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Durante o curso em Fort Gullick, o sen.hor entrou em contato com oficiais de outros Exércitos latino-americanos? Qual era a

tônica da luta contra o comunismo?

Quando fomos fazer o curso de informações em Gullick, encontra­ mos oficiais de vários países sul-americanos: Argentina, Chile, Peru, Venezuela, México, praticamente todos os países da região. Todos sendo formados dentro da idéia geral de combater o comu­ nismo. O próprio coronel do Chile que fazia o curso estava preocu­ pado com a situação do seu país: "O dia que eu voltar ao Chile, vai ser um problema, porque o presidente Frei é um Kerenski. Vão me mandar servir na presidência da República� e vou querer comba­ ter esse homem. Vai ser um choque tremendo para mim." E foi o que aconteceu. Ele voltou ao Chile, depois do Frei veio o A1lende, e houve a deposição do Allende, porque a infiltração era tremenda. E o Chile é um dos países sul-americanos que têm o mais alto nível educacional. Os índios araucanos, com a conquista espanhola, transformaram o Chile num país muito bem orientado, mas a infiltração foi fundamental dentro da classe pobre e da classe média. Então o Chile estava sofrendo violentamente a influência comunista. Na Argentina, a mesma coisa. Com a entrada do

Perón, o peronismo, a ligação dos sindicatos com a política, houve a desmoralização quase completa da sociedade argentina. Foi então que começou o violento descalabro desse país. Na Colômbia também havia isso, embora fosse mais atingida com o narcotráfi­ co. Na Venezuela, a infiltração era também muito grande, e havia muita corrupção. No Peru, a mesma coisa, principalmente entre a população indígena. que lá é muito grande. Todos estávamos sofrendo a mesma situação. Mas, no Brasil, era pior, era mais grave, porque a infiltração entre 61 e 64 foi tão violenta que, por pouco, este nosso país não caía nas mãos da área socialista.

1 B4 • Os Anos df' Chumho

É

isso o que eu não perdôo a esses jornalistas. a esses políticos que vivem atacando a Revolução de 64. Não é possível que esses homens, hoje com a idade de cinqüenta, sessenta anos, não se recordem, não tenham a coragem de reconhecer o que se passava em 62, 63. Muita gente moça não eabe o que se passou porque não era nascida na época, ou não tinha ainda capacidade de trabalho, e também porque a memória do brasileiro vai se esvaindo por causa da tendência da nossa mídia em desmoralizar tudo o que aconteceu depois de 64. As escolas de jornalismo foram criadas por professores e pessoas de esquerda que dominaram totalnlente o corpo docente, formando a enorme chusma do jornalismo que atualmente está executando um programa de apoio à área socia­ lista.

É

um absurdo que uma utopia como o comunismo interna­ cional tenha capacidade de viver até hoje. Não podemos entender como é possível que não se compreenda a falsidade que existe nessas teorias.

Pois bem. Foram essas escolas de formação de jornalistas que prepararam os jornalistas de agora. Naquela época, não tínhamos o jornalista comunista, mas já havia uma infiltração muito gran­ de, e esses homens todos começaram a trabalhar no sentido de desmoralizar as nossas preocupações. O Kominform russo man­ dava verbas enormes para o Brasil, para o Partido Comunista, para pagar cursos etc. Lembro muito bem que havia na Bahia um cabo do Correio Aéreo Nacional, no Campo de Aviação, que era o encarregado do correio, e esse homem era o chefe comunista naquela área, era quem dava os cursos. Vinham cabos, sargentos e oficiais de fora para esses cursos, que eram ininterruptos, e em cujos currículos havia assuntos de relacionamento, política e es­ tratégia internacional. Com que finalidade isso? Só podia ser coisa subversiva. Porque não tinha outra desculpa, outra excusa. Isso acontecia não só na Bahia. Também no Rio de Janeiro havia cursos continuados de três, quatro meses para a preparação dessa gente. E o Brasil inteiro não sabe disso.

