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DOS ESTADOS UNIDOS PARA O CORAÇÃO DE SALVADOR

VI. ILUSTRAÇÕES E ANOTAÇÕES

5 DOS ESTADOS UNIDOS PARA O CORAÇÃO DE SALVADOR

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Neste capítulo, a trajetória considerada promissora de Teresa Cabral à frente do Studio de Dança e do Grupo Studio será discutida. Tentarei apontar os elementos da dança e aspectos sociais que possibilitaram tal desenvoltura. Considerando a declaração de Rui Gigliotti sobre o apreço de Teresa Cabral pela Escola de Dança da UFBA e os indícios de atitudes depreciativas com relação às suas escolhas profissionais - porque técnicas, possivelmente ela viveu o confronto de ter, durante a década de 1970, o reconhecimento local, nacional e internacional de seu trabalho a partir da técnica da dança moderna pela via de seus espaços profissionais particulares, enquanto recebia o menosprezo em solo soteropolitano e universitário, por sua atuação estar em dissonância com os fundamentos estéticos da dança expressionista ou das vanguardas políticas associadas à dança pós-moderna.

No que se refere ao trânsito entre formação e atuação profissional, a conclusão do segundo curso superior, por Teresa Cabral em 1970, parece ter se configurado como um divisor de fases com relação à receptividade de suas investiduras profissionais pela sociedade soteropolitana. De uma vivência majoritariamente observadora com relação ao percurso do GDC até o final daquela década, sua carreira no início de 1971 foi anunciada como um misto de embevecimento - pela sua beleza e graciosidade cênica - e grande admiração pela ousadia com a qual se lançou seguidamente em novos projetos e grandes feitos para o mundo da dança em Salvador. Mais ainda, acredito que tal destaque se deu por todas aquelas realizações insurgirem de uma mulher jovem e bela, mas também dinâmica e competente.

Entre 19 e 24 de janeiro de 1971, Teresa Cabral esteve em cartaz no Teatro Castro Alves como solista convidada no espetáculo Diabruras da Bahia, do Grupo Folclórico

Olodumarê. Sua passagem pelo grupo foi registrada e ganhou destaque de Nilda Spencer38,

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“Nilda Spencer (1924-2008) nasceu em Salvador, no bairro Canela, no dia 18 de junho de 1924. Nasceu bem próximo onde futuramente seria por muitos anos o seu “lar”, a Escola de Teatro. [...] Ao ingressar na Escola, Nilda Spencer teve a oportunidade de trabalhar com vários diretores e atores convidados de outros estados e de outros países, como Ana Edler, Othon Bastos, Brutus Pedreira, J.H. Koellreuter, Georg Aznour, Maria Fernanda, Sérgio Cardoso, Gianni Rato, Antônio Patino, Dulcina de Moraes, José Possi Neto, entre outros. [...] Nilda participou da primeira turma de formandos da Escola de Teatro em 1959 juntamente com João gama, Roberto Assis, Othoniel Serra, Jurema Pena, Maria Ivandete, Julieta Bispo, Sônia dos Humildes e Lia Mara. [...] Em 1961, com a saída de Martim Gonçalves da direção da Escola ela assume interinamente a direção, sendo substituída em 1965 por Antônio de Carvalho Assis Barros. Foi diretora mais três vezes da Escola de Teatro, sendo eleita sempre por unanimidade, mas em todas enfrentou grandes dificuldades financeiras, mas também políticas. Suas gestões atravessaram a ditadura militar e em muitos momentos teve junto com seus colegas de profissão, textos dramáticos censurados, peças proibidas ou cortadas. [...] No Cinema a atriz Nilda Spencer também brilhou participando de vários filmes. [...] Na Televisão participou em 1981 de Rosa Baiana, novela da TV Bandeirantes, rodada na Bahia. Em 1984 participou da minissérie da TV Globo, Tenda dos Milagres e em 1985 da minissérie O Pagador de Promessas. O curriculum de Nilda Spencer é múltiplo e vasto, a exemplo de sua participação como colunista diária, a partir de 1969, do Jornal Tribuna da Bahia e muitas outras atividades [...].” Disponível em http://www.teatro.ufba.br/escola/galeria_nilda_spencer.htm. Acesso em 05 de março de 2013.

