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E STRATÉGIAS DE MANUTENÇÃO

No documento MANUTENÇÃO DE EDIFÍCIOS (páginas 40-46)

2.5 Políticas de manutenção

2.5.2 E STRATÉGIAS DE MANUTENÇÃO

Como referido, a política de manutenção é a conjunção de diferentes abordagens estratégicas que visam prolongar o ciclo de vida dos edifícios e dos seus equipamentos, balançando o custo da intervenção com as consequências da deterioração das instalações.

Apesar de não haver unanimidade de classificação, é possível dividir as estratégias de manutenção em dois grandes grupos, diferenciados com base no momento da decisão de intervenção: a manutenção reativa (corretiva), realizada após o aparecimento da anomalia e a manutenção preventiva (também de-nominada proactiva), efetuada antes do aparecimento de sintomas de pré-patologia.

A manutenção preventiva divide-se em dois grandes ramos: a manutenção preventiva sistemática – MPS, e a manutenção preventiva condicionada – MPC. A primeira é planeada com base num marcador, por exemplo, tempo ou contador. A MPC é programada com base na condição, ou estado, do EFM.

Estratégia de Manutenção Tipos de Manutenção com base no Planeamento

Corretiva

Não Planeada (urgência)

Planeada (diferida)

Preventiva

Planeada com base em marcador - MPS

Planeada com base na condição - MPC Quadro 4 - Estratégias de manutenção.

19 É necessário salientar que abordagem de manutenção não é universal. São ainda conhecidas outras pers-petivas e designações de manutenção, igualmente válidas, diferenciadas por determinados critérios, como se expõe no quadro 5.

Critério Conceitos associados

Escala Grande Manutenção & Pequena Manutenção

Familiaridade Manutenção de Rutina

Tempo Manutenção de Tempo Fixo; Manutenção em Tempo Difí-cil; Manutenção Sazonal; Manutenção Agendada;

Manu-tenção Planeada; ManuManu-tenção Preventiva

Condição Manutenção Dependente da Condição; Manutenção base-ada na Idade; Manutenção basebase-ada na Exposição;

Manu-tenção baseada no uso; ManuManu-tenção Preditiva Autor da intervenção Manutenção Caseira; Manutenção Autónoma;

Manuten-ção Contratada

Atitude do Dono Manutenção Oportunista; Manutenção LEAN; Usar até fa-lhar; Manutenção Reativa; Manutenção Corretiva; tenção Sem Agenda; Manutenção Não Planeada;

Manu-tenção Descartável

Estratégia/Risco Manutenção Centrada na Fiabilidade; Manutenção Base-ada no Risco; Manutenção Oportunista; Manutenção

Esta-tutária; Manutenção Qualitativa; manutenção Desregu-lada; manutenção Produtiva Total; Autorização Continua Gestão da Manutenção Manutenção da Qualidade; Manutenção Diferida

Quadro 5 - Designações de manutenção [15].

2.5.2.1 Manutenção Reativa

A manutenção reativa é a estratégia de manutenção mais antiga e sobre o qual se desenvolveu o conhe-cimento da especialidade. Devido ao seu procedimento de atuação, também é conhecida por manutenção resolutiva, curativa ou corretiva

Consiste na correção de um desempenho inferior ao esperado, ou de uma falha. São ações realizadas a partir do aparecimento de sintomas de pré-patologia, como a alteração das caraterísticas do elemento, ou devido ao aparecimento de número crescente de indícios de anomalias.

20 Nesta abordagem, perante a dificuldade de avaliar os sintomas de pré-patologia, ou devido aos elevados custos envolvidos na intervenção, é comum decidir esperar pelo aparecimento da anomalia para depois a corrigir.

Quando as anomalias não afetam a função vital das instalações, a atividade de manutenção corretiva pode ser planeada. Ou seja, é possível preparar a intervenção com base em aspetos metodológicos tais como: deteção, sintomatologia, diagnose, reparação, controlo de efetividade [1].

As anomalias assumem caraterísticas de pequena intervenção, quando as ações corretivas planeadas são de âmbito reduzido, frequentes e de resolução tipo.

Nestes casos, os custos das intervenções enquadram-se dentro dos orçamentos de manutenção corrente ou dos valores previstos para reparações habituais, e por isso as ações de correção são de aprovação simples.

A substituição de um vidro partido, ou a substituição de um canhão de fechadura são exemplos destas ações.

As intervenções corretivas planeadas assumem caraterísticas de grande intervenção, quando as patolo-gias atingem valores limites e implicam a substituição de elementos. Esta abordagem permite decidir manter um elemento em funcionamento até que a quebra ocorra, ou planear os procedimentos a realizar na sequência do aparecimento da falha. Alem disso, possibilita garantir a existência de peças e compa-tibilizar a necessidade da intervenção com o uso dos elementos, ou da instalação.

Devido ao seu elevado custo, é necessário obter autorização da entidade responsável para a sua execução e efetuar provisões orçamentais para a sua realização.

Exemplos de grandes intervenções enquadrados nesta estratégia; A substituição integral de uma cober-tura; a pintura integral de um edifício.

