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4 AS INDAGAÇÕES METAFÍSICAS DE MARIO QUINTANA: IRONIA, RISO E

4.4 UMA NOVA REALIDADE EXISTENCIAL

4.4.2 A dualidade corpo e alma ou espírito

A Poesia completa (2005) de Mario Quintana reúne um número considerável de poemas sobre a morte nos seus mais variados aspectos. Obviamente, não foi possível compilar em nossa análise todos esses textos, mas as escolhas que fizemos são suficientes para demonstrarmos que o autor pensou o perecer em todas as fases que a sua mente pôde alcançar: tratou-a como destino final, como rito de passagem para a liberdade da alma e como nova realidade existencial. Refletiu igualmente sobre essa nova condição existencial no seu duplo aspecto de constituição: corpo e alma ou espírito.

Mencionamos algumas vezes como Aristóteles identificou a formação humana: matéria, forma (alma) e sínolo. Quintana, além de usar o termo alma, refere-se igualmente a espírito, talvez influenciado por doutrinas religiosas que consideram espírito e alma como quase sinônimos, sendo a última uma alusão à união do espírito com a matéria enquanto o homem vive na Terra. Não queremos dizer com isso que o escritor seja adepto ou simpatizante dessas religiões, mas que tenha considerado usar os termos talvez para atingir todas

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oema “O Imortal Amor”: “Dante exagerou: Paolo e Francesca não poderiam sofrer tanto assim, pois mesmo no Inferno continuavam juntos. Ou quem sabe se não seria exatamente este o castigo? Eternamente juntos!” (QUINTANA, 2005, p. 647). Neste texto, o poeta, apesar de questionar o castigo que lhes impôs Dante, na última frase refere uma possível punição ao empregar o advérbio “Eternamente” que dá a ideia de ser cansativo e, portanto, realmente uma punição ficarem os amantes adúlteros para sempre juntos.

as pessoas, já que o caso do espírito Humberto de Campos, analisado anteriormente, não poderia ser abordado de outra forma.

Assim, nesta parte, desejamos destacar alguns poemas – além dos já utilizados por outros motivos –, em que o poeta demonstra o seu pensamento sobre a estrutura dos indivíduos. Em “As almas e as coisas” (CH), examina quando exatamente o homem se torna alma:

Nós seremos almas quando nos despojarmos de tudo, dizem...

Mas que seremos nós sem os nossos pertences, os nossos achaques, todos os nossos inclusives?

Nós somos o que temos e o que sofremos.

E a coisa mais melancólica deste e do outro mundo é um cachorro sem pulgas (QUINTANA, 2005, p. 360).

Acreditamos que, neste caso, o conceito de alma esteja mais de acordo com a teoria aristotélica, pois em O Livro dos Espíritos (2002), obra que consultamos sobre a diferença entre alma e espírito, quando estivermos livres até do corpo seremos simplesmente espírito, não alma, pois assim é considerada pela religião espírita apenas quando ligada à matéria.

Conforme temos verificado durante a análise dos textos, o poeta se posiciona como um indagador, com a finalidade de entender o significado do mundo e de todas as coisas que o cercam. Nos dois primeiros períodos do poema, podemos perceber essa postura inquiritiva. Sabe que despojar-se significa libertar-se de tudo, até das amarras terrenas, mas não dá por encerrada a questão apoiando-se no verbo “dizem”, seguido de reticências. Desse modo, demonstra que ainda não está bem convencido. A pergunta prepara a conclusão, porque parece acreditar que levamos, ao menos, a nossa personalidade ou individualidade, inclusive já havia dito que a morte não melhora ninguém (subcapítulo 4.3.3 A porta para o outro mundo: libertação da alma e passagem). Só pode levar, enfim, o que o define. Se não fosse dessa maneira, chegaria do outro lado como “um cachorro sem pulgas”.

E quando cessada a vida orgânica, está finalmente o espírito livre do corpo. É a tal libertação da qual tratamos no subcapítulo referido no parágrafo anterior. Para Quintana em “Reflexão para o Dia de Finados” (VSD),

que todas as crianças têm...

O Motivo? Só elas sabem muito bem: Fugir... Fugir de casa!