que assinava, então, a coluna Teatro do jornal Tribuna da Bahia39. Oportunamente, essa foi a primeira de centenas de artigos e notas que documentaram o percurso profissional de Teresa Cabral em Salvador, no Brasil e na Alemanha durante aquela década. A matéria possui sua foto e discorre sobre o grupo Olodumarê - de Camisa Roxa - e a Companhia Brasiliana - de Domingos Campos, ambos os trabalhos inspirados na cultura popular regional. O texto relata ainda a participação dos dançarinos do Grupo de Dança Contemporânea da UFBA:

[O espetáculo] conta ainda com artistas vindos da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, como Carmen Paternostro, Lígia Araújo, Ana Maria, Marlene, Denise, Heloisa, Solange C. Monteiro (dança com muito charme) e Teresa Cabral, que faz muito bem alguns dos solos do Espetáculo. Teresa, que vem se revelando uma grande dançarina, começou os seus estudos há oito anos atrás com Laís S. Góes e Dulce Aquino. Desde então vem se aperfeiçoando cada vez mais e, muito interessada que é, vem demonstrando o resultado do seu trabalho, agradando a todos que a assistem. Teresa entretanto tem muitos planos, mas confessa que ainda é muito cedo para falar. O que ela realmente deseja é continuar na sua atividade para progredir cada vez mais. São seus partners nos números Lundu e Capoeira do Amor, Júlio Vilan e Roberto Montenegro respectivamente. Bons dançarinos que já confirmaram o valor que têm, através de outras apresentações.

O programa40 apresenta dados relevantes quanto à proposta artística do espetáculo, o

entrosamento entre artistas de núcleos distintos e a relação do grupo com os órgãos públicos. Com relação ao TCA, por exemplo, há no programa o agradecimento pela cessão gratuita de pautas para ensaio em salas e no palco do teatro. Quanto à proposta estética do grupo, o programa ressalta tanto o perfil “negro” do espetáculo, quanto a integração de camadas populares com universitários, visando “um produto brasileiro”.

Ao final daquela temporada, Teresa Cabral partiu para os Estados Unidos em viagem de aprimoramento profissional, não sem antes receber o carinho e o reconhecimento da equipe do espetáculo pelo seu trabalho e companhia, que lhe homenageou com flores e um cartão

coletivo41. A iniciativa do grupo teve representatividade também na mídia jornalística. A

cobertura do fato, mais uma vez por Nilda Spencer, aproxima-se de um padrão de idolatria como a que ocorre atualmente em relação aos artistas populares, dando ao público a oportunidade de participar de momentos importantes da vida do artista. Também parece

39 Considerando o fato de que os documentos jornalísticos existentes no acervo de Teresa Cabral apresentam restrições de referências [data, fonte, autor etc] e, por consequência disso, ser necessário organizá-los na busca por coerências e continuidade dos fatos narrados, optei por apresentá-los em ordem cronológica. Essa estratégia fere a norma da ABNT, entretanto resguarda a lógica dos acontecimentos e facilita o acesso aos dados no decorrer da narrativa. Pelas lacunas existentes, muitos documentos careceriam de fontes básicas para compor o quadro geral de referências da tese. Nesse sentido, tais documentos estão disponíveis nas referências na seguinte ordem de apresentação: data, fonte e título da matéria jornalística.

40 Imagens 33 e 34. 41 Imagem 35.

relevante o caráter familiar que se observa nesse tipo de texto, alimentando a narrativa conforme as matérias e chamadas sociais dos jornais impressos, respaldados pelo reconhecimento de cada núcleo familiar e social. Nilda Spencer foi, sem dúvida, o primeiro e imprescindível veículo de promoção da imagem da dançarina Teresa Cabral perante a comunidade de Salvador, com a transmissão em capítulos, da sua viagem e consequentes desdobramentos profissionais em sua terra natal:

Teresa Cristina Magalhães Cabral seguiu para os Estados Unidos em viagem de estudos, visando um maior aperfeiçoamento em balé, e antes de sua partida teve homenagem linda na sua espontaneidade, que lhe foi prestada pelos colegas do Grupo Olodumarê, da Escola de dança da UFBA e dos funcionários do Teatro Castro Alves. Quando estava em cena, na noite de sua última apresentação aqui, foi interrompido o espetáculo, e em público ela recebeu flores e presentes, e a manifestação do carinho e amizade de todos eles, expressa nas palavras que lhe foram dirigidas. Completamente tomada de surpresa dos acontecimentos – que ela nem por sombra suspeitava – Teresa Cristina mal pode agradecer à homenagem com que dela se despediam os amigos, tamanha era sua emoção. A moça bailarina fica por seis meses nos Estados Unidos, num curso intensivo de aperfeiçoamento, e depois retorna ao Brasil e à Bahia ao encontro dos pais Nelson e Maria Cabral.

