

Análise qualitativa da entrevista semi-estruturada ... 59

Análise e seleção dos desenhos ... 62

Análise e seleção dos textos ... 67

CONCLUSÕES ... 70

PERSPECTIVAS ... 71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 72

APÊNDICES ... 77

APÊNDICE A - Carta convite a escola (carta de esclarecimento) ... 77

APÊNDICE B - Carta convite aos pais (carta de esclarecimento). ... 79

APÊNDICE C - Carta convite ao professor titular (carta de esclarecimento). ... 81

APÊNDICE D - Termo de consentimento livre e esclarecido – TCLE (Diretora) ... 83

APÊNDICE E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Pai, Mãe ou Responsável) ... 85

APÊNDICE F – Termo de Assentimento Livre e Esclarecido - - TALE (estudante menor de idade) ... 87

APÊNDICE G - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Professor) ... 89

ANEXOS ... 91

ANEXO I - Quadro dos alunos que atuaram com a professora pesquisadora em sala de aula com “Ecocereus e as multifunções ecológicas da canga:contribuições para educação ambiental” ... 91

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13 INTRODUÇÃO

A relação entre a humanidade e o meio ambiente tem sido uma temática de preocupação científica e, mais recentemente, expandindo-se como uma preocupação de toda a população. A realização de conferências internacionais organizadas pela ONU nas cidades de Estocolmo em 1972, Rio de Janeiro em 1992 e Joanesburgo em 2002 mostra como é desafiador mantermos nosso modelo de produção e consumo em massa, que não leva em conta a finitude dos recursos naturais e, sobretudo, expõe o homem como beneficiário e não parte da natureza.

Branco (1997, p. 6) aborda em seu livro “O meio ambiente em debate” o que o cientista e filósofo francês Jean Friedel escrevera já em 1921 que

“a maioria das pessoas, sobretudo aquelas que não estudaram ciências biológicas, manifesta muito freqüentemente uma tendência a situar o homem em confronto com a natureza, ou mesmo em oposição a ela. Segundo sejam essas pessoas otimistas ou pessimistas, vêem elas o homem como o rei da natureza ou a sua vítima” (BRANCO, 1997, p. 6).

Friedel havia percebido, naquela época, o erro de tal posicionamento antropocêntrico, que não admite o homem simplesmente como parte integrante da natureza. O homem tornar-se-á vítima da natureza à medida que desejar ser o seu rei!

As atitudes e valores orientam as pessoas como sujeitos no mundo. Nesse sentido, Câmara (2001, p. 174) diz que, ”o ser humano, é o único ser capaz de compreender a grandiosidade do fenômeno da evolução orgânica, têm o inalienável dever ético de permitir que ela mantenha o seu curso e que a diversidade biológica permaneça exuberante”.

Está em pauta neste trabalho a proposição de uma cartilha pedagógica que, através da Educação Ambiental (EA), consiga ser o meio para provocar o público alvo acerca da importância dessa compreensão biológica, focando as regiões de canga ou campos rupestres ferruginosos situados no Quadrilátero Ferrífero (QF). O trabalho com um público que, no futuro,será a população economicamente ativa e responsável pela conservação do meio ambiente também se insere como objetivo desse trabalho.

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14 A biodiversidade tem como sua maior ameaça a fragmentação e consequente perda de habitats, pois provoca a remoção local imediata da flora e da fauna nativas e, portanto, o desaparecimento de populações inteiras ou parte delas, a redução da distribuição geográfica e perdas de diversidade genética (HERO & RIDGWAY, 2006).

A fragmentação é o processo de divisão de um habitat ininterrupto em manchas isoladas, em decorrência principalmente da retirada da vegetação natural (CERQUEIRA, 2003). Em outros termos, ela ocorre com a remoção parcial de um grande bloco de habitat, o que resulta em uma paisagem contendo pequenas parcelas de ecossistemas naturais, separadas entre si por uma matriz dominada por agropecuária, mineração e outros usos do solo (ARAÚJO, 2007).

A busca pela sustentabilidade1, ou desenvolvimento sustentável, nos aparece, então, como uma proposta ideal de conciliação entre a exploração e a conservação do meio ambiente.

Nesse sentido, é preciso que todos conheçam os problemas ambientais oriundos de suas ações, sejam aquelas advindas dos interesses corporativos, visando ao lucro, sejam aquelas próprias do homem comum, sem a adequada percepção das consequências de seus atos.

Para tal, a informação e o despertar da consciência ambiental são fundamentais para a mudança de mentalidade e atitudes, pois ninguém defende aquilo que desconhece. Numa sociedade dividida em classes como a nossa, a Educação se insere no contexto dos interesses da classe dominante, com grande influência de sua ideologia. Uma formação crítica e emancipatória acaba por não sujeitar-se a esses interesses, os quais disseminam valores superficiais tornando-os verdades que nos alienam e nos capturam nesse sistema.

É nesse ambiente de desinformação midiática acerca dos processos de exploração e seus desdobramentos em habitats pouco conhecidos por grande parte da população que esse trabalho tem em seu escopo: a análise e divulgação da atuação das atividades mineradoras e suas consequências para os campos rupestres ferruginosos, também conhecidos como canga.

As informações sobre as áreas de canga são escassas e pouco difundidas. Tal fato despertou a necessidade de problematizar um tema de suma importância para o meio

1Sustentabilidade é uma ideia que permeia todos os diagnósticos e propostas de solução das questões

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15 ambiente, contribuindo para a manutenção da flora, fauna e função biológica dos aquíferos que ali estão inseridos. Esse trabalho foi desenvolvido junto a alunos da rede pública de educação de uma escola municipal situada em João Monlevade-MG.

Para atingir tal fim de caráter educacional formador, faz-se necessário pensar em propostas didático-pedagógicas inovadoras, que informem, desafiem e incentivem a reflexão e ação para a formação da consciência ambiental. O desafio é encontrar alternativas e materiais que estimulem a crítica sobre as questões ambientais dentro de uma perspectiva local e também global.

De acordo com Loureiro (2004, p. 14).

