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Educação Ambiental conservacionista e pragmática como ramos da

2.1.6 Macrotendências da Educação Ambiental no Brasil

2.1.6.1 Educação Ambiental conservacionista e pragmática como ramos da

No início da década de 1990, educadores ambientais com um viés social mais forte começaram a diferenciar dois ramos da EA: um conservador e um alternativo. Ambas as vertentes conservacionista e pragmática definidas por Layrargues e Lima (2014), estão dentro do ramo conservador. O ramo alternativo, por sua vez, gerou a vertente crítica da EA (LAYRARGUES; LIMA, 2014).

A Educação Ambiental conservadora, atrelada ao processo educativo de natureza conservadora, serve à manutenção do modelo atual de sociedade, com todas as suas desigualdades, simplificações e opressões (GUIMARÃES, 2000). Ela faz parte de um padrão de educação que busca ser hegemônico e mantenedor do modelo de desenvolvimento vigente. Baseia-se no positivismo, buscando a ordem e o progresso em uma perspectiva liberal (GUIMARÃES, 2000; LAYRARGUES; LIMA, 2014).

A EA conservadora, seja ela pragmática ou conservacionista, é “a- histórica, apolítica, conteudística e normativa [...] tende a tratar o ser humano como um ente genérico e abstrato, reduzindo-os à condição de causadores da crise ambiental, desconsiderando qualquer recorte social” (LAYRARGUES; LIMA, 2014, p.29).

A Educação Ambiental conservadora, de forma mais ou menos explícita, tem como compromisso a manutenção das disparidades socioeconômicas e o incremento dos privilégios da classe dominante. Ela serve à lógica do capital sendo ferramenta de sua reprodução na medida em que desvia o cerne das questões ambientais para a esfera antropocêntrica; individual; imediatista; cartesiana e superficial. A ela não interessa a reflexão, a busca dos porquês de a crise ambiental existir e se prolongar por tanto tempo. Não enxergando a totalidade, inculca uma visão de mundo fragmentada, fria e pragmática. Ela privilegia a disciplinaridade, a

cognição, o tecnicismo e ações pontuais descontextualizadas de suas raízes em perspectiva mais abrangente. Como afirma Guimarães (2004, p.26), ela “busca a partir dos mesmos referenciais constitutivos da crise, encontrar a sua solução”.

Assim, as vertentes conservacionista e pragmática têm por característica adotar uma postura estritamente ecológica da crise ambiental em voga. Não consideram as distintas responsabilidades dos diferentes atores sociais sobre ela e pregam o alcance da sustentabilidade dentro dos princípios do mercado. Elas têm como foco comportamentos individuais, sendo conteudistas e instrumentais, desvinculando, portanto, as problemáticas ambientais dos contextos socioeconômicos nos quais estão inseridas (LAYRARGUES; LIMA, 2014).

Apesar dos pontos em comum supracitados, Layrargues e Lima (2014), explanam diferenças consideráveis entre a vertente conservacionista e pragmática. 2.1.6.1.1 Educação Ambiental conservacionista

Foi a macrotendência inicial da Educação Ambiental no Brasil. Muito forte até a década de 1990, não internalizava a complexidade das interações entre seres humanos e o restante da natureza. Defendia que o aumento da conscientização ecológica e da sensibilização quanto às questões ambientais aliados ao incremento tecnológico seriam suficientes para a reversão da crise ambiental, encarada como efeito colateral do necessário crescimento econômico brasileiro. Caracteriza esse tipo de EA a lógica do “conhecer para amar, amar para preservar” (LAYRARGUES; LIMA, 2014, p. 27).

A vertente conservacionista tem como suporte a Ecologia; a afetividade para com o ambiente natural e a mudança individual e cultural nas relações com o meio, num advento de uma perspectiva biocêntrica em detrimento de uma antropocêntrica. Está vinculada às pautas verdes como a conservação de biomas e de determinadas espécies biológicas (LAYRARGUES; LIMA, 2014).

Ela foi adequada ao contexto político que o Brasil vivenciou durante a Ditadura Militar de 1964 a 1985, já que buscava simplificar o debate ambiental, desatrelando-o dos aspectos sociais e econômicos a ele relacionados (LAYRARGUES; LIMA, 2014).