(QUINTANA, 2005, p. 904)

Ao fazermos uma analogia com a teoria de Aristóteles, verifica-se que o poeta pensa a morte como um desprender-se do corpo, da “casa” que habita. O humor empregado denota uma possível ansiedade de libertação ao querer “fugir” da matéria. Quando finalmente escapa, sente-se aflita com as novidades sobre si mesma, apontadas em “Surpresa” (CH) e em “A indumentária” (DPMT). No primeiro poema, brinca o autor: “O mais desconcertante da morte é quando a gente descobre que a alma não tem sexo”. (QUINTANA, 2005, p. 354); no segundo, aborda novamente a sexualidade37 das almas e o porquê da

vestimenta dos fantasmas:

– Por que os fantasmas sempre aparecem vestidos? Sendo a morte um segundo nascimento, por que não surgem ao natural, tal como chegaram a este mundo? Será que o Outro Mundo tem desses puritanismos? Nada disso! É que os fantasmas ficam com vergonha de que a gente descubra que as almas não têm sexo (QUINTANA, 2005, p. 654).

Apesar de o riso nos acontecer naturalmente ao terminamos de ler o poema por imaginarmos o constrangimento dos fantasmas, as perguntas de Quintana apontam para uma profunda meditação acerca da sobrevivência da alma. Indagar o motivo de estarem as almas vestidas no Outro Mundo, quando aqui nascem nuas, sugere um ciclo natural de existência: nascem neste e no outro mundo. A indumentária aqui é apenas um meio bem-humorado de pensar e reafirmar as suas dúvidas. Esse carrocel a que estão submetidas, foi pensando pelo poeta em poema publicado antes desse. Em “Do sobrenatural” (SF), descreve os barulhos mal percebidos durante o devaneio noturno para, em seguida, revelar o que realmente lhe causa espanto: as vozes chegadas do além, anunciadas no pranto dos recém-nascidos.

37 O fato de repetir esse tema duas vezes, nos instigou a buscar informação sobre o sexo das

almas na literatura espírita, somente a título de curiosidade. As respostas dos espíritos às indagações sobre o assunto, localizadas nas páginas 134 e 135 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, indicam que eles não têm sexo. Quando retornam ao mundo material, podem assumir tanto um corpo de homem, como um de mulher.

Tudo faz parte da curiosidade existencial do poeta, da sua ansiedade por respostas. Enquanto ser ontológico, cria várias definições para a situação do homem após a morte. É tal a sua busca que, em “Da alma” (CH), define-a como fez Heidegger em relação ao ser-aí do homem: “A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.” (QUINTANA, 2005, p. 315).

Segundo o filósofo alemão, quando nos lançamos na totalidade, a fim de encontrarmos respostas para nossas inquirições, ocorre o instante de manifestação e transcendência do pensamento, uma irrupção do ser do ente. Nesse breve momento de expansão, podemos compreender as coisas e nossas indagações se realizam como possibilidades de respostas. Para Aristóteles, a alma seria, além de princípio anímico do corpo, o intelecto do homem. Há, pois, uma aproximação do pensamento do poeta com essas teorias. O adjetivo “coisa” reforça a falta de certezas de definição. Por tudo isso, enquanto vivo, Quintana traduziu o mal-estar gerado pelas questões metafísicas. No poema “Do espírito e do corpo” (EM), mostra que o espírito, embora ligado à matéria, pode seguir em diferentes direções:

O espírito é variável como o vento,

Mais coerente é o corpo, e mais discreto... Mudaste muita vez de pensamento, Mas nunca de teu vinho predileto... (QUINTANA, 2005, p. 216)

O texto se organiza em torno da dualidade material e imaterial. Sendo a alma o intelecto, torna-se variável, porque o pensamento atinge distâncias inimagináveis. O poeta considera o corpo mais coerente e mais discreto por não poder se entregar a esses devaneios como ocorre ao espírito. Este, sim, pode voar como o vento, ganhar liberdade através do pensamento, mas o outro que o abriga, continuará sendo “o vinho predileto”, sobretudo por ser apenas a casa a sua gentil hospedeira.

