• Nenhum resultado encontrado

A Educação Ambiental comporta em si uma variedade de concepções/ divisões. Tratando especificamente da realidade brasileira, Layrargues e Lima (2014) afirmam que a Educação Ambiental no país, embora apareça ao público não especializado como um todo homogêneo, é composta por um sem número de atores sociais que, apesar de compartilharem um núcleo comum de normas e valores, diferenciam-se em seus projetos político-pedagógicos, nas epistemologias adotadas e em suas concepções sobre temas relacionados às questões ambientais.

Loureiro e Layrargues (2013) ressaltam o caráter positivo da pluralidade envolvida na Educação Ambiental. Segundo os autores,

sua natureza conflitiva, na diversidade e na disputa de concepções e espaços na sociedade, fortalece-a e a legitima nas institucionalidades acadêmicas, nas políticas públicas e nos movimentos sociais que buscam a garantia de direitos, a afirmação das diferenças, a superação das desigualdades de classe e a construção de outro patamar societário (LOUREIRO; LAYRARGUES, 2013, p.55).

Neste trabalho, buscou-se proporcionar uma visão geral da multiplicidade de caminhos contida na EA. Porém a base de classificação utilizada foi a divisão da Educação Ambiental em conservacionista, crítica e pragmática proposta por Layrargues e Lima (2014) com foco na Educação Ambiental crítica. Buscou-se caracterizar esse tipo de EA a partir de distintos autores e contrapô-la à Educação Ambiental pragmática e à conservacionista.

De acordo com Layrargues e Lima (2014), em âmbito global, nas décadas de 1960/1970, a EA foi concebida como uma prática que tinha como função o

despertar da sensibilidade em relação ao meio ambiente. Tinha por base a Ecologia, no sentido de que quanto mais se conhecesse sobre o meio ambiente, mais vínculo afetivo se teria com ele e mais efetiva seria sua preservação/conservação. Dentro dessa lógica então predominante, acreditava-se que informações sobre o meio ambiente e o desenvolvimento de novas tecnologias iriam solucionar os problemas ambientais existentes e prevenir a formação de futuros.

A partir da década de 1980, iniciou-se a consolidação da EA enquanto campo do saber no Brasil (LAYRARGUES; LIMA, 2014). Tal processo possibilitou a posterior intensificação da institucionalização e da produção acadêmica em EA, ocorrida a partir da segunda metade da década de 1990 (LIMA, 2011).

O amadurecimento da EA foi produto de movimentos de distintos componentes da sociedade que desenvolveram práticas envolvendo a “questão ambiental’’ por meio de abordagens que variavam essencialmente com: os contextos ambientais em que se inseriam; com as mudanças ao longo do tempo no ambientalismo e na educação; e com as concepções político-pedagógicas e histórias de vida de seus protagonistas (LIMA, 2011; LAYRARGUES; LIMA, 2014).

Nesse sentido, algumas divisões da EA pormenorizam a diversidade de rumos que ela pode tomar. Exemplo disso é a classificação proposta pela professora Sauvé (2005) da Universidade de Quebéc (Canadá). A autora elaborou um verdadeiro “mapa” dos tipos de Educação Ambiental existentes, dividindo a EA em quinze possíveis correntes14. A saber: naturalista; conservacionista/recursista; resolutiva; sistêmica; científica; humanista; moral/ética; holística; biorregionalista; práxica; crítica; feminista; etnográfica; da ecoeducação e da sustentabilidade.

Sauvé (2005) justifica sua divisão afirmando que, dada a amplitude da Educação Ambiental, intitulando-se como tal diferentes discursos e práticas envolvendo as questões ambientais ao longo do tempo, por vezes seria difícil para o pesquisador conseguir se situar em meio ao todo genérico sobre que tipo de Educação Ambiental mais se adequaria aos pressupostos do investigador e à

14

A autora compreende correntes como “uma maneira geral de conceber e de praticar a Educação Ambiental” (SAUVÉ, 2005, p. 17).

realidade do universo estudado. No intuito de sanar ou amenizar essas dificuldades, a autora propõe uma divisão criteriosa com definição das especificidades de cada corrente em EA.

Por meio de uma perspectiva menos detalhista, os pesquisadores brasileiros Layrargues e Lima (2014) dividem a EA em três vertentes: crítica, pragmática e conservacionista. Já autores como Guimarães (2000) e Loureiro (2004) a dividem em apenas dois tipos: EA crítica (também chamada de Transformadora, Ambiental, Ética ou Emancipatória), e conservadora (ou Convencional). Para Guimarães (2000) e Loureiro (2004), as classificações em EA pragmática e conservacionista estão inclusas na EA conservadora.