Educação ambiental é uma perspectiva que se inscreve e se dinamiza na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as múltiplas tendências pedagógicas e do ambientalismo, que têm no “ambiente” e na “natureza” categorias centrais e identitárias. Neste posicionamento, a adjetivação “ambiental” se justifica tão somente à medida que serve para destacar dimensões “esquecidas” historicamente pelo fazer educativo, no que se refere ao entendimento da vida e da natureza, e para revelar ou denunciar as dicotomias da modernidade capitalista e do paradigma analítico-linear, não-dialético, que separa: atividade econômica, ou outra, da totalidade social; sociedade e natureza; mente e corpo; matéria e espírito, razão e emoção etc. (LOUREIRO, 2004, p. 14).

Um viés educacional de grande relevância para o sucesso da problematização acerca do meio ambiente é encontrado na metodologia dialógica proposta do Paulo Freire. Tal metodologia leva em conta a vivência e a realidade do aluno, contribuindo para que o ensino se transforme num processo de preparação integral do indivíduo para a vida em sociedade, através da conscientização de que os aspectos abordados fazem parte do seu ambiente e não de uma esfera distante e separada do local onde ele vive. Além disso, propõe-se uma educação inclusiva, participativa e democrática que tem como objetivo romper com a tradição excludente, transmissiva, autoritária e reprodutora da pedagogia tradicional. Segundo Freire (2005, p.78)

Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição, um conjunto de ideias a ser depositado nos educandos, mas a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada. (FREIRE, 2005, p. 78).

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16 importância da conservação dos ecossistemas. A partir daí observa-se uma propagação de conhecimento, valores e ideias pelos alunos que alcançam sua comunidade.

O uso de procedimentos participativos, dialógicos e lúdicos é o caminho para que, pelo processo educativo, tanto o educador quanto o educando possam, juntos, conhecer a realidade, refletir e agir, fortalecer a ação coletiva e organizada, articular saberes na busca da solução para problemas e compreender a complexidade ambiental (QUINTAS, 2000).

Como pesquisadora, especialista em EA e professora na rede pública estadual e municipal, reconheço a relevância da EA para alcançar uma nova consciência de valores, de respeito aos seres humanos e aos recursos naturais, com perspectivas de ajudar a formar uma mentalidade impulsionadora da construção de um novo paradigma emancipador. Como professora, vivenciei as dificuldades, as tentativas e os progressos em se trabalhar a EA na escola. Entretanto, não basta reconhecer essa conquista como um fator importante, deve haver também iniciativa, dados e comprometimento.

Surgiu, assim, a vontade de aprofundar meus conhecimentos sobre essa questão. Em 2014, ao ser aprovada no Mestrado Profissional em Ensino de Ciências, pensei em abordar a EA. Meu orientador então me disse que trabalharíamos com a canga. Pensei ser brincadeira e logo perguntei: mas de que canga você está falando? E a resposta para minha surpresa era a presença de um ecossistema de grande importância e que eu nunca havia escutado falar ou lido sobre.

O segundo passo foi conhecer meu coorientador que, com grande paciência e iniciativa, me ajudou a entender um pouco mais sobre o referido ecossistema. Mas como criar um produto, exigência do mestrado, que abordasse a canga e interessasse os alunos do ensino fundamental II? Fui buscar essa resposta com meus próprios alunos, questionando-os: Como vocês aprendem? As respostas dos alunos foram frases como “Com aulas interativas!”, “Com diversão!”, “Fazendo atividades!” e “Dialogando!”.

Diante das respostas, elaboramos uma cartilha voltada para a EA que funcionasse como veículo mediador da informação para os sujeitos participantes e que conecta conteúdo, interação, diversão, atividades lúdicas, atitudes e valores. Nela, usamos um cacto presente apenas nas regiões de canga do QF para apresentar seu ecossistema aos alunos. A descrição da cartilha consta no capítulo 3.

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17 confrontada com nosso papel como agentes modificadores do ambiente, de algumas consequências de tais modificações e da necessidade de refletirmos sobre nossa relação com o meio.

Diante do exposto, a pergunta de pesquisa do presente estudo é “Como uma cartilha sobre um ecossistema ferruginoso supostamente desconhecido pela maioria dos estudantes do ensino fundamental II pode promover uma aprendizagem contextualizada?”.

O ingresso no programa de Mestrado Profissional no Ensino de Ciências permitiu que a pesquisa fosse delineada, orientada e viesse a termo.

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18 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A questão ambiental diante o molde socioeconômico de produção em massa, desde a industrialização, tem sido matéria de discussão constante. As diversas atividades de produção proporcionaram à sociedade ganhos em desenvolvimento, porém com elevados custos.

Enquanto a escolha dos meios de produção e a apropriação dos lucros concentram-se nas mãos de uma minoria local, os problemas ambientais decorrentes são socializados em escala global. As disparidades sociais e os impactos ambientais e suas consequências, decorrentes desse modelo hegemônico de desenvolvimento, constituem problemas socioambientais.

Neste contexto, a EA surge como uma prática por meio da qual as pessoas se apropriam do mecanismo funcional do ambiente, como dependemos dele, como o afetamos e como promovemos a sua sustentabilidade (DIAS, 2004).

De acordo com o Artigo 225 da Constituição Brasileira de 1988: todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).

Lê-se no parágrafo 1º do mesmo artigo que, para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

Inciso VI: Promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e conscientização pública para a preservação do Meio Ambiente;

Inciso VII: Proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (BRASIL, 1988)

O grande entrave para o sucesso das práticas de EA perpassa a necessidade de se praticar a educação de maneira eficaz superando a mera formalidade e atingindo os envolvidos nos processos ao ponto de recriarem e propagarem esses ensinamentos em seu dia a dia.

Nesse sentido, é de grande importância o conhecimento acerca das consequências da ação antrópica no meio ambiente, sobretudo ao seu redor. A informação e a tomada de consciência são fundamentais para a mudança de mentalidade e atitudes.

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didático-19 pedagógicas inovadoras que desafiem e incentivem a formação da consciência ambiental. A maior dificuldade é encontrar alternativas e materiais que estimulem a crítica sobre as questões ambientais dentro de uma perspectiva local e também global.

A educação deve ser vista como fluxo livre de ensino e aprendizagem entre as pessoas envolvidas, sobretudo em nossa sociedade, cuja discussão sobre o tema só é de fato institucionalizada nos anos 80, devendo prezar pela politização, problematização, emancipação e protagonismo dos envolvidos na prática educativa.

