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He drew a house.] Ele desenhou uma casa.

O mesmo experimento aplicado em adultos: Adulto: [He drew a house.]

Ele desenhou uma casa.

(Schaeffer & Matthewson, 2005: 54)

Schaeffer & Matthewson (2005) trazem evidências de que a substituição do determinante indefinido pelo definido observado na aquisição típica ocorre em contextos específicos, principalmente com o indefinido referencial, ou seja, em contexto em que apenas o falante possui conhecimento sobre o referente.

As autoras justificam esse fenômeno como uma falha pragmática, mais especificamente, uma falha no conceito pragmático denominado CNSA (Concept of Non-

Shared Assumptions), pelo que se supõe que os conhecimentos do falante e do ouvinte são

sempre distintos. A não aquisição deste conceito, seja por questões maturacionais ou pela presença de um déficit, acarretaria na ausência do reconhecimento por parte do falante de diferenças entre a sua pressuposição acerca do referente e a de seus interlocutores.

Já Wexler (2003) assume que as dificuldades da criança típica na escolha do tipo de determinante decorrem do não reconhecimento da pressuposição de unicidade inerente ao determinante definido.

Com base em Heim (1991), o autor propõe a hipótese de Maximalidade e assume que o determinante definido pressupõe a seleção de um único ou do máximo de itens específicos no discurso. O determinante indefinido, por outro lado, seleciona um item dentro de um conjunto de outros itens semelhantes, deixando de lado outros referentes possíveis.

Em uma sentença como em (16a), o determinante definido presente no sintagma definido [o rapaz chegou] seleciona o máximo de itens específicos e relevantes no discurso em que há um rapaz e uma moça. A escolha de qualquer um dos referentes por meio do determinante definido é feliz pragmaticamente e satisfaz o princípio de maximalidade.

(16)

a) Um rapaz e uma moça foram convidados para a palestra. O rapaz chegou. b) Três rapazes foram convidados para a palestra. #O rapaz chegou.

O determinante definido presente no sintagma [o rapaz chegou] em (16b), diferentemente do que ocorre em (16a), torna a sentença infeliz pragmaticamente, pois há um conjunto com mais de um item semelhante, ou seja, três rapazes. Neste caso, o determinante definido singular não seleciona o máximo (todos) de rapazes do discurso, o que ocorreria apenas na presença de um determinante definido plural, como ocorre em (16c). Para o determinante definido plural, a pluralidade máxima de rapazes no discurso [os rapazes chegaram] satisfaz a condição de maximalidade.

Munn, Miller & Schmitt (2006) admitem a possibilidade de uma outra explicação para o uso exaustivo do determinante definido. Para os autores, a criança típica erra no mapeamento semântico do determinante, ignorando regras implícitas a essa categoria funcional, o que os autores denominam como erro na Restrição de Domínio. Retomaremos esse assunto, assim como, a Hipótese de Maximalidade (Maximality Hypothesis), mais adiante, no capítulo II.

Com relação ao processo de aquisição atípico, o que se observa em crianças acometidas pelo Déficit Específico de Linguagem (DEL) ou pela Desordem do Espectro Austístico (DEA) é a substituição do determinante definido pelo indefinido (Polite, Leonard & Roberts, 2011; Chondrigianni & Marinis, 2015, por exemplo).

Schaeffer, van Witterloojstuijn & de Haan (2014) assumem que essa dificuldade apresentada por crianças com DEL deve-se a um déficit sintático, enquanto que para as crianças com DEA tal dificuldade é resultante de um déficit pragmático em realizar o cálculo de implicatura escalar. Essa hipótese será apresentada mais detalhadamente no capítulo III.

Com base nessas hipóteses, iremos supor para os sujeitos SD, quando na presença de uma falha no reconhecimento da maximalidade inerente ao determinante definido, a ocorrência de dificuldades na compreensão tanto do determinante definido singular, quanto do determinante definido plural. Por outro lado, se houver um déficit na Restrição de Domínio, então, os sujeitos com SD irão apresentar dificuldades apenas com o determinante definido singular, uma vez que este determinante restringe os itens do discurso em função da singularidade e da especificidade. Vejamos o quadro 1 para as predições acerca da compreensão do determinante pelos sujeitos da pesquisa.

Quadro 1: Predições para os sujeitos SD – compreensão de determinantes

Falha no reconhecimento da

maximalidade/unicidade: os sujeitos SD deverão apresentar dificuldades na compreensão tanto do determinante definido quanto do indefinido.

