• Nenhum resultado encontrado

História e memórias de rotas de luta e de comércio no alto sertão: “experiências dos tropeiros de São José de Piranhas-PC (1940-1950)”.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "História e memórias de rotas de luta e de comércio no alto sertão: “experiências dos tropeiros de São José de Piranhas-PC (1940-1950)”."

Copied!
130
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS

NOEME TOMAZ DA SILVA

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE ROTAS DE LUTA E DE COMÉRCIO NO ALTO SERTÃO: “EXPERIÊNCIAS DOS TROPEIROS DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS-PB

(1940-1950)”.

CAJAZEIRAS-PB 2017

(2)

NOEME TOMAZ DA SILVA

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE ROTAS DE LUTA E DE COMÉRCIO NO ALTO SERTÃO: “EXPERIÊNCIAS DOS TROPEIROS DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS-PB

(1940-1950)”.

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado a Unidade Acadêmica de Ciências Sociais do Centro de Formação de Professores (CFP) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus Cajazeiras como requisito de avaliação parcial para conclusão do curso de História. Sob a orientação da Professora Dra Silvana Vieira de Sousa.

CAJAZEIRAS – PB 2017

(3)

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação - (CIP) Denize Santos Saraiva - Bibliotecária CRB/15-1096

Cajazeiras - Paraíba S586h Silva, Noeme Tomaz da Silva

História e memórias de rotas de luta e de comércio no alto sertão: “experiências dos tropeiros de São José de Piranhas-PC (1940-1950)” / Noeme Tomaz da Silva. - Cajazeiras, 2017.

128p. :il. Bibliografia.

Orientadora: Profa. Dra. Silvana Vieira de Sousa.

Monografia (Licenciatura em História) UFCG/CFP, 2016.

1. Cavalaria. 2. Tropeiros-história. 3. Rotas comerciais. 4. Memória- tropeiros. I. Sousa, Silvana Vieira de. II. Universidade Federal de Campina Grande. III. Centro de Formação de Professores. IV. Título.

(4)

NOEME TOMAZ DA SILVA

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE ROTAS DE LUTA E DE COMÉRCIO NO ALTO SERTÃO: “EXPERIÊNCIAS DOS TROPEIROS DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS-PB

(1940-1950)”.

Aprovado em: ___/_____/______

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Prof.ª Dra. Silvana Vieira de Sousa.

(Orientadora)

______________________________________________ Prof. Dr. Osmar Luiz da Silva Filho

(Examinadora)

______________________________________________ Prof. Ms. Francinaldo de Sousa Bandeira

(Examinador)

______________________________________________ (Suplente)

Prof. Rubismar Marques Galvão

CAJAZEIRAS – PB 2017

(5)

AGRADECIMENTOS

É tempo de agradecer primeiramente a Deus pelo dom da vida, pela graça da realização de um sonho.

Agradeço de maneira especial a minha professora e orientadora Dra. Silvana Vieira de Sousa, por sua pela paciência. Sou-lhe eternamente grata pela disponibilidade de tempo a mim prestada e todo o conhecimento que me possibilitou adquirir ao longo do curso e em especial durante esta pesquisa, pois sem a sua orientação esse momento não seria possível.

A minha família, mas principalmente a mãe Tereza por tolerar os meus estresses durante todo o curso e principalmente nesse processo de escrita do trabalho. Mãe obrigada de coração. Saiba que a senhora e tudo na minha vida. A senhora tem o seu jeito rude de ser, mas tem um coração de ouro. Sim! Vou continuar estressada, pois não pretendo parar e sim seguir a diante. O caminho e longo e obstáculos terei muitos, mas eu creio no Deus que pode todas as coisas.

Aos meus amados professores e porque não dizer mestres do Curso de Licenciatura Plena em História, com os quais tive a oportunidade de conviver durante todo o curso e aos quais serei eternamente grata por todo o conhecimento que me foi passado. Conhecimento esse que contribuiu de maneira significativa para o meu engrandecimento intelectual, pessoal e principalmente profissional. Em especial a o nosso “Santo Expedito da UFCG” professor Dr. Isamarque Lobo, por socorre a todos nas horas de aflição e desespero.

De maneira especial, agradeço aos meus entrevistados, pela humildade, hospitalidade de me receber e principalmente pela sua colaboração com informações de grande valia para esta pesquisa. Pessoas que aceitaram de maneira gentil e carinhosa compartilhar suas vivências e experiências de vida.

Agradeço a todos os meus colegas de curso que ao longo desses cinco e porque não seis ou sete anos (risos), me permitiram fazer parte de suas histórias de vida. Saibam que vocês tem um lugar muito importante no capitulo da minha vida chamada “CURSO DE HISTÓRIA NA UFCG”, e que as experiências que compartilhamos me fizeram crescer em muitos pontos da vida.

Gostaria também de agradecer a essas pessoas maravilhosas que nas horas de apuros chameis seus nomes por uma diversidade de vezes e não só fui ouvida, mas também aconselhada a persistir e não desistir. São vocês: Mércia Ferreira de Assis, minha “tia do coração” a quem devo muito do que sou e em quem me espelho para ser melhor. Saiba que

(6)

seus incentivos formam cruciais para que eu pudesse estar vivendo esse momento e outros que virão.

Agradeço ao meu amigo e colega de curso Alessandre Ferreira, pelas suas palavras de incentivo nos momentos de angustia. Saiba que tenho um grande carinho e admiração por você enquanto ser humano. Agradeço a minha amiga Cátia Mariano, por esta sempre ao meu lado ouvindo minhas lamurias em momentos de angustia e me incentivando a acreditar mais e mais em mim mesma. Amiga obrigada mesmo.

Agradeço também Luedna Rolin (Luzinha) e Nadivania Alexandre, pela amizade, pelos nossos bons papos e risadas nos corredores em momentos oportunos da UFCG, bem como apoio se sempre, pelas palavras de incentivo. Vocês são do meu coração.

Por fim agradeço aos meus (a)s amigo (a)s de todas as horas: Vivian Gomes, Edilaine Martins, Fátima Lucia, Maria de Fátima Leite de Brito, Dallana Ribeiro, Daniele Marinz, Maria do Carmo, Daiane dos Santos, Jario Ramon, Ionara Pereira e Iara Pereira e Jacilane Silva, pela paciência com meus tiques nervosos e porque não “chiliques” ou até mesmo choros e lamurias.

(7)

RESUMO

Esse trabalho acadêmico tem como objetivo abordar a história dos tropeiros do município de São José de Piranhas Estado da Paraíba e sua participação na história social e econômica do município, levando em consideração a atuação desses homens como mecanismo de contribuição para o desenvolvimento do comercio local com outras regiões. Este trabalho fará um recorte temporal entre as décadas de 1940-1950 período de maior destaque dessa atividade no sertão paraibano como também no município de São José de Piranhas em função do comercio do algodão. Procuramos analisar as suas vivencias e experiências narradas por eles através do que nos informaram os ex-tropeiros por nós entrevistados quando nos falaram de seus medos, suas superstições, e diversões compartilhadas ao longo das suas viagens. Desta forma, buscamos através dessas informações a identidade do tropeiro suas marcas e sua característica. Por último pensamos como estes são vistos em termos de importância para a sociedade piranhense atualmente. Para tanto, os métodos utilizados por essa pesquisa foram: entrevistas de cunho oral com ex-tropeiros e membros da comunidade conhecedores da história dos mesmos. Como também fez-se uso de fontes bibliográficas como leituras e discussões relacionadas a temática abordada.

(8)

ABSTRACT

This paper aims at the history of the tropeiros of the municipality of São José de Piranhas State of Paraíba and their participation in the social and economic history of the municipality, taking into account the performance of men as a contribution mechanism for the development of local commerce with Other regions This work is a temporary revaluation between the decades of 1940-1950 period of greater prominence this activity in the Serbão of Paraiba as well as in the municipality of São José de Piranhas due to the cotton trade. We try to analyze their experiences and experiences narrated by them through which they did not inform the ex-tropeiros we interviewed when they told us about their fears, their superstitions, and shared amusements throughout their travels. In this way, we search through information an identity of the tropeiro its brands and its characteristic. Finally we think how these are seen in terms of importance for a society of Piranha. To do so, the methods used for this research were: oral interviews with ex-tropeiros and community members who are knowledgeable about their history. As well as the use of bibliographic sources as readings and discussions related to a thematic approach.

