3. Fundamentos teóricos
3.4 Estruturas sob ação de excitações sísmicas
3.4.1. Edifícios de base fixa (E) sob excitação sísmica
Considere-se o edifício de comportamento linear elástico de n graus de liberdade (GL) sob a ação de uma excitação sísmica de aceleração . O edifício é modelado como sendo um pórtico plano como se ilustra Figura 3.5. Neste modelo é adotada a hipótese de que todos os GL são deslocamentos na mesma direção do movimento do solo . A cinemática completa é apresentada nessa figura, onde , , representam os deslocamentos e a massa do n- ésimo andar do pórtico, respectivamente.
Figura 3.5 – Cinemática do edifício sob excitação sísmica
Considerando o equilíbrio dinâmico de cada um dos andares do pórtico obtêm-se a equação de movimento do edifício de n-GL sujeito a uma excitação sísmica . A equação escrita na forma matricial:
(3.2)
onde,
: matriz de massa do edifício.
: matriz de amortecimento do edifício.
: matriz de rigidez do edifício.
: operador de influência.
: aceleração sísmica.
, , ,……., : vetor de deslocamentos do edifício.
, , ,……., : vetor de velocidades do edifício.
, , ,……., : vetor de acelerações do edifício.
O operador de influência I é uma matriz que conecta a direção dos graus de liberdade da Equação (3.2) segundo a direção da componente de excitação sísmica. A dimensão do coeficiente I depende do número de excitações de aceleração utilizadas (um, dois ou três). Desta forma, o coeficiente tem tantas colunas quanto componentes de aceleração são aplicados e seus elementos tomam valores iguais a um nos GL correspondentes à direção da excitação sísmica e zero para os outros graus de liberdade.
Para ilustrar a forma de definir o coeficiente de influencia, a Figura 3.6 apresenta quatros modelos de estruturas de vários graus de liberdade sob excitação sísmica. Note-se que o as componentes nulas do coeficiente I correspondem aos GL não excitados da estrutura de acordo ao sentido da aceleração sísmica, destaca-se também que o coeficiente I é o vetor unitário em pórticos do tipo shear building sob excitação sísmica unidirecional, Figura 3.6.(b).
Por último, observa-se que em condições de excitação sísmica bidirecional, Figura 3.6(d), o coeficiente I é representado por uma matriz cuja dimensão se define, segundo os GL do sistema e número de componentes de aceleração sísmica. Em todos os casos de excitação unidirecional o coeficiente I é um vetor coluna, Figura 3.6(a)-(c).
(a) (b)
Figura 3.6 – Coeficiente de influência I
A fim de correlacionar os resultados numéricos e experimentais de edifícios sob excitação sísmica, devem ser obtidos as estimativas numéricas dos parâmetros modais e das funções de resposta em frequência (FRF). Portanto, utilizando o método de superposição, foram derivadas as equações de movimento em coordenadas modais.
Supondo que o vetor de deslocamentos da Equação (3.2) podem ser expressos como uma combinação linear da forma:
Φq 1, … , (3.3)
onde,
: i-ésimo autovetor que representa as formas modais.
: i-ésimo descolamento modal.
Φ , , ,……., : matriz de autovetores.
, , ,……., : vetor de deslocamento modal.
Levando em consideração as condições de ortogonalidade dos autovetores, portanto:
, , 1, … , (3.4)
onde,
: Delta de Kronecker.
: Frequência natural.
Com a transformação de coordenadas é possível tornar as matrizes de massa M e de rigidez K em matrizes diagonais, no entanto o sistema de equações representado pela Equação (3.2) continua sendo acoplado devido à propriedade de matriz positiva definida do amortecimento C. Uma forma de tornar diagonal a matriz C, tal como as matrizes K e M, é assumindo a hipótese de amortecimento proporcional.
Um caso particular deste tipo amortecimento é o amortecimento de Rayleigh, neste modelo admite-se que o amortecimento nas estruturas é proporcional à massa e à rigidez, i.e, , onde a e b são constantes reais e positivas.