Falha na Restrição de Domínio: os sujeitos SD deverão apresentar dificuldades com o determinante definido singular, o qual possui maior número de restrições.

O uso exaustivo do determinante definido em lugar do indefinido em contextos específicos, principalmente substituindo o determinante indefinido referencial, é previsto quando houver uma falha no conceito pragmático CNSA. Enquanto que uma falha no cálculo da implicatura escalar levará ao uso excessivo do determinante indefinido em contextos em que se espera o uso do definido.

Quadro 2: Predições para os sujeitos com SD – produção

Falha no CNSA: os sujeitos com SD irão apresentar uso exaustivo do determinante definido em contextos com indefinido referencial.

Falha no cálculo da implicatura escalar: os sujeitos irão apresentar uso exaustivo do determinante indefinido em contextos em que se espera o uso do definido.

3.0 Os dados

Os dados sobre a aquisição da definitude e o uso do determinante no PB foram obtidos por meio de três experimentos, como citado anteriormente, em que se observou a compreensão e a produção eliciada de crianças, adolescentes e adultos, típicos e com SD.

Os sujeitos atípicos foram diagnosticados com SD pelos profissionais da APAE de São Paulo, onde se encontram em acompanhamento pedagógico e em formação profissional para inclusão no mercado de trabalho. Ao todo participaram 31 sujeitos, sendo 26 crianças e adolescentes, com idades entre 6 e 13 anos, e 5 adultos, com média de idade de 26,5 anos.

As 23 crianças típicas, com idades entre 3 e 6 anos, foram selecionadas de um colégio particular de Jundiaí, tendo como critério de seleção a ausência de dificuldades na aquisição da linguagem. Além das crianças, 5 adultos típicos, falantes do PB, com média de idade de 22 anos, compõem o grupo controle.

Cada experimento terá um capítulo específico, reservado para a sua apresentação, para a análise estatística e discussão dos dados.

4.0 Organização da tese

O texto está organizado da seguinte maneira: o próximo capítulo (capítulo II) traz em maiores detalhes os conceitos de definitude e referencialidade intrínsecos ao sistema de determinantes, além disso, esse capítulo é destinado, também, à caracterização da estrutura do sintagma determinante, ou DP, na gramática do adulto.

O terceiro capítulo é dedicado a uma breve revisão bibliográfica sobre o que se sabe acerca da aquisição típica do conceito de definitude. Daremos ênfase aos estudos de Wexler e sua Hipótese de Maximalidade (Wexler, 2003), à pesquisa de Munn et al. (2006) em que os autores contrapõem a hipótese de Wexler à Hipótese de Restrição de Domínio, uma vez que ambas as pesquisas trazem propostas teóricas mais próximas ao que queremos propor para os sujeitos com SD. A pesquisa de Schaeffer & Matthewson (2005) é igualmente abordada por se tratar de um trabalho que traz predições semântico-pragmáticas sobre a escolha do determinante na gramática da criança.

Schaeffer & Matthewson (2005) trazem uma hipótese interessante, aproximando a pressuposição de campo comum à Teoria da Mente (TdM), ao assumirem que o uso exaustivo do determinante definido por crianças típicas seja decorrente de uma falha no conceito pragmático CNSA. Dessa forma, o capítulo III apresenta uma breve revisão acerca da TdM, inicialmente em crianças típicas e, no decorrer do capítulo, na SD.

Do mesmo modo, a aquisição atípica desses conceitos é discutida nesse mesmo capítulo. Em função da suposta inexistência de pesquisas correlacionando SD e definitude, trataremos da aquisição em outras patologias da linguagem, em especial, DEL e DEA, por ambas serem duas das patologias mais pesquisadas na área. A partir dos resultados obtidos com ambas, traçaremos as hipóteses para a SD.

Os capítulos IV, V e VI trazem a apresentação da metodologia utilizada, os resultados e, consequente discussão dos mesmos para os experimentos 1, 2 e 3, respectivamente.

A discussão geral e a conclusão, ambas com base nos dados obtidos nos três experimentos, estão localizadas no último capítulo da tese.

CAPÍTULO

II

UM FALANTE ADULTO AO ESCOLHER UM DETERMINANTE DURANTE O SEU DISCURSO PRECISA CONHECER AS