Depois da passagem, a liberdade é ainda maior e pode andar à vontade por onde quiser, afinal, é um “fantasma”. O poeta brinca com a estrutura dessas individualidades depois da morte em “Nevoeiro” (CH): “Desconfio muito que, nos dias de nevoeiro, os fantasmas aproveitam para passear incógnitos pelas ruas...” (QUINTANA, 2005, p. 282). Misturam-se aos nevoeiros para não serem vistos, mas são espíritos, não seriam vistos de qualquer jeito. Esta é a

graça do poema, preocupados que estão os fantasmas em se esconderem. Diferente do que teria dito um pouco antes em “O incorrigível” (CH), como se os espíritos fizessem questão de se mostrar: “O fantasma é um exibicionista póstumo”. (QUINTANA, 2005, p. 236).

O poeta o define algum tempo depois, em “Fantasma” (PPI), como um “Pobre-diabo marginal entre dois mundos. Não usa sapatos.” (QUINTANA, 2005, 980). Por transitar nos dois mundos, é um ponto de contato entre os mundos material e invisível, ideia desenvolvida por Aristóteles quando definiu a forma como substância em mais alto grau. Realmente não pode usar calçados, porque, na atual condição em que se encontra, já está livre do corpo.

Mesmo com todas essas ponderações, as afirmações do poeta não se sustentam como verdades. São versões possíveis de respostas para as suas interrogações existenciais. Tanto é assim que atribui o susto aos habitantes das duas realidades. Em “Visões” (CH), diverte-se: “Os fantasmas também sofrem de visões: somos nós...” (QUINTANA, 2005, p. 379). O cômico da situação é aliviar o medo considerando o pavor que sentem os “outros” ao avistarem os vivos.

Como se pôde constatar, algumas vezes com um fino humor; e outras com ironia Mario Quintana encontra o seu modo de resolver os problemas existenciais, um meio de sobreviver à angústia, de confortar-se em relação a matérias que não podia ter qualquer gerência. Ao mesmo tempo em que adota essa postura para exorcizar suas aflições, eterniza a sua marcante e inconfundível voz na literatura brasileira. Além disso, alivia as tensões metafísicas do público ao observar as dúvidas e ansiedades do seu igual, nesse caso, do leitor em relação ao poeta.

CONCLUSÃO

Nesta parte da tese, temos a intenção de recuperar os objetivos apontados na introdução, com a finalidade de verificarmos se todos se confirmaram. A nossa proposta inicial era apresentarmos as indagações metafísicas de Mario Quintana, com o intuito de incluí-lo entre os poetas metafísicos brasileiros do século XX. Também desejávamos mostrar como o poeta reagiu ao caos instalado neste período ao confrontar o incognoscível. Além disso, interessava-nos sublinhar que os temas metafísicos sempre foram uma preocupação dos homens, por serem, antes de tudo, problemas existenciais a que os indivíduos se entregam em alguma fase da vida.

Para alcançarmos esses resultados, foi preciso traçar um longo percurso que dependia de respondermos a outras questões, as quais se transformaram igualmente em objetivos. Uma delas, era definirmos o que era metafísica e como a entendíamos para o desenvolvimento deste estudo, o que procuramos fazer logo no primeiro capítulo do trabalho. Utilizamos a hermenêutica heideggeriana como um método para compreendermos o comportamento e a transcendência do poeta na direção de entendimento. A ontologia existencial de Heidegger veio ao encontro do nosso pensamento por traduzir bem esse estado d’alma e por descrever a irrupção do ser do ente como um pensamento abstrato em busca da essencialidade das coisas.

Desejávamos, ainda, confirmar se a influência da estética simbolista no discurso poético de Quintana, justamente assinalada pela crítica especializada, seria igualmente responsável pelas suas perquirições, ou se estas eram consequência da sua formação cultural, ou resultado da sua condição e curiosidade humanas.

À resposta dessas perguntas dedicamos todo o capítulo quarto. Nossa ideia foi registrar o poeta gaúcho como um grande pensador do seu tempo. A profundidade de suas reflexões levaram-no, no que se refere às indagações

existenciais, a ignorar as questões sociais por tratarem das situações imediatas dos homens, que podem ser resolvidas por eles mesmos. O poeta, mais introspectivo, encarou as máscaras da morte e do Eterno (no sentido de Deus e de eternidade), trazendo à tona os seus questionamentos metafísicos.