No entanto, a maior parte das ações corretivas são efetuadas sem planeamento prévio. São realizadas com carater imediato ou de emergência, após a ocorrência inesperada da anomalia, seja por falha ou devido a desempenho inferior ao esperado. Por tudo isto, têm muito impacto nas instalações onde ocor-rem, nos seus utilizadores, e no orçamento.

Muitas vezes, a sua resolução é efetuada de forma expedita ou provisória, prevendo a realização de uma intervenção posterior planeada. O que contribui para agravar ainda mais os custos destas anomalias.

A reparação de uma fuga na rede de água ou a reparação de um algeroz em período de chuva podem ser consideradas ações de correção urgente.

Por todos estes motivos, a política reativa é a estratégia de manutenção mais onerosa. Depende da com-pra de materiais e a recorrer a intervenções de emergência para proceder à correção da falha. Além de que as intervenções implicam a paralisação do elemento afetado e interferem com o normal funciona-mento da instalação, com o agravafunciona-mento dos custos que daí advém.

21 2.5.2.2 Manutenção Preventiva

Dentro das estratégias idealizadas para aplicação prévia ao aparecimento da patologia, a manutenção preventiva teve origem na atividade industrial, após a segunda grande guerra, na procura de vantagens competitivas, associadas aos conceitos de disponibilidade e fiabilidade.

É um procedimento planeado, caraterizado pela execução de operações de manutenção antes do apare-cimento de anomalias. Prossupõe uma atuação com base em rotinas de inspeção, limpeza, substituição e pequenas reparações. É estudada e esquematizada com base em modelos de degradação para que os vários elementos não atinjam níveis de qualidade abaixo do estabelecido. Depende do conhecimento prévio dos elementos constituintes de um edifício e da sua vida útil nas condições de serviço a que estão expostos.

Esta estratégia planificada tem grandes benefícios para o aumento da vida dos elementos do edifício.

Apresenta também vantagens económicas, devida à limitação das intervenções com carater de urgência, à diminuição dos trabalhos extraordinários e á redução de interferências com a utilização do espaço. Os custos e os benefícios deste tipo de manutenção estão ligados com a definição da periodicidade de atu-ação. Com o aumento da periodicidade da atividade, diminuem os seus custos, e também os proveitos da manutenção.

Existem dois tipos de manutenção preventiva: a sistemática, efetuada com base em marcadores, e a condicionada, elaborada após o aparecimento de sintomas prévios de degradação.

Na manutenção preventiva sistemática (MPS), a decisão de manutenção é definida pela norma BS EN 13306:2010 [16] como sendo a “a manutenção preventiva efetuada a intervalos de tempo pré-estabele-cidos, ou segundo um número definido de unidades de utilização, sem controlo prévio do estado dos elementos”.

A MPS é constituída por ações de rotina efetuadas periodicamente ao longo do tempo, ou realizadas com base em contadores, de forma a reduzir a probabilidade de falha dos EFM.

O seu êxito melhora com o conhecimento do edifício, das ações de correção efetuadas e das suas causas.

É, no entanto, uma estratégia rígida, pois as suas atividades repetem-se periodicamente, indiferentes às alterações da condição do EFM.

As ações de inspeção mensais ao edificado e a revisão dos equipamentos com base em contadores são bons exemplos deste tipo de manutenção.

A manutenção preventiva condicionada (CbM - Condition Based Mantenance, em inglês), também de-nominada preditiva, surgiu na indústria a partir dos anos 70, com o aumento da automação e das exi-gências de fiabilidade dos equipamentos.

Na indústria da construção, a manutenção preditiva consiste na realização de inspeções suportadas por testes, medições e estudos técnicos aos elementos, com o fim de prever possíveis anomalias, e a partir daí, implantar procedimentos de manutenção preventiva.

Baseia-se na avaliação de parâmetros caracterizadores da condição física e operacional dos elementos para definir o planeamento da intervenção, ou seja, a oportunidade de atuação é determinada a partir de sintomas apreendidos em inspeção e dados de pré-patologia, antes de ocorrer a perda de desempenho, enquanto a manutenção preventiva é determinada por leituras de contador ou por tempo.

22 A manutenção preditiva propõe reduzir as reparações desnecessárias efetuando monitorização o estado dos componentes. O tempo esperado de falha é estimado através da análise dos dados de monitorização desses componentes, e a vida útil de serviço esperada é utilizada para planeamento e preparação da ação de manutenção.

As duas perspetivas principais desta manutenção são o diagnóstico e o prognóstico. Diagnóstico é o processo de deteção de uma falha iminente, enquanto o prognóstico é o processo para estimar o tempo de falha e identificar o tempo útil de vida restante (RUL – remaining useful life, em inglês) do compo-nente antes da falha. A ação de manutenção é programada logo que a falha é diagnosticada. Quando a falha é prognosticada, o RUL pode ser usado para planeamento, preparação e execução da ação de ma-nutenção.