Para Loureiro (2004), “Educação ambiental, antes de tudo, é educação, pois sugere a transformação social a partir da pedagogia libertadora, fazendo do ato educativo instante de reflexão sobre a relação homem e meio ambiente”.

Segundo Guimarães (2000), “a palavra ambiental, da expressão Educação ambiental, apenas adjetiva, qualifica um processo mais amplo que é o processo educacional”. Desta forma, a Educação ambiental é uma das dimensões presentes na educação.

Como proposta de novo viés educacional de grande relevância para o sucesso da problematização acerca do meio ambiente utilizamos o diálogo. Este leva em consideração a vivência e a realidade do aluno, contribuindo para que o ensino se transforme num processo de preparação integral do indivíduo para a vida em sociedade através da conscientização de que os aspectos abordados fazem parte do seu ambiente e não apenas de uma esfera distante e separada do local onde ele vive. Além disso, também é proposta uma educação inclusiva, participativa e democrática, com o objetivo de romper com a tradição excludente, transmissiva, autoritária e reprodutora da pedagogia tradicional.

Despertar no outro a ressignificação da relação homem como parte do meio ambiente, como responsável por zelar por ele, é também de grande importância para a compreensão do tema, sobretudo na questão ambiental na qual os agentes são parte do ambiente e devem ter a compreensão de que os cuidados com o meio ambiente são cuidados com o ser humano, com a vida de forma ampliada.

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20 Temos de ressaltar que o ecossistema é propriedade e direito de todos devendo ser desfrutado de forma sustentável e equilibrada, pois os recursos naturais são finitos e se usados desordenadamente serão extintos. Por mais que possamos transformá-lo e intervir no seu funcionamento orgânico, devemos compreender que somos parte do todo. Portanto, ao explorá-lo de forma indevida estaremos prejudicando a nós mesmos.

Ao ler o mundo percebemos a importância política e social da proposição da Educação ambiental que é expressa por Loureiro (2010, p.17) como:

Crítica, porquanto funda sua formulação no radical questionamento às condicionantes sociais que geram problemas e conflitos ambientais; Emancipatória, uma vez que visa à autonomia e liberdade dos agentes sociais ante as relações de expropriação, opressão e dominação; e Transformadora, por visar a mais radical transformação do padrão societário dominante, no qual se define a situação de degradação intensiva da natureza, e, em seu interior, da condição humana (LOUREIRO, 2010, p. 17).

A pedagogia crítica possibilita ao indivíduo envolvido na prática educacional ter um discernimento de sua capacidade de ser protagonista de sua vida e do meio no qual ele está inserido, saindo de um estágio de desinformação e desmobilização para outro de conhecimento e ação.

A cartilha proposta nesse trabalho destaca a importância do ecossistema conhecido como canga e propõe a criação de unidades de conservação.

Um dos assuntos propostos no material pedagógico é a crítica ambiental em questões como a ocorrida em 2009, quando o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) abriu o processo de criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela, passando a trabalhar na elaboração de uma proposta oficial que conservasse quase metade das áreas canga na região do QF. Mais precisamente essa região é a principal área de recarga hídrica do QF. Tal proposta foi finalizada e publicada em outubro de 2010.

Em 13 de outubro de 2014, o Parque Nacional da Serra do Gandarela foi instituído por decreto da Presidência da República. Esse decreto protege uma área de 31.270,83 hectares abrangendo os municípios mineiros de Caeté, Itabirito, Mariana, Nova Lima, Ouro Preto, Raposos, Rio Acima e Santa Bárbara.

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21 cavidades de relevância máxima, uma paleotoca, Balneário de Raposos, lagoa das Antas, lagoa dos Coutos, mata de André do Mato Dentro e quase metade de áreas de canga bem preservadas.

Figura 1: Limites do Parque Nacional da Serra do Gandarela. Fonte:Site Águas do Gandarela.

A Serra do Gandarela é a última área ainda bem preservada de toda a região com significativa extensão de Mata Atlântica e canga. É de grande importância que esses patrimônios acima citados sejam incluídos na área do parque para que sejam protegidos recursos hídricos, biológicos, espeleológicos e geológicos, além de promover a integração entre homem e natureza, seja por turismo ecológico ou visitação científica, possibilitando ainda a geração de renda por meio dessas atividades.

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22 CANGA

O Brasil possui a maior diversidade biológica continental. Nosso país abriga entre 15% e 20% de toda a biodiversidade do planeta, a maior floresta tropical (Amazônia) e dois grandes biomas mundiais que conjugam altos índices de espécies endêmicas com alto grau de ameaça pela atividade humana (Mata Atlântica e Cerrado). Entre esses dois grandes biomas encontramos a canga, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente do Brasil.

Se recorrêssemos ao dicionário para descobrirmos o significado da palavra canga, encontraríamos respostas multíplices. Aqui abordaremos um importante ecossistema que se desenvolve acima de uma rocha ferruginosa chamada Itapanhoacanga.

Segundo Castro (2008, [s.i.]) apud Carmo (2010, p. 04 ) o significado geológico mais preciso do termo canga foi estabelecido por Dorr (1964,[s.i.])

...uma rocha formada por material detrítico derivado de itabiritos e hematitas, cimentado por limonita. Ela é moderadamente dura, bem consolidada, levemente permeável e muito resistente à erosão e ao intemperismo químico. A canga forma extensos depósitos em ou próximo de superfícies erosivas atuais ou antigas

(DORR, 1964, [s.p.]apud Castro 2008, p. 04apud Carmo 2010[s.p.]).

Em Minas Gerais encontramos canga no QF, Vale do Rio Peixe Bravo e Bacia do Rio Santo Antônio; no Pará em Carajás; na Bahia em Caetité e no Mato Grosso do Sul em Morraria de Urucum (Figura 2). Esse ecossistema ocorre nas montanhas formadas por enormes depósitos de minério de ferro em altitudes que variam de 900 a 1900m (JACOBI & CARMO, 2008).

Limitaremos nosso escopo de análise às regiões de canga que estão sofrendo forte intervenção exploratória por parte da atividade mineradora na região do QF (Figura 3). O QF corresponde a uma área de 7.200 Km2 constituída por rochas do período pré-cambriano que se formaram há cerca de quatro bilhões de anos. Abrange as cidades de Belo Horizonte, Santa Bárbara, Mariana e Congonhas, que formam os vértices de um quadrilátero.