No governo Castelo Branco, depois dos inquéritos terminados, nada foi apurado até o fim: todos caíram em prescrição judiciária, isto é, passaram-se os prazos e não foram a julgamento. O general Castelo Branco queria fazer uma revolução democrática, uma revolução administrativa. Não é possível fazer revolução desse jeito. Numa revolução é preciso agir, fazer, executar e providen-

JOÃO PALL" M O R E I R A B U RN" I E R • 1&�

ciar coisas para o futuro. E não foi feito nada disso. Os inquéritos que ele mandou abrir, e aqueles que o Comando Revolucionário autorizou, não foram levados à Justiça. O inquérito de Santa Cruz, por exemplo, tem centenas de páginas, pilhas de documen­ tos, provas cabais, confissões completas, e ninguém foi punido. A Justiça paralisava tudo isso.

No Judiciário Militar, havia dois juízes das Auditorias Milita­ res da Aeronáutica que eram irmãos e muito ligados ao Eduardo Gomes. Esses homens eram totalmente ligados à parte esquerdis­ ta. O próprio grande advogado, esse Sobral Pinto, que é um católico apostólico romano, defendia 08 comunistas de urna manei­

ra terrível, esquecendo-se de que o mal que esses homens estavam fazendo não merecia a defesa de um homem justo e correto como ele. Por outro lado, nós tínhamos Justo Mendes de Morais, um grande advogado que atuava contra esses homens. Mas esse advogado, esse grande jurista, o Sobral Pinto, insistia em defen­ der os comunistas. Eram criminosos! Estavam preparando a des­ truição da sociedade brasileira! E mesmo assim ele os defendia. Nós não nos conformávamos com isso.

Tudo o que estou falando é para mostrar que a situação era muito séria. Foi impressionante o perigo que o país correu. Não admito, portanto, que esses homens, jornalistas e políticos, pos­ sam hoje atacar a Revolução, que foi realmente a única coisa que se pôde fazer para evitar a queda do Brasil nas mãos dos bolche­ vistas. Mas não tenham dúvida a respeito. Podem procurar toda a documentação que existe, os pronunciamentos de todos os gene­ rais, de todos os civis, de todos os governadores da época, mesmo daqueles que inicialmente foram contra a Revolução: todos con­ cordaram que se devia fazer alguma coisa, que tinha que haver

um basta naquela infiltração.

E mais do que isso. Quando. os governadores de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Bahia, Paraná e Ceará se reuniram no Rio de Janeiro para fazer a escolha do futuro presi­ dente, logo depois da Revolução, lá pelo dia 5 de abril, todos eles acharam que era preciso fazer algum tipo de legislação para autorizar o futuro presidente a executar medidas saneadoras. Porque, com a Constituição de 46, seria impOf5sível governar o país. Era muito liberal. Então, era necessário um ato que desse ao presidente que fosse eleito o direito de modificar as coisas e fazer

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a cassação, a eliminação, a retirada de determinados políticos, de determinados civis da administração brasileira, bem como o afas­ tamento de militares das três Forças Armadas que, comprovada­ mente, tivessem ligaçôes com o Pprtido Comunista ou com a área esquerdista. E isso foi feIto logo apns a R(wolução, antes mesmo da posse do presidente Castelo. quando houve o Ato Institucional n' 1 -o AI-1 - no dia 9 de abril de 19G4.

As minhas ligaçõE'5 com os colegas de curso em Gullick foram muito boas, e o curso foi muito hem dado. Não havia nenhuma idéia de engrandecer os Estados Cnidos. O objetivo era realmente combater as idéias marxistas. Estávamos em plena guerra fria e estudávamos o que era o comunismo, o que era o socialismo. Socialismo não é assistência social como hoje em dia se pensa. Socialismo é uma doutrina econômica dura, que só pode ser implantada num regime ditatorial. Porque ninguém aceita traba­ Ih:'!f para os outros sem ter, pele menns. a recompensa da sua

parte no trabalho. E é isso o que o capitalismo. não o capitalismo "selvagem", mas o capitalismo liberal, permite.

