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3. O CEERT E O PRÊMIO

3.4. PRÊMIO EDUCAR PARA A IGUALDADE RACIAL

3.4.1. Edições Iniciais (1ª, 2ª e 3ª)

A 1ª Edição do Prêmio Educar para a Igualdade Racial, realizada em 2002, recebeu um total de 210 experiências de educadores das cinco regiões do país, nas categorias Educação Infantil e Ensino Fundamental I (1ª a 4ª séries) e II (5ª a 8ª séries). As inscrições puderam ser realizadas por meio do endereço eletrônico, ou ainda pelo correio, opção mais utilizada pelos participantes.

Foram nove os professores premiados, três em cada categoria. Para além da valorização dos educadores, o prêmio ofereceu a quantia de R$ 5.000,00 para os três primeiros lugares de cada categoria, e de R$ 2.500,00, e um Kit de livros voltado à temática das relações raciais (R$ 500,00), para os segundos colocados. A premiação contou com a participação de 2064 educadores, de todo o país, que, durante três dias, participaram de mesas de debate, cursos, aulas abertas e shows culturais.

Durante as atividades da premiação, deu-se também o lançamento de vários livros sobre relações raciais, dentre eles “Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil”, organizado por Iray Carone e Maria Aparecida Silva Bento. Foram realizados, ainda, mostras de documentários, workshops e painéis, com a participação de pesquisadores da área das relações raciais e secretários estaduais de educação das cidades finalistas. O evento de premiação findou com uma Carta de Intenções, afirmando a necessidade de se priorizar as políticas públicas educacionais na promoção da igualdade etnicorracial.

Nessa primeira edição foram consideradas experiências realizadas até dois anos precedentes à abertura do edital do Prêmio. A região Sudeste se destacou por sua participação expressiva, com 50% das práticas pedagógicas inscritas. As demais regiões do país também tiveram uma participação significativa, atestando o sucesso do Prêmio, como se pode observar no gráfico a seguir:

GRÁFICO 1

DISTRIBUIÇÃO DAS INSCRIÇÕES DO 1º PRÊMIO “EDUCAR PARA A IGUALDADE RACIAL”, SEGUNDO AS REGIÕES DO PAÍS.

Fonte: Prêmio Educar para Igualdade Racial, 1ª edição, 2001-2002.

Como proposta de divulgação do Prêmio Educar para a Igualdade Racial, foram realizados, em 2003, seminários regionais com o objetivo de discutir a interseção entre educação e diversidade e igualdade étnico-racial. Ao todo, foram realizados cinco seminários, um em cada região do país, com a participação de professores, organizações sociais locais, poder público e universidades.

Na segunda edição (CEERT, 2004-2005), verificou-se a efetividade do trabalho de divulgação. Inscreveram-se professores de todos os estados brasileiros, contabilizando 314 experiências inscritas, distribuídas nas seguintes categorias:

TABELA 1

DISTRIBUIÇÃO DE CATEGORIAS POR NÚMERO DE INSCRITOS DOS PARTICIPANTES DO 2º PRÊMIO

EDUCAR PARA A IGUALDADE RACIAL 2004-2005

Categorias Número de inscritos Percentual

Educação Infantil 41 13% Ensino Fundamental I 79 25.1% Ensino Fundamental II 99 31.5% Ensino Médio 91 30.4% Total 314 100% Fonte: CEERT, 2010.

Na segunda edição, houve uma importante alteração em relação à primeira edição do prêmio, com a inclusão da categoria Ensino Médio, intensificando o debate sobre desigualdades raciais no acesso ao terceiro grau, discussão fomentada pelo debate público sobre a ampliação dos cursinhos pré-vestibulares dirigidos a jovens negros, e com a adoção de cotas étnico-raciais pelas universidades. A ocasião era então propícia para a inserção da categoria “ensino médio” no Prêmio Educar para a Igualdade Racial, expressivamente aceita por parte dos participantes (30%). Nessa segunda edição, novamente a região Sudeste apresentou o maior número de inscritos, como podemos observar no gráfico.

GRÁFICO 2

DISTRIBUIÇÃO DAS INSCRIÇÕES DO 2º PRÊMIO “EDUCAR PARA A IGUALDADE RACIAL”, SEGUNDO AS REGIÕES DO PAÍS 2004-2005

Fonte: CEERT, 2010.

O catálogo da 2ª. Edição do Prêmio Educar para a Igualdade Racial, fez, pela primeira vez, menção à Lei 10.639/03, promulgada um ano antes do 2º Prêmio. Destacamos o prefácio desse catálogo, assinado por Eliane Cavalheiro, coordenadora geral da diversidade e inclusão educacional do Ministério da Educação. O seu texto evidencia a relação que o CEERT, por meio do Prêmio Educar para a Igualdade Racial, estabelece com a Lei 10.639/03.

Ao mapear e dar visibilidade a esse protagonismo, por meio do reconhecido Prêmio

“Educar para a Igualdade Racial”, o CEERT presta uma inestimável contribuição

para que o Estado Brasileiro avance na definição e na execução de políticas educacionais de promoção de igualdade racial (CAVALLEIRO, 2004. p. 12).