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23

Figura 2:Localização das áreas de canga do Brasil. Fonte: Adaptado de Carmo (2012)

Figura 3: Localização do quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais.

Fonte: Adaptado de ALUNOS EM REDE, 2014.

Além disso, o QF é uma região de grande riqueza mineral onde seus recursos têm sido explorados durante séculos e as unidades de conservação no seu interior têm sido insuficientes para a conservação do seu meio ambiente. Com o aumento da demanda por recursos naturais

BELO HORIZONTE

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24 e, por outro lado, com a redução cada vez maior dos habitats naturais, frequentemente surgem divergências entre exploração e conservação.

A atividade mineradora representa, em grande parte, o lado perverso da exploração desequilibrada ocorrida nos campos rupestres ferruginosos, áreas com elevada concentração de minério de ferro (Figura 4).

Figura 4: Em primeiro plano, uma planta rara, da família das verbenáceas (Stachytarpheta ajugifolia), cresce sobre a canga, no Quadrilátero Ferrífero. Ao fundo, início da exploração de minérios de ferro. Foto: Flávio

Fonseca.

Jacobi & Carmo (2008) ressaltam que esses ecossistemas, as regiões de canga, estão entre os menos conhecidos e os mais ameaçados do Brasil por sua distribuição restrita e associada aos principais depósitos de minério de ferro do país.

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25

Figura 5:Heterogeneidade ambiental e as diversas fisionomias vegetais encontradas em cangas no Quadrilátero Ferrífero. A) Extensos lajeados localizados na Chapada de Canga (Catas Altas) e as ilhas de vegetação formadas

por Vellozia sp.; B) Vegetação rupestre em cangas localizadas na Serra de Capanema (Ouro Preto); C) Vegetação rupestre localizada na Serra da Brígida (Ouro Preto); D) Lagoa localizada em Catas Altas; E) Escarpa

com cerca de 20 m de altura localizada no P.E. Serra do Rola Moça (Nova Lima); F) Capão de altitude localizado na Serra da Moeda (Moeda). Fotos: Flávio Fonseca.

A formação do solo dos campos rupestres ferruginosos deu-se há milhões de anos, por meio de interações naturais como sol, chuva, ventos, restos de animais e plantas e fragmentação de rochas (Figura 6). Carmo et al.(2012) destacam que as cangas são compostas por até 90% de óxidos de ferro e contêm solos muito ácidos, rasos, com reduzidos índices de fertilidade e temperaturas que atingem quase 70°C na superfície.

É interessante perceber a ocorrência de um grande número de cavernas consideradas raras. Recentemente, foi descoberta numa dessas cavernas uma cigarrinha chamada

Ferricixius davidii. Dentre centenas de cavernas observadas, essa cigarrinha só é encontrada

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26 sobrevive em ambiente subterrâneo, ou seja, não conseguem sobreviver no ambiente externo. Por esse motivo é de extrema importância a preservação de seu habitat (BUCHMANN et al, 2015).

Figura 6: Solo da canga situado em Nova Lima, localidade Morro do Chapéu. Foto: Jalula Lage.

Nesses solos também foram identificados registros arqueológicos como artefatos de cerâmica e pedra feitos por povos antigos, além de paleotocas (Figura 7) que são estruturas em forma de túneis escavadas por animais extintos, provavelmente tatus gigantes (CARMO et al, 2012). Há ainda atributos paleontológicos e históricos exímios, dentre os quais se destacam a existência de sítio paleontológico, ruínas dos séculos XVIII e XIX e trechos da Estrada Real.

Vale lembrar que nessas áreas é possível obter grande quantidade de informações acerca de práticas, valores e estruturas das sociedades antigas, tornando sua preservação um importante meio de conservação do patrimônio de informações históricas.

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27 cavidades existentes nesses solos que funcionam como verdadeiras esponjas, transferindo com eficiência a água da chuva para o interior das montanhas (CARMO et al, 2012).

Figura 7: Paleotoca presente no norte de Minas Gerais. Foto Flávio do Carmo.

Segundo Carmo (et al 2012, p. 50)

Os afloramentos ferruginosos fornecem serviços ecológicos vitais, não apenas para o ambiente natural, mas também para a população humana. As cangas agem como importantes áreas de recarga hídrica. Devido à enorme quantidade de poros, fendas, fissuras, canais e cavidades existentes nesses solos, eles funcionam como verdadeiras esponjas, transferindo com eficiência a água da chuva para o interior das montanhas (CARMO et al, 2012, p. 50).

Nas cangas do QF encontramos as nascentes dos rios Piracicaba, Santa Bárbara e Santo Antônio (Bacia do Rio Doce), das Velhas e Arrudas (Bacia do Rio São Francisco).

De acordo com Carmo (et al 2012, p 50)

No Quadrilátero Ferrífero, por exemplo, as cangas e formações ferríferas abaixo delas constituem o principal sistema de aquíferos, que armazenariam – estimativa obtida por estudos geológicos – cerca de 4 bilhões de m3 (volume que pode ser explorado) de água. Esse geossistema contém milhares de nascentes e vários mananciais que abastecem a região metropolitana de Belo Horizonte

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28 Portanto, é importante pensar no uso responsável e racional das águas, além do seu mecanismo de reposição dada sua importância para a vida.

Outro ponto de destaque é a flora da canga. Sua vegetação compõe os campos rupestres ferruginosos que abrigam dezenas de plantas raras ameaçadas de extinção, melatófitas com alto grau de endemismo, ou seja, plantas que possuem adaptações para sobreviver em solo com alto teor de metais peculiares. Em razão de poucos estudos, o conhecimento sobre a flora desse ambiente ainda é limitado.

As regiões de canga estão em áreas de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado e, por esse motivo, abrigam espécies animais de ambos os biomas. Flora e fauna estão sendo destruídas por ações antrópicas. Com o intuito de fornecer informações e orientar as ações para conservar a diversidade biológica, a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) criou o maior catálogo sobre o estado de conservação de espécies de plantas e animais de todo o planeta: a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas.

Para tal, as espécies são classificadas em grupos definidos (Figura 8), através de critérios que incluem a taxa de declínio da população, o tamanho e distribuição da população, a área de distribuição geográfica e grau de fragmentação.