(9)

LISTA DE IMAGENS

IMAGENS 1 e 2: DAS RUINAS DA ANTIGA USINA TIBAGI ... 47 IMAGEM 3: FORMAÇÃO DAS TROPAS DE MUARES EM VIAGENS PELAS ROTAS COMERCIAIS NA PARAÍBA ... ...63

(10)

LISTA DE MAPAS

MAPA I: POLÍTICO DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS PB ... 33 MAPA II: ROTA DA RAPADURA E DA FARINHA SÃO JOSÉ DE PIRANHAS-CARIRI CEARENSE ... 43 MAPA III: ROTA DO FUMO E DO GADO ENTRE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS, PIANCÓ, PATOS E CAMPINA GRANDE ... 44 MAPA IV: ROTA DO SAL E DO ALGODÃO ENTRE O MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS E MOSSORÓ-RN ... 45

(11)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

CAPÍTULO I: FORMAÇÃO SOCIAL DO INTERIOR DO BRASIL: PECUÁRIA E ALGODÃO ... 15

1.1 A ocupação do interior do Nordeste ... 17

1.2 A expansão da pecuária e a formação dos primeiros núcleos de povoamento do interior na Paraíba ... 22

1.3 As feiras livres e o comércio pecuarista ... 22

1.4 Modos de vida e trabalho no interior da sociedade pecuarista e algodoeira... 23

1.5 Os trabalhadores no interior da sociedade ... 24

1.6 O trabalho com o gado no interior: Os vaqueiros ... 24

1.7 O algodão e sua contribuição na formação do interior do Nordeste ... 26

1.8 Duplo comércio: A atividade algodoeira e a pecuária na ocupação da região nordeste ... 29

CAPÍTULO II: SÃO JOSÉ DE PIRANHAS: O COMÉRCIO DE ALGODÃO E A ATIVIDADE TROPEIRA ... 32

2.1 São José de Piranhas-PB e as atividades econômicas do município ... 35

2.2 O município de São José de Piranhas-PB e a atividade pecuarista ... 38

2.3 O município de São José de Piranhas e a atividade algodoeira...38

2.4 O sistema de transporte e a circulação de mercadorias no município de São José de Piranhas... 41

2.5 A Rota da Rapadura e da Farinha de São José de Piranhas ao Cariri Cearense ... 42

2.6 A Rota do Fumo e o Caminho do Gado de São José de Piranhas, Patos, Piancó e Campina Grande...43

2.7A Rota do Sal e do Algodão: São José de Piranhas, Mossoró - Rio Grande do Norte e Campina Grande...44

2.8 As usinas no município de São José de Piranhas entre os anos de 1920-1957 ... 46

CAPÍTULO III: MEMÓRIAS E HISTÓRIAS: EXPERIÊNCIAS DOS EX-TROPEIROS DE SÃO JOSE DE PIRANHA ... 50

(12)

3.1 Os tropeiros: Quem eram e para quem trabalhavam ... 53

3.2 Os campos de pouso para os tropeiros como lugar de descanso ... 59

3.3 As formas de atuação e composição das tropas em São José de Piranhas: pessoas e animais ... 61

3.4 Memórias coletivas dos tropeiros de São José de Piranhas ... 65

3.5 Severino Ferreira: Vida de tropeiro e trajeto de tropeiro ... 67

3.6 Silvino Fernandes: Vida de tropeiro e trajeto de tropeiro ... 70

4 CONCIDERAÇÕES FINAIS ... 74

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 76

APÊNDICES ... 80

(13)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho historiográfico tem como objetivo analisar a importância social dos tropeiros, suas experiências e suas práticas enquanto trabalhadores na atividade de tropeiro da cidade de São José de Piranhas, e, sobretudo buscar com base em relatos orais de alguns ex-tropeiros residentes no município, com e auxilio de material bibliográfico sobre eles já existente, construir mais um capítulo da história desses homens que desbravaram os sertões fazendo as primeiras rotas comerciais do município, contribuindo desta forma para o seu desenvolvimento.

A escolha dessa temática de pesquisa se deu a partir do contato com a escrita da historiografia local, através da qual percebi ser possível construir uma nova narrativa sobre o município de São José de Piranhas, assim como seus famosos tropeiros. Estudo cujo objetivo é mostrar como os tropeiros, homens considerados fortes e destemidos desbravavam os sertões através da comercialização dos seus produtos entre as localidades vizinhas e regiões distantes. O que veio resultar nesse trabalho monográfico intitulado: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE ROTAS DE LUTA E DE COMÉRCIO NO ALTO SERTÃO: “EXPERIÊNCIAS DOS TROPEIROS DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS-PB (1940-1950)”.

Acreditamos que este trabalho será de grande relevância, uma vez que levará ao espaço acadêmico o conhecimento da história do município de São José de Piranhas de forma mais aprofundada e assim contribuirá com a historiografia local sobre o muito que ainda precisa ser dito a respeito do município. Assim como a mesma ganha força à medida que não há vestígios de que se tenha trabalhado com tal proposta de analise sobre o assunto, ou seja, os tropeiros.

Como embasamento metodológico para a construção dessa monografia nós utilizamos e priorizamos o que chamamos História Oral, com seus procedimentos metodológicos de pesquisa através da análise qualitativa de entrevistas e histórias de vida dos ex-tropeiros, a exemplo dos senhores: Severino Ferreira Dias e Silvino Fernandes, nossos principais informantes nesse trabalho. Como afirma Meihy (2007), em sua obra intitulada “Historia

Oral: como fazer e como pensar”, a Historia oral como metodologia de pesquisa qualitativa

envolve portento a “Apreensão de narrativa usando meios eletrônicos e destina-se a recolha de testemunhos, promove analise de processos sociais do presente e facilita o conhecimento do meio emitido”. (MEIHY; 2007; p: 18).

(14)

Segundo Lisboa (2016), apud Freitas (2006), em sua obra “História oral:

possibilidades e procedimentos”, a História Oral é “aquela cujo método consiste na realização

de depoimentos pessoais orais, por meio da técnica de entrevista que utiliza um gravador, além de estratégias, questões práticas e éticas relacionadas ao uso desse método” (FREITAS, 2006, p. 18).

Como podemos perceber por meio da discussão acima exposta o método de pesquisa com história oral permite o historiador reconstruir as experiências vivenciadas no passado através da memória. Sendo essa feita a partir do presente com relatos de vida e da história ocorrida no tempo. Alberti (2004), afirma que: “... O passado só “retorna” através de trabalho de síntese de memória: só e possível recuperar o vivido pelo viés do concebido”. Trabalha a história oral é vivenciar a memória através de relatos pessoais buscando descrever o passado para se entender o presente (ALBERTI, 2004,17).

Portanto é por meio desta concepção teórico-metodológica que esse estudo pretende abordar as experiências relacionadas às histórias de vida dos ex-tropeiros no município de São José de Piranhas, no século XX, tendo como ponto principal seus relatos orais e suas experiências descritas pelos mesmos. Trata-se de um percurso que como diz Certeau (2008), deve ser feito não do ponto de chegada, mas do processo que possibilitou chegar a ele. Pela memória o historiador cria uma representação do passado a partir do lugar em que esta inserida “o presente”. (CERTEAU, 2008, 93). Porém Delgado relata que:

Ao se dedicar à analise do passado, o estudioso de História vai de encontro a um outro tempo diferente daquele no qual está integrado. Nessa viagem realiza-se um amalgama peculiar caracterizado pelo encontro de singularidades temporais. Trata-se do encontro da História já vivida com a história pesquisada, estudada, analisada, enfim narrada (DELGADO, 2003, p. 10).

Também o diálogo com a historiografia local e regional que trata sobre os tropeiros, foi de suma importância para esse trabalho à medida que nos deu embasamento para a produção historiográfica a ser construída, tendo como objeto o estudo da atuação dos tropeiros do município de São José de Piranhas- PB. Assim por meio dessa historiografia podemos tomar conhecimentos de discursos construídos sobre estes homens enquanto ser social e compreender como eles se veem como contribuintes para o crescimento do município. Homens fortes, destemidos que como ditos anteriormente desbravaram os sertões gerando uma melhor conveniência entre regiões e que são considerados por Lima (2010), como os “condutores do progresso dessa região.”. (LIMA, 2010; 67). O presente trabalho

(15)

monográfico encontra-se dividido em três capítulos: O primeiro capítulo “FORMAÇÃO SOCIAL DO INTERIOR DO BRASIL: PECUÁRIA E ALGODÃO”, aborda a historiografia da ocupação territorial da Paraíba a partir da estrutura agrária dos grandes latifundiários que deu origem a economia de base agrícola, sobretudo a canavieira.

