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Vej a prim eiro as in

No documento Rodrigo Minelli Figueira.pdf (páginas 92-102)

O event o “ Red Bull Live I m ages” , foi idealizado pelo art ist a e curador Luiz Duva com o a prim eira m ost ra brasileira de VJs, e foi dedicado a dar igual at enção t ant o à im agem , quant o à m úsica.

“ O obj et ivo do Red Bull Live I m ages é som ar as m ídias – im agem e som , sem que haj a hierarquia ent re elas, para que form em um a t erceira onda” , adiant a Duva. “ O público t erá acesso a um cont eúdo não só sensorial, m as a um a verdadeira t em pest ade de idéias” , explica o release de divulgação do event o.

Um a est rut ura – com um a t odos que se apresent am no event o – é form ada por quat ro grandes t elas, criando um a espécie de cubo que envolve o público. As im agens podem ser vist as t ant o por quem est á “ dent ro do cubo” , com o por aqueles que est ão do lado de fora, devido ao uso de t elas t ranslúcidas. A circulação do público é int ensa e est e se dedica a ver as im agens, ao m esm o t em po em que dança, conversa e paquera, com o em um a fest a. O int eresse do público é despert ado t ant o pelas im agens e sons, quant o pelos art ist as e seus equipam ent os, t udo se revela, não há “ caixa pret a” ou est relas do show bussiness.

A est rut ura difere daquela de um show, em um dos cant os est ão os Vj ’s e ao lado os m úsicos, em prat icáveis no m esm o nível do público, não há palco separando os art ist as do público. O t rânsit o ent re “ um e out ro lado” , inclusive, revela que m uit os dos present es

são t am bém art ist as e am igos.

Com plet am o am bient e m ais t rês proj eções, ilum inação, áreas de descanso, com pufes e sofás, bares e um a área exposit iva, com m onit ores de plasm a, para a experim ent ação, por part e do público, do software de vj aying “ Visual Radio” do VJ Sppet o, e a apresent ação do grupo é planej ada em função dest e espaço e da est rut ura disponível.

A perform ance “ Vej a prim eiro as inst ruções” , conform e descrit a no catálogo da m ostra,

“ ( ...) part e da idéia de j ogo, acaso, desafio, t ransgressão e enfrent am ent o. As sensações das apost as são t raduzidas para um clim a elet ro, a 128 BPM, com influências de punk rock, noise e indust rial, com int erferências ao vivo e andam ent o descont ínuo. As im agens referenciadas no m ovim ent o caót ico urbano t ransform am t odo t ext o do j ogo em obj et o” .

O j ogo evidencia- se, logo de início, com as im agens de um a espécie de “ caça- níqueis” . São os rost os de personalidades - polít icas, hist óricas, da m ídia – que se sucedem em longas t iras vert icais, em cores vibrant es e grafism os cint ilant es. Aleat oriam ent e, se em parelham Lula, Xuxa e Mao- Tse Tung. Nova rodada e t em os

Kennedy, a loira do É o Tchan e Sigm und Freud. Hit ler, Fernandinho Beira- m ar e Bush, e assim por diant e. A necessária coincidência que faria a m áquina “ cuspir os níqueis” nunca acont ece, com o em um j ogo de azar que nunca t em um ganhador.

Nas anot ações para realização do t rabalho, encont ram os um a possível chave para a com preensão dest a seqüência de im agens,

“ Hoj e nossa t ese é a seguint e: não obst ant e as revoluções sej am norm alm ent e feit as em nom e da liberdade, est a é a prim eira a ser sacrificada.

Hipót ese: ist o se deve ao fat o de que ao serem deposit adas na figura de um líder as esperanças de libert ação de um a m assa de hom ens, a dom inação dest a m esm a m assa se dá em nom e da preservação das conquist as obt idas.

Ant ít ese: against líderes - polít icos, ideológicos, revolucionários, de opinião. Sam e bullshit, t odos são caça níqueis.

Sínt ese: a possibilidade de t ransform ação se encont ra em cada um de nós.

Façam suas apost as est e é o j ogo”34.

A apresent ação est á subdividida em cinco m ovim ent os que abordam os seguint es t em as: 1) I deologia; 2) Polít ica; 3) Est ét ica; 4) Guerra; 5) Massas; 6) Revolução; 7) Violência; e 8) Anarquia.

No prim eiro segm ent o, “ ordem / desordem ” , t em os im agens da grande depressão am ericana de 1929, com hom ens desem pregados em bancos de praças, fam int os na fila da sopa, e o enforcam ent o de Mussolini na I t ália pela resist ência com unist a em 1945, ent re out ras im agens em pret o e branco, ret iradas de docum ent ários hist óricos que, m anipuladas com t écnicas de scrat ch, im prim em um a at m osfera de angúst ia e ao m esm o t em po t ensão, pela acelerada progressão da m úsica.

