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São de mancebos e moças, mas quando é chegada a sofrível

Ancianidade, que até de um homem belo faz feio,

Preocupações importunas lhe assolam o entorno da mente,

E ele não tem mais prazer quando do Sol a luz vê.

É odioso aos jovens e infame aos olhos das moças. 10 Fez de tal forma penosa a ancianidade o deus.

O fragmento 1 de Mimnermo, assim como o 395 de Anacreonte, apresenta o tema da velhice e seus efeitos desagradáveis sobre o homem. O texto é dividido, basicamente, em duas partes, a partir do meio do quinto verso, cortando o poema em duas metades de tamanho quase idêntico. Na primeira, o eu-lírico discursa a respeito das atividades e desejos da juventude, de como ele preza por elas e deseja morrer quando não mais as desejar. Em seguida, enumera até o final do poema os diversos efeitos que a velhice causa ao homem, culminando com a asserção de que o deus a “fez de tal forma penosa”.

Passando, então, para o comentário da tradução, no primeiro verso do texto grego, há uma repetição do pronome interrogativo “t…j”, estando na forma neutra, “t…”, na segunda ocasião, e da partícula “dš”. Esse recurso dá um peso e uma importância maior, pelo acúmulo de interrogações, ao restante da pergunta do eu-lírico. Na tradução, esse efeito só conseguiria ser reproduzido com a substituição de “prazeres” por algum sinônimo que, alfim, acabaria desvirtuando o sentido da palavra por algo menos abrangente e mais específico. Por conta disso, preferiu-se manter o vocábulo, posto que ele também intensifica a assonância em /e/ criada em português com as palavras “existência” e “ausência”. Dessa forma, tentou-se compensar o efeito original do texto grego que não pode ser recriado na tradução.

Ainda no primeiro verso do texto grego, observa-se uma intensa repetição das alveolares /t/ e /d/ (“t…j”, “d”, “t…”, “d”, “terpnÕn”, “¥ter”, e “'Afrod…thj”), de

modo a antecipar e reforçar o final do verso em que há a enunciação de “Afrodite”, palavra na qual as duas consoantes se fazem presentes. Em português, buscou-se compensar esse efeito com uma seqüência de “a”s (“na”, “ausência”, “da”, “áurea” e “Afrodite”), com a mesma intenção de avigorar o nome da deusa, iniciado por essa vogal.

Em seguida, no segundo verso, ocorre no texto original uma repetição de /m/ nos vocábulos “moi”, “mhkšti” e “mšloi”. Nessa ocasião, foi possível recriar o efeito, que pode ser observado as palavras “morra”, “amaine” e “meu”.

Por sua vez, no quarto verso do poema de Mimnermo, há, além da bela metáfora das “flores da juventude”, a ocorrência de um interessante efeito nas palavras “¥nqea” e “¡rpalša”, não apenas pelo fato de ambas serem iniciadas e terminadas pela vogal “a”, também por conta de que o segundo vocábulo, traduzível literalmente como “desejadas”, retoma e qualifica o primeiro termo, “flores”. Dessa forma, soube o poeta intensificar a relação entre o objeto de que falava e a característica que quis lhe conceder por meio da semelhança de seus significantes. Esse efeito não pôde ser recriado na tradução, de modo que apenas se pôde tentar compensá-lo com a seqüência de constritivas fricativas “flores”, “vem”, “juventude” e “desejo”, na qual a labiodental

surda /f/, de “flores”, é seguida pela sonora /v/ de “vem” e de “juventude”, cuja palatal sonora /j/ é retomada, finalmente, em “desejo”.

No sexto verso, aparece pela primeira vez na tradução o vocábulo “ancianidade” para traduzir “gÁraj”. A escolha por esse vocábulo, um tanto arcaizante, deve-se ao fato de que “velhice” não se ajustaria à cadência do hexâmetro, nem poderia aparecer em posição de destaque no início do verso, pelo mesmo motivo.

Vale notar também as rimas toantes criadas, na tradução, entre “zelo” e “desejo”, no final do segundo e do quarto verso, e entre “leito” e “feio”, no final do terceiro e do sexto verso.

Mais adiante, no nono verso do texto grego, ocorre uma assonância em /i/, além de uma repetição do som de /s/ seguido de /i/ em duas dessas ocasiões (“pais…n”, “¢t…mastoj” e “gunaix…n”). Na impossibilidade de reproduzir esse efeito quid pro quo, ele foi compensando por uma assonância em /ó/ (“jovens”, “aos” e “olhos”), introduzida e terminada por sons de /ô/ (“odioso” e “moças”), que lhe conferem uma gravidade maior. Nesse verso, “gunaix…n”, que literalmente significa “às moças”, foi traduzido pela metonímia “aos olhos das moças”, especialmente para o fim de produzir o efeito supracitado e compensar a assonância perdida do texto original.

Finalmente, no último verso do texto grego, há uma repetição de /th/ nas últimas

palavras do verso, a saber, “œqhke” e “qeÒj”, na qual o som de /k/ de “œqhke” serve para intensificar ainda mais o efeito buscado pelo poeta. Essa intensificação ocorre tanto por contraste quanto por similaridade: por contraste, porque o local de articulação do primeiro dos sons é alveolar e o do segundo, velar; por similaridade, porque ambos os sons são produzidos a partir de uma oclusão surda. Na tradução, foi possível apenas criar uma repetição de /d/ nos vocábulos “ancianidade” e “deus”, que de certa forma compensa e recria ao mesmo tempo a original em /th/, por serem semelhantes, mas que

Mimnermo – Fr. 2

¹me‹j d', oŒ£ te fÚlla fÚei polu£nqemoj érh œaroj, Ót' ay' aÙgÁij aÜxetai ºel…ou, to‹j ‡keloi p»cuion ™p• crÒnon ¥nqesin ¼bhj terpÒmeqa, prÕj qeîn e„dÒtej oÜte kakÕn 5 oÜt' ¢gaqÒn· KÁrej d parest»kasi mšlainai,

¹ mn œcousa tšloj g»raoj ¢rgalšou, ¹ d' ˜tšrh qan£toio· m…nunqa d g…netai ¼bhj karpÒj, Óson t' ™p• gÁn k…dnatai ºšlioj. aÙt¦r ™p¾n d¾ toàto tšloj parame…yetai érhj, 10 aÙt…ka d¾ teqn£nai bšltion À b…otoj·

poll¦ g¦r ™n qumîi kak¦ g…netai· ¥llote okoj trucoàtai, pen…hj d' œrg' Ñdunhr¦ pšlei· ¥lloj d' aâ pa…dwn ™pideÚetai, ïn te m£lista ƒme…rwn kat¦ gÁj œrcetai e„j 'Adhn·

15 ¥lloj noàson œcei qumofqÒron· oÙdš t…j ™stin ¢nqrèpwn ïi ZeÝj m¾ kak¦ poll¦ dido‹.

Somos semelhos às folhas que nascem na flórea estação

Primaveril, quando à luz súbito crescem do Sol.

Tal como elas, nós, da juventude nas flores, um pouco

Nos deleitamos sem ver, vindo dos deuses, o mal