Nos tempos mais recentes, os beneficiários e os pesquisadores tem olhado com redobrada atenção para esta abordagem, desde que a manutenção de ativos se evidenciou como um fator importante nos custos operacionais [17].

Tem a grande vantagem de prever falhas com precisão e efetuar diagnósticos ajustados com a realidade.

No entanto, esta abordagem poderá ser mais onerosa que outros tipos de manutenção preventiva, pois requere um acompanhamento constante do elemento.

A realização de ensaios ultrassónicos são um bom exemplo desta atividade, quando é necessário avaliar as caraterísticas do betão, como a homogeneidade, resistência e a presença de defeitos.

A termografia é outra técnica utilizável neste tipo de manutenção, na deteção de pontes térmicas.

A partir do ano 2000, surgiu na indústria uma nova estratégia de manutenção denominada de detetiva, semelhante à manutenção preditiva, mas vocacionada para sistemas automatizados cujo funcionamento depende do desempenho de componentes menos utilizados, que por isso não podem falhar quando soli-citados.

Carateriza-se pela inspeção para deteção de falhas ocultas, sem imobilizar o elemento intervencionado.

É um tipo de manutenção que beneficia do desenvolvimento das tecnologias de informação para registar e processar dados sobre a alteração de desempenho de um elemento, cuja informação serve para progra-mar atempadamente as ações de intervenção.

Pode-se enquadrar nesta categoria a manutenção de equipamentos de segurança e proteção, como por exemplo, os sistemas de energia socorrida, que incluem geradores elétricos, preparados para entrar em atividade automaticamente, após a transmissão de informação da falha de energia. Aqui a manutenção detetiva visa inspecionar o funcionamento da transmissão de dados para evitar falhas na transmissão de dados.

Outros exemplos de aplicação deste tipo de manutenção é na inspeção de detetores de incêndios, de bombas de incêndio, a verificação de equipamentos elétricas e sistemas de segurança, etc.

De uma forma geral, as ações baseadas em marcadores (geralmente tempo) são mais fáceis de implan-tação e mais econômicas que as ações baseadas na condição, no entanto, são atividades rígidas que mantêm procedimentos indiferentes às mudanças de condição do EFM.

As ações baseadas na manutenção requerem aos intervenientes a apreciação contínua da perda de de-sempenho do EFM para alinhar as atividades de manutenção em conformidade [18].

23 2.5.2.3 Manutenção Integrada

Apesar da estanquidade das classificações anteriores, a prática diz-nos que uma boa estratégia de ma-nutenção é a que consegue balançar as várias ações de mama-nutenção em momentos diferentes do ciclo de vida de um edifício (ou EFM). E, o seu sucesso depende da análise contínua no tempo do EFM de forma a dosear para aquela etapa a melhor combinação de ações de manutenção a implantar em função do orçamento disponível.

Na figura 6 apresenta-se uma correlação entre o custo de manutenção e de reparação associado a um EFM relacionado com as estratégias de manutenção anteriormente referidas.

Como se pode observar a manutenção efetuada com base na condição (preditiva) tem custos associados mais elevados que a manutenção reativa. No entanto, esta apresenta custos de reparação associados mais elevados.

Figura 6 - Comparação custo reparação vs Custo manutenção. (gráfico adaptado de Information bolletin n.º 5 – What is maintenance, david Albrice) [19].

Daqui resulta que as ações de manutenção não devem ser estanques mas combinadas entre si para obter os melhores resultados possíveis face aos limites orçamentais. Com orçamentos mais génerosos, é pos-sível incrementar as ações preditivas, com menos recursos financeiros alocadas à manutenção, a estra-tégia corretiva é geralmente a mais utilizada para reduzir os custos imediatos de manutenção. Pois, como já referido, a manutenção corretiva pode acarretar mais custos de manutenção no final do ciclo de vida de um EFM do que a estratégia de natureza preventiva.

Qualquer ação de manutenção realizada pode beneficiar da informação obtida de anteriores ações e por sua vez deve deixar registos da sua intervenção.

Por exemplo, as inspeções efetuadas no âmbito de programas de MPS serão utilizadas para despoletar ações imediatas de MC de pequena dimensão ou para guardar volume para execução de ações corretivas de maior dimensão.

24 Por sua vez, a informação obtida durante estas atividades servirão para planear futuras intervenções.

Mesmo as ações de emergência podem beneficiar dos registos obtidos através de anteriores ações de manutenção. Por exemplo, através da utilização de base de dados para referências de materiais e respe-tivos fornecedores.

Desta forma, a atividade de manutenção deve ser encarada como um processo continua em que as di-versas estratégias e ações estão interligadas ciclicamente, em todo o ciclo de vida de um EFM.

A figura seguinte tenta esquematizar esta definição:

Figura 7 - Enquadramento das estratégias de manutenção.

Esta noção de integração da manutenção foi explorada de uma forma ainda mais abrangente pelo Prof.

Rui Calejo em 2001, na sua tese de doutoramento, com apresentação do SIM – sistema Integrado de Manutenção que será referido mais à frente neste trabalho.

No documento MANUTENÇÃO DE EDIFÍCIOS (páginas 40-46)

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