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29 Assim, ao digitar o nome de uma espécie, o pesquisador poderá inteirar-se do estado de conservação da mesma. Essa lista é um indicador importante do grau de ameaças da biodiversidade mundial.

A maior ameaça à biodiversidade se deve, principalmente, pela fragmentação e consequente perda de habitats, pois provoca a remoção local imediata da flora e da fauna nativas e, portanto, o desaparecimento de populações inteiras ou parte delas, a redução da distribuição geográfica e perdas de diversidade genética (HERO & RIDGWAY, 2006).

A mineração constitui o principal agente de alteração ambiental nas áreas metalíferas. Essa atividade iniciou-se no QF em larga escala por volta de 1930, possibilitando grande avanço tecnológico ao homem por meio da produção de bens que têm como matéria prima o minério de ferro.

Segundo Carmo (2010), em menos de 40 anos cerca de 40% das áreas de canga foram irreversivelmente perdidas. A mineração (Figura 9) foi a causa de 85% da perda de hábitat. Destacam-se também como ameaças a essas regiões a expansão urbana, a agricultura e as queimadas.

Figura 9: Mina a céu aberto. Foto COPAM/ MMX

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30 geralmente estão distantes das cidades. É importante lembrar que a mineração produz uma grande quantidade de rejeito.

Através da mineração são produzidos dois tipos de rejeitos: o líquido (Figura 10) que é transportado por tubulações até a barragem2, e o sólido (Figura 11) transportado por caminhões ou esteiras até a pilha de estéril. O uso de novas tecnologias para aproveitamento desses rejeitos colide com a elevada margem de lucro almejada pelas mineradoras.

Além dos danos provocados pela ação cotidiana da atividade mineradora, há o risco de rompimento dessas barragens e o contato destruidor dessa matéria tóxica com o meio ambiente contaminando rios, solo e causando a destruição desses locais.

A proposta de ter trabalhado esse tema, sobretudo com a coincidência temporal com o infeliz crime ambiental ocorrido em Mariana-MG, possibilitou aos alunos uma ótica diferente daquela convencional, apresentada pela grande mídia.

Figura 10: Barragem de rejeitos. Foto: Lucas Prates/Arquivo Hoje em Dia.

2Estruturas que têm a finalidade de reter os resíduos sólidos e água dos processos de beneficiamento de

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32 A CARTILHA

É inegável que o ensino de Ciências vem sendo alvo de discussões e reflexões na tentativa de melhorar o processo de aprendizagem. Observa-se que é uniforme entre os educadores a consciência de que o ensino exclusivamente informativo ou transmissivo, centrado no professor, está destinado ao fracasso, estabelecendo-se um clima de apatia e desinteresse que impede a interação necessária ao verdadeiro aprendizado (KRASILCHIK, 2005).

Um aspecto relevante quando nos referimos às relações professor e aluno e aluno e aluno, por exemplo, é ter presente a interação que ocorre de maneiras distintas. Nossos alunos desejam dialogar, participar e intervir. A par disso, criou-se uma cartilha que possibilita ao aluno se informar, explorar, problematizar e, sobretudo, participar ativamente da construção do seu próprio conhecimento.

Nesse contexto, o professor deve problematizar a realidade em que vivemos e buscar junto aos alunos compreendê-la, posicionar-se em relação a ela e repensar valores e atitudes.

De posse de um tema relevante pensamos em criar um material didático, no caso uma cartilha, que fosse objetiva, educativa, utilitária, rica em imagens, conteúdo e fácil de ser compreendida, mas também provocativa, desencadeando ações em favor do meio ambiente, estabelecendo relação entre problemas socioambientais e ações antrópicas, além de favorecer a mudanças de hábitos e comportamentos não só individualmente, mas também social.

Como recurso didático, a cartilha pode oferecer vantagens em despertar o interesse e curiosidade nos alunos, estimulando seu senso crítico. Esse despertar de curiosidade e senso crítico, segundo Paulo Freire (1996), é algo a que o educador democrático não pode negar em sua prática docente.

Nesse contexto, a cartilha foi pensada e feita para alunos do ensino fundamental II. Sua linguagem está adequada a esse público. Ao revisar a bibliografia disponível, percebeu-se a existência de um cacto de nome científico Arthrocereus glaziovii, endêmico do QF. Como a

cartilha também tem como foco o Quadrilátero, escolhemos usar o cacto como personagem protagonista da história.

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33 alunos a viajar pelo ecossistema de canga e descobrir as belezas e riquezas naturais dessa região praticamente desconhecida pela maioria da população.

Em seguida Ecocereus apresenta a importância do solo, água, flora e fauna características dessa região e que não podem ser encontrados em nenhuma outra parte do mundo. Além do conteúdo, foram propostas atividades diversificadas com o intuito de tornar a aprendizagem divertida e prazerosa.

Os impactos mostrados na história correspondem àqueles mais frequentemente observados nas regiões de canga. Ao final da história são apresentadas soluções para as alterações ambientais como a criação de unidades de conservação, mostrando que é possível conciliar a exploração sustentável com a conservação dessas áreas.

A cartilha é rica quanto à apresentação de conceitos relacionados aos conflitos socioambientais e ações positivas pertinentes ao conceito central “canga”, mostrando locais, causas e agentes responsáveis e as ações desenvolvidas especificamente para solução de tal circunstância.

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34 OBJETIVOS

Objetivo geral

Desenvolver e avaliar as potencialidades e limitações didático-pedagógicas de uma cartilha usada como recurso alternativo ao desenvolvimento da Educação Ambiental no Ensino Fundamental.

Objetivos específicos

São objetivos específicos desta proposta:

· Desenvolver uma cartilha sobre o tema canga;

· Estimular a discussão sobre a importância e necessidade da conservação das áreas de canga, do papel das unidades de conservação, os valores da sociedade atual mediante uso da cartilha como ferramenta pedagógica;

· Analisar qualitativamente o potencial de compreensão gerado pela cartilha;

HIPÓTESES

Os campos rupestres ferruginosos são desconhecidos pela maioria dos estudantes do ensino fundamental II.

Os alunos do ensino fundamental II conhecem os problemas ambientais advindos da mineração.

A sustentabilidade já é um assunto presente no dia a dia dos alunos do ensino fundamental II.

