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CAPÍTULO I: FORMAÇÃO SOCIAL DO INTERIOR DO BRASIL: PECUÁRIA E

1.8 Duplo comércio: A atividade algodoeira e a pecuária na ocupação da região nordeste

Ao contrário do confronto enfrentado com a atividade canavieira, a atividade algodoeira conviveu em relativa harmonia com a pecuária. O algodão desenvolvido no nordeste setentrional encontra espaço sem ser necessário o confronto com o gado e nem a produção de subsistência em alguns casos dividiam o mesmo espaço territorial. Diferentemente da atividade canavieira, o algodão não formou uma sociedade hierarquizada com divisão de classes sociais. Assim como a cultura do gado, o algodão não necessitava do processo industrial o que facilitava o manejo deste. Desta forma o cultivo foi de fundamental importância para o crescimento do espaço produtivo do algodão que logo ganhou destaque no mercado regional, superando as demais culturas.

A espécie de algodão que se adaptou melhor as condições climáticas do semiárido nordestino foi à semente denominada (mocó) espécie arbórea de fibras longas. A pouca quantidade de chuva e o clima quente da região favorecia o desenvolvimento desta cultura agrícola. Desta forma, o avanço algodoeiro para o interior cresce rapidamente o que vem consolidar a ocupação territorial da colônia.

Alguns historiadores a exemplo de Moreira (1997), afirma que assim como o gado, o algodão também se torna responsável pelo surgimento de vilas e centros urbanos no interior do Nordeste, formando a rota do algodão. As vilas que teriam maior crescimento na segunda metade do século XVIII e início do século XIX em virtude do algodão apresentaram expressivo crescimento populacional e comercial. O exemplo clássico são as vilas de Campina Grande e Pombal na Paraíba, Caruaru e Petrolina em Pernambuco, Mossoró, Pau dos Ferros e Caicó no Rio Grande do Norte e Juazeiro do Norte, Aracati e Sobral no Ceará.

A expansão dos algodoais e a necessidade de um beneficiamento local do produto provocaram o crescimento populacional e a formação de novos grupos sociais no Sertão; o crescimento dos algodoais contribuiu, em grande parte, para a expansão da escravidão negra nas áreas de pecuária, no inicio do século XIX (...) (ANDRADE; 1996; p.107).

Ao contrário da pecuária bovina a qual era criado á solta á cultura do algodão careceu de um número elevado de mão de obra, pois os produtores precisavam de muitos trabalhadores tanto para a plantação quanto para o cultivo do produto e posteriormente a sua distribuição.

Finalizando a discussão desse primeiro capitulo procuramos demonstrar seguindo a historiografia da formação social e econômica do Brasil o papel que vai ocupado a cultura do algodão e do gado na ocupação e povoação do interior do Nordeste brasileiro. Essa ocupação não ocorreu de forma homogênea como na zona da mata litorânea região da povoação inicial. No interior por ser uma região extensa e pela importância da água, os primeiros núcleos de povoamento se deram as margens de alguns principais rios como o Piranha-Açu, Várzea Barris, Parnaíba, Jaguaribe e principalmente o São Francisco por onde através das suas margens se expandiram as fazendas de gado. A pecuária se expandiu para o interior da região a partir do confronto com a cultura da cana de açúcar na Zona da Mata nordestina, onde o gado por determinação da coroa, não poderia ocupar o mesmo espaço do canavial.

Andrade (1986), em seu texto intitulado “A pecuária e a produção de alimentos no período colonial”, nos chama atenção do ponto de vista econômico para o comércio proporcionado pela cultura da pecuária principalmente na região Nordeste, já que a mesma possuía um mercado vasto. Como e possível observar na passagem a seguir:

(...) contavam os pecuaristas com um mercado certo na aérea agrícola, que seria abastecido de carne, de couro e de animais de trabalho;... Formou-se assim, no Sertão – Nordeste semi-arido - uma sociedade pecuarista, dominada por grandes latifundiários, cujos detentores quase sempre viviam e Olinda ou Salvador, delegando a administração da propriedade a empregados (“...)”. (ANDRADE, 1986 p. 102 e 103).

A pecuária tornou-se de forma geral, a principal atividade econômica do interior da região Nordeste. A partir de sua prática surge outra atividade secundaria que veem ao seu complemento como a função do vaqueiro, tangedores e tropeiros responsáveis pela circulação dos produtos que abasteciam as comunidades, com as feiras que aconteciam nas vilas e povoados do sertão. Sobre essa temática, Linhares (1996), em sua abordagem sobre a expansão do gado para o interior afirma que: “Com o gado do Nordeste avança também o

algodão, e os laços comerciais com os centros de consumo do litoral portuário.” (LINHARES; 1996; P: 120), ou seja, com o avanço proporcionado pela expansão do gado o algodão também passa intensificar ainda mais o comercio já existente com os polos comerciais, assim como se expande e passa a formar novos grupos sociais.

Como afirma Andrade (1961):

A expansão dos algodoais e a necessidade de um beneficiamento local do produto provocaram o crescimento populacional e a formação de novos grupos sociais no Sertão;... Criaram as culturas do milho e do feijão associadas ao algodão e a mandioca. (ANDRADE 1961, p. 105-107).

As feiras de gado e a produção algodoeira foram o marco fundador de algumas vilas e povoados como o atual município de São José de Piranhas no sertão paraibano, onde a pecuária tem um papel muito importante na conjuntura econômica e social do município. A cidade se relacionava com as demais vilas através da atividade de comércio levada a efeito pela figura do tropeiro que através de rotas comerciais em especial a do algodão, eram responsáveis pela circulação e/ou troca de mercadoria entre São José de Piranhas e outras cidades a exemplo de Mossoró- RN, Cajazeiras, Campina Grande e Sousa PB, Crato, Juazeiro do Norte e Missão Velha CE dentre outras.

Um capítulo da história do município de São José de Piranhas como integrante e exemplo da expansão e formação do interior, via atividade comercial proporcionada pela cultura do gado e do algodão será abordado como objeto de estudo no capítulo seguinte cuja narrativa procuraremos mostrar o contexto histórico-cultural da atividade algodoeira, assim como o processo de comercialização do nosso denominado “ouro branco paraibano” nesse município, tendo como principais responsáveis pela condução desse tipo de comércio os tropeiros de São José de Piranhas PB, fonte de pesquisa dessa monografia.

CAPÍTULO II: SÃO JOSÉ DE PIRANHAS: O COMÉRCIO DE ALGODÃO E A