No que se refere aos perfis dos jornais impressos que lhes prestaram o serviço do registro histórico e diálogo com a comunidade de Salvador ao longo da década de 1970, é importante ressaltar que são dos mais diversos. A contar pelas mídias locais de maior alcance social – Tribuna da Bahia, A tarde, Jornal da Bahia e Diário de Notícias -, todos dedicaram atenção semelhante às atividades profissionais de Teresa Cabral. Se considerarmos, por exemplo, a inclinação política e social desses jornais com relação ao estado de Ditadura Militar, é possível constatar que tanto o jornal A tarde, favorável às ações do governo, quanto o Tribuna da Bahia, representando a força de resistência política democrática, dedicaram semelhante espaço nas suas páginas para narrativa daquela trajetória profissional.

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Cartão referente à homenagem feita pela equipe de Diabruras da Bahia a Teresa Cabral, 1970. (acervo pessoal de Teresa Cabral)

Nos Estados Unidos, em 1971, Teresa Cabral realizou cursos na Merce Cunningham

Studio, na Martha Graham School e na The Alvin Ailey American Dance Theater/ The American Dance Center. Nas duas últimas, realizou novos cursos em 1977.

Conforme foi abordada no capítulo anterior, a formação em dança na UFBA oferecia um grande respaldo aos alunos, no que se refere às estéticas coreográficas que direcionavam os acontecimentos da dança conceitual no mundo àquela época. Entre as vertentes da dança moderna, houve maior identificação por parte de Teresa Cabral pela técnica de Martha Graham. Foi em busca deste aperfeiçoamento que ela permaneceu durante um ano nos Estados Unidos, incrementando seus estudos com as técnicas de jazz, balé clássico, Alvin Ailey e Merce Cunningham. Nesta última estética, caracterizada por elementos da vanguarda

pós-moderna, realizou curso de curta duração entre 24 de fevereiro e 30 de abril de 197142. É

relevante notar que, em nenhum momento, ela expressou identificação ou interesse em fazer repercutir tais estudos nos seus trabalhos em Salvador.

Na escola de Martha Graham, o processo foi mais duradouro e significativo. Após fazer os cursos de nível elementar elevado e intermediário avançado, realizou um curso intensivo de férias, conforme resumido na seguinte declaração:

A quem interessar possa: Escrevo a presente com referência a Senhorita Teresa Cabral – estudante junto ao The Martha Graham School desde março de 1971. Naquela ocasião ela matriculou-se no Curso Elementar Elevado e teve o mínimo de cinco aulas semanais. A senhorita Cabral continuou os seus estudos nesta forma durante o tempo restante de sua estadia nos Estados Unidos. Aumentou os seus estudos durante este inverno tomando parte d`um Curso de Natal, que é uma programação intensiva de estudos de técnica. Os seus trabalhos aprimoraram – de formas que passou em novembro de 1971 para a classe Intermediária-Avançada. No seu trabalho a senhorita Cabral demonstra estar cada vez mais ciente e convencida das disciplinas físicas necessárias para dançarinos. Ela estuda assiduamente e os seus trabalhos continuam melhorando. Com treinamento contínuo de dança a sua técnica poderá ser considerada grandemente avançada. Atenciosamente, Sally Graupner.43

Aparentemente, Teresa Cabral ampliou o período de cursos nos Estados Unidos, pois conforme a matéria de Nilda Spencer em janeiro de 1971, sua permanência seria de apenas seis meses. Ainda com relação aos cursos realizados, o interesse também foi expressivo pela

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Declaração de David Vaughan (Secretário da The Cunningham Dance Foundacion - Fundação Cunningham da Dança) do dia 06 de janeiro de 1972 e tradução juramentada para a língua portuguesa por Hermann H. Overbeck no dia 30 de abril de 1972.