Na sua relação com o divino, é preciso considerar dois pontos: o poeta reflete sobre o modo como Deus é visto pela humanidade, de acordo com a crença e cultura vigentes. Nesse sentido, veste “máscaras” através da compreensão dos homens. Ao pensar sobre o assunto, Quintana mostra uma forte intuição de um Ser Superior. Garante que é um só, mas estagia de várias formas ao longo das eras, não apenas pelo modo há pouco descrito, mas porque isso também acontece conforme a evolução individual dos seres que O entendem de maneiras diversas, na medida em que vão ultrapassando as fases da vida (infância, adolescência, fase adulta, velhice).

Em outros momentos, talvez por estar inserido no meio da História do século XX, e presenciado – desde a tenra idade – os horrores e os conflitos acontecidos no Brasil e no mundo, o poeta se interroga sobre a real existência da divindade. A dúvida aparece de forma mais intensa por haver uma discrepância entre a possibilidade de haver um Ser que é a expressão máxima do Amor e do Bem; e o mal, o caos que se instalou nesse período. Vale lembrar, que ainda assim Quintana não toma nenhuma posição definitiva e quando o faz, prefere escolher o que lhe é mais palpável, ou seja, a crença em Jesus Cristo, pela comprovação histórica da sua passagem na Terra. Indaga, mas não nega, nem rejeita Deus. Permanece em estado de suspeição.

No que se refere à sua relação com a eternidade, desde a hora da morte – porta de entrada para o desconhecido –, até o além-túmulo, o poeta traduz uma angústia um pouco mais significativa do que a que lhe ocorre ao meditar sobre Deus. E isso é perfeitamente explicável, pois a morte é a sua única certeza. Aquilo que pode, de verdade, amedrontá-lo. Só não sabe como ocorrerá e, tampouco, o que encontrará no além. Assim, os mistérios que envolvem o perecer se apresentam de modo mais efetivo em seus textos. Apesar de ser uma aflitiva incógnita, ela, a “cadela faminta”, chegará. Por esse motivo, se por um lado deixa transparecer claramente a sua ansiedade por ignorar como e quando essa ceifadora de vidas o conduzirá para a outra

realidade; por outro, lhe oferece, em alguns poemas, máscaras mais amenas, no intuito de suavizar o mistério que a envolve.

E porque são problemas comuns dos homens em todos os tempos, Mario Quintana busca nos seus iguais apoio para as suas meditações. Nos rastros de suas leituras espalhadas ao longo da sua obra, constatamos o diálogo com textos literários, filosóficos e religiosos e esses lhe servem tanto de inspiração, como de conforto. Afinal, olhar para seus pares em qualquer tempo e saber que também eles, sobretudo aqueles que admirou e aos quais pagou tributo em seus poemas não decifraram tais enigmas é, sim, um meio de conformação e diríamos, inclusive, de alívio para autor e leitor.

Sendo assim, em relação à temática e à profundidade dessas reflexões, não podemos engessar a poesia metafísica de Quintana como herança apenas do Simbolismo europeu, principalmente porque pertencem ao tecido da eternidade e o poeta identifica isso em seus poemas quando usa o intertexto para corroborar o seu pensamento. Deus, a morte, o além, a imortalidade da alma são, pois, indagações de um artista de todas as eras. Quintana é esse artista pertencente a todos os séculos, especialmente por ser o seu pensamento essencial parte de um pensamento coletivo.

Assim, há dois outros pontos conclusivos a serem considerados: observador e pensador do seu tempo deve, sim, figurar ao lado dos poetas metafísicos do século XX. E por ser a sua poesia um espelho não somente da sua alma, mas um reflexo da nossa, onde nos vemos, a cada instante, refletidos, é universal. Pensamos, enfim, que esse talvez seja um dos mais fortes aspectos que conferem universalidade à sua obra.

À falta de respostas para seus questionamentos, nesse projetar-se na direção de entender a significância de estar jogado nesse mundo e o que há para além dele, o poeta inventa possibilidades de interpretação. Exprime as suas aflições, seus medos, disfarçando-se em ironia e humor, um traço marcante da sua personalidade. Brinca muito seriamente na sua análise individual a respeito de tudo o que envolve a existência humana. Se não pode compreender, diverte-se rindo-se e fazendo rir. Registramos, todavia, que o seu riso não é niilista, pois ele não deixa de acreditar em Deus, como já o dissemos.