PROBLEMA DE PESQUISA

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35 METODOLOGIA DE PESQUISA

Desenvolvimento da cartilha

É condição para a conclusão do Programa do Mestrado Profissional em Ensino de Ciências a elaboração de um ferramental de auxílio a outros professores no ensino de ciências. Não obstante à obrigatoriedade do trabalho científico, a principal preocupação residia na criação de um produto que abordasse um tema novo e interessasse (a canga) aos alunos do ensino fundamental II. Conforme se demonstrará, a solução para tal questão estava com os próprios alunos.

Na tentativa de compreender como os alunos se envolveriam com a proposta, numa folha branca de papel A4 foi-lhes questionado: Como você aprende? Trinta cópias deste documento foram fotocopiadas e entregues aos alunos do 6º ao 9º anos de uma das escolas em que leciono.A maioria das respostas dos alunos pôde ser enquadrada em quatro perfis de respostas padrão: “Com aulas interativas!”, “Com diversão!”, “Fazendo atividades!” e “Dialogando!”.

Com tais respostas visualizamos o desafio de satisfazer estes desejos ao desenvolver o material. Primeiramente, para criar a cartilha, estabeleceu-se por base os princípios da prática educativo-dialógica propostos por Paulo Freire no intuito de que a educação viesse a ocorrer em uma relação horizontal, dialógica e recíproca. Neste contexto, o aluno teria a oportunidade de conhecer e compreender sobre o conteúdo, além de poder refletir a respeito da intervenção sobre a realidade que o contextualiza, privilegiando o desenvolvimento da sua autonomia.

Em um segundo momento foi realizada uma pesquisa a respeito dos temas associados que seriam correlacionados com a temática central da cartilha. Ficou definido que estes temas associados seriam solo, água, flora e fauna característicos das regiões de canga, além de expor as principais ameaças a essas regiões e propor a conservação desse ecossistema tão importante. Com a perspectiva de tornar o material ainda mais próximo da linguagem dos alunos, foi escolhido um personagem para protagonizar e explicar tais atributos, um signo desenhado a partir das características morfológicas de cacto endêmico das regiões de canga do QF, o Arthrocereus glaziovii, personagem este que posteriormente fora batizado como

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36 Para a estrutura textual da cartilha foi realizada uma ampla pesquisa bibliográfica sobre o referido ecossistema. Os textos para cada temática foram pessoalmente elaborados, sempre acompanhados de atividades e ilustrações que reproduzissem em muitos aspectos a realidade do contexto no ecossistema canga. Para a diagramação final e estruturação das ilustrações da cartilha, um profissional prestador de serviços fora contratado.

Com o material finalizado e impresso, deu-se então a aplicação da cartilha e avaliação do seu potencial como descrito a seguir.

Local de desenvolvimento da proposta

Após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto (CEP/UFOPCAAE:38379714.2.0000.5150), consentimento da Secretaria Municipal de Educação de João Monlevade, consentimento da direção da escola (APÊNDICE G), consentimento da professora, dos alunos e seus pais, foi então iniciada a pesquisa.

O presente estudo foi realizado na Escola Municipal Centro Educacional de João Monlevade - CEJM, localizada na Rua Wilson Alvarenga, 830 – Bairro Carneirinhos, João Monlevade - MG. A escolha dessa unidade de ensino se deu por sua localização estratégica no centro da cidade, sua facilidade de acesso, representatividade escolar (maior escola de ensino fundamental II do município - 6º ao 9º ano), além de ser uma das escolas em que trabalho atendendo alunos provenientes de diversos estratos sociais.

A escola conta com cinquenta e nove professores, um diretor, um vice-diretor e um auxiliar de direção. Atualmente (ano base 2015), tem-se um total de mil duzentos e quarenta e um alunos matriculados nos três turnos. A pesquisa foi limitada a uma turma de 9º ano contendo trinta e sete alunos regularmente matriculados. A escolha dessa turma foi feita por sorteio pela própria supervisora pedagógica do turno matutino. Como foram trabalhados conteúdos do eixo temático “Ambiente e Vida” presentes no currículo próprio do 9° ano do ensino fundamental, não houve qualquer interferência na programação e no currículo deste ano letivo e, portanto, sem qualquer prejuízo de atraso ao conteúdo programático.

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37 Um questionário investigativo foi aplicado junto à turma selecionada para sondar o conhecimento dos alunos sobre alguns temas relacionados ao tema meio ambiente. Os alunos estavam organizados em filas e foi pedido a cada um que respondessem as questões individualmente para não haver chance de os resultados serem contaminados pelas opiniões dos outros.

A professora pesquisadora disponibilizou quarenta minutos para que todas as questões pudessem ser feitas.

No questionário constavam as seguintes questões:

1 - Quando você pensa em ambiente, o que lhe vem à mente?

2 - Imagine um jardim com terra, pedras, grama, flores, frutas, minhocas, abelhas e pássaros, e que este jardim é aguado todos os dias por você. Quem são os seres vivos (bióticos) deste jardim? E os abióticos?

3 – Os fatores bióticos e abióticos desse jardim constituem um ecossistema com diversas espécies. Você também faz parte dele e tem uma função bastante importante nesse ecossistema. Qual a sua função nesse ecossistema?

4 – Caso você decida em acabar com as abelhas desse jardim e retirar todas as pedras do solo, o que ocorrerá? Os outros seres que compõem esse ecossistema serão afetados?

5 – Agora imagine que você descobriu uma porção de pedras preciosas debaixo da terra desse jardim, no entanto, sua alimentação e qualidade de vida dependem dele. Para retirar as pedras e ganhar dinheiro com elas, você irá destruir todo o jardim ao mesmo tempo em que irá piorar sua qualidade de vida. O que você faria?

6 – Qual a importância da água para você?

7 – Onde foi feita essa cadeira que você está sentado (a)? Do que ela é feita? De onde vêm os materiais?

8 – Caso quebre uma parte de seu assento você compraria outra ou tentaria consertar? Por quê?

9 – A mineração, que ajuda o homem na construção de uma porção de objetos para o seu bem-estar, pode ser ruim de alguma forma? Qual o possível malefício da mineração?