43 Declaração da Martha Graham Center of Contemporary Dance em tradução juramentada para a língua portuguesa por Hermann H. Overbeck no dia 30 de abril de 1972.

vivência na Escola de Alvin Ailey, cuja declaração que foi direcionada à Universidade Federal da Bahia enaltece as qualidades artísticas e o empenho de Teresa Cabral.

Tem a presente carta por fim certificar que a senhorita Teresa Cabral foi estudante da nossa escola – The American Dance Center – com referência a Ballet e Técnicas Modernas e Jazz. A senhorita Cabral é uma estudante extremamente talentada, cooperativa e que trabalha duramente e não hesitamos afirmar que o seu progresso foi considerável com referência a todas as técnicas. Lamentamos extremamente que ela nos deixará para voltar ao Brasil, uma vez que estudantes como a senhorita Cabral e de seu calibre naturalmente são de enorme valor para uma escola como a nossa. Não temos a mínima dúvida que a carreira de professora da Senhorita Cabral não poderá ser outra senão de pleno sucesso. Cordialmente, Alwin Holtz (Diretor Administrativo - The Alvin Ailey American Dance Theather/ The American Dance

Center).44

Todas essas experiências foram detalhadamente contadas por Nilda Spencer na sua coluna do Tribuna da Bahia do dia 27 de janeiro de 1972, que acrescentou aos dados dos documentos citados os registros de outras atividades realizadas ao longo daquele ano, como a participação em espetáculos de televisão, a partir do curso na escola de Merce Cunningham e seus esforços em assistir a espetáculos e outros eventos de dança enquanto formação complementar em termos de fruição estética e teórica.

De volta ao Brasil, Teresa Cabral ainda investiu em cursos e projetos em prol de sua carreira profissional como dançarina e professora. Dançou com Clyde Morgan na Concha Acústica do TCA em janeiro e frequentou um curso de Técnica de Dança e Composição ministrado por ele no Rio de Janeiro entre fevereiro e março. No âmbito educacional, foi aprovada em segundo lugar num concurso público estadual para professor de dança, sendo convocada no mês de maio para assumir o cargo no Centro Integrado Luiz Tarquínio, onde realizou trabalhos premiados em encontros e eventos de estudantes secundaristas.

Pela estréia na participação das Olimpíadas da Primavera, tanto maior se faz o mérito da apresentação do Centro Integrado Luiz Tarquínio, que no desfile de sábado conseguiu as segundas colocações tanto na parte olímpica, quanto na alegórica, tendo o Centro Industrial de Aratu como tema. Com essa escolha, pretendeu o CILT evidenciar numa homenagem pública, a imagem do progresso que mais e mais se integra na Bahia, através das indústrias implantadas no CIA. E a elas, ou pelo menos, parte considerável delas, a diretoria do CILT (professores Fernando Loureiro e Terezinha Pugas Silva) seus alunos e professores (particularmente Teresa Magalhães Cabral, que sendo habitualmente responsável pelo curso de dança, ficou também com grande parte da responsabilidade da realização do desfile) fazem chegar seu reconhecido agradecimento. (TRIBUNA DA BAHIA, 25 out.1972).

Também o Diário de notícias evidenciou o evento e a premiação, dando maior destaque à figura de Teresa Cabral: “Teresa Cabral que além de diretora do Studio faz a sua

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prática com os alunos do Centro Integrado Luís Tarquínio está felicíssima com o resultado do desfile da Olimpíada Baiana da Primavera.” (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 26 out. 1972)

Em julho de 1973, viajou dirigindo a Equipe de Ginástica Solo da Delegação da Bahia para participar dos V Jogos Estudantis Brasileiros (Brasília), alcançou o sexto lugar. É possível observar nesse período um direcionamento de suas atividades para a área de Ginástica Olímpica. Embora comprometida com sua função, este direcionamento parece que não a agradava, posto que conste do dia 03 de julho a solicitação ao diretor do Departamento de Educação Física de redução de sua carga-horária semanal de 26h para 10h no Centro

Integrado Luiz Tarquínio, onde atendia à Equipe de Ginástica Olímpica Feminina.45

Esse concurso se configurou como um acontecimento político significativo para a área de dança, pois os professores foram contratados para atuar nesta área específica. Atualmente, o Estado da Bahia encontra-se em retrocesso quanto ao olhar sobre as artes e, diferente da prefeitura de Salvador, não oferece concurso específico para cada linguagem artística. Naquela ocasião, foram convocadas, juntamente com Teresa Cabral, as professoras Marlene do Nascimento Andrade, Ângela Maria do Nascimento Dantas e Lígia Margarida Leal Araujo.

