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E, se ele escapa o fado da morte que espreita de longe,

Toma da sua lança então glória ilustre ao vencer,

Todos o honram, de forma semelha, os jovens e os velhos.

Muito agrado ele tem antes de ir-se ao Hades.

Velho, distingue-se entre os concidadãos e ninguém 40 Quer em sua honra o ferir, nem cometer-lhe injustiça.

Todos lhe cedem lugar, igualmente, os jovens e aqueles

De sua idade e também os que lhe são anciãos.

Dessa virtude agora chegar ao extremo um homem

Tente, em seu peito jamais renunciando à guerra.

O fragmento 12 de Tirteu se apresenta como uma elegia a respeito da virtude da guerra. Nele, o eu-lírico discursa acerca da natureza do homem que, a seu ver, é valoroso num contexto de combate.

O poema pode ser dividido em três partes que, aliás, têm uma estrutura tão bem definida que poderiam ser lidos como textos independentes. A primeira dessas divisões marca o poema de seu início até o final do nono verso. Em seguida, pode-se desenhar uma linha, que separa a segunda parte da final, entre o vigésimo e o vigésimo primeiro verso. Essas partes têm, além de uma estrutura própria, também um tema específico tratado em cada uma delas, a saber: i) as características que não têm valor numa guerra; ii) as características e ações que fazem um homem ter valor numa guerra; iii) aquilo que advém a um homem de valor numa guerra e à sua estirpe ao término do confronto, esteja ele vivo ou morto. Depois de discorrer a respeito desses temas e de afirmar o

modelo ideal de um homem valoroso, além dos benefícios de que ele goza, o poeta termina a elegia com uma exortação para que se tente alcançar essa virtude, não renunciando à guerra.

Nos primeiros versos do poema, o poeta começa a delinear o perfil do homem que, a seu ver, merece ser lembrado e cantado em verso. A priori, ele se limita a afirmar a imagem de seu ideal heróico pela eliminação sucessiva de características que não lhe parecem importantes para um homem valoroso na guerra. Durante oito versos, ele se ocupa dessa longa tarefa. A fim de manter uma estrutura a que os ouvintes/leitores pudessem se ater e, assim, evitar que o grande volume de propriedades elencadas lentamente quebrasse qualquer estruturação lógica e a própria capacidade de argumentação do poema, Tirteu fez com que, dos primeiros dez versos do poema, sete fossem principados pela negação “oÙ”. Dessa forma, a extensa anáfora criada entre os hexâmetros garante uma unidade ao que, de outro modo, seriam apenas características diversas e soltas ao longo dos dísticos. Na tradução, recriou-se esse efeito pela repetição da negação “nem”.

No décimo e no vigésimo verso do poema, ocorre um espelhamento quase completo das palavras que compõem essas passagens. Esse recurso não só enfatiza a idéia que se está tentando defender, mas também cria uma estrutura anelar nesse trecho do poema. De fato, há uma unidade muito bem estabelecida que pode ser destacada do restante do texto e observada por si só. O décimo verso, dessa forma, introduz a asserção a respeito do homem que o eu-lírico considera de valor na guerra e que vai ser trabalhada em detalhes até o vigésimo verso, no qual ela é retomada e reafirmada, fechando assim a estrutura anelar. Na tradução, tentou-se, por esse motivo, manter uma simetria entre o décimo e o vigésimo verso do poema, ainda que não seja tão intensa quanto a do poema original.

Quanto aos efeitos sutis do poema, no segundo verso, pode-se observar uma rima interna ao final de cada um dos hemistíquios do verso, com os vocábulos “¢retÁj” e “palaimosÚnhj”. Esse efeito foi recriado na tradução de maneira semelhante, com uma rima entre “pés” e “através”.

Outro efeito digno de nota é a repetição da oclusiva /k/, tanto em sua forma normal quanto aspirada, no verso de número vinte e dois, como se pode verificar nas palavras “trhce…aj”, “œsceqe”, “kàma” e “m£chj”. Em Português, na tradução, procurou-se compensar esse efeito com uma seqüência das linguodentais /t/ e /d/ nos vocábulos “bruta”, “contém”, “onda”, “da” e “luta”, sendo que o primeiro e o último desses vocábulos, em posição de destaque no início e no final do verso, ainda criam uma rima entre si.

No trigésimo verso do poema, há um efeito, conservado de certa forma na tradução, cuja beleza merece ser destacada. Trata-se do poliptoto resultante da repetição de “pa‹dej” em duas declinações diferentes (“pa…dwn pa‹dej”). É, sem dúvida alguma, um dos momentos mais altos do poema e tem uma força expressiva e retórica digna de distinção. No texto em Português, a palavra foi repetida sem variação (“dos filhos dos filhos”), pois pareceu ser a forma que teria um efeito mais intenso em nossa língua.

Por fim, pela proximidade do texto com a tradição épica, pode-se observar uma forte presença de vocábulos relevantes em posição de destaque no início ou no fim de verso. Os mais importantes dentre eles são: “polšmwi” (mantido na em destaque tradução) no final do décimo verso, “aƒmatÒenta” (mantido em destaque na tradução) no final do décimo primeiro verso, “ƒst£menoj” no final do décimo segundo verso, “¥riston” no final do décimo terceiro verso, “k£llistÒn” no início e “nšwi” no final do décimo quarto verso, “yuc¾n” no início do décimo oitavo verso, “polšmwi” (mantido em destaque na tradução) no final do vigésimo verso, “f£laggaj” (mantido na em destaque tradução) no final do vigésimo primeiro verso, “m£chj” (mantido em destaque na tradução) no final do vigésimo segundo verso, “aÙtÕj” no início e “qumÒn” no final do vigésimo terceiro verso, “¥stu” no início e “eÙklesaj” no final do vigésimo quarto verso, “aÙtoà” no final do trigésimo primeiro verso, “¢q£natoj” no final do trigésimo segundo verso, “gÁj” no início do trigésimo quarto verso, “qan£toio” no final do trigésimo quinto verso, “nik»saj” (mantido em destaque na tradução) no início do trigésimo sexto verso, “p£ntej” (mantido em destaque na tradução) no início do trigésimo sétimo verso, “'Adhn” (mantido em destaque na tradução) no final do trigésimo oitavo verso, “ghr£skwn” (mantido em destaque na tradução) no início e “aÙtÕn” no final do trigésimo nono verso, “p£ntej” (mantido em

destaque na tradução) no início e “aÙtÕn” no final do quadragésimo primeiro verso e, finalmente, “polšmou” (mantido em destaque na tradução) no final do último verso do poema.

Arquíloco – Fr. 3

oÜtoi pÒll' ™p• tÒxa tanÚssetai, oÙd qameia• sfendÒnai, eât' ¨n d¾ mîlon ”Arhj sun£gV ™n ped…J· xifšwn d polÚstonon œssetai œrgon· taÚthj g¦r ke‹noi d£monšj e„si m£chj 5 despÒtai EÙbo…hj dourikluto….

Não se verão muitos arcos retesos, tampouco abundantes

Fundas, quando Ares reunir a árdua tarefa da guerra

Sobre a planície, mas sim o trabalho aflitivo da espada.

Esta é a luta em que são habilidosos aqueles