Ao agregar a Lei 10.639/03 à suas ações já correntes na área da educação, o CEERT torna-se um dos principais atores sociais a contribuir com a implantação dessa Lei. As inscrições para a segunda edição do prêmio foram realizadas entre 15 de fevereiro a 15 de abril de 2004, por meio de endereço eletrônico, diretamente no site do CEERT, ou pelo correio. As experiências foram analisadas com a colaboração de 46 estudiosos de todo o país  consultores, especialistas em relações raciais e de áreas especificas do conhecimento. Esses consultores foram convidados a compor o comitê de seleção a fim de analisar e avaliar as experiências, à luz dos critérios relativos à intersecção entre diferentes áreas do conhecimento e das relações raciais. A função do comitê de consultores foi analisar as experiências e classificá-las em 1o, 2º, 3º lugares, em cada uma das categorias (educação infantil, ensino fundamental I e II e ensino médio). Com base nos pareceres então elaborados, os professores responsáveis pelas experiências mais bem avaliadas enviaram para o CEERT o material complementar (fotografias, vídeo, produção de alunos), para a apreciação do júri final.

A premiação das experiências ocorreu conjuntamente ao Seminário “Desafios das Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial”, no espaço do Serviço Social do Comércio (SESC) Vila Mariana, nos dias 21, 22, 23 e 24 de setembro de 2004. Nesse seminário, foi dado ênfase aos conteúdos e métodos para a implementação da Lei 10.639/03. Ainda nesse evento, no dia 22, o CEERT, em parceria com o SESC e o Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira (INTECAB), lançou a Campanha em Defesa da Liberdade de Crença e Contra a Intolerância Religiosa, visando reunir entidades da sociedade civil e líderes religiosos num esforço conjunto para pautar esse tema na agenda dos direitos humanos.

A 3ª Edição do Prêmio Educar para a Igualdade Racial ocorreu em 2006 e contou com a inscrição de 393 experiências pedagógicas, advindas de 23 estados brasileiros, com exceção do Acre, Rondônia, Piauí e Sergipe. A participação efetiva de cada região pode ser observada no gráfico abaixo.

GRÁFICO 3

DISTRIBUIÇÃO DAS INSCRIÇÕES DO 3º PRÊMIO “EDUCAR PARA A IGUALDADE RACIAL”, SEGUNDO AS REGIÕES DO PAÍS 2006-2007

Fonte: CEERT, 2010.

Houve também um aumento significativo de 25% no número de professores inscritos, em relação à segunda edição. A inclusão da categoria ensino médio na segunda edição colaborou com o aumento do número de práticas voltadas a essa fase do ensino. Em contrapartida, o número de inscrições na categoria ensino infantil diminuiu, como observamos na tabela abaixo.

TABELA 2

DISTRIBUIÇÃO DE CATEGORIAS POR NÚMERO DE INSCRITOS DOS PARTICIPANTES DO 3º PRÊMIO EDUCAR PARA A IGUALDADE RACIAL

Categorias Número de inscritos Percentual

Educação Infantil 36 9,1% Ensino Fundamental I 98 24,9% Ensino Fundamental II 162 41,2% Ensino Médio 97 24.8% Total 393 100% Fonte: CEERT, 2010.

Considerando as duas edições anteriores, a diminuição da participação dos agentes escolares do ensino infantil foi expressiva. Referente aos aspectos qualitativos dessas práticas pedagógicas, o CEERT (2006-2007) assinala que:

(...) as experiências desenvolvidas por professores da Educação Infantil são, no geral, o mais incipientes, planas em suas metodologias e apresentam menor consistência teórica. É elementar afirmar que essa disparidade reflete, entre tantos outros aspectos, o baixo investimento governamental e não governamental despendido às creches e pré- escolas. (CEERT, 2006-2007, p. 26)

Nessa terceira edição, a maior parte do material recebido evidenciou as disciplinas de humanas como as mais favoráveis ao trabalhar com a temática das relações raciais. Este fato pode reforçar a ideia de que a África e seus temas correlatos devem ser assuntos exclusivos dos professores de história e geografia. Apesar disso, algumas experiências têm sido encampadas pelos professores de outras áreas do conhecimento, como química, física ou biologia. No evento de premiação da 3ª. Edição do Prêmio Educar para a Igualdade Racial, ocorreu o Seminário de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial, com discussões sobre liberdade de crença e religião, e diversas oficinas: oficina “Controle social e acompanhamento orçamentário”; oficina “Diálogos sobre a implementação da Lei 10.639/03”; oficina “Roda de conversa: Mulheres intermediárias da informação e transformação entre África e a Diáspora Africana”; oficina “Diálogos entre municípios: Impactos das políticas públicas em negros e mulheres”; oficinas “Mídia e discriminação” e “Vozes de mulheres, vozes de mulheres negras na literatura”.

Pode-se observar a abrangência e relevância das discussões desenvolvidas nesse seminário para a implementação da Lei 10.639/03, promovendo, ainda, o debate sobre a questão etnicorracial no Brasil na sociedade. Após o encerramento da premiação, o CEERT realizou uma pesquisa com os participantes premiados nas três edições, a fim de analisar a repercussão do prêmio na vida dos educadores e no cotidiano da escola. Segundo a pesquisa, a realização das práticas premiadas decorreu de um esforço individual, ressaltando não haver apoio institucional da equipe pedagógica, principalmente, se essas práticas eram centradas em África, africanos e afrodescendentes. Alguns aspectos positivos também foram observados, por exemplo, maior visibilidade dos protagonistas responsáveis pelas práticas pedagógicas e divulgação da escola junto às secretarias municipais e sociedade em geral. Os dados obtidos nessa pesquisa provocaram alterações na 4ª edição do Prêmio.