Outro ponto em destaque nesse capítulo é o crescimento da economia representado de várias formas a partir do século XV ao século XIX. Outro ponto importante aqui abordado refere-se à ocupação do interior do Nordeste com a chegada da atividade pecuária e a formação das feiras livres, as quais deram origem as vilas e posteriormente a maioria das atuais cidades interioranas do Nordeste. A pecuária por ser uma atividade barata e que ocupava pouca mão de obra o que facilitou sua expansão para o interior da região. Para finalizar o referido capitulo destaca também a importância da atividade algodoeira na consolidação territorial do interior nordestino durante seu auge até a sua decadência no início dos anos 80. Nessa estrutura econômica e dinâmica social desde o início da formação social do interior do Brasil, é notável a importância da atividade e trabalho dos tropeiros.

No segundo capitulo cujo titulo “SÃO JOSÉ DE PIRANHAS: O COMÉRCIO DE ALGODÃO E A ATIVIDADE TROPEIRA”, abordaremos a atividade tropeira tendo como recorte temporal as décadas finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX, período de ascensão desta região em virtude da atividade algodoeira. Outro ponto a ser abordado refere-se à fundação e formação do município e a partir desse contexto histórico e cultural de São José de Piranhas destacamos as atividades econômicas tais como: a pecuária, a atividade algodoeira que possibilitaram os circuitos comerciais entre o município de São José de Piranhas e outras localidades com as quais essa passou a manter relações comerciais. No terceiro e último capitulo intitulado “MEMÓRIAS E HISTÓRIAS: EXPERIÊNCIAS DOS EX-TROPEIROS DE SÃO JOSÉ DE PIRANHA”, abordamos a história do tropeirismo no município de São José de Piranhas a partir dos relatos de experiências de dois importantes guardiões da memória e da história dos tropeiros da região e da cidade de São José de Piranhas nas pessoas dos senhores Severino Ferreira Dias e Silvino Fernandes, principais colaboradores nesse processo de escrita. Desta forma, esse trabalho buscou relatar as vivências e experiências de homens que empregaram parte de sua vida profissional na atividade de tropeiro como meio de sobrevivência como nos deixaram perceber em seus relatos. A história dos tropeiros de São José de Piranhas não é apenas uma história de heróis construtores do crescimento e do progresso da cidade é também e, sobretudo uma história de luta e renuncias, com capítulos de sofrimento, mas também de alegrias como

(16)

nos diz em suas falas. Essa é, pois mais uma homenagem de registro de suas histórias de tropeiros que a eles prestamos nesse trabalho.

No entanto o objetivo desse trabalho é destacar a rica importância da atividade tropeira na formação econômica e social do município de São José de Piranhas, assim como mostrar minimamente a realidade da vida dos tropeiros que muitas vezes transformados em heróis do progresso são esquecidos como sujeitos históricos. Suas memórias nesse trabalho acadêmico foram importantes para construção dessa historia, que pretendemos possa vim a ser mais um lugar de pesquisa para outros que tenha o interesse de se debruçar sobre o assunto aqui abordado.

(17)

CAPÍTULO I: FORMAÇÃO SOCIAL DO INTERIOR DO BRASIL: PECUÁRIA E ALGODÃO.

A história da ocupação territorial do atual Estado da Paraíba, não se diferencia das demais regiões do País. As suas raízes econômicas inicialmente estiveram voltadas para o ciclo de exploração do pau-brasil e em seguida para a atividade canavieira começa a ser introduzida, sobretudo, através da produção de açúcar para o comércio de exportação. A estrutura agrária da Paraíba desde a formação inicial do território é composta pelos grandes latifúndios com produção baseada na monocultura e mão de obra escrava dos indígenas e dos negros oriundos das mais diversas regiões do continente africano.

Para Moreira (1991), a organização do espaço agrário paraibano teve a partir do final do século XVI sua ocupação econômica baseada na atividade canavieira mais precisamente na faixa litorânea do Nordeste no sentido Leste-Oeste.

Essa ocupação deu-se, principalmente, no sentido leste-oeste, do Litoral em direção ao Sertão. No Litoral ela baseava-se na produção de cana- de- açúcar. A evolução dessa atividade canavieira teve influência também na ocupação e no povoamento do Sertão e do Agreste (...) a Zona da Mata voltou-se para a produção do açúcar. (MOREIRA; 1991; p.32).

A atividade canavieira tinha como principal produto o açúcar. Toda a produção era voltada para a exportação, tendo como destino o mercado europeu. A cana de açúcar encontrou nas terras férteis do litoral leste do Nordeste condições apropriadas para o desenvolvimento desta cultura agrícola modificando a paisagem natural e causando a substituição das matas por novos canaviais. Além disso, diante da produção da cana de açúcar, o pau-brasil que até aquele momento se inseria como principal produto de exportação deixa de ser o principal foco econômico, ficando em segundo plano.

A partir do desenvolvimento dessa cultura agrícola, o Nordeste do canavial viu surgir no seu espaço territorial os engenhos de tração animal que passaram a ocupar de forma contínua as terras da faixa leste da região numa área que se estendia do leste do atual Estado do Rio Grande do Norte até o sul de Alagoas. De inicio os plantios de cana de açúcar estavam concentrados nos vales e grotões dos pequenos rios e riachos da região para posteriormente, subir o tabuleiro costeiro da zona da mata nordestina.

A organização do espaço agrário litorâneo, exemplo do que ocorreu em toda fachada oriental do Nordeste, baseou-se na produção açucareira destinada ao mercado externo, na divisão das terras em grandes unidades produtivas

(18)

conhecida por Engenho e no trabalho escravo. (MOREIRA, 1991; p.33). Assim, a principal atividade da economia agroexportadora da Paraíba durante o século XVI até meados do século XIX era a produção canavieira. Essa atividade está representada do ponto de vista de sua organização produtiva pelo engenho moedor localizado em grandes fazendas como elemento concentrador dessa atividade, onde todas e quaisquer relação social girava em torno deste. O poder político, social e financeiro local e representado pelo senhor dono desses engenhos, são estes que vão compor as famílias tradicionais da região.

A base econômica paraibana ao longo dos séculos XVI até meados do século XIX retratada na figura do Engenho de açúcar, uma vez que, esse como afirma Moreira (1991) constituía a base econômica e social de toda a Colônia. “A unidade de produção do sistema açucareiro compreendia tanto a atividade agrícola quanto a atividade industrial.” (MOREIRA; 1991; p: 34).

Era, portanto os donos de Engenho, segundo estudos quem detinha a posse das terras, bem como dos meios de produção e força de trabalho como mencionado anteriormente. A economia local estava devidamente ligada à atividade canavieira. A posse e o poder dos donos das grandes propriedades eram por vez adquirida através do sistema de Sesmarias. Como afirma Andrade:

(...) a figura do senhor -de - engenho com um prestigio é poder que eram tanto quanto maiores quanto maior fosse a extensão de suas terras, a produção dos seus canaviais ou número de escravos que possuísse. Para salientar a sua posição, construía a casa-grande assombrada ou com calçada alta sobre uma colina ou uma encosta, de onde falava a lavradores, empregados ou escravos. Saia sempre a cavalo de onde continuava a falar do alto aqueles a quem dava ordem. (ANDRADE; 1986; p.72).

Segundo Andrade (1986), o senhor de engenho fazia parte da sociedade aristocrática da época, a qual era dividida em classes sociais. O mesmo ocupava a principal posição porque detinha o poder do capital financeiro representado das mais diversas formas, atrelado as suas posses tanto de terras, quanto de escravos que esse a possuía. Assim como os escravos outras categorias também estavam subordinadas aos senhores de engenhos como os lavradores, os encarregados dos engenhos ou pequenos proprietários e arrendatários.

Desta forma, houve uma concentração populacional em torno dos grandes engenhos açucareiros e com isso a necessidade de produzir alimentos. Esse tipo de produção concentra-se em terras apropriadas e que fosconcentra-se compatível como o clima e também com o solo.

(19)

da colônia, em especial das zonas canavieiras no entorno dos engenhos houve a necessidade de produzir alimentos.