Ressalta-se o fato do que os autovalores e autovetores podem ser estimados utilizando apenas as matrizes de massa e rigidez, uma vez que estes são, em termos práticos, semelhantes aos do sistema não amortecido. Nestas circunstâncias, admitindo esta hipótese é possível desacoplar o sistema de equações num conjunto de equações independentes. Introduzindo a Equação (3.3) na Equação (3.2) e multiplicando pelo termo , e também estabelecendo a condição de ortogonalidade entre os autovetores, se tem:
2 , 1, … , (3.5)
A Equação (3.5) é um sistema de n equações desacopladas onde o termo representa a taxa de amortecimento da estrutura. Uma estimação de é possível através da expressão,
2 2 (3.6)
Os coeficientes a e b obtêm-se da solução do sistema linear de Equações (3.7). A partir de dois pares de valores experimentais da taxa de amortecimento e da frequência natural da estrutura, tem-se:
2 1⁄
1⁄ (3.7)
Por outro lado, reescrevendo a Equação (3.5) na forma matricial tem-se,
(3.8) onde,
: matriz diagonal de elementos 2 . : matriz diagonal de elementos .
: coeficiente de participação modal.
O sistema de equações desacoplado representado pela Equação (3.8) pode ser resolvido através de integração numérica. Uma estimativa acurada da resposta do sistema é possível selecionando apenas os primeiros m modos de vibração ( ). O número de modos requeridos é selecionado segundo o acumulado da massa modal efetiva. Um critério de truncamento de modos bastante utilizado é considerar um percentual de massa acumulada de 90% na participação de massa modal.
A principal vantagem da análise modal está relacionada à redução do custo computacional frente a metodologias de integração direta as quais utilizam as matrizes globais do sistema descritas na Equação 3.2.
Para integrar o sistema de equações utilizando-se o método de Runge-Kutta, sendo necessário reescrever a Equação (3.8) em variáveis espaço-estado, portanto:
(3.9) Onde : Vetor de estado modal e:
0 0
(3.10) Estabelecendo condições iniciais (C.I), , o método de Runge-Kutta estima a variável de estado para a próxima iteração com um tamanho de passo no tempo
. Para definir as C.I em coordenadas modais utiliza-se a expressão:
(3.11)
onde e são o deslocamento e a velocidade inicial da estrutura em coordenadas físicas.
Um dos objetivos deste trabalho é validar a análise numérica através de testes experimentais, portanto uma análise no domínio da frequência (utilizando a transformada Fourier (FFT)) se torna relevante. Aplicando a FFT a todos os termos da Equação (3.8), obtém-se:
(3.12) Levando em consideração as propriedades da FFT, obtém-se uma nova equação matricial, que relaciona no domínio da frequência, a resposta com a excitação sísmica,
(3.13) onde,
: amplitude da resposta.
: amplitude da excitação.
: frequência da excitação.
√ 1: número complexo.
A solução da Equação (3.13) é uma função complexa no domínio da frequência. De forma simplificada esta expressão define-se como , onde a função de resposta em frequência determina-se:
(3.14) A expressão anterior é uma equação matricial onde representa a matriz identidade, o vetor de participação modal e finalmente o vetor cujas componentes denotam a função de resposta modal devido a uma excitação sísmica. Em condições de excitação n-dimensional, o fator de participação modal define-se na forma matricial e em conseqüência a função torna-se uma matriz.
…
…
…
(3.15)
Na Equação (3.15) cada componente define a amplitude modal i devido à excitação sísmica j. A resposta em coordenadas físicas obtém-se substituindo o valor do deslocamento modal q na Equação (3.3), sabendo que o deslocamento no domínio da frequência define-se , portanto a resposta dos deslocamentos expressa-se:
Φ (3.16)
O estabelecimento das relações anteriores entre a FRF e os parâmetros modais tem evidente importância na correlação de resultados obtidos nos testes de experimentação modal.