Segue- se um t ext o do qual pouco se dá a ver, m as que define o horizont e t eórico e a abordagem dos t em as t rat ados e o caráter essencialm ent e polít ico da apresent ação. O t ext o, um a espécie de “ rem ix” lit erário, é com post o a partir de fragm ent os de dúbias m ensagens de erro de com put ador ( “ não foi possível criar o cam inho” ) , cit ações de t eóricos e pensadores polít icos ( “ os novos const ant em ent e invadem a est abilidade do st at us quo” ) , poesia dadaíst a ( usando curingas desej a que dest ino exist ent e) e os coloca

34 Da correspondência elet rônica entre o grupo, est e docum ent o deu início e orientação para a produção

em diálogo para pensar o sist em a ( inform acional/ social) e serve de t ít ulo para a perform ance:

“ Aqui não t em saída ( ele é um hom em de palavra nunca pede desculpas) quando se diz a verdade, m ent e- se quando se m ent e, diz- se a verdade pequeno m au ent endido

VEJA PRI MEI RO AS I NSTRUÇÕES

não foi possível criar o cam inho sem cam inho

no cam inho de procura

usando curingas desej a que dest ino exist ent e ah! “ a adorável igualdade” a ordem at ual solicit a um a out ra desordem a dat a at ual pressiona para m ant er a m esm a dat a “ os novos const ant em ent e

invadem a est abilidade do st at us quo” pressiono para m ant er a m esm a hora se houver, solicit o

um a nova hora observe que se não se pode definir um dest ino

rem ova.”35

George Orwell, Guy Debord, Lut her Blisset , Maquiavel, Volt aire, Hannah Arendt, Milt on Sant os, Edgar Morin, Darci Ribeiro, Hakim Bey e a Déclarat ion des Droit s de l’Hom m e são a base t eórica e lit erária na qual se fundam ent a e se referencia t oda a apresent ação.

No m ovim ent o seguint e, “ desordem / caos” , surgem gráficos anim ados com im agens que rem et em ao im aginário polít ico do Brasil dos anos sessent a e set ent a e à lut a contra a repressão: “ Brasil: am e- o ou deixe- o” , “ Sem em prego” , “ Nervosism o nos EUA reflete no Brasil” , “ Revolução” .

Terceiro Movim ent o “ desordem / ordem ” , é um a int rodução com t ext os, at é ent ão não apresent ados, em blem át icos de um a “ possível nova ordem ” . Aqui, cada grupo de im agens procurará o seu lugar, o seu espaço, a sua t ela, no cubo e fora dele. E, à m edida que as im agens encont ram est e lugar, a sua t ela, à m edida que est as posições se definem , se organizam , as t elas do cubo passam a não cont er im agens, se apagam , escurecem , t ela por t ela, fazendo a t ransição para o m ovim ent o final.

O m ovim ent o final inicia- se caót ico, fundem - se e alt ernam - se, nas t elas, im agens gravadas em um a m anifest ação em Londres e im agens de um presídio ainda não inaugurado, “ novo em folha” – com as celas abert as e desabit ado, em nada lem bra as im agens de um Carandiru ou as im agens das rebeliões que m ost ram um lugar suj o e

descuidado. As fachadas das loj as em Londres est ão cobert as com t apum es, para evit ar vandalism os, na com em oração do dia 01 de m aio, deixam ver apenas m arcas m undialm ent e fam osas; um j ovem com cort e m oicano, ícone do m ovim ent o punk, parece com em orar um a vit ória sobre o “ sist em a capit alist a” e suas m arcas globais.

São im agens de acervo de viagens e m at erial usado em cam panha polít ica ( as da cadeia) que se m ist uram e sugerem um a leit ura diferenciada, ao serem colocadas lada a lado.

A im agem que surge a seguir e que encerrará a apresent ação é a de um corpo fem inino que m ergulha em águas azuis, crist alinas, de um a cachoeira, a velocidade alt erada em slow m otion se m ult iplica por todas as t elas e se repet e em loop. Liberdade, prenúncio de um a nova ordem , ut opia realizada?

Encerram - se as proj eções de im agens nas t rês t elas fora do cubo. Dent ro do cubo, aos poucos, as t elas escurecem , sem im agens, apenas um a luz est roboscópica, e a m úsica encerra o espet áculo. O est robo é desligado. Term ina a apresent ação e o público se sent e m eio deslocado, afinal não é t ão com um assim um a “ balada” t ão “ cabeça” .

No documento Rodrigo Minelli Figueira.pdf (páginas 92-102)

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