O curso foi muito bom, tanto na parte prática como na parte teórica. A parte teórica foi muito bem desenvolvida por professo­ res americanos, espanhóis e de "ári08 outros países, e a parte prática foi muito hem-feita tambprn, com exercícios em todas as áreas. Foi um curso de seis meses que me preparou para criar, no

Rio de Janeiro, o serviço de informações da Aeronáutica. Em 1968. ao retorno)' do Panamá, o senhor foi designado para

servir junto ao mini--c;tro lvlárcio df' Sousa e Melo. de quem se

tornou chefe de gabÚl€te. O serviço de I.:nformações foi cnado de imediato ?

Cheguei do Panamá em janeiro de 1968 e, ao chegar, fui indicado, por ordem do ministro, para ser oficial-de-gabinete do seu Minis­ tério. Foi determinado a mim, por decreto, que assumisse a chefia da Seção A I (GM-l), encarregada de pessoal - não entrei direto para a 2!i Seção. Aí permaneci de janeiro a 16 de abril de 1968, quando o brigadeiro Sousa e Silva, chefe do gabinete do nünistro da Aeronáutica, ficou doente. Com isso, o ministro determinou, em port.aria, que eu assumisse interinamente a chefia do gabinete, onde fiquei até o dia 29 de abril - apenas treze dias -, passando

a função novamente ao brigadeiro Sousa e Silva, que voltava de sua licença médica.

Nessa ocasião, fui promovido a brigadeiro-do-ar, e é interessan­

te notar que eu era o número 21 na escala hierárquica dos coronéis e o número 13 na lista de promoções, O presidente Costa e Silva me promoveu a brigadeiro, e com esta promoção eu passei a frente de cerca de treze coronéis da Aeronáutica. Aparentemente, tal ato teria sido em benefício da minha carreira militar. Quando da apresentação dos brigadeiros ao general Costa e Silva - porque é normal toda vez que acontece uma promoção de um oficial-general que ele vá à presença do presidente agradecer -, eu me dirigi a ele e disse: "General, agradeço a promoção. Em todo caso� o senhor não sabe o mal que fez à minha carreira e a mim. Passei a frente de vários companheiros. e isso, seguramente, vai me prejudicar, vai criar uma maledicência muito grande." E ele afirmou: "Não se preocupe, brigadeiro, eu tenho confiança no que fiz."

Mas, realmente, esta promoção veio prejudicar a minha carrei­ ra no futuro, porque os homens, vaidosos e sempre orgulhosos de suas carreiras, não perdoam terem sido "caroneaclos" - este é um termo que se diz na gíria militar. Na promoção, eu estava em evidência, mas não tive qualquer interferência. Não foi por minha culpa, nem por minha vontade, nem a meu pedido. Foi decisão do presidente da República, que é a única pessoa capaz de promover um oficial de qualquer Força, de acordo com a Constituição. E este ato provocou mais tarde o meu afastamento prematuro da Força Aérea, por vingança, em nome da suposta legalidade.

Bom, de qualquer maneira, fui promovido a brigadeiro, e fiquei adido ao gabinete aguardando funções. Aí o ministro da Aeronáu­ tica me nomeou para chefiar a 2(! Seção do gabinete do ministro, a de Informações, que faz a coleta das informações dos oficiais para o ministro. Permaneci nessa função até o dia 24 de julho, quando foi criado, por decreto, o N-SISA - Núcleo do Serviço de Informa­ ções e Segurança da Aeronáutica. Fui nomeado no dia seguinte para chefiá-lo,

Para se ter uma idéia do ridículo que era a 2ª Seção, ela contava apenas com um auxiliar, que era o telefonista, um tenente e o coronel Maciel, que era o antigo chefe. Esta era a 2ª Seção que, há anos e anos, vinha funcionando desta maneira. Pois bem, assumi, preparei toda a documentação, tudo à semelhança do elE e do

188 • Os Anos de Chumbo

Cenimar. O N-SISA foi criado, foi desenvolvido, e se transformou realmente numa seção importantíssima) a cabeça do serviço de informações da Aeronáutica. Foram criadas seções de o:perações, seções de arquivos, enfim, fez-se uma organização completa, Co­ meçamos a atuar e, posteriormente, tivemos uma atuação bastan­ te eficaz e completa no combate à subversão.