Da Europa foram trazidos...animais domésticos – sobretudo bovinos,caprinos,suínos,equinos; da África,vieram vegetais como o sorgo,o inhame,o cara; da Ásia,fruteiras como a bananeira ,a mangueira,a jaqueira e o arroz; e da Oceânia, a fruta-pão e o coqueiro. Muitos vegetais cultivados pelos indígenas – como o algodão, a mandioca e o milho- passam também a ser cultivado pelos colonizadores. (ANDRADE; 1961, p: 100-101).

A produção alimentícia desenvolvida no Nordeste canavieiro marca o período de conflitos entre a cultura cana de açúcar e a agricultura de subsistência o que faz a coroa portuguesa tomar uma atitude de proibir o cultivo de alimento na zona produtora de açúcar a principal fonte de renda na arrecadação de imposto da coroa naquele período. Além da agricultura, posteriormente a produção cana de açúcar passa a enfrentar a concorrência da pecuária por espaço para a sua produção. O desenvolvimento da pecuária introduzida na região canavieira do Nordeste viria a causar conflitos com os plantios de cana de açúcar por ocupar o mesmo espaço territorial

Assim, a pecuária bovina do interior tornou-se a primeira grande atividade econômica do interior e à medida que se desenvolvia, começou a ganhar espaço no contexto econômico da colônia. Desta forma o gado passa a ser um fator preponderante para a ocupação e povoamento do interior do Nordeste.

1.1 A ocupação do Interior do Nordeste

Durante o Brasil colônia o processo de ocupação do Nordeste brasileiro se dá em duas frentes de culturas econômicas vinculadas ao meio rural. Enquanto que no litoral leste da região que corresponde à zona da mata a ocupação se faz por meio da cultura da cana de açúcar, como principal produto econômico, a pecuária inicialmente e logo após o algodão se destacam como as principais fortes econômicas do interior do Nordeste. No entanto ao contrário da zona litorânea leste dessa região, o povoamento se fez lentamente por meio da criação extensiva do gado e pela cultura algodoeira com destaque para o latifundiário comandado por famílias tradicionais, que vão concentrar posse e poder local.

Furtado (1971), em seus estudos sobre a economia e ocupação do interior do Nordeste enfatiza essa importância da fixação da cultura açucareira no litoral para a ocupação das demais áreas da região.

(20)

Furtado (1971), afirma que:

A formação de um sistema econômico de alta produtividade e em rápida expansão na faixa litorânea do Nordeste brasileiro teria necessariamente de acarretar consequências diretas e indiretas para as demais regiões do subcontinente que reivindicavam os portugueses. (FURTADO 1971, p. 54). De acordo com o autor a partir da ocupação da zona canavieira, tem-se a necessidade de ocupar as demais áreas territoriais sobre domínio português. A exploração das áreas interioranas do Nordeste colonial fez desenvolver outras atividades econômicas dentre elas a criação de gado de maneira extensiva nos domínios da caatinga. Por ocupar uma pequena faixa de terra e uma atividade econômica de forte intensidade, a Zona açucareira do Nordeste não permitia a criação de gado em seu espaço pelo fato que está, exigia grande espaço territorial. A criação de gado no espaço territorial canavieiro é permanentemente proibida pelo governo português para evitar um conflito entre as duas culturas. Assim, essa impossibilidade fez surgir na colônia outra atividade econômica no interior do território a criação de gado bovino cuja sua produção de carne, couro e o leite eram fontes de renda para a população do semiárido nordestino.

Segundo Rocha (2010), a expansão do gado bovino para o interior do Nordeste se dar a partir de dois núcleos urbanos instalados no litoral leste da colônia, Olinda/Recife e Salvador. A expansão pernambucana se dá a partir destes dois núcleos urbanos em direção ao Nordeste setentrional, principalmente sobre os domínios da fazenda da Torre dos “Dias d’ Avillas”. Enquanto que a expansão baiana integrou o norte da capitania chegando a Sergipe, seguindo o vale do rio Várzea Barris e as margens sul do São Francisco em direção ao oeste baiano e interior das minas atual (Minas Gerais):

O eixo de expansão que surge a partir de Olinda/Recife segue o sentido norte e interior da capitania pernambucana margeando o lado norte do São Francisco. À medida que se afastavam do litoral com sentido aos Tocantins e terras do atual estado do Maranhão, essa expansão dava origem a vilas, pontos estratégicos para o povoamento das terras interioranas e desta forma, melhor fixação da cultura do gado. (ROCHA; 2010, p. 21-22).

Como diz Arraes (2013), as fazendas e currais de gado iniciam a ocupação do interior do Nordeste pelos grotões e vales dos rios, em direção aos sertões das capitanias de Pernambuco e Bahia sobre tudo no curso contrário do Rio São Francisco que passou a ser conhecido como o “rio dos currais”. Ao longo das suas margens os currais foram se fixando em grandes extensões de terras, marcando o inicio do povoamento dos sertões nordestino.

(21)

Esse processo de interiorização da ocupação iniciou-se pelo Agreste, zona de transição localizada entre a Zona da Mata e o Sertão, sobretudo na escarpa oriental da chapada da Borborema. Diferentemente dos tabuleiros litorâneos, essa região comporta um relevo bastante acidentado, não era propicia ao cultivo da cana de açúcar. Mas a atividade agropecuária fica restrita as pequenas fazendas produtoras de leite e agricultura de subsistência, não dando suporte para a criação extensiva de gado e consequentemente a não existência de grandes propriedades de terras nessa região. (ARRAES, 2013 p. 17).

Ainda sobre as condições e o meio da cultura pecuária o autor chama atenção para a questão do clima e o relevo como diferencial para disseminação da cultura do gado como atividade econômica no interior, a escassez de chuvas durante um longo período do ano na região semiárida não fazia desta apta a produção da cultura da cana de açúcar. Em torno da pecuária foram surgindo os primeiros núcleos de povoamentos e vilas. O processo de ocupação do interior se deu à medida que o a colonização avançava para o interior do Nordeste. Processo de ocupação do interior esse que se deu paulatinamente embora o clima se fizesse favorável ao desenvolvimento da pecuária, bem como da cana-de-açúcar o Agreste foi povoado de forma tardia.

De acordo com Andrade (1986), ao retratar a região do agreste nordestino destaca que: essa área está quase que totalmente sobre os domínios da Borborema e que apesar de ter clima favorável a criação de gado, essa não se desenvolve nesta área da região.

O Agreste, localizado quase inteiramente sobre a Borborema, apesar de próximo á área açucareira e de dispor de condições climáticas e pastagens favoráveis ao desenvolvimento da pecuária, foi tardiamente povoado. Na realidade, só a sua porção baixa, situada ao sopé da serra e que se estende pelo médio curso do Paraíba do Norte e do Mamanguape, foi ocupada por criadores antes da guerra holandesa. (ANDRADE; 1986, p. 120).

Desta forma, o processo de ocupação e interiorização dos sertões nordestinos não se deu de maneira total em um mesmo instante. Passa por um processo gradativo de deslocamento tendo como viés os cursos dos principais rios do Nordeste, principalmente o Rio São Francisco. Somente a partir das várzeas do “velho Chico” tem-se a ocupação interiorana em duas ramificações rumo ao norte que além do sertão do atual estado de Pernambuco alcançando as terras dos atuais estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará essa região do Nordeste ficou conhecida como (os sertões de fora) e a ramificação ocupacional conhecida como (os sertões de dentro) sentido oeste, sul da capitania baiana e chegando ao interior da região das minas (atual Minas Gerais) se estendendo até ao sul dos atuais estados do Piauí e Maranhão.

(22)

Para Furtado (1971), “a condição fundamental de existência e expansão era a distribuição de terras”. A condição fundamental para ocorrência da atividade pastoril e/ou de criação no interior do Nordeste foi à distribuição de terras aos poceiros pela colônia com o intuito de povoar e dessa forma evitar a invasão estrangeira desta região, o que acarretaria em perdas das terras. A partir desta condição, o gado se espalha com rapidez pelos sertões através do São Francisco e alcançam os vales do Rio Tocantins e para o norte, as terras do atual estado do Maranhão, crescendo o número de currais. Por outro lado, na medida em que os currais se afastavam do litoral os custos de manutenção dessa atividade econômica tornaram-se mais caros, exigindo novas iniciativas. (FURTADO 1971, p. 51).