No que tange à morte, esse riso pode ser irônico em umas situações e bem-humorado em outras, mas também não é niilista, pois procura evidenciar um retorno dos espíritos à eternidade de forma circular, um possível retorno ao Criador, tal qual enfatiza Aristóteles em sua Metafísica. Mesmo guardando certa dúvida, sugere ser este um ciclo natural a ser cumprido pelas almas enquanto individualidades. Desse modo, ora estagiam do lado de lá, no misterioso outro mundo; ora do lado de cá, na Terra. Isso implica uma possibilidade de sobrevivência da forma ao corpo orgânico, assunto bastante discutido pelo artista, e salientamos que há muitos outros poemas não selecionados por esta autora que levariam adiante essas reflexões.

A seriedade do seu modo irônico e bem-humorado de expressão no que concerne à temática transcendental é a prova real de que o poeta se consagra, na sua Poesia completa (2005), como um dos mais importantes ironistas e humoristas de seu tempo, longe de querer compará-lo a um piadista, porque já afirmamos que o seu humor e ironia traduzem as suas aflições e desconforto ante a impossibilidade de respostas. O consideramos grande na concepção de Minois (2003), pois, para o teórico, o ironista apresenta um modo de ser individualista e antissocial, revelador de um quadro real da cultura; e o humorista moderno não se apega a um simples detalhe, mas à vida e ao seu sentido. No caso de Mario Quintana, substituiríamos o primeiro adjetivo “individualista” por introspectivo e conservamos o “antissocial” apenas no sentido de, em vista dos assuntos transcendentais, apresentar um certo desprezo à poesia engajada, uma vez que é o mistério da vida e da morte que o seduz.

Para encerrar, cabe-nos dizer, ainda, que ao chamarmos o poeta de pensador de seu tempo, não é nossa intenção atribuirmos a ele o título de filósofo, pois os poetas não têm qualquer compromisso com a verdade, como já havia adiantado Heidegger em sua teoria. Trata-se de uma curiosidade intrínseca ao homem de querer conhecer e é no espaço do poema que Quintana pode recuperar esses temas e discuti-los livremente. Incapaz de desvendá-los, uma vez que a mente humana é incompetente para tal engenho, entrega-se ao exercício do pensamento, sem, porém, nada resolver, até porque como afirma em “Epígrafe para uma História da Filosofia” (DPMT) “O exercício da filosofia nunca solucionou coisa nenhuma, é como jogar xadrez consigo

mesmo... Fica-se eternamente empatado.” (2005, p. 682). Usa o espaço do texto para exorcizar seus medos e ansiedades e para aproximar as realidades, “Pois a verdadeira poesia sempre foi um meio de comunicação com este e com o outro mundo.” (2005, p. 715), como reconhece em “O chá, os fantasmas, os ventos encanados” (DPMT).

Por fim, um último esclarecimento: durante nossa análise, ao invés de nos referirmos em alguns trechos ao sujeito poético ou ao eu lírico, preferimos dizer que o próprio Quintana sugeriu, argumentou, refletiu etc., a fim de estabelecermos o mais possível uma aproximação entre o poeta e as suas indagações metafísicas que emergem do si-mesmo e expressam uma linha de pensamento única. Os seus farrapos estão todos ali e para juntá-los, é preciso entender a unidade da obra, afinal, como justifica em “Apresentação” (DPMT): “Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.” (2005, p. 633). Ao usar a máscara do poema, se expõe, fica nu diante do leitor, sobretudo por ser “O poema/ essa estranha máscara/ mais verdadeira do que a própria face...” (2005, p. 337).

REFERÊNCIAS

ALIGHIERI, Dante. A divina comédia: inferno. Tradução e notas de Italo Eugenio Mauro. v. 1. São Paulo: Ed. 34, 1998.

ALIGHIERI, Dante. A divina comédia: purgatório. Tradução e notas de Italo Eugenio Mauro. v. 2. São Paulo: Ed. 34, 1998.

ALIGHIERI, Dante. A divina comédia: paraíso. Tradução e notas de Italo Eugenio Mauro. v. 3. São Paulo: Ed. 34, 1998.

ARISTÓTELES. De Anima. Apresentação. Tradução e notas de Maria Cecília Gomes dos Reis. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2012.

ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Editora Abril, 1979. ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo : Loyola, c2001. v. 1. ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, c2002. v. 2. ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, c2002. v. 3.

ARISTÓTELES. De anima. Tradução de Maria Cecília Gomes dos Reis. São

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