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Dziga Vert ov Reenquadrado

No documento Rodrigo Minelli Figueira.pdf (páginas 85-92)

A prim eira apresent ação t em át ica realizada pelo grupo, para abert ura do “ Fest ival I nt ernacional de Curt as Met ragens de Belo Horizont e” em 2001, “ Dziga Vert ov Reenquadrado” deu início a um a seqüência de apresent ações post eriores e m arcou o com eço de um a série de experim ent ações, no sentido da escolha das sit uações, das form as de apresent ação e das form as de relacionam ent o do público com a obra e seus elem ent os const it ut ivos: as proj eções, as font es em issoras de som , os inst rum ent os e m áquinas, bem com o os próprios artistas e perform ers, e os elem ent os cênicos e dram át icos.

Da sit uação cont em plat iva, proporcionada pelo palco t radicional, e a part ir de im agens ext raídas do film e "O hom em com a câm era” ( 1929) , do cineast a russo Dziga Vertov, o grupo se propôs a explorar os conceit os e a int erpret ar as t eorias de m ont agem do diret or, ao reagrupar as séries narrat ivas present es no film e.

No film e, Vert ov busca dissecar o cot idiano de um a m et rópole e as at ividades de seus habit ant es em um dia, do m om ent o em que a cidade acorda, enquant o se preparam os m eios de t ransport es e as loj as abrem suas vit rines e portas, os t rabalhadores acordam e se arrum am para depois se dirigirem ao t rabalho em todos os set ores, indúst ria, com ércio, exploração m ineral, et c., at é, finalm ent e, se ent regarem ao lazer, nos bares, nos t eat ros e no cinem a e nas prát icas esport ivas.

“ A concepção da m ont agem do film e consist e em um a operação de aproxim ação e ent recruzam ent o, de alt ernância e espaçam ent o das séries, criando um a coerência, m esm o quando se t rat a de associar o que aparent em ent e não t em relação ou o que não é da m esm a nat ureza.” ( DUBOI S, 2003: 196)

Para Vert ov est e era o princípio que ordenava a prát ica cinem at ográfica e lhe deu o nom e de int ervalo,

“ Os int ervalos ( passagens de um m ovim ent o para out ro) , e nunca os próprios m ovim ent os, const it uem o m at erial ( elem ent os da art e do m ovim ent o) . São eles ( os int ervalos) que conduzem a ação para o desdobram ent o cinét ico. A organização do m ovim ent o é a organização de seus elem ent os, ist o é, dos int ervalos na frase. ( ...) . Um a obra é feit a de frases, t ant o quant o est as últ im as são feit as de int ervalos de m ovim ent os.” ( VERTOV, Dziga, “ Nós – Variação do m anifest o” in XAVI ER, 2003: 250)

A form a encont rada pelo grupo para apresent ar est a perfom ance foi ut ilizar um a única t ela cobrindo t oda a boca de cena de um dos m aiores palcos da cidade - recurso est e que volt aria a ser explorado em out ras obras e se transform aria quase em um a m arca do t rabalho do grupo – e, sobre ela, quat ro proj eções dist ribuídas de form a a cobrir um a área m aior da t ela.

No cant o direit o do palco, em frent e à t ela, havia os m úsicos, em um grupo que incluía um baixo acúst ico, um a guit arra, um set de t eclados e sam pler e um DJ; nest e caso, a própria escolha dos m úsicos convidados, de cert a form a, foi orient ada pela im agem e grau de represent ação de cada dest es int rum ent os e players, do j azz, do rock, da m úsica elet rônica e da cult ura dance m usic.

Os responsáveis pela im agem , por sua vez, ficaram no fosso da orquest ra, de frent e para a t ela, e não podiam ser vist os pelo público, assim com o o set de equipam ent os, que à época nem eram port át eis, com post o por m áquinas Apple G3 e G4 desktop que, por isso, const it uíam um grande volum e, ao lado dos m onit ores, swit cher, câm eras, et c. A opção de não revelar as form as do fazer e as m áquinas que ut ilizavam t ornou- se um a const ant e, na busca de reafirm ar a im port ância das im agens e dos sons, frent e ao aparat o tecnológico.

As proj eções eram com post as basicam ent e pelas im agens do film e e por anim ações e gráficos feit os a part ir de reproduções de cart azes do m esm o, de um a seqüência de gest os de Maiakovski e de alguns de seus poem as e rem et iam à est ét ica russa e ao alfabet o cirílico.

Os planos do film e original foram cort ados - em um t rabalho de m ont agem invert ida, ou sej a, de desm ont agem - e deram origem a inúm eros loops das diversas séries abordadas ( o am anhecer, os m eios de t ransport e, o t rabalho, as at ividades esport ivas, et c) , reagrupados em núcleos t em át icos e ações especifícas que eram , ent ão, exibidos com a m anipulação t ípica do vj aying em cada um a das 4 proj eções sobre a t ela. Assim , era possível, ao espect ador, “ ver” o film e de Vert ov redist ribuído espacialm ent e sobre a t ela.

Se no film e, em um a proj eção linear, em um a única t ela, o m ont ador é obrigado a organizar os int ervalos, ordenando- os de form a a se sucederem no t em po da proj eção, aqui era possível ver os diversos m om ent os de um a m esm a ação apresent ada no film e, sim ult aneam ent e e, não, sucessivam ent e.

O film e – e em especial est e “ O hom em com a câm ara” , por sua part icular est rut uração e m ont agem – se abre à m ult iplicidade da sim ult aneidade e o espect ador ent ão volt a a poder prest ar a at enção naquilo que lhe int eressa da cena, nest e ou naquele det alhe que lhe cham a at enção. Assim com o em um a apresent ação de balé, no exem plo de Vert ov, em que

“ ( …) o espect ador acom panha, efet ivam ent e, e de m odo desordenando, ora o grupo dos bailarinos, ora, ao acaso, um a expressão facial em part icular, ora as pernas, enfim , um a série de percepções esparsas e diferent es para cada espect ador.” ( VERTOV, Dziga, “ Resolução do Conselho dos Três” in XAVI ER, 2003: 254)

A reordenação paradigm át ica do film e, pelo agrupam ent o t em át ico, apont a para um a característ ica que m arca quase t odas as apresent ações do grupo, um a espécie de const it uição de um banco de dados de im agens que são ut ilizadas na com posição de “ linhas de t em po” e dist ribuídas ent re as m áquinas que serão operadas durant e a apresent ação ao vivo. A prát ica é definida por Bast us ( 2006) , com o sendo a concretização de

“ ( ...) um a espécie de j azz sinest ésico. A proxim idade do cinem a com j eit o de banco- de- dados é program át ica: um a das prim eiras apresent ações ao vivo do * / / FAQ é Dziga Vert ov reenquadrado. Segundo Lev Manovich, O hom em com a Câm ara na Mão, do cineast a russo, ant ecipa a possibilidade de um cinem a banco- de- dados, m ont ado pelo eixo do paradigm a, desafiando o fluxo narrat ivo t em poral dos rom ances film ados que Hollywood ( ...) .” 32

O desej o de Vert ov de “ organizar um universo não apenas

audível, m as visível”33 at ravés do cinem a, se concret iza, m as não

com o cinem a.

32 Disponível em : ht tp: / / www.sescsp.org.br/ sesc/ videobrasil/ site/ dossier013/ ensaio.asp. Acesso em : 25,

ago. 2007.

No documento Rodrigo Minelli Figueira.pdf (páginas 85-92)

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