Todavia , esse processo de ocupação do interior via atividade pastoril no Sertão, cultura do gado e agricultura foi marcante na expulsão das comunidades indígenas ali existentes como os cariris, potiguaras e outras como também contribuiu de forma significativa para o alargamento do território colonial. A instalação das fazendas de gado torna-se um marco na economia dessa parte do território nordestino. A produção de carne no Sertão serve como oferta de alimento para os engenhos da zona canavieira nordestina e desta forma também aumenta o trabalho escravo empregado nessa atividade agrícola.

Segundo Alencastro (2000), a produção de gado do Sertão além de fornecer alimento para os engenhos do litoral açucareiro, a produção de couro, atividade de essencial importância na produção mercantil do tabaco, já que o couro era parte importante na exportação deste produto para a Europa.

Mas as fazendas de gado também são puxadas para o mercado atlântico pela subida das exportações do tabaco na década de 1680, visto que o fumo embarcado para o exterior costumava ser encapado com couro, o qual representava 15% do preço final do rolo de tabaco. Na mesma época avultam as exportações de courama de todo tipo. (ALENCASTRO, 2000 p. 341). A atividade pastoril sertaneja, ao contrário da canavieira não exigir grande concentração de força de trabalho já que a criação dos animais geralmente se dava em grandes espaços territoriais sob a responsabilidade do vaqueiro como principal responsável por essa atividade. Porém, outra forma de exploração de mão de obra tem origem nessa região a de prestação de serviços por troca de moradia e proteção em torno dos proprietários de terras.

(...) geralmente havia em cada fazenda, fora o vaqueiro, alguns mestiços forros, chamados ora “alugados” ora “fabricas”, que faziam serviços auxiliares, recebendo pequena remuneração em espécie, além de casa e

(23)

comida. Aqueles que tangiam a pé as boiadas para área úmida, fazendo viagens de muitas léguas eram chamados tangedores ou tangerinos. (ANDRADE; 1986 p. 122).

Desta forma, a atividade pastoril foi um fator determinante para a ocupação populacional no Sertão nordestino. Com essa, surgem às vilas e fazendas abrindo caminho para a consolidação do espaço territorial dantes ocupado por tribos indígenas. Desta forma torna-se marcante o latifundiário e o poder que na região canavieira é centrado na figura do senhor de engenho, no Sertão está representado pelo senhor fazendeiro e/ou proprietário de terras e gado. Capistrano de Abreu em sua obra intitulada “Capítulos de História Colonial”, afirma que:

O gado primeiro se desenvolveu nas cercanias da cidade do Salvador; a conquista de Sergipe estendeu-se á margem direita do São Francisco. Na outra margem veio dar menos forte e menos acelerado movimento idêntico partindo de Pernambuco. Ao romper a guerra holandesa estavam inçadas de gado as duas bandas do rio em seu curso interior... O riacho da Terra Nova e o da Brígida facilitaram a marcha para o Ceará... Simultaneamente penetrava a Paraíba. (ABREU. 1998; p.129-130).

Em sua abordagem o autor chama atenção para o tipo de sociedade aglutinada em torno dessa atividade econômica, agropastoril. Também destaca que essa atividade teve inicio na Capitania de Salvador e posteriormente se espalhou pelas demais regiões do país como Pernambuco e consequentemente para a Paraíba tornando-se fonte de renda e riqueza de muitos proprietários de terra. A atividade agropastoril segundo Abreu (1998) tornou-se de fundamental importância tanto para a formação quanto para a ocupação do território à medida que possuía uma melhor desenvoltura nas áreas que ocupava diferente das outras atividades como a cana de açúcar.

Portanto, a criação do gado deu ao Brasil colônia, sobretudo ao interior a possibilidade de desenvolver outra atividade econômica para a colônia, principalmente, no período de decadência do circo do açúcar na zona da mata nordestina. Porém vale se alentar que a criação do gado nos sertões surgiu como uma atividade de subsistência e uma alternativa econômica que vinha no seu inicio auxiliar a produção canavieira, oferecendo alimento para os engenhos açucareiros e posteriormente como forma de ocupação espacial e de domínio territorial do interior do Brasil colônia.

(24)

1.2 A expansão da pecuária e a formação dos primeiros núcleos de povoamento do interior na Paraíba

A concretização da expansão da atividade agropastoril para o interior da colônia fez surgir alguns núcleos e/ou vilas de povoamento que se destacaram como pontos de referência para o espraiamento da cultura bovina nessa região semiárida. Seguindo sempre o curso de rios e riachos esses núcleos funcionavam como subeixos de ramificações regionais de expansão dessa atividade sobre tudo na região nordeste.

Filipeia de Nossa Senhora das Neves, e depois Paraíba, e hoje João Pessoa (1585) Natal (1589)... No Rio Grande do Norte a vila Extremoz do Norte, vizinho a Natal, habitada por indígenas, e Arez, Vila Flor e Nossa Senhora dos Prazeres Goianinha. No Ceará... Fortaleza... Serra de Ibiapaba se desenvolvia a Vila Real de Visoça. (ROCHA; 2010; p: 21-22).

Na capitania baiana, com o afastamento do litoral, surgem as primeiras vilas do interior, Ribeira do Pombal as margens do Rio Itapicuru, Jeremoabo nas margens do rio Várzea Barris foram alguns dos primeiros núcleos de povoamento da capitania baiana. Enquanto que no Nordeste setentrional Pombal, Campina Grande, Mossoró, Crato, Icó e Oeiras entre outros foram às primeiras povoações desta região que surgiram na rota do gado. Após a formação destas vilas surgem outros fluxos e núcleos de povoamento e criação do gado, desta feita de caráter regional. (ROCHA et, al. 2010;P:24).

1.3 As feiras livres e o comércio pecuarista

Nesse contexto da formação sociocultural do interior do nordeste, a partir das vilas as feiras livres desempenharam nestas um papel essencial por ser uma das principais formas de negociação comercial e de crescimento da economia. As vilas e povoados funcionavam como polo concentrador dessa atividade o que facilitava a concretização dos negócios, principalmente a compra e venda do gado entre fazendeiros. O sucesso da pecuária criava dinamismo e aglutinava pessoas nas vilas e cidades que cresciam com o comercio e as feiras.

Segundo Dantas (2008), a origem de grande parte das feiras livres existentes no Nordeste brasileiro deveu-se devido ao intenso comércio de gado durante os séculos XVIII e XIX, o que demonstra a importância da cultura do gado no processo de ocupação e povoamento do Nordeste. A pecuária como atividade econômica contribuiu de forma pioneira com a formação econômica do interior da colônia. Porém, foi também a que mais deixou

(25)

marcas no espaço territorial, corroborando com o regionalismo e suas subdivisões.

Sobre essa temática Maia (2006, p.5), nos afirma que, “em todo o território brasileiro as feiras aconteciam como manifestação da atividade comercial, em que pequenos agricultores vendiam os produtos por eles cultivados ou pequenos comerciantes revendiam algumas mercadorias de necessidade imediata”. É a partir destas feiras livres concentradas nas pequenas vilas do interior que a cultura do gado se expande tornando-se mercadoria e sendo comercializados por fazendeiros da região.

1.4 Modos de vida e trabalho no interior da sociedade pecuarista e algodoeira

No interior da colônia predominava uma sociedade voltada para a atividade agropastoril de criação de gado e agricultura de subsistência. A sociedade da região agropastoril não estava estruturada como ocorria na zona canavieira e isso dificultava à posse desta pela terra, sobretudo a camada mais pobre da sociedade o que lhes faziam rendeiros e/ou dependentes de grandes latifundiários. Seguindo uma condição de hierarquia onde o poder era representado pelo senhor fazendeiro, “o coronel” proprietário de grandes extensões de terra. O centro do poder era representado pela “casa grande” de onde partia as ordens de governança as quais todos os habitantes da fazenda eram submetidos a obedece-las.

A estrutura das fazendas era formada pela casa grande, que também era chamada de casa sede da fazenda, onde morava o fazendeiro, cercada por curral de pedra e/ou madeira para a ordenha do gado leiteiro e apartação, casas de taipa “estrutura de madeira e barro batido e cobertura de palha” onde morava a maioria dos agregados da fazenda que trabalhavam com gado. A produção agrícola era de subsistência, haja visto que o tempo disponível para essa atividade, onde cultivavam mandioca, milho e feijão como itens principais. Os limites destes muitas vezes se confundiam com os limites da própria colônia como era o caso dos domínios territoriais da família Garcia D’Ávilas detentora do maior latifúndio do mundo em domínio particular. Estima-se que a extensão territorial da fazenda da Torre como era denominada se estendia por cerca de duzentas e setenta léguas de terras que se estendiam desde Pernambuco até o Piauí.