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38 Aplicação da cartilha e coleta de dados

Com a permissão da professora regente, os alunos foram conduzidos a uma sala mais ampla o que possibilitou dispor as carteiras em círculos onde alunos e a professora pesquisadora pudessem ser vistos e ouvidos.

Antes que as atividades viessem a ser iniciadas, foi feita uma breve explanação sobre a divisão temática da cartilha para que a mesma pudesse ser aplicada em etapas e que, ao final de cada aula, as cartilhas seriam recolhidas com o propósito de serem entregues no próximo encontro a fim de dar continuidade ao cronograma previsto.

No primeiro encontro foram desenvolvidas as seguintes atividades: I) foi realizada uma enquete para escolher o nome do cacto protagonista; II) foram cortados elementos bióticos e abióticos de revistas para fazer as atividades da página 9; III) foram discutidas as características do solo das regiões de canga e; IV) foi feita a redação de um pequeno texto sobre a importância de se preservar áreas onde são encontradas paleotocas presente na página 13.

No segundo encontro, dando sequência à cartilha, foram realizadas as seguintes ações: I) foi instituída uma conversa sobre água e seu ciclo, aquíferos e sobre o que temos feito para economizar esse bem tão precioso; II) foram estudados os principais rios que abastecem a região e que têm suas nascentes nas regiões de canga do QF; III) foram discutidas as adaptações que as plantas possuem para sobreviver às condições daquele local e sobre a raridade das mesmas e; IV) foi feito um relato de duas recentes descobertas ocorridas em cavernas nas regiões de canga do QF, página 28.

No terceiro e último dia de atividades foram abordadas: I) as principais ameaças ao ecossistema canga; II) a tragédia ocorrida com o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco em Mariana – MG; III) as consequências do consumismo e a diferença entre ele e o consumo e; IV) a importância das unidades de conservação, em especial sobre o Parque Nacional da Serra do Gandarela e o conflito entre seus limites.

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39 Ao término da sexta aula as cartilhas foram novamente recolhidas para coleta de dados. As aulas foram sempre dialógicas, tanto a professora pesquisadora quanto os alunos exploraram ideias, consideraram e discutiram diferentes pontos de vista.

Estrutura e roteiro da entrevista semi-estruturada

A entrevista também foi aplicada em sala de aula. Foi entregue a cada aluno uma folha contendo as seguintes questões:

1 - O que você achou da cartilha “Canga”?

2 - Qual a importância da canga no ciclo da água? 3 - Cite duas características da canga.

4 - Você gostaria de ter uma disciplina que discutisse as relações que ocorrem na natureza? Por quê?

5 - Qual a necessidade de se preservar a canga?

A aplicação desta etapa de avaliação se deu durante cerca de trinta minutos. Os alunos estavam organizados em filas como de costume, e cada qual respondeu ao material proposto de forma individual e explicitando a percepção pessoal acerca de todo o processo de trabalho ocorrido nas etapas anteriores.

Cronologia das atividades

Primeiramente, no dia 21 de outubro de 2015 a turma 906 foi informada sobre o sorteio feito pela supervisora e sobre o contexto da pesquisa que estava em desenvolvimento. Também foi entregue aos alunos uma carta de esclarecimento aos pais (APÊNDICE B) e o TCLE (APÊNDICE E), juntamente com o TALE (APÊNDICE F) do aluno, já que a participação era voluntária. O conhecimento prévio entre professor e alunos favoreceu a realização da pesquisa.

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40 cedeu uma aula para que o questionário pudesse ser aplicado, seis aulas para aplicar toda a cartilha e mais uma aula para entrevistar os alunos, perfazendo um total de oito aulas (Figura 12).

Figura 12: Percurso metodológico. Fonte: Acervo da autora.

Após ter em mãos todos os TCLEs e TALEs assinados, no dia 28 de Outubro de 2015 o questionário foi aplicado na própria sala de aula aos alunos participantes da pesquisa. Para melhor organizar os dados definimos a representação de cada aluno pela simbologia aluno A1, A2 (...) (ANEXO I).

O questionário visa à obtenção de informações acerca dos conhecimentos dos alunos sobre os ecossistemas, funções ecológicas, os impactos da mineração e a relação existente entre homem e natureza. Optou-se pela escolha do questionário devido à sua objetividade e grande importância em estudo científico. Para Barros & Lehfeld (2000, p. 90), “o formulário é o instrumento mais usado para levantamento de informações. Não está restrito a uma determinada quantidade de questões [...] e pode possuir perguntas fechadas e abertas e ainda a combinação dos dois tipos”.

Em seguida, foi aplicada a cartilha “Canga” (ANEXO II) trabalhada dialogicamente com os alunos, buscando viabilizar um aprendizado de forma mais lúdica e contextualizada. Ao mesmo tempo, seu conteúdo é exposto de forma didática e adaptado, trabalhando também o tema da EA do homem enquanto componente da natureza e a importância da conservação

QUESTIONÁRIO 28/10/15

CARTILHA 04, 11 e 18/11/15

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41 dos ecossistemas diante a ação predatória antrópica, situando em destaque os campos rupestres ferruginosos.

Nos dias 04, 11 e 18 de novembro de 2015, a professora regente cedeu suas aulas na referida turma, os alunos foram retirados da sala de aula e levados para a sala de matemática por ser mais ampla e com mesas circulares coloridas que facilitaram o agrupamento em círculos com seis alunos cada uma. Os alunos escolheram as mesas pela predileção da cor. A cartilha foi entregue a cada um dos alunos recolhendo-a posteriormente ao final de cada aula, as quais foram gravadas em áudio e vídeo. Foram utilizadas seis aulas para aplicação de toda a cartilha.

Após a aplicação da cartilha foi efetuada uma terceira coleta de dados por meio de entrevistas semi-estruturadas no dia 20 de Novembro de 2015. A entrevista semi-estruturada é também chamada de entrevista focalizada, na qual o entrevistador faz perguntas específicas, mas também deixa que o entrevistado responda em seus próprios termos (ALVES-MAZZOTTI e GEWANDSZNAJDER, 2000), caracterizando um tipo de entrevista qualitativa.

Para Manzini (1990/1991, p. 154), a entrevista semi-estruturada está focalizada em um assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas.