As divisões concebidas por diferentes autores da EA a tratam como um “campo social”, entendido dentro da perspectiva de Bourdieu (2004) como sendo a reunião de um conjunto de pessoas ou instituições que disputam a hegemonia do todo, numa luta pela supremacia do saber e, portanto, do poder. A interação entre as partes que compõem o campo social ocorrem a partir de tentativas de dominação de uma sobre a outra. A dominação se consolidaria quando houvesse o reconhecimento geral dentro do universo da primazia do capital simbólico de um segmento sobre os outros.

A Educação Ambiental é assim um campo social formado essencialmente pela união de dois outros principais campos: o campo ambiental e o campo da educação. A relevância de cada um para a construção da EA varia a depender do autor:

Para Guimarães (2000), assim como para Pelicioni e Philippi Jr. (2005) e para Loureiro (2004), o campo ambiental é apenas caracterizador ou adjetivador de um campo maior que é o da educação. Segundo Pelicioni e Philippi Jr. (2005, p. 3) a Educação Ambiental “nada mais é do que a educação aplicada às questões do meio ambiente”.

Nesse sentido, Loureiro (2004, p.66) afirma que:

Parto do princípio que Educação Ambiental é uma perspectiva que se inscreve e se dinamiza na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as múltiplas tendências pedagógicas e do ambientalismo, que têm no “ambiente” e na “natureza” categorias centrais e identitárias. Neste posicionamento, a adjetivação “ambiental” se justifica tão somente à medida que serve para destacar dimensões “esquecidas” historicamente pelo fazer educativo, no que se refere ao entendimento da vida e da natureza, e para revelar ou denunciar as dicotomias da modernidade capitalista e do paradigma analítico-linear, não-dialético, que

separa: atividade econômica, ou outra, da totalidade social; sociedade e natureza; mente e corpo; matéria e espírito, razão e emoção etc.

De acordo com essa interpretação, a Educação Ambiental se configura em um campo da Educação que incorpora em si a dimensão ambiental, com toda a sua teia de relações humanas e não-humanas, bióticas e abióticas. A complexidade do processo educativo requerido na EA seria ainda maior do que a complexidade das questões ambientais. Sendo assim, os rumos e preceitos da EA estariam condicionados pelo contexto educativo preponderante.

Já segundo Layrargues e Lima (2014), tanto o campo ambiental quanto o educativo teriam a mesma importância para a construção da EA. Essa seria constituída a partir de uma intersecção entre os dois campos; retirando de cada um, elementos essenciais para a composição de sua identidade e de sua práxis. Tais autores ressaltam a importância do campo ambiental para a construção da EA ao afirmarem que: “[...] se remontarmos à história da Educação Ambiental, veremos que, tanto simbólica quanto institucionalmente, ela retira do campo ambientalista os elementos mais significativos de sua identidade e formação” (LAYRARGUES, LIMA 2014, p.3).

Dessa forma, a qualificação da Educação enquanto Ambiental expressa o reconhecimento de que a Educação, por si só, não deu conta de impedir a crise ambiental vigente, de ressignificar os valores e as formas de estar no mundo em prol de um modo de vida equilibrado e justo, sendo, portanto, a dimensão ambiental imprescindível para a consolidação de um processo educativo transformador (LAYRARGUES, 2004).

Tratando da EA crítica, Pelicioni e Philippi Jr. (2005) ampliam o universo de campos envolvidos para que se possa entendê-la e construí-la. Os autores afirmam que para consolidar uma forma de EA que permita compreender a multiplicidade de fatores geradores dos problemas ambientais, incluindo as causas de ordem política, cultural e socioeconômica, é necessário que se conecte à base conceitual da Educação conhecimentos no campo Ambiental, mas também nos campos da História; da Economia; da Geografia; da Psicologia e da Sociologia.

Percebe-se, dessa forma, que a Educação Ambiental e em especial, a EA crítica, é um campo formado por vários outros campos de conhecimento e, portanto, de poder, mas essencialmente pelos campos ambientais e educacionais. Dentro da

escolha sobre a abordagem e os preceitos educacionais a serem adotados na construção da EA, traçam-se também quais são suas metas possíveis e se ela será ou não força motriz das transformações sociais.