Os senhores fazendeiros eram também grandes líderes políticos regionais concentrando o poder local em mãos de grupos familiares. Essa característica é mais evidente na zona do gado inserida no interior do Nordeste. À medida que a cultura do gado subia os sertões através dos rios acumulando grandes extensões de terras, também encontrava as tribos indígenas e em muitos casos, o confronto e guerras contra estas era inevitáveis. Ao adquirir as

(26)

terras da coroa o primeiro trabalho era acostumar o gado no pasto, o que exigia bastante mão de obra e só depois era entregue ao vaqueiro que a partir dai, estava responsável pelos cuidados dos animais.

1.5 Os trabalhadores no interior da sociedade

Durante o período colonial e séculos XVI ao XVII grande parte da população da colônia era extremamente pobre e quase sem nenhum direito. No interior para grande parte da população, o trabalho forçado das fazendas de gado e/ou dos engenhos de açúcar era a única forma de sobrevivência e de adquirir o sustento da sua família. O trabalho desenvolvido nas fazendas de gado era extremamente árduo e difícil, já que as jornadas eram longas e sem nenhum tipo de remuneração financeira, desenvolvido por homens e mulheres agregados aos senhores donos de terras. Os “criados” como eram intitulados pelos seus patrões, desenvolviam atividades de luta com gado em auxilio aos vaqueiros e outros serviços como o cuidado com os afazeres de manutenção das fazendas quando se tratava dos homens e atividades domésticas no caso das mulheres que serviam como mão de obra na casa grande. A jornada de trabalho iniciava nas primeiras horas do dia e só teria fim nas últimas horas e/ou depois que todas as tarefas destinadas aquele dia tivessem encerradas.

1.6 O trabalho com o gado no interior: Os vaqueiros

O trabalho com o gado era executado no primeiro instante por nativos indígenas e sobretudo nos primeiros núcleos dessa atividade. Posteriormente, esse trabalho nas fazendas de gado no interior do Nordeste passou a ser executados por mestiços e foragidos que ao cometer crimes em outras regiões, buscavam refúgios nas fazendas dos “coronéis” criadores de gado. A forma adotada para remunerar o trabalho dos agora chamados vaqueiros contribui ainda mais para multiplicar o número de fazendas. Após quatro ou cinco anos de trabalho, estes eram pagos com um quarto das crias que nasciam passando a ter condições para desenvolver seu próprio estabelecimento. Em geral, arrendavam as terras necessárias de seus senhores, que por sua vez as haviam recebido do governo colonial.

Segundo Schlesinger (2010), adquirida a terra para uma fazenda, o trabalho primeiro era acostumar o gado ao novo pasto, o que exigia algum tempo e bastante gente; depois ficava tudo entregue ao vaqueiro. O manuseio necessário aos animais e os cuidados no tratamento do gado como ferrar, amansar, cuidado com doenças, pastagem, desmama, seleção, transporte e

(27)

venda, estavam vinculado a sua responsabilidade. O número de vaqueiro a serviço de uma fazenda criadora de gado variava de acordo com seu tamanho e o poder econômico do seu dono e/ou patrão. Quanto maior a quantidade de animais e a extensão da fazenda, maior seria a quantidade de mão de obra a serviço do seu dono.

Os vaqueiros (homens que trabalhavam diretamente com o gado) poderiam com o tempo se tornar pequenos criadores pelo fato de após quatro ou cinco anos de trabalho nas fazendas de gado, adquirir um de cada quatro animais que nascia na fazenda a qual ele trabalhava. Essa forma de pagamento fez surgir pequenos fazendeiros, pelo fato destes (vaqueiros) alugarem pequenas extensões de terra para criar seu gado.

De acordo com Andrade:

O vaqueiro que era o responsável pela fazenda não recebia salário me dinheiro. Sua remuneração correspondia a um quarto da produção da fazenda, pois em cada quatro bezerros que nasciam, um lhe pertencia e os outros três eram do proprietário. (ANDRADE; 1986; p. 122).

Os vaqueiros eram homens que trabalhavam nas fazendas no tratamento do gado como pastagem, alimentação e ordenha. Eles ainda eram responsáveis pelo transporte do gado para consumo o que exigia destes muita dedicação e tempo disponível para ser realizadas. Vestindo roupas de couro, os vaqueiros transportavam o gado pelas trilas abertas nas matas acompanhados de auxiliares até as feiras e centros consumidores. Os deslocamentos de uma “boiada” como eram assim denominados as marombas de gado, poderiam durar vários dias. Em jornadas cansativas e exaustas o gado era levado em caminhada, marchando de dia e noite. Os vaqueiros que os condiziam até as cidades do litoral para serem negociados por mercadorias.

Abreu (1998), em sua abordagem sobre o gado nos revela que depois de quatro ou cinco anos de serviço, começava o vaqueiro a ser pago; de quatro crias cabia-lhe uma; podia assim fundar fazenda por sua conta. A partir dai tinha início um novo núcleo de criação de gado bovino com as mesmas formas de manejos de produção e cuidados, sobretudo no interior do Nordeste colonial. Todavia, a estrutura das fazendas de gado no interior da colônia era marcada por grandes latifúndios sempre geridos pelo poder central de uma família tradicional, a partir dos seus valores e dos seus interesses na manutenção da sua propriedade.

Como foi possível constatar a criação do gado bovino tornou-se de grande relevância para a formação e povoação do interior da região Nordeste, uma vez que, à medida que foram surgindo os currais, os pontos de pouso, tanto para o gado como para o vaqueiro que conduzia

(28)

os rebanhos sertões a adentro, novos núcleos de povoação iam surgindo. “A exemplo de algumas vilas como Itabaiana no Agreste baixo do atual Estado da Paraíba e a cidade de Campina Grande na região da Borborema que se destacaram até hoje como cidades comerciais”. (MOREIRA; 1997, p. 80).

Em fins do século XIX e inicio do século XX uma nova atividade a algodoeira surgiu na região solidificando a fixação dos núcleos de povoamento já existentes elevando vários destes a categoria de vilas e posteriormente cidades e/ou municípios. Desta forma, a cultura do algodão na região interiorana do Nordeste brasileiro tornando-se outra fonte geradora de comercio e emprego para a maioria dos habitantes, sobretudo rurais e fonte geradora de renda para todos os proprietários de terras da região.

1.7 O algodão e sua contribuição na formação do interior do Nordeste

O algodão é utilizado como matéria prima para confecção de produto desde o período colonial brasileiro e se estendeu até as décadas de 1980 do século XX. No entanto, o cultivo dessa cultura durante os séculos XVII e XVIII, passou por momento de estagnação e vindo a se desenvolver posteriormente em função da fabricação de tecidos para vestimentas. Com a Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra durante séculos XVIII acarretou no desenvolvimento da indústria têxtil, sua produção voltou a crescer de maneira rápida para atender a demanda. Segundo Andrade (1986, p. 84). Esse produto gerou muitos lucros a coroa portuguesa, uma vez que esse fazia a intermediação entre a colônia e a Inglaterra.

Foi a partir da região Nordeste, mas especificamente o Estado do Maranhão que o algodão se expandiu para as demais regiões fazendo fronteira com outros Estados como a Bahia, Minas Gerai, Piauí e posteriormente com São Paulo e Rio Grande do Sul seguindo sempre o curso do Rio São Francisco. Durante a década 1760, esse Estado era o principal exportador da fibra para os centros comerciais da Europa.