Como afirma Lima (2009), no surgimento da EA no Brasil enquanto campo social nas décadas de 1960 e 1970, apesar de influências como:

anarquismo; socialismo; teoria crítica (veiculada a partir da educação popular) e movimentos de contracultura; foi o clima institucional e político de restrição de liberdades característicos da Ditadura Militar que marcou essa fase da EA no Brasil. O perfil desenvolvimentista, tecnicista e antidemocrático governamental limitava as possibilidades quando ao que poderia der debatido e executado no campo da EA. Ele fomentava a análise simplista das questões ambientais, separando-as dos aspectos socioeconômicos a ela relacionados, e barrava a mobilização social.

O fazer ambiental apregoado pela Ditadura Militar se propagava nas instituições de ensino, convencendo as famílias de que a solução para os problemas ambientais percebidos se limitava à sensibilização, à mudança individual e à proteção de áreas verdes, conservando assim o sistema de produção e de consumo necessário à manutenção da Economia nos moldes exigidos pelos organismos internacionais. A EA conservacionista teve como atores sociais no Brasil ONG´s e movimentos sociais além escolas e educadores ambientais, mas todos fortemente influenciados pelo Estado que, por sua vez, era pressionado pelos organismos internacionais para manter as estruturas sociais e econômicas tais como estavam (LIMA, 2009).

2.1.6.1.2 Educação Ambiental pragmática

A vertente pragmática teve como tema gerador inicialmente a problemática do lixo tendo se ampliado para a idéia de “consumo sustentável” com o passar do tempo. Ela ganhou impulso na década de 1990, acompanhada da responsabilização individual e acrítica, da lógica do "cada um fazer a sua parte" a fim de resolver as problemáticas ambientais. Ela se diferencia da conservacionista, pois não proporciona o contato com o ambiente natural e não se pauta pelo estabelecimento da afetividade na busca pela preservação/conservação da natureza. Seu foco é na produção e no consumo, considerando nesse processo os bens e serviços ambientais de forma descontextualizada das questões sociais e econômicas (LAYRARGUES; LIMA, 2014).

A Educação Ambiental pragmática engrandece a responsabilização individual; o reduzir, reutilizar e reciclar (3 R`s), com ênfase nesse último; o “consumo sustentável”, com o enaltecimento de produtos advindos de empresas consideradas mais sustentáveis (sem questionamento dos aspectos envolvidos por detrás da criação de novas necessidades). A EA pragmática é apolítica, acrítica e

focada no indivíduo, assim como a EA conservacionista. Porém ela tem como seu ambiente de disseminação o meio urbano, distanciando-se do contato com ambientes naturais (LAYRARGUES; LIMA, 2014).

Layrargues (2002, p. 179) adverte para o reducionismo do tipo de EA envolvida nos programas de EA pragmática, em especial os escolares, que não propõem uma o debate acerca dos “valores culturais da sociedade de consumo, do consumismo, do industrialismo, do modo de produção capitalista e dos aspectos políticos e econômicos da questão do lixo".

O “consumo sustentável” é apropriado pela EA pragmática quando não questiona o consumismo, mas apenas a substituição de produtos, não discutindo outras formas de fazer econômico. Por exemplo, através da valorização de produtos locais e do consumo de bens não materiais que podem ser gratuitos, como educação, cultura e lazer. Essa forma de EA é disseminada pelas indústrias e pelo governo no intuito de manter a mola propulsora da Economia girando. Porém se trata de uma Economia que privilegia aqueles que já detêm poderio financeiro. Ela não favorece a autonomia econômica do segmento populacional mais pobre. Ao contrário, inculca um padrão de compras inacessível e supérfluo, com o fomento ao desejo por bens que já saem de fábrica com o destino da obsolescência planejada (LAYRARGUES, 2002).

O autor supracitado destaca a “Pedagogia dos 3 R’s” como uma importante política de enfrentamento à problemática do que fazer com os resíduos sólidos, frisa porém que tem tido enfoque limitado, sendo característica da EA pragmática na medida em que está voltada à mudança de comportamentos sobre como se deve dispor os resíduos para facilitar a reciclagem, creditando a essa prática, aliada ao incremento tecnológico, a solução à problemática da escassez de “recursos naturais” (LAYRARGUES, 2002).

Assim, a dita “coleta seletiva de resíduos sólidos” ao lado do “consumo sustentável” são os carros chefes da Educação Ambiental pragmática. Nesse tipo de EA, os referidos tópicos são encarados como atividades fins, atuando como formas de reprodução de uma Educação Ambiental doutrinadora. Porém, vale ressaltar que os mesmos pontos podem ser utilizados em fazeres pedagógicos que sigam a macrotendência da EA crítica. Para tal, devem ser tratados como temas geradores,

estimulando assim a reflexão sobre as estruturas de poder e os padrões culturais vigentes (LAYRARGUES, 2002).