Após a realização da entrevista semi-estruturada, foi proposto aos alunos que redigissem um texto explicitando a importância da canga nos contextos biológico, histórico, social e econômico, estimulando a criação de um esquema ou desenho que retratasse esses quatro contextos, aos que quisessem fazê-lo.

A princípio ficou acertado que esses textos deveriam ser entregues no dia 02 de dezembro de 2015, mas como esse dia coincide com a semana de provas bimestrais na escola, achamos melhor recolher no dia 09 de Dezembro 2015 para que nenhum aluno fosse prejudicado.

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Figura 13: Convite feito para a Expociências 2015 e entregue as escolas públicas de João Monlevade com ensino fundamental II. Fonte: Acervo da autora.

Ficou estabelecido com os alunos que o melhor desenho, escolhido pela coordenação pedagógica da escola, seria impresso e estamparia um mural da escola no dia da feira. Esse desenho deveria ser entregue até o dia 26 de novembro de 2015 para que pudesse ser votado e impresso.

No dia 26 de novembro de 2015 os desenhos feitos pelos alunos foram recebidos e encaminhados para a equipe pedagógica do turno matutino. Foram selecionados quatro desenhos e o melhor foi impresso no tamanho 2,70 x 2,0 cm, estampando um mural na escola. No dia 28 de novembro de 2015 aconteceu a VI Expociências na escola, oportunidade em que os alunos dos 8º e 9º anos expuseram seus trabalhos.

No dia 09 de dezembro de 2015foram recebidas as redações como combinado. A partir delas foram colhidas importantes informações sobre a cartilha e sobre o aprendizado obtido com seu uso.

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43 manutenção de um registro organizado é a maneira de revisar o que foi feito agregando credibilidade documental dos dados colhidos a serem interpretados.

Com o auxílio do material de áudio e vídeo, das anotações do caderno de campo e, sobretudo, de toda a amostra gerada nas etapas anteriores, tivemos respaldo para inferir a respeito da viabilidade da proposta dialógica da EA junto aos alunos do ensino fundamental II.

O uso de diferentes técnicas de investigação constitui uma forma de obtenção de dados de diferentes tipos, os quais proporcionam o cruzamento de informações e maior clareza na interpretação das mesmas.

Avaliação qualitativa dos resultados

A análise da pesquisa respeitou a cronologia estabelecida em pré-análise, exploração do material e o tratamento dos resultados, a fim de sistematizar as ideias obtidas na aplicação dos diferentes métodos de investigação. Para tanto foi utilizado como corpus - conjunto de

documentos a serem submetidos à análise - o questionário, a entrevista semi-estruturada, desenhos e redações. (BARDIN, 1977).

Todos dados obtidos foram submetidos a uma pré-análise que pudesse aflorar nos pesquisadores percepções e impressões iniciais. Posteriormente foram sistematizados de forma a serem elencadas categorias a cada uma das perguntas presentes nos questionários, entrevistas e redações.

Os desenhos por sua vez surgiram como material artístico, por possibilitarem uma educação libertadora que incentive a inventividade e expressão do aluno por meios outros além da escrita e a oralidade, e cognitivo acerca do tema trabalhado. A análise nessa etapa foi intrínseca à proposição.

Com esse arcabouço de procedimentos investigativos, buscou-se a análise do alcance da cartilha enquanto material pedagógico capaz de contextualizar a educação ambiental na promoção da conservação, sobretudo dos campos rupestres ferruginosos.

A orientação por hipóteses implícitas ao tema central do trabalho referenciou-se na análise posterior à qual o trabalho tem como problema de pesquisa.

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44 informação através da organização sistemática dos resultados nos quais foram utilizadas técnicas que conseguem extrair inferências e consequente interpretação das etapas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

As potencialidades da cartilha como ferramenta pedagógica

Tendo em vista a proposta desse trabalho de desenvolver e avaliar as potencialidades e limitações didático-pedagógicas da cartilha “Canga”, optou-se por um estudo de caso com abordagem qualitativa.

De acordo com Martinelli (1999), o objetivo nas pesquisas de abordagem qualitativa é revelar o que os participantes pensam a respeito do que está sendo pesquisado. Para a autora, todos os fatos e fenômenos são significativos e fundamentais, e devem ser trabalhados por meio das principais técnicas: entrevistas, observações, análise de conteúdo, estudo de caso e estudos etnográficos.

Sabendo-se que o estudo de caso é um dos métodos possíveis da pesquisa qualitativa, abordaremos o estudo de caso qualitativo ou naturalístico. No entanto, uma preocupação inerente ao desenvolvimento de um estudo de caso, é a compreensão de uma instância singular, ou seja, o objeto pesquisado é tratado como único, uma representação singular e situada do contexto no qual está inserido (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 21). Desta forma cria-se uma especificidade tão grande na geração e discussão dos resultados encontrados que a reprodutibilidade deste em outro contexto se torna dificultosa.

Com relação à análise documental, Ludke e André (1986) relatam que, embora pouco explorada na área da educação, pode se constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja completando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema.

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45 Por se tratar de um ecossistema praticamente desconhecido pelos alunos e por falta de um material didático sobre a canga, foi desenvolvida uma cartilha para o ensino fundamental II, inovadora no assunto em questão, que permitiu ao aluno conhecer o contexto ecológico e a importância das áreas de canga, que atualmente sofrem forte intervenção predatória por parte da atividade mineradora na região de QF.

A cartilha contém 41 páginas, produzidas em colaboração com o Instituto Prístino, uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Um protagonista foi criado para introduzir e discutir os temas associados à canga e auxiliar no desenvolvimento das propostas, tornando-se um agente, mesmo que na forma de um signo, facilitador do processo de abordagem do conhecimento ou assunto relacionado (Figura 14)

Figura 14: Signo do cacto Arthrocereus glaziovii. Fonte: Leandro Márcio Moreira.

Imagem

Figura 1: Limites do Parque Nacional da Serra do Gandarela. Fonte:Site Águas do Gandarela
Figura 2:Localização das áreas de canga do Brasil. Fonte: Adaptado de Carmo (2012)
Figura 4: Em primeiro plano, uma planta rara, da família das verbenáceas (Stachytarpheta ajugifolia), cresce  sobre a canga, no Quadrilátero Ferrífero
Figura 5:Heterogeneidade ambiental e as diversas fisionomias vegetais encontradas em cangas no Quadrilátero  Ferrífero
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