Segundo Yamaoka relata que:

No Brasil, o Maranhão despontou como o primeiro grande produtor dessa cultura, e assim, já em 1760, exportava para a Europa. Do Maranhão expandiu-se para o Nordeste, como nova zona de produção, e paralelamente, a cultura deslocou para região sertaneja que limita com Bahia e Minas Gerais, lado direito do Rio São Francisco. Em seguida, a cultura dispersava-se a oeste do São Francisco até Goiás; pelo Nordeste até Piauí; e no sul, de São Paulo atingia o Rio Grande do Sul (Freire, e outros 1980). (YAMAOKA; 2005; p: 01)

(29)

Segundo Moreira (1996), historicamente falando, o algodão em especial o paraibano, mercê uma atenção mais que especial, uma vez que o mesmo desempenhou durante décadas o desenvolvimento econômico e também social de várias Microrregiões principalmente das sertanejas e agrestianas. Entretanto, foi no final do século XIX e primeiras décadas do século XX que a atividade algodoeira passa a ganhar espaço na economia brasileira em especial na nordestina, uma vez que tornou-se fonte de riqueza de muitos proprietários de terras. Por se tratar de uma cultura barata, devido não necessitar de muita mão de obra o algodão passa a dividi espaço com a agricultura de subsistência e a pecuária, proporcionando, portanto ao agricultor uma fonte de renda e lucratividade por seu cultivo, desta forma acarretando em melhorias de vida deste.

Segundo Moreira (apud: TAKEYA, 1985, p. 27), o algodão enquanto produto de consumo agrícola já era bastante utilizado pela população existente nas colônias desde o período pré- colonial. O mesmo era destinado à produção de tecidos uados pela população de maneira geral. Porém foi no final do século XVIII que esse produto deu um salto na economia brasileira devido a uma série de fatores.

Como afirma Moreira (1997):

(...) nos fins do século XVIII, com o crescimento do progresso técnico da indústria têxtil inglesa e o consequente aumento da demanda no mercado internacional, e durante a Guerra de Independência americana, com o afastamento dos Estados Unidos do mercado mundial, foi que o algodão passou a ocupar uma posição de destaque no cenário da economia paraibana. (MOREIRA; 1997; p. 74).

Como é possível constatar uma série de fatores externos impulsionaram para que o algodão viesse a se destacar na economia brasileira e, sobretudo paraibana. Portanto, esse passa a ganhar destaque de maneira significativa em meados do século XIX. Sendo que esse produto já era uma preocupação da coroa portuguesa desde 1789, uma vez que a coroa portuguesa já mostrava interesse na produção do algodão e por sua vez instruía seus colaboradores, ou seja, o governador a incentivar os produtores e agricultores a aumentar a produção do algodão, sobre as demais culturas como: a canavieira, o tabaco e a pecuária leiteira. (MOREIRA apud: PINTO; 1997:74).

Por meio desse documento e exigência do governo geral, pode-se constatar que entre as principais fontes de riqueza da agricultura paraibana o algodão já era considerado uma das mais importantes. Caminhando ao lado com a cana de açúcar a cultura do algodão foi firmando-se de maneira significativa no século XIX, vindo alguns anos mais tarde a superar o

(30)

açúcar na quantidade de exportações para fora do país. Essa superação do algodão em relação ao açúcar se dá em função da crise pela qual o produto estava passando. Crise essa que se deu devido ao barateamento do preço em virtude da substituição do açúcar brasileiro pelo açúcar antilhano no mercado internacional. Já se anunciava na produção do açúcar e assim conjunturalmente e circunstancialmente o algodão em alta e valorizada no mercado torna-se nova fonte de riqueza para os grandes latifundiários da época.

Para Palácios (2002), em seu texto “Agricultura Camponesa e Plantacions

Escravistas durante o século XVII”, afirma que desde 1785 já existia uma preocupação como

o avanço na produção do algodão. Pois a dita “febre do algodão” já estava se alastrando pelos principais centros urbanos da região do Nordeste Oriental, a exemplo de Recife no Pernambuco.

Segundo Palacios (2002):

(...) aproximadamente em 1785, instalava-se nos principais centros urbanos da região – sobretudo no Recife- uma intensa Crise de abastecimento alimentar... Provocada pela retirada do mercado da mandioca produzida pelos cultivadores pobres livres, a crise, como não poderia deixar de ser, estava devidamente ligada à produção camponesa de algodão: A ruína da plantação de mandioca nesta Capitania e da mesma data que a introdução da cultura do algodão. (PALACIOS; 2002. p. 48).

Durante as últimas décadas do século XVII e início do século XVIII a região oriental do Nordeste brasileiro que tradicionalmente era uma área de produção canavieira e agricultura de subsistência, enfrentou grave crise de gênero alimentar em virtude dos produtores livres terem optado pelo plantio do algodão e não mais da mandioca. A opção pelo plantio do algodão em detrimento a mandioca pelos produtores se deu devido ao lucro que a nova atividade agrícola estava gerando. Porém, a mandioca era tida como principal produto alimentar da época e sua escassez gerou um desabastecimento do mercado local.

Essa crise desordenada provocou o desabastecimento dos engenhos de açúcar que já afetados pela queda do produto no mercado mundial e pelo crescimento do algodão. Desta forma, o governo imperial se ver obrigado a criar medidas com intuito de proibir o expraiamento da atividade algodoeira em terras de plantios de cana de açúcar e agricultura de subsistência. Com o intuito de sanar a crise o governo do Estado criou no final do século XVIII medidas de repressão ordenando as Câmaras Municipais contra os produtores pobres livres, medidas como: “(...) suspender os pequenos plantios de algodão, prender os produtores que resistissem queimar e erradicar os algodoais daqueles que persistissem em empreitar”.

(31)

(PALACIOS; 2002; p.49).

Como diz o autor na continuidade do seu estudo, não obtendo êxito, o governo se viu obrigado a pedir ajuda as forças de segurança a exemplo das tropas do exército colonial para auxiliar as Comarcas Municipais no combate aos praticantes desta atividade. Ao fracassar, o governo decidiu retirar da jurisdição a responsabilidade de barrar os produtores livres e passou a responsabilidade para o denominado Capitão-Mor, homem responsável pela segurança das fazendas que tinha como objetivo manter a ordem local.

1.8 Duplo comércio: A atividade algodoeira e a pecuária na ocupação da Região Nordeste

Ao contrário do confronto enfrentado com a atividade canavieira, a atividade algodoeira conviveu em relativa harmonia com a pecuária. O algodão desenvolvido no nordeste setentrional encontra espaço sem ser necessário o confronto com o gado e nem a produção de subsistência em alguns casos dividiam o mesmo espaço territorial. Diferentemente da atividade canavieira, o algodão não formou uma sociedade hierarquizada com divisão de classes sociais. Assim como a cultura do gado, o algodão não necessitava do processo industrial o que facilitava o manejo deste. Desta forma o cultivo foi de fundamental importância para o crescimento do espaço produtivo do algodão que logo ganhou destaque no mercado regional, superando as demais culturas.

A espécie de algodão que se adaptou melhor as condições climáticas do semiárido nordestino foi à semente denominada (mocó) espécie arbórea de fibras longas. A pouca quantidade de chuva e o clima quente da região favorecia o desenvolvimento desta cultura agrícola. Desta forma, o avanço algodoeiro para o interior cresce rapidamente o que vem consolidar a ocupação territorial da colônia.

Alguns historiadores a exemplo de Moreira (1997), afirma que assim como o gado, o algodão também se torna responsável pelo surgimento de vilas e centros urbanos no interior do Nordeste, formando a rota do algodão. As vilas que teriam maior crescimento na segunda metade do século XVIII e início do século XIX em virtude do algodão apresentaram expressivo crescimento populacional e comercial. O exemplo clássico são as vilas de Campina Grande e Pombal na Paraíba, Caruaru e Petrolina em Pernambuco, Mossoró, Pau dos Ferros e Caicó no Rio Grande do Norte e Juazeiro do Norte, Aracati e Sobral no Ceará.

(32)

A expansão dos algodoais e a necessidade de um beneficiamento local do produto provocaram o crescimento populacional e a formação de novos grupos sociais no Sertão; o crescimento dos algodoais contribuiu, em grande parte, para a expansão da escravidão negra nas áreas de pecuária, no inicio do século XIX (...) (ANDRADE; 1996; p.107).

Ao contrário da pecuária bovina a qual era criado á solta á cultura do algodão careceu de um número elevado de mão de obra, pois os produtores precisavam de muitos trabalhadores tanto para a plantação quanto para o cultivo do produto e posteriormente a sua distribuição.

