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CAPÍTULO III: MEMÓRIAS E HISTÓRIAS: EXPERIÊNCIAS DOS EX-

3.2 Os campos de pouso para os tropeiros como lugar de descanso

Campos de pousos eram denominados assim os locais usados pelos tropeiros em suas viagens para descanso, tanto destes como dos animais, que após uma longa jornada diária paravam para se alimentar onde também buscavam pastagens e água para os animais.

Goulart (1961), descrevendo os campos de pousos afirma que: “Não se pode falar de tropas, de tropeiros e de camaradas sem mencionar o pouso”. O mesmo destaca que o local usado como ponto de pouso sofreu modificações ao longo do tempo. Por volta do ano de 1838 a coroa resolveu criar e aperfeiçoar os pousos em lugares mais estratégicos e os tornando posteriormente paradas obrigatórias das tropas. Portanto muitos destes locais de pouso posteriormente deram origem a vilas e povoados, formando os primeiros núcleos urbanos da região das minas. Como diz o autor os pousos, porém a principio se constituía de local construído de palha e paus-a-pique e que servia de ponto de descanso das tropas ao final do dia. O autor ainda o denomina de “lugar de resguardo”, por que serviria para os tropeiros que viriam a surgir e que consequentemente passaria por tais locais. Acrescenta ainda que se tratava de um local desconfortável por ser uma “palhoça rústica” que não tinha divisória alguma, ou seja, não tinha paredes, mas tinha pastagens e água para os animais. (GOULART; 1961; p: 129-130-131).

Já a questão do pouso na Paraíba e retratada por Almeida (1978), em sua obra intitulada “Historia de Campina Grande”, onde essa afirma que a cidade de Campina Grande até meados do século XX, era usada pelos tropeiros não apenas como ponto de pouso dos animais, bem como destes mesmos, mas está vinha a ser tida como parada obrigatória. Isso se explica porque ali que se fazia toda a comercialização dos mais variados produtos desde simples gêneros alimentícios, especiarias a diversos produtos. (ALMEIDA; 1978; p: 107- 108).

Partindo dessa perspectiva podemos por vez afirmar que a cidade de Campina Grande, era o ponto de convergência mais importante do Estado da Paraíba, uma vez que como se tem conhecimento por meio da historiografia unia e reunia tropas de toda a Região Nordeste. Tropas estas que levavam mercadorias diversificadas e ao retornar para suas localidades levavam de volta outras para serem por vezes comercializadas. Foi a partir do fluxo comercial

de Campina Grande que os tropeiros intensificaram mais e mais as relações comerciais e não apenas com a cidade citada, mas com aos demais estados como: Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco dentre outros.

Como afirma Freitas (2013), no seu trabalho histográfico “Os Tropeiros da

Borborema: símbolo fundacional da cidade de Campina Grande – PB (1790-1982)”: “(...)

Campina Grande por um longo período da história paraibana se destacou por ser o ponto de confluência das principais estradas que ligavam Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí”. (FREITAS; 2013; p: 27). São José de Piranhas também era o local onde os tropeiros descansavam e também davam descanso para os animais. Quando daí se deslocavam, era em qualquer lugar a beira do caminho, em baixo de uma árvore, em uma estrada próxima às ribeiras de rios ou até mesmo riachos onde os animais e estes mesmos pudessem passar a noite que pousavam. Como pode ser observado na passagem a seguir:

A sombra de um Juazeiro, de uma quixabeira, ou de outra árvore sombrosa, era procurada pelos almocreves, quase sempre onde existia uma aguda. Todos conduziam o seu farnel: carne, farinha, rapadura,queijo e ali se regalavam, bebendo água fria, assim conserva nas “borrachas”... Descansando após o almoço, prosseguiam viagem quando o sol “quebrava”, ou pernoitavam em redes aramadas nos galhos das árvores, ou no chão, sobre os encerados. Antes de romper o dia, levantavam acampamento. (ALBUQUERQUE, 1979, p. 36)

Segundo nos relata o Senhor Silvino Fernandes em entrevista prestada a nossa pesquisa o motivo pelo qual as tropas paravam e descansam sem medo em qualquer lugar, se dava porque as estradas eram muito tranquilas e não constituía perigo algum.

Era calmas. Pode ta onde tivesse. Era tudo calma, num tinha nada. Ninguém tinha medo de nada e num existia o que existe hoje não... Você ia pa todo canto. Dormia nas estradas. Deitava debaixo de arvore de pau, tudo no mundo. Naquele tempo não tinha nada. (FERNANDES; Entrevista: 03. 2015).

Mais adiante na mesma entrevista ele nos faz um relato sobre duas viagens. Sendo uma para a cidade de Cajazeiras e outra para a cidade de Bonito de Santa Fé, onde menciona que ao longo das viagens paravam para o descanso e seguiam viagem no dia seguinte.

Observemos a fala do nosso entrevistado Silvino Fernandes:

Isso aqui nós ia muito pa Bunito (Cidade: Bonito de Santa Fé) carregara mercadoria daqui pa Bunito. Levava mercadoria pa queles comercio tudim. Era açúcar essas coisa tudim e em burro, num tina carro. Nós ia pa Bunito

nós chega ai perto do Bunito nos Perero (Sitio Pereiros) nos cansava de parar naquela ponte que tinha lá que não dava para passar e esperar o rio secar para passar. Pois. Era tudo desse jeito... Tudo ai por dento. O caba ia daqui pa Cajazeira era o dia todim. Saia cedo pa chega de tardizinha em cima de um burro. Ainda dormia no camim pa chega no outro dia. (FERNANDES; Entrevista: 04. 2015).

Como base nas falas acima podemos constatar o já dito anteriormente a respeito de que os tropeiros que faziam longas rotas, assim como os tropeiros de São José de Piranhas ,não tinham um lugar fixo para repouso durante as cansativas viagens, uma vez que paravam para descansar nas estradas por onde trafegavam sempre no intuito de realizar a sua trajetória e cumprir com os seu compromisso, ou seja, levar os produtos ao seu destino.

3.3 As formas de atuação e composição das tropas em São José de Piranhas: pessoas e