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O DSM I foi preparado pelo Comitê de Nomenclatura e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana. Publicado no ano de 1952 pela Associação Psiquiátrica Americana (APA) em aliança com o serviço de hospital mental de Massachusetts, Estados Unidos, o DSM I foi organizado com ideias sobre os transtornos mentais com o interesse de amenizar o sofrimento psíquico dos sujeitos então compreendidos dentro de categorias como, por exemplo, a esquizofrenia e as psicoses.

Tal manual, bem como, seu sucessor, estava baseado em uma leitura psicanalítica dos sujeitos entendidos como doentes mentais. Na década de 50, o mundo se reorganizava da Segunda Guerra Mundial e diferentes Estados investiam na reconstrução de seus países e povos.

DSM-I DSM-II DSM-III DSM-IV DSM-5

AUTISMO 2 0 55 9 5 AUTISTA 2 2 1 73 187 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

Presença dos termos autismo e autista em cada

edição do manual

Nesse sentido, a psicanálise foi fundamental para problematizar as ações humanas diante das milhares de mortes geradas pela busca de poder. Os estudos de Sigmund Freud, considerado o precursor da psicanálise, foram basilares para a Medicina, em especial, para a Psiquiatria dessa década. No DSM, o termo “reação”, por exemplo, foi muito usado nos primeiros dois DSMs, sendo praticamente extinto na mudança de perspectiva para o DSM-III, em função da influência da biologia.

Na busca pelas palavras autismo e autista neste DSM, ambas foram encontradas por duas vezes. A primeira vez em que a palavra autismo aparece está localizada na seção II — sob o título “Definição de Termos” e subtítulo “Expressões Qualificadas”. O autismo aparece como um sintoma específico somado a outros sintomas que caracterizam o “Transtorno Psicótico”, portanto, o autismo (não explicado no manual) é sugerido como um dos comportamentos do sujeito com transtorno psicótico.

Agrupados sob os Transtornos Psicóticos estão: (1) distúrbios afetivos, caracterizados por perturbação grave do humor, com alterações associadas ao pensamento e ao comportamento, em harmonia com o afeto; (2) reações esquizofrênicas, caracterizadas por distúrbios fundamentais nas relações da formação conceitual e da realidade, com distúrbios intelectuais, comportamentais e afetivos marcados por uma tendência a recuar da realidade, por comportamento bizarro, por perturbações no fluxo do pensamento e por formação de delírios e alucinações; (3) reações paranoicas, caracterizadas por delírios persistentes e outras evidências do mecanismo projetivo (APA, 1952, p. 12).

A partir desse agrupamento, uma reação psicótica pode ser definida como aquela em que a personalidade, em sua luta pela adaptação às estresses internos e externos, mostra grave perturbação afetiva, autismo profundo e a retirada da realidade e / ou formação de delírios ou alucinações (APA, 1952, p. 12, grifo meu).

Ainda na mesma seção, mas sob o título “Transtornos da origem psicogênica ou sem causa física claramente definida ou mudança estrutural no cérebro”, a palavra autismo aparece pela segunda vez, novamente sob o subtítulo de “Transtorno Psicótico”. Nesse título também aparece a palavra autista, pela primeira vez. No item “000-x20 Reações Esquizofrênicas” há nove formas possíveis de reações, dentre elas uma nomeada como “000-x24 Reação Esquizofrênica do tipo paranoica” e a “000-x29 Reação Esquizofrênica do tipo infantil”. Estas expressões anunciam o seguinte:

000-x24 Reação esquizofrênica do tipo paranóica

Este tipo de reação caracteriza-se por um pensamento autista, irrealista, com conteúdo mental composto principalmente de delírios de perseguição e / ou de grandeza, idéias de referência e muitas vezes alucinações. É muitas vezes caracterizada por comportamento imprevisível, com uma atitude bastante constante de hostilidade e agressão. A religiosidade excessiva pode estar presente com ou sem delírios de perseguição. Pode haver um sistema ilusório expansivo de onipotência, gênio ou habilidade especial. Os estados hipocondríacos paranóicos sistematizados estão incluídos neste grupo (APA, 1952, p. 26-27, grifo meu).

000-x28 Reação esquizofrênica do tipo infantil

Aqui serão classificadas as reações esquizofrênicas que ocorrem antes da puberdade. O quadro clínico pode diferir das reações esquizofrénicas que ocorrem em outros períodos de idade devido à imaturidade e plasticidade do paciente no momento do início da reação. As reações psicóticas em crianças que manifestam, principalmente, autismo serão classificadas aqui. Sintomatologia especial pode ser adicionada ao diagnóstico como manifestações (APA, 1952, p. 28, grifo meu).

Nesse momento do DSM, o autismo é entendido como um comportamento e afirmado como doença. Até então, não havia elementos suficientes para trata-lo como algo específico ou, se quisermos, como um diagnóstico exclusivo. Os estudos do psiquiatra Leo Kanner ainda não tinham o alcance por ele desejado. Ambas as palavras, autismo e autista, foram usadas nesse momento para identificar, para dar identidade a um sujeito com transtorno psicótico que poderia ter uma reação esquizofrênica e um comportamento, uma forma, uma manifestação autista, dentre outras reações possíveis.

A segunda, e última, vez em que a palavra autista aparece, está sob o título “Transtornos de Personalidade” e sob o item “000-x40 Transtornos do padrão de personalidade”. Neste, o item “000-x42 Personalidade Esquizoide” mostra a palavra autista no seguinte contexto:

As características inerentes a tais personalidades são: (1) evitar relacionamentos próximos com os outros, (2) incapacidade de expressar diretamente hostilidade ou mesmo sentimentos agressivos comuns e (3) pensamento autista. Essas qualidades resultam no início da frieza, distanciamento, desapego emocional, medo, fuga da competição e sonhos diurnos girando em torno da necessidade de onipotência. Como crianças, elas são geralmente calmas, tímidas, obedientes, sensíveis e criativas. Na puberdade, eles freqüentemente se tornam mais retraídos, manifestando então o agregado de traços de personalidade conhecidos como introversão, ou seja, quietude, exclusividade, "fechado", e a insociabilidade, muitas vezes com excentricidade (APA, 1952, p. 35, grifo meu).

Esses transtornos são caracterizados por um grau variável de desintegração da personalidade que falha em testar e avaliar corretamente a realidade externa em várias esferas. Além disso, indivíduos com tais transtornos falham em sua capacidade de relacionar-se efetivamente com outras pessoas ou com o seu próprio trabalho (APA, 1952, p. 24).

A primeira edição do DSM buscou se consolidar na área como um potente instrumento para a prática clínica. Portanto, o principal movimento observado é uma primeira organização, sinalizando o que pode ser abordado pelos psiquiatras e abrindo a continuidade dessas possibilidades. De fato, isso ocorrerá no DSM-II com uma mudança de paradigma aliada à indústria farmacêutica.