Finalizando a discussão desse primeiro capitulo procuramos demonstrar seguindo a historiografia da formação social e econômica do Brasil o papel que vai ocupado a cultura do algodão e do gado na ocupação e povoação do interior do Nordeste brasileiro. Essa ocupação não ocorreu de forma homogênea como na zona da mata litorânea região da povoação inicial. No interior por ser uma região extensa e pela importância da água, os primeiros núcleos de povoamento se deram as margens de alguns principais rios como o Piranha-Açu, Várzea Barris, Parnaíba, Jaguaribe e principalmente o São Francisco por onde através das suas margens se expandiram as fazendas de gado. A pecuária se expandiu para o interior da região a partir do confronto com a cultura da cana de açúcar na Zona da Mata nordestina, onde o gado por determinação da coroa, não poderia ocupar o mesmo espaço do canavial.

Andrade (1986), em seu texto intitulado “A pecuária e a produção de alimentos no período colonial”, nos chama atenção do ponto de vista econômico para o comércio proporcionado pela cultura da pecuária principalmente na região Nordeste, já que a mesma possuía um mercado vasto. Como e possível observar na passagem a seguir:

(...) contavam os pecuaristas com um mercado certo na aérea agrícola, que seria abastecido de carne, de couro e de animais de trabalho;... Formou-se assim, no Sertão – Nordeste semi-arido - uma sociedade pecuarista, dominada por grandes latifundiários, cujos detentores quase sempre viviam e Olinda ou Salvador, delegando a administração da propriedade a empregados (“...)”. (ANDRADE, 1986 p. 102 e 103).

A pecuária tornou-se de forma geral, a principal atividade econômica do interior da região Nordeste. A partir de sua prática surge outra atividade secundaria que veem ao seu complemento como a função do vaqueiro, tangedores e tropeiros responsáveis pela circulação dos produtos que abasteciam as comunidades, com as feiras que aconteciam nas vilas e povoados do sertão. Sobre essa temática, Linhares (1996), em sua abordagem sobre a expansão do gado para o interior afirma que: “Com o gado do Nordeste avança também o

(33)

algodão, e os laços comerciais com os centros de consumo do litoral portuário.” (LINHARES; 1996; P: 120), ou seja, com o avanço proporcionado pela expansão do gado o algodão também passa intensificar ainda mais o comercio já existente com os polos comerciais, assim como se expande e passa a formar novos grupos sociais.

Como afirma Andrade (1961):

A expansão dos algodoais e a necessidade de um beneficiamento local do produto provocaram o crescimento populacional e a formação de novos grupos sociais no Sertão;... Criaram as culturas do milho e do feijão associadas ao algodão e a mandioca. (ANDRADE 1961, p. 105-107).

As feiras de gado e a produção algodoeira foram o marco fundador de algumas vilas e povoados como o atual município de São José de Piranhas no sertão paraibano, onde a pecuária tem um papel muito importante na conjuntura econômica e social do município. A cidade se relacionava com as demais vilas através da atividade de comércio levada a efeito pela figura do tropeiro que através de rotas comerciais em especial a do algodão, eram responsáveis pela circulação e/ou troca de mercadoria entre São José de Piranhas e outras cidades a exemplo de Mossoró- RN, Cajazeiras, Campina Grande e Sousa PB, Crato, Juazeiro do Norte e Missão Velha CE dentre outras.

Um capítulo da história do município de São José de Piranhas como integrante e exemplo da expansão e formação do interior, via atividade comercial proporcionada pela cultura do gado e do algodão será abordado como objeto de estudo no capítulo seguinte cuja narrativa procuraremos mostrar o contexto histórico-cultural da atividade algodoeira, assim como o processo de comercialização do nosso denominado “ouro branco paraibano” nesse município, tendo como principais responsáveis pela condução desse tipo de comércio os tropeiros de São José de Piranhas PB, fonte de pesquisa dessa monografia.

(34)

CAPÍTULO II: SÃO JOSÉ DE PIRANHAS: O COMÉRCIO DE ALGODÃO E A ATIVIDADE TROPEIRA

Ao longo do capítulo anterior procuramos apresentar alguns discursos historiográficos sobre as atividades econômicas realizadas no Brasil desde o período colonial. Atividades essas distribuídas entre a atividade canavieira, a pecuária e a atividade algodoeira essas duas mais no interior, e importante para definição social a qual se remete com maior ênfase ao longo deste segundo capítulo porque geradoras e impulsionadoras da atividade dos tropeiros objeto particular dessa pesquisa.

Esse capítulo, pois, destacará a atividade tropeira exercida durante esse período como um dos principais parâmetros desse desenvolvimento local, mostrando como essa surgiu e como se deu a sua contribuição para o crescimento econômico do município durante as décadas de 1940-1950. Partindo desse pressuposto, será analisado, na medida do possível, o sistema de produção e circulação de produtos e sua comercialização com as demais localidades circunvizinhança.

O recorte temporal desse estudo estende-se do final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Período esse em que algumas regiões do Brasil a exemplo da Paraíba vivenciou um período de grande ascensão em virtude da atividade algodoeira. O recorte espacial delimita o município de São José de Piranhas PB. Aqui, O desenvolvimento da cultura algodoeira foi de suma importância para o crescimento do município, assim como das localidades vizinhas a exemplo de Carrapateira, Monte Horebe, Bonito de Santa Fé, Cajazeiras, Sousa, etc. Antes de voltarmos o foco para esse período achamos importante tecer algumas informações sobre o município.

São José de Piranhas é um município brasileiro localizado Estado da Paraíba, distante cerca de 520 km² da capital do estado João Pessoa está inserido na mesorregião do sertão e microrregião de Cajazeiras, sua área territorial é de 677,65 km². Sua população de 20.099 habitantes e tem densidade demográfica de 28,19 habitantes por km². (IBGE; 2010). O município está inserido no bioma caatinga, com chuvas de verão e clima semiárido quente, seco com temperaturas mínima de 20 º C e a máxima de 37º C.

(35)

MAPA I: POLÍTICO DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DE PIRANHAS PB

Fonte: www.GVsig.com

De acordo com Leitão (1986), a cidade de São José de Piranhas teve sua independência político administrativa no ano de 1885. Essa se deu através da lei de número 791 de 24 de setembro do mesmo ano. A referida lei foi sancionada pelo então presidente da província da Paraíba, Antônio Herculano de Sousa Bandeira, que por meio desta elevou a vila de São José de Piranhas a categoria de município.

Antonio Herculano de Sousa Bandeira, Doutor em sciencias jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito do Recife. Oficial da Imperial Ordem da Rosa e Presidente da província da Parayba; Faço saber a todos habitantes que a Assembleia Legislativa Provincial resolveu e eu sanccionei a resolução seguinte: Art.1º - Ficão elevadas a categoria de villas as povoações de S. José de Piranhas, da comarca de Cajazeiras, e Solidade, da comarca de S. João do Cariry, que continuarão a ter as mesmas denominações. Art. 2º - Ficão também elevadas a municípios a freguezia de S. José de Piranhas, a sudelegacia de Solidade. (LEITÃO; 1986; p. 33).

Embora a sua emancipação política tenha se dado no ano de 1885 a história do município começou em 1761, quando o Capitão Francisco Xavier de Miranda obteve por meio do sistema de sesmaria o sitio denominado São José onde. Leitão em sua obra intitulada “São José de Piranhas Notas Para sua História” afirma que:

Referências

Documentos relacionados

A regulação da assistência, voltada para a disponibilização da alternativa assistencial mais adequada à necessidade do cidadão, de forma equânime, ordenada, oportuna e

RESUMO – O objetivo desse trabalho foi avaliar o impacto do aumento de dióxido de carbono (CO 2 ) atmosférica sobre a produção de material seco de plantas invasoras e

A prevalência global de enteroparasitoses foi de 36,6% (34 crianças com resultado positivo para um ou mais parasitos), ocorrendo quatro casos de biparasitismo, sendo que ,em

Existem quatro armários na sala, um que serve para arrumar livros e materiais utilizados pela educadora, outros dois que servem de apoio aos adultos da sala e

Conforme a Máquina do Esporte havia calculado, ao mandar o jogo para o Pacaembu, o Bragantino pre- cisaria colocar pelo menos 20 mil torcedores para faturar mais do que no duelo

Ana Isabel Moreira da Silva e Sousa Excluída por falta de documentos. Ana Lúcia Abreu Rebelo Excluída por falta

No código abaixo, foi atribuída a string “power” à variável do tipo string my_probe, que será usada como sonda para busca na string atribuída à variável my_string.. O

Afinal de contas, tanto uma quanto a outra são ferramentas essenciais para a compreensão da realidade, além de ser o principal motivo da re- pulsa pela matemática, uma vez que é