Diante das diversas atividades que desenvolvia diretamente no universo da dança, artística e pedagogicamente, o trabalho na esfera do ensino formal, embora bem sucedido, não encontraria espaço por muito tempo. Há, nesses termos, um atestado da Secretaria de Educação e Cultura, de 08 de julho de 1975, excluindo-a da folha de pagamento desde maio daquele ano por falta de frequência. Foram, de qualquer forma, três anos de aplicação dos ensinamentos de dança na educação formal de jovens de Salvador, dado extremamente significativo para o desenvolvimento da dança na época.

Vale ressaltar que a experiência de ensino para adolescentes do Centro Integrado Luís Tarquínio lhe deu respaldo e deve ter influenciado a forma como ela discorreu sobre a prática docente em dança para este público na tese que apresentou à Escola de Dança da UFBA em 1974 e que foi registrada e analisada no terceiro capítulo deste estudo.

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Um adendo significativo desse período é a presença de Lúcia Maltez entre os professores da mesma delegação, responsável pela modalidade Ginástica feminina. Lúcia Maltez foi uma das crianças e, posteriormente, professoras que atuaram nos espetáculos infantis da Hora da Criança, constituindo juntamente com Isaura Gazineu e Odete Franco importantes representantes da atuação em dança (ensino particular e coreografia) na cidade antes da criação da Escola de Dança da UFBA. Mais detalhes sobre esse período podem ser encontrados no meu relatório do PIBIC (2003) ou em ARAUJO (2005).

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Teresa Cabral (ao centro) com a Equipe de professores do Centro Integrado Luís Tarquínio. (acervo pessoal de Teresa Cabral, s.d)

Mesmo envolvida em diversas atividades, Teresa Cabral não abandonou a Escola de Dança da UFBA e, tão logo voltou de viagem, retomou as atividades com docente e integrante do GDC. O vínculo que se manteve pode ser observado com o fato de que algumas das declarações emitidas pelas escolas de dança nos Estados Unidos foram endereçadas ao Diretor da Escola de Música e Artes Cênicas.

Ao mesmo tempo, ela também deu início aos encontros particulares com Êmina Silva e Vera Andrade que conformariam o que veio a ser o Grupo Studio, conforme explicou Lícia Morais no capítulo anterior. Ao recordar como conheceu Teresa Cabral e os caminhos que levaram à sociedade no Studio de Dança, Vera falou muito sobre a personalidade de Teresa Cabral, a forma como ela geriu o Studio de Dança e como a proposta de ensinar Dança moderna em Salvador supria uma necessidade da sociedade soteropolitana de se integrar ao que estava sendo construído pela Universidade enquanto conhecimento sobre a dança.

Minha relação com Teresa começou na disciplina Coreografia em Grupo porque, quem era do 1º ano era cobaia, dançava para o pessoal do 2º ano. Então, começamos a nos entrosar nessa matéria. Mas antes de tudo, quando eu entrei no pré- universitário, eu fui convidada para entrar no Grupo de Dança Contemporânea, do qual Teresa também fazia parte.

Teresa Cabral era uma pessoa altamente dinâmica. Então, nos intervalos, enquanto a gente ficava conversando, ela ficava no tricô. Eu nunca vi uma pessoa tão habilidosa com as mãos. Se ela não fosse uma dançarina e uma professora de dança, ela seria uma grande empresária, porque ela tinha talento para isso. Ela seria uma grande costureira, uma grande pintora. Ela seria uma decoradora, porque se ela chegasse aqui, ela mexia, dava um toque e ficava espetacular. Ela tinha esse dom de trabalhar com as mãos e ter muitas ideias e um bom gosto. Então, não era só dança que eu via em Teresa Cabral. Principalmente naquela época do Studio, eu via uma grande empresária. Alguém já disse assim: “Podemos comparar Teresa à Dalal Achcar”. Ela

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