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Faz meu coração „stremecer no peito.

Pois tão logo vejo teu rosto, a voz Perco de todo.

Parte-se-me a língua. Um fogo leve 10 Me percorre inteira por sob a pele.

Com os olhos nada mais vejo. Zumbem Alto os ouvidos.

Verto-me em suor. Um tremor me toma Por completo. Mais do que a relva estou 15 Verde e para a morte não falta muito

É o que parece.

O texto do fragmento 31 de Safo comumente apresenta quatro estrofes de quatro versos cada. No entanto, algumas edições consideram também a existência de um último verso solto. Pelo fato de que essas quatro estrofes possuem uma unidade bem- delimitada e também por conta desse verso final aparentemente não acrescentar muito, ele foi deixado de fora.52

O poema foi composto com quatro estrofes de mesmo padrão métrico, de modo a conferir-lhe uma unidade que, de outra forma, talvez não existisse, devido ao fato de que a maior parte do texto é usada para descrever a falha do funcionamento de diversas funções e sentidos do corpo do eu-lírico. Ademais, outro fator que colabora imensamente para criar um conjunto coeso e uma unidade sólida para o poema é a simetria entre o primeiro verso e o último, ambos iniciados pelo verbo “fa…nomai”. Na primeira ocasião, ele se refere ao homem que está perto da amada do eu-lírico e, na segunda, ao próprio eu-lírico. Tentou-se manter esse efeito até certo ponto, mas não foi possível deixar os dois verbos no início de verso na tradução, uma vez que ele não se encaixa no esquema métrico.

O primeiro verso do texto grego, ainda mais do que os restantes, tem uma sonoridade leve e fluida, marcada mormente por /s/ em “kÁnoj”, “‡soj” e “qšoisin”, que lhe conferem uma qualidade quase diáfana, fazendo com que o verso seja pronunciado sem dificuldade. Na tradução, tentou-se manter essa sonoridade, com uma seqüência de /s/ em “parece”, “ser”, “dos” e “deuses”.

52 Esse verso final, na edição adotada, é o seguinte: “¢ll¦ p¦n tÒlmaton, ™pe• ka• pšnhta ” (“Mas

O segundo verso da segunda estrofe, por outro lado, tem um andamento mais truncado e, ao mesmo tempo, mais delineado por conta da concentração de sons de /t/ em “st»qesin” e “™ptÒaisen”, além da presença de /p/ nessa última palavra e da líquida /r/ em “kard…an”, cujo próprio som intensifica a idéia da instabilidade enunciada no verso. Esse último efeito foi recriado na tradução com o vocábulo “estremecer”, que, junto de “peito”, completa o campo sonoro existente em Grego com certa fidelidade.

Desse verso em diante, há uma longa descrição de como os vários sentidos do corpo do eu-lírico se confundem e deixam de funcionar normalmente quando na presença de sua amada. Durante essa descrição, há uma forte presença de

enjambements, que fazem com que o texto adquira um andamento rápido, quase

alucinado, que só encontra uma pausa definitiva no final da quarta estrofe com o prenúncio da morte. Na tradução, tentou-se, tanto quanto possível, manter essa característica do texto original, preservando o cavalgamento.

Por fim, nessa mesma passagem, há a ocorrência de um polissíndeto, pela repetição contínua da partícula “de”. Esse artifício é bastante comum no Grego antigo, a ponto de praticamente não se sobressair em relação à estrutura do texto. Por esse motivo, ele foi traduzido por orações simples e sem coordenação, criando um assíndeto no texto em Português.

Dímetro Jônico com Anáclase

Os fragmentos 356 e 395 de Anacreonte foram estruturados por meio da justaposição de dímetros jônicos com anáclase. Para entender a composição desse padrão métrico, vejamos primeiro a forma pela qual se compõe um metron jônico:

Formado a partir da concatenação de um pé periâmbico e um pé espondaico, o metron jônico não oferece grandes dificuldades de compreensão. O dímetro jônico, por sua vez, será criado, simplesmente, pela adição de um novo metron de mesma forma ao anterior:

Finalmente, o dímetro jâmbico com anáclase terá uma permuta entre a última posição do primeiro metron e a primeira posição do segundo:

Como se pode observar, a última posição do primeiro metron pode ser ainda ocupada por uma sílaba longa, ainda que o comum seja encontrar uma sílaba breve nessa posição.

Para ilustrar o esquema acima, tomemos os primeiros dois versos do fragmento 395 de Anacreonte e façamos sua escansão:

po / li / o• / mn / ¹ / m•n / ½ / dh

Para representar esse padrão métrico em Português, foi empregado na tradução um verso de mesmo número de sílabas, com acentos mandatórios na terceira, quinta e oitava sílaba, todas longas no verso grego, tendo se ignorado apenas a ocorrência de uma sílaba longa na sétima posição, criando um espondeu. Isso foi feito pela dificuldade de se criar espondeus em língua portuguesa, mormente em final de verso.

Em alguns versos, há a ocorrência de uma sílaba tônica na primeira posição, mas não é um efeito mandatório. Por isso, não foi marcado no texto final.

Dessa forma, ficam assim em Português esses mesmos dois primeiros versos previamente apresentados:

1 2 3 4 5 6 7 8

Vai, / ga / ro / to, e / traz / pa / ra / mim

1 2 3 4 5 6 7 8

Anacreonte – Fr. 356

¥ge d¾ fšr ¹m•n ð pa‹ kelšbhn, Ókwj ¥mustin prop…w, t¦ mn dšk' ™gcšaj Ûdatoj, t¦ pšnte d' o‡nou 5 ku£qouj æj ¢nubr…stwj

¢n¦ dhâte bassar»sw. ¥ge dhâte mhkšt' oÛtw pat£gJ te k¢lalhtù Skuqik¾n pÒsin par' o‡nJ 10 meletîmen, ¢ll¦ kalo‹j

Øpop…nontej ™n Ûmnoij.

Vai, garoto, e traz para mim Uma taça, para que eu beba Sem resfolegar. Verte dez Jarras d'água e cinco de vinho,